Você sente solidão?
ilustração de Tati Faleiros |
Conversa de mãe
por Anna Wolff
Vamos conversar hoje sobre um assunto que nos emociona e diz respeito, muitas vezes, à toda nossa estrutura de vida - a solidão.
Há uma diferença muito grande entre ser só e ser solitário.
Ser solitário é aquela sensação esmagante, uma angústia que a dimensão do nosso eu não pode conter. É a ideia que temos e que não há quem se importe de ouvi-la. Essa percepção não será dividida com ninguém. É a alegria de um momento bom que não temos ninguém para compartilhar. Então esta alegria se converte em tristeza e aquele sentimento opressivo esmaga a gente dentro de nós…
Quem se importa? E porque é tão importante que outros se importem conosco? Ah, pensamos - e só nós que sabemos - quanto amor há para ser dado, sufocado numa aparente indiferença… Isto sem falar no anseio sexual que, para muitos de nós, é insuportável - então vamos buscando várias formas de alívio - outros seres tão solitários como nós e que nada querem conosco senão um momento de ilusão… Ou há quem prefira fugas em viagens que nos atordoam e confundem nossos sentimentos porque estamos em movimento… Muito interessante a propaganda tão atual do “Mexa-se”. É realmente mais uma variedade de escape… Então todo o movimento do esporte nos deixa exaustos, dormimos que nem uma pedra - e não pensamos em nada. Mas, há um momento em que aquele sentimento insidioso volta, e a sensação de solidão infiltra-se em nosso ser e não podemos escapar… Vem aquela vontade de contar, de dizer a alguém o que nos acontece, de ter uns olhos meigos em que os cílios ondulam-se em movimentos de solidariedade e nos dizem apenas: “Eu compreendo!” Um olhar límpido que lave nossa alma de ternura.
Então sabemos que estamos tão solitários, que fazemos parte de um fluxo de pessoas vagando erradio por este mundo e ansiando por outro mundo, em que não exista solidão, talvez bem mais agradável… Que não precisemos sorrir a lágrima que engolimos, vestimos de vaidade quando tudo em nós é abandono… Na verdade é bem isto - somos solitários porque somos seres abandonados. E neste momento vamos nos perguntar: Quem nos abandonou? E por quê? Por que não pudemos ser importante para outra pessoa, se colocamos todo nosso empenho para amá-la? Mesmo aqueles que se dizem casados… O que é o casamento? A união de dois corpos ou a união de duas almas que se completam? Sim, as pessoas casam em busca desta união e quando se percebem sozinhas, solitárias - naquela terrível solidão a dois - coisas começam a acontecer, tipo adultérios - quem foi adúltero? Aquele que primeiro quis aliviar sua dor? Seguem-se separações, divórcios. A declaração pública do abandono, para continuar sua ávida busca…
Ou, muitas vezes nem chegamos a conhecer o ser tão esperado. E os anos foram nos cobrindo de exigências e nossos apelos foram se tornando cada vez maiores, fazendo crescer nossas exigências e, de repente, percebemos que estamos abandonados, sem horizontes. E há, então, uma vontade sôfrega de sair por aí, viajando, mexendo-se nos esportes, trabalhando em demasia, na ânsia de encontrar… O quê? Sim, encontrarmos a nós mesmos! Porque cada um de nós tem um objetivo de aperfeiçoamento nesta vida. Como se diz - uma missão. Nossa missão, acima de tudo, é a obrigação própria - temos que cuidar do nosso corpo. Alimentá-lo, banhá-lo, vesti-lo, numa rotina sem interrupção e, para quê? Para dar a nós a oportunidade de nos conservar para aperfeiçoar nossa alma. Pois todo o nosso destino é uma oportunidade de perfeição.
E esta depressão de abandono sairá de nós no simples gesto de dar… Dar um pouco de amor a quem nos rodeia. Dar nas creches a ilusão de um brinquedo à criança que sofre e que, de forma confusa, se sente solitária.
Certa vez, quando era criança, meu pai nos conta que visitou os Estados Unidos um homem muito famoso - Einstein. “e sem saber como, senti como se minha presença fosse agressora - eu interrompia algo - o quê? A companhia dele a si próprio! Mas como é isso? Ele se dava de tal forma ao trabalho, que todo seu corpo, sua mente, sua alma, se envolviam em suas pesquisas matemáticas…” Então o trabalho do cientista assumia a forma de uma absorvente companhia. E, de tal forma ele se dava às suas pesquisas, que não era um solitário - era apenas um homem só.
Então vamos dar - dar de nós… de nossa compreensão, de nosso apoio, entendimento a quem precisa de nós.
Um certo dia visitei um clube de pessoas solteiras, viúvas e divorciadas - principalmente de pessoas idosas. E sabe o que eu vi? Que tentavam se fazer companhia, mas na maior parte eram pessoas que jogavam em silêncio ou liam isoladas… Eram pessoas solitárias, buscando em momentos fugazes a ilusão insatisfatória para cobrir o desespero de sobrar-se a si mesmo… Que diferença do homem só…
Conheci também uma mulher só - a avó de meu marido - uma alemã do povo que, aos 80 anos, quis aprender uma nova língua…
E quando eu chegava lá, parecia que interrompia seus programas individuais. Era como se ela se desligasse, assim como alguém desliga um telefone para atender quem chega - há uma mudança de mundos. Ela se bastava a si própria.
Façamos o mesmo! Vamos dar a nossa alegria! Dar de nós pelo prazer puro de existirmos! Pense que em tudo que você der, receberá de volta. No brinquedo da criança, há o sorriso dela se volta; no estudo, o entendimento; na caridade, o supremo bem! Vamos então repetir:
Obrigado, meu Deus, pelo meu destino! Pela suprema alegria de dar!
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