O exemplo e a tradição de ser avô - por Arno Wolff - parte 2

Vovó Catarina gostava muito de cozinhar em fogão a
lenha, fazia boa comidinha e sempre preparava uns queijinhos com coalhada. O
leite quando azedava, separava o soro e da massa que restava fazia uns bolinhos
que deixava vários dias, quando crescia uma espécie de mofo em volta. Aí estava
no ponto em que ela gostava de saboreá-los. Estavam curtidos.
Usava sempre vestido, preto longo, saias bem rodadas e
longos até os pés. E seu cabelo muito cumprido e branquinho após desembaraçados
fazia umas tranças e enrolava fazendo um coque. Aí usava um lenço branco que
cobria sua cabeça. Adorava os filhos e netos. Era muito dedicada, piedosa,
paciente, amorosa. Lembro-me bem – vinha à pé, descia a rua Júlio de Castilhos
até a casa de meu pai, pegava o carrinho do bebê, meu irmão mais novo o Nilo, e
ia passear próximo da estação rodoviária no mesmo quarteirão da casa de meu
pai. Aí gostava de ver os ônibus que chegavam e partiam para conversar com
alguém da roça, seus antigos amigos do interior gaúcho. Gostava de prosear,
falar, se comunicar, saber das pessoas amigas. Eu ainda pequeno, com 7 anos
mais ou menos acompanhava embalando no carrinho de bebê meu irmão com 6 anos
menos que eu A diferença do meu irmão mais velho era de 2 anos. Eurico deveria
ter nessa época 9 anos. Mas quem era mais apegado à minha querida vovó Catarina
era eu. Quando cheguei aos 9 anos fui morar com ela e minha tia Rosa e Osmar,
um primo, filho de Tia Elizabete e tio Albino Beskow.
A tia Rosa era a irmã mais moça de meu pai, ela
deveria ter nesta época um 27 ou 28 anos. Aos 22 anos mais ou menos ela se
apaixonou por 1 vendedor de lábia muito boa, conversador insinuante que seduziu
a minha tia Rosa e fugiu de casa com o vendedor. Fugiram de trem, sem deixar
rastro, sem que nenhum familiar desconfiasse. Fuga silenciosa e sagaz. Meu pai
já tinha o comércio na Rua Júlio de Castilhos.
Continua!
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