Viajar amadurece sua percepção, evolui o espírito e expande a mente para novas possibilidades

A experiência de estar em diversos países do mundo traz amadurecimento, sim. Na volta, qual a percepção sobre viver no Brasil? "Nosso país é maravilhoso". Descubra aqui o porquê desta análise.

RW: Sr. Wanderley Arouca hoje é o nosso entrevistado da Equipe Wolff. Como é que foi sua ida à China, seu trabalho e sua viagem? Conte um pouco sobre isso, por gentileza.
Wanderley: Bem, o senhor começou pelo final... Foi a minha primeira experiência internacional. A mais recente. A questão da cultura, a maneira do povo viver, para mim foi um grande aprendizado. Uma grande surpresa para mim. 
RW: Quais contrastes o senhor notou?
Wanderley: Ah! O respeito, a educação, o comportamento, bastante humilde e receptivo. Bem diferenciado dos chineses com quem a gente convive aqui no Brasil. Que comercializam parte da cidade... Bem diferente.
RW: Geralmente donos de pastelaria e comércio.
Wanderley: Aparentemente mais arrogantes, os que estão aqui como imigrantes chineses, eu não sei de qual parte da China eles vêm. Mas a parte que eu visitei, onde estive trabalhando e convivi com o povo de lá, eram bastante receptivos, alegres e extremamente educados! O único ponto falho que observei, um pouco na questão higiene... não é nos moldes nossos. Nós temos o histórico de colonização européia, apesar de ter mesclado um pouco a Europa e o clima quente tropical do Brasil - mas a gente tem o início oriundo de Portugal e seus hábitos. E a China não tem nada disso!
RW: E a questão social impressionou muito? Há falta de assistência social, aposentadoria?
Wanderley: São mais de 4 mil anos de cultura, eles têm um aprendizado para suportar tudo isso. Então os filhos são educados para cuidar dos pais quando os pais não puderem mais trabalhar. E isso realmente acontece! Eu cheguei a ver alguns casos desses. Outra coisa curiosa é que o filho homem traz a mulher para casa. A mulher vai para a casa do marido. Então uma satisfação muito grande para o pai do varão da família é saber que a futura tratadora dos velhos está chegando!
RW: Sr. Arouca, o senhor teve como trabalho a Petrobrás, foi isso?
Wanderley: Não, foi uma sub-contratada da Petrobrás - a Queiroz Galvão.
RW: Empresa muito conhecida de engenharia, uma das mais fortes do Brasil.
Wanderley: E entre as maiores.
RW: E como foi essa experiência na Queiroz Galvão? Teve algum momento de risco como foi lá nos árabes, ou alguma coisa assim?
Wanderley: Não.
RW: Porque conheci algumas pessoas que trabalharam na época que ocorreu conflito no Iraque, eles foram para lá nessa época e correram um risco de vida muito grande!
Wanderley: Hoje as grandes empresas já estão constituídas no plano das organizações, na diretriz do trabalho, respeitam a legislação e proporcionam ao trabalhador informações mais avançadas de tudo que é novidade. Não só das normas e da lei, que modernizam as leis de trabalho, como também coisas inovadoras e as questões de responsabilidade social.
RW: E valeu a pena trabalhar nessa empresa?
Wanderley: Valeu! Não tenho nenhuma mágoa dela.
RW: Que mágoas ou alegrias o senhor teve nessa experiência de viagem que o senhor gravou como sendo muito marcante? Questões de diferenças raciais?
Wanderley: Não houve nenhum problema nesse aspecto.
RW: Eles são respeitosos?
Wanderley: Sim. O que pode ser considerado incompreensível para nós, que somos talvez mais liberários que eles, seria o fato de ter leis severas. E não precisa de muita averiguação, basta que haja um indício para que seja condenado, entendeu?
RW: E não se presume muito rápido o erro? Não teria que ser confirmado?
Wanderley: Não tem muito questionamento, não. A própria pessoa já sabe que se falhou, se cometeu um deslize, se errou, assume a pena conforme o que foi praticado...
RW: E qual foi a coisa mais agradável de paisagem, de contato humano, na China?
Wanderley: Olha, o que me impressionou foi o amor, a dedicação que eles têm pelas plantas, pelos vegetais como um todo. Em uma empresa, quando aquela pessoa mais idosa não consegue exercer a função dela, até as funções mais simples que tem na indústria - tanto homem quanto mulher, sem discriminação - aí eles vão cuidar das plantas. E eles vão, com muito prazer, mesmo que esteja em idade bem avançada, porque eles sabem que o túmulo deles vai ser enfeitado com plantas com plantas semelhantes. É questão de perpetuar aquela espécie, entendeu? Hoje, na China, os enterros já são liberados que façam nas próprias terras. Porque com uma superpopulação como aquela - é estimada, não é precisa por questões internas, quase dois bilhões de habitantes. Sendo que no período em que as pessoas só podiam ter um filho. Se acontecesse um acidente e eles viessem a ter um segundo filho, os pais não registravam aquele filho. Então o censo... é muito complicado saber quem é quem. Aí o cara vai se dedicar à lavoura, não precisa de muito documento. Até mesmo para ser atendido na rede hospitalar pública, não precisa muito de documentos.
RW: O senhor havia me contado sobre casos que quando não dão certo no casamento, o camarada desaparece, não é?
Wanderley: Eu não tenho uma definição própria sobre o assunto. Mas soube que devido ao caso de que o cara, quando tem uma insatisfação, pois lá não tem a lei do divórcio, ele foge ou deserta, abandona...
RW: E ninguém encontra mais?
Wanderley: Não, a extensão de terra é muito grande também.
RW: E há uma semelhança genética entre eles. Que estranho! E é muito difundido na China as artes marciais? Ou é só em filme?
Wanderley: A cultura deles não tem muito de artes marciais. Isso é da época antiga, hoje não tem isso de lutas de guerras - como mostram em filmes. 
RW: Interessante de ver como é diferente a realidade, diferente de tudo que é mostrado nos filmes sobre a China. 
Wanderley: O que mais me impressiona lá é praticamente roubo zero! Não é como aqui...
RW: A que o senhor atribui esse baixo índice de criminalidade?
Wanderley: Leis severas, tem que estabelecer limites! Se a pessoa não encontra limites, ela vai quebrar as regras - mas lá tem limites severos.
RW: Eles se autopoliciam, assim que é feito?
Wanderley: Mais ou menos assim. As famílias têm vergonha, em alguns casos que possa ser vexatória a atitude de uma pessoa. Vexatória também para o pai, para a mãe, os avós. 
RW: Sr. Arouca, isso que o senhor nos conta sobre esses comportamentos contradiz muito o que se diz sobre o "comunismo", quando quer pregar que a Pátria é que a família. Lá é um país comunista, no entanto a família está em primeiro lugar, interessante isso!
Wanderley: É isso mesmo, lá a ordenação primeira é o "lar familiar". Quando a pesso fica adulta, aí ela já fica mais exposta às leis mais severas que o Estado impõe.
RW: E lá tem "pena capital"?
Wanderley: Tem. E a família paga também.
RW: Fora a questão da vergonha que todos eles passam. Então é um país totalmente diferenciado do Brasil, não é?
Wanderley: Sim, totalmente! Você não precisa trancar portas... Por exemplo, as portas do shopping são cortinas. Um botão quando pendura indica quando está aberto ou fechado. Ninguém toca em sua mercadoria, basta cerrar a cortina e pronto!
RW: Que diferente!

Wanderley: O shopping só fecha se vir a ocorrer, em alguns casos, fecha a porta principal. Mas entre as lojas, se comunicam e não há queixa nenhuma em sumir mercadoria ou algo assim.
RW: Eles aceitam bem os brasileiros lá?
Wanderley: Sim, não só o brasileiro, mas toda e qualquer nacionalidade. Encontrei com alemão, muçulmano - uma variedade incrível! Aliás, toda a Ásia é proveniente de guerras da China. Então aqueles líderes que foram expulsos, foram fundando Mongólia, Coréia, até o Japão. É uma história muito longa. Tem que saber os detalhes, saber quem foi Gengis Khan, para poder saber de qual dinastia vieram em seguida.
RW: Além da China, o senhor esteve em outros lugares do mundo?
Wanderley: Sim.
RW: Fale-nos um pouco sobre isso. 
Wanderley: O que me impressionou bastante foi o Canadá, Quebec - o lado francês. É o lado da resistência do Canadá à invasão inglesa. Talvez eles tenham sido os únicos que não se renderam aos ingleses. E as placas dos carros lá tem a frase em francês, que eles têm orgulho de se lembrar da resistência que eles fizeram. As placas dos carros de Quebec têm a frase "Eu me recordo". Que eles fazem questão de lembrar! É uma cidade bastante organizada, um país muito frio, e de poucos mendigos. Mendigo lá talvez viva numa situação que se compara com aqui, quase a de classe média. Tal o nível - não só intelectual e de qualidade de vida que tem.
RW: E as rajadas de vento frio, são súbitas, frente fria de súbito.
Wanderley: Tem o período correto, quando chega outubro, setembro, a temperatura começa a cair. Em outubro começa a nevar. Lá, o que eu vi há 25 anos, eles não fabricavam quase nada. A economia deles era a madeira e o controle ambiental.
RW: As casas nos Estados Unidos, grande quantidade delas é de madeira.
Wanderley: Eles tinham muitas plantações, para tratar e exportar madeira. Lá tem casas de madeira que é uma verdadeira arte: enquadramento, encaixe perfeito, riqueza de detalhes, alto nível de carpintaria. 
RW: Desses países todos que o senhor esteve - qual o país que lhe chamou mais atenção como modelo de vida para o senhor?
Wanderley: Questão de modelo de vida, a Europa está na frente. A maioria dos países ricos têm plano não só para desemprego, mas também para a velhice. Eles estão mais preparados.
RW: Assistência social melhor.
Wanderley: É isso. 
RW: É porque esta parte é falha no Canadá.
Wanderley: Sim.
RW: Lá as férias não são pagas.
Wanderley: Ah, a Europa é mais forte, nesse caso. Na Europa esse "social" está mais presente.
RW: É interessante, a gente cada vez mais que vive, mais aprende. Então o que é curioso de tudo é usufruir esse conhecimento adquirido. Compartilhar esse conhecimento.
Wanderley: Mas pode haver um conflito aí, porque nem todo mundo vivenciou isso para ter certeza do que é bom e do que não é. Para poder separar esses conceitos. Ah... o nosso país, por exemplo, é maravilhoso devido ao clima permitir ao pobre viver o ano todo (como o nordestino, por exemplo) de bermuda, chinelos e camiseta regata - não tem altos e baixos de temperatura. Só no sul do país que começa a ter grandes variações. E o salário do país é um só, obviamente o pessoal sulista gasta muito mais do que o nortista... Devido a essa preocupação. Pois o calor do Sul é maior que o calor do Norte. Mas o inverno do Sul! Já dizia Carl von Martius que o Brasil seria dividido em cinco regiões: caatinga, cerrado, pampas, Mata Atlântica e Floresta Amazônica. Essa é divisão dele.
RW: Voltando ao assunto da sua profissão - qual era exatamente sua função na Queiroz Galvão?
Wanderley: A minha função lá era na profissão que escolhi - eletricidade. Eu era um fiscal de obras. Participava da fiscalização das obras. 
RW: Como experiência de vida foi fantástico, experiência da vida real, não é de internet. Como é que foi isso, foi bom, então?
Wanderley: Foi bom, a experiência é muito boa, não tem a menor dúvida.
RW: O que o senhor passa de experiência para os mais jovens?
Wanderley: Cada um tem que viver suas próprias experiências e tirar suas próprias conclusões. Aquela experiência pré-concebida que você transmite para o outro, talvez pode soar até falso aos ouvidos de quem está recebendo... Então eu só penso que a pessoa tem que ter a mente receptiva, aberta, atenta às oportunidades que aparecerem para ela sem medo! No final, o resultado? Existe um ganho tanto nas coisas boas, como nas coisas ruins. Basta saber separar, saber o que você subiu lá na escala.
RW: E no final isso tudo é positivo!
Wanderley: É positivo! Acho que se você não vive uma experiência, você não pode julgar, entende?
RW: E como experiência de vida então o que o senhor transmite para as pessoas é "viva a vida intensamente" - é isso?
Wanderley: "A vida é curta", não é mesmo? Acho que o amadurecimento do cérebro, talvez quando ele chega antes - isso quando não sofreu nenhum tipo de acidente - aqueles chegam à velhice com toda a capacidade de raciocínio, eu acredito - a morte chega quando o cérebro está maduro. Mas infelizmente não é ele mais que gerencia o corpo.
RW: O Buda chamou isso de estado nirvânico. O poder da mente abre-se como uma como uma flor de mil pétalas para a Luz Divina. É o estado nirvânico, que é real e verdadeiro.
Wanderley: É isso, real e verdadeiro.
RW: Estamos honrados por sua entrevista! Equipe Wolff agradece.
Wanderley: Eu que agradeço!

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