Tem perdão? Devo perdoar?

A escritora Ana Maria Wolff apresenta em seu livro Diário de Auto-análise In-Vita o tema:

PERDÃO

Cristo em seus momentos finais disse "Perdoai Pai, eles não sabem o que fazem" - depois mergulhou num estado de interiorização. Teria ele recebido uma resposta assim?

Em primeiro lugar, o perdão que se tem que dar é a si próprio por não ter podido perceber o estado carente de compreensão e de ajuda em que se acha o outro ser. Se fomos feridos por alguém foi devido à nossa própria irreflexão e egoísmo. Vivemos concentrados em nossa própria e confortável maneira de ser e existir. E não nos apercebemos da situação aflitiva ou de enfraquecimento de nosso semelhante.

Se ele fraquejou... porque não o fortalecemos antes daquele esmorecimento? Se nos feriu... porque o nosso alheamento permitiu que o carente se manifestasse naquele estado de consciência. O nosso silêncio de ajuda, a nossa ação em "muda compreensão" hoje nos pouparia a difícil e dura prova de nos perdoar... que é o mais difícil dos perdões. Porque envolve luz, envolve evolução, envolve compreensão, acima de tudo de nossa falha: o ter mansamente pousado amor num ser conflituado. E dado bases para que força espontânea mudasse o curso dos seus pensamentos levando-o a conclusões frescas como o alvorecer de um novo dia. Porque nos alongarmos na noite... se o dia surgirá? Porque nos prendermos a este negro estado de "perdão" se a luz da compreensão pode surgir para novos estados de entendimento, de consciência?

Assim, aquele que perdoa ao outro está duplamente confundido. Não existe perdão ao próximo: existe o clarear de si mesmo para que a sua luz íntima clareie em todo o seu raio de ação.

Réstia de Luz

De qualquer forma "Perdoai Pai"... significa que se Ele orava por seus inimigos, Ele já tinha outra compreensão. Poderia ser expresso assim:

ELA
Perdão, meu amor, perdão!
Que volte toda para mim
A dor absurda que lhe dei
Ferindo você, mais me magoei
Não sei mais viver assim
Sem pedir: perdão, amor, perdão!

ELE
Não sou eu a perdoar
Não tenho perdão para lhe dar
Você só pode me atingir
Porque antes não soube lhe ouvir
Compreensão não soube lhe dar
É a mim que tem de perdoar

VOZES DO CORO
Aquele que perdoa
A quem lhe magoa
Está duas vezes errado
Pois só pode ser magoado
Por não saber ver o estado
De quem já estava magoado

ELE
Perdoar a mim é esquecer
Quebrei o silêncio da tarde
Gargalhei na Catedral
Aprisionei em minhas mãos
Retendo as penas do pardal

Sem querer pedir perdão
Esmaguei a esperança
Sem sequer dar confiança
As flores sutis da mata
Matei as flores da mata

Perdão, perdão!
Você, minha catedral
Doce e lindo pardal
Flor silvestre esmagada
Minha doce madrugada
Perdoa o meu perdão!


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