Diretor de escola em Itaboraí - José Carlos de Moura
Depoimento de uma aluna:
Eu cheguei de carro com meu pai e meu irmão. Para fazer as
inscrições. Senti um frio na barriga, por estar entrando em uma escola
nova em que eu não conhecia ninguém.
Cheguei bem na hora do recreio. Mas ninguém olhou feio ou
riu, fazendo piada.
Nos primeiros dias de aula já fiz amizades e sou feliz nesta
escola até hoje. E vou me formar, no 2º grau, com boa educação. Tive bons
professores e amizades que são verdadeiras. Tudo graças à gloriosa “Escola
Acolhedora”.
Humanista por natureza, este professor é um grande líder.Venha conhecer:
Professor José Carlos: Ao meu ver, a minha escola tem essa
obrigação: preparar o cidadão para enfrentar a vida em iguais condições com
todos.
Professor José Carlos: O que perdura é apenas o prédio.
Martha Wolff: O que ele pensou como CIEP não é o que é hoje
a escola, é isso?
Professor José Carlos: A proposta é do Darcy Ribeiro. O Brizola apenas colocou em prática
aquilo que o Darcy Ribeiro. O processo idealizado por ele passava por uma
escola que oferecesse conforto para os alunos.
Martha Wolff: A ideia da construção foi excelente. Muito boa
mesmo.
Professor José Carlos: É. E eles não pouparam esforços. Você vê que, para começar, pegaram o melhor arquiteto do mundo, ao meu ver,
Niemeyer, para projetar.
Reinaldo Wolff: E quanto à filosofia educacional do Brizola,
o que o senhor acha dela?
Professor José Carlos: Do Darcy Ribeiro, não é?
Reinaldo Wolff: Sim. Os conceitos postos por Darcy Ribeiro
junto com Brizola.
Professor José Carlos: Eu vou ser sempre um defensor desse
projeto. Até inclusive, quando eu vim para cá, a primeira vez, como diretor em
1994, foi no Governo Brizola. A escola foi inaugurada por mim aqui. Eu
acompanhei os dois aspectos. A transição... Então, eu vim para trabalhar
nesse projeto mesmo. A intenção era essa. Aprender como aprendi. E tentar
colocar em prática aquela ideia da escola em tempo integral. Que é uma ideia
que eu defendo até hoje. Hoje mais do que nunca, acho que eles estão vendo que
a solução para muitos desses problemas que estão acontecendo hoje talvez fosse
isto. A criança ficar mais tempo na escola.
Reinaldo Wolff: Por exemplo, a parte da tarde poderia ser o
profissionalizante.
Professor José Carlos: Poderia ser o profissionalizante.
Professor José Carlos: É... E poderia ser oferecido outro
tipo de ensino também aos alunos. Oficinas de complementação, de leitura, de
teatro, de música. Que também são elementos importantes.
Reinaldo Wolff: Quais as prioridades na educação hoje? Que
estratégia para clarear os valores prioritários?
Professor José Carlos: Olha, talvez seja até complicado
falar sobre isso. Porque eu sou um representante do Estado. E o Estado está com
uma política, que eu não concordo. Mas sou obrigado a obedecer porque sou um
funcionário do Estado. A partir daquele resultado que colocou o Estado do Rio
de Janeiro como um dos piores estados na questão da educação, eles resolveram
revolucionar tudo e tem havido uma preocupação grande em mudar. A gente sabe
que tem essa preocupação. Mas os métodos que estão sendo utilizados eu não
concordo. Mas pelo menos a gente pode dizer que hoje, o Estado possui uma
metodologia de modificar o quadro da Educação. Coisa que não existia antes. Eu
sempre tenho dito isso nas reuniões de direção. Que pelo menos hoje existe uma
proposta, existe uma intenção de acertar. Mas aí, quando a gente começa a
avaliar essa proposta, aí a gente encontra uma série de coisas que nós não
concordamos. E eu preferia não mencionar isso.
Reinaldo Wolff: Está certo. Como entende o momento político educacional do Brasil atual?
Reinaldo Wolff: Seria uma exclusão aos demais. E injusto,
por sinal.
JC: Muito injusto! Então eu penso que o momento é novo e eu
acho um momento bom. Ainda está muito longe do que pretendemos, mas temos que
considerar também que foi muito tempo de abandono mesmo, pela educação. E agora
para fazer esta retomada, leva muito tempo.
RW: Que objetivos básicos deve priorizar em seus alunos?
JC: A gente trabalha a Educação como um todo, mas particularmente, eu tenho de além de
preparar o aluno como cidadão, eu me vejo na obrigação de tentar encaixá-lo no
mercado de trabalho. Agora por exemplo, eu estou preparando um processo aqui, e
que nós vamos dar entrada até 31 de março, para autorizar o curso técnico de
enfermagem.
MW: Maravilha! O senhor acertou em cheio.
JC: Pois é!
MW: Nós sugerimos esse curso para o Exército, Marinha...
RW: Eu estive entrevistando o Comandante da Marinha, no
Sanatório Naval, lá em Friburgo, e sugeri exatamente isso a ele. Colocarem um
curso de enfermagem. Está fazendo falta.
JC: Então, e com o crescimento que vai haver na população de
Itaboraí... E a ideia é lançar, depois, outros cursos, pelo menos mais
uns dois, eu acho que a gente pode lidar com um curso profissionalizante.
RW: E tem data prevista para início?
JC: A ideia é começar a partir de 2014, a gente tem que
aprovar até agosto, dar entrada até 31 de março.
MW: E seria aula aqui?
JC: Aqui na escola. Duas turmas, uma à tarde e outra à
noite. À tarde para atender os alunos da manhã, que fariam no contra turno. E à
noite, para atender os alunos do EJA, que vai concluir o 3º ano e já entra
fazendo o profissionalizante.
RW: Quais seriam os outros dois cursos?
JC: O Estado nos forneceu uma lista de aproximadamente 20
cursos. Os outros eu vou consultar os alunos para ver qual é...
MW: O senhor falou que seriam mais 2 ou 3. Quais seriam?
JC: Em minha opinião, seria o técnico de meio ambiente.
Porque isso? Porque eu tenho bastante professores na casa, que poderiam
preencher o quadro. Então esse é um fator favorável. Como é o caso de
enfermagem também. Mas existem outros, como por exemplo, técnico em edificações.
Mas aí tem que ver o que os nossos alunos querem. Tem um outro também que seria
o técnico em química, porque as indústrias que virão para Itaboraí, serão todas
do setor de química. Então vai se empregar muita gente nesta área. E tem também
o técnico em segurança do trabalho, que também é um curso interessante. Então nós
vamos oferecer todos os cursos que o Estado nos ofereceu. Então a gente vai
discutir com os alunos.
RW: E a parceria público-privado? Seria interessante, neste
caso?
JC: Da outra vez que nós pensamos isso, aqui, nós vimos que
teria que ser feito com a parceria, não é? Então nós pensamos até em pedir
ajuda à PETROBRÁS, por exemplo, para montar os laboratórios. Porque um curso
profissionalizante, para mim, tem que ter laboratório. Senão, não é
profissionalizante. Para ter aula prática. Só ficar aprendendo teoria, não...
Então, nós estávamos preparando todo um processo para ter essa parceria.
Primeiro com a PETROBRÁS... Enfim, com outros órgãos. Mas naquela ocasião, nós
recebemos a resposta que era pra aguardar porque o Estado ia bancar esses
cursos. Aí, agora, veio a proposta e eles estão se propondo a arcar com as
despesas.
MW: E quando é que vai ter uma nova reunião estadual, de
educação, projetos, e tudo... Não vai ter uma reunião?
JC: Para tratar esses assuntos? Bom, acho que agora eles estão
aguardando o prazo que nos foi dado até o dia 31 para esperar as escolas que vão
entrar com o processo. A partir daí eles devem chamar, para conversar, os
diretores das escolas que entraram com o processo.
RW: O que falta que a comunidade possa fazer para ajudar a
escola?
JC: Pois é, nós gostaríamos de contar com uma participação
maior da comunidade. Mutirões, e mesmo em reuniões de pais. Mas, tem que
compreender também, que uma grande parte dos pais dos meus alunos, precisa
trabalhar. Pai, mãe, irmãos... Então, aqui por exemplo, a professora Eliane que
é responsável para organizar as reuniões pedagógicas. Então, ela faz reunião
7hrs da manhã, 10hrs da manhã, 7hrs da noite. A mesma reunião para poder pegar
os pais em horários diferentes a fim de que eles possam participar. Nós tivemos
reunião hoje de 4 turmas, vieram 4 pais.
RW: Professor, essa ideia de Amigos da Escola, funcionaria
aqui?
JC: Eu estou esperando ajuda. Eu acho assim - o
Amigos da Escola não é a direção que tem que propor. Eu acho que é os pais que
têm que propor. Porque se eu chegar para um pai - “Vem cá, o senhor pode ajudar
aqui, dar aula de xadrez para os meus alunos?” - “Ah, não sei. Tem que ver o
meu calendário, minha agenda... Aí depois eu marco com o senhor”. Marco com os
alunos. Aí vêm os alunos e aquele pai não vem. Eu vou cobrar do pai o que? “Ah,
o senhor não veio...”. Entendeu? É parte da própria pessoa...
RW: É verdade. Professor, e quanto aos dirigentes estaduais,
o que falta fazer?
JC: Hoje eu diria que nós estamos sobrecarregados de
trabalho. É uma carga de trabalho muito grande nas escolas. Eu, hoje, estou com
duas diretoras adjuntas, mas teve uma época que eu estive dirigindo a escola
sozinho. Na época que o Marcos ficou doente, e depois ele saiu, eu fiquei um
ano sozinho dirigindo a escola. E tanto faz você ter um, ou dois, ou três
dirigentes. As cobranças são as mesmas. Eles não querem saber. E são coisas que
chegam em um dia pra você aprontar até o meio dia do dia seguinte. É tudo muito
corrido, muito em cima da hora. Então, há uma sobrecarga. E um outro problema
que a gente passa também é falta de pessoal na escola. E que acaba interferindo
no trabalho da direção, diretamente.
RW: Poderia dar uma sugestão, se me permite, colocar o nome
do projeto de Amor pela Escola. Que aí cada um vai ter que demonstrar o seu
amor pela escola. Fazendo algo que beneficie seu colégio. Porque isso faz
falta. Tanto o sentimento cristão do amor. Não o amor egoísta, deturpado. Mas
no sentido cristão, puro e verdadeiro. Como a colaboração que este amor possa
fazer! Que equivale a Amigos da Escola. Só que em vez de ser os pais dos alunos
colaborando, são os próprios alunos. Fazer mutirões no sentido de ajudar a
escola.
JC: Essas duas turmas que nós pretendemos montar, nós vamos
estar...
RW: Só uma sugestão, tudo bem?
MW: Vão gostar muito de voltar.
JC: Voltam pra escola, e aí vão voltar dando uma importância
maior a essa escola. Por que na maioria das vezes que os alunos quando voltam
para visitar a escola, eles vêm elogiando sabe? “Puxa vida, mas que época boa
quando estudava aqui! Que escola! Que professores amigos!”
MW: Meu tipo de lembrança do tempo de escola era de muita
disciplina, rigorosíssima! E eu noto que não é esse o fator mais visado.
JC: Hoje não é mais tão rigoroso.
MW: E no entanto os jovens estão mais felizes!
RW: Naquela época os professores sempre eram muito
rigorosos.
MW: Se não tivesse o distintivo igualzinho ao que foi
estabelecido o aluno não entrava na escola.
JC: Aquela época era a do castigo. Mas eu nunca fui
castigado, porque eu era um bom aluno. Hoje não se admite mais castigo. Tem
gente que acha que os alunos estão piores por conta disso. Mas eu não acho! Eu
ainda acho que a palavra ainda é uma grande forma de persuasão! Às vezes você
chega, o aluno está nervoso, você desmonta isso com meia dúzia de palavras que
você fala para ele. Se ele chega nervoso, a gente fala baixo, calmo.
RW: A nossa madrinha disse que uma palavra calma amansa.
Amansa a fera. O sentido feroz da outra pessoa. Dar sempre uma palavra calma,
uma palavra de Deus é tão importante, não é, professor?
JC: É. Nós trabalhamos com isso. Eu estou dentro da Educação
há 36 anos. Era para estar aposentado há dois anos, já.
RW: É amor à profissão.
JC: Sim. E também por necessidade, não nego. E me faria
falta hoje a gratificação que recebo do Estado. E se eu perdesse, me faria
falta. Mas também gosto muito de trabalhar. Com satisfação, com prazer, com
amor. Dou aulas em outra escola também. Dou aulas ainda. Aqui estou fora de
sala há oito anos. Mas trabalho em uma escola Cenecista em Venda das Pedras.
Dou aulas de História. E gosto de lecionar.
RW: Que soluções pode sugerir para evitar os problemas de
hoje na educação?
JC: A gente tem que trabalhar com amor. É saber
entender os problemas dos adolescentes. Olha só - a minha clientela aqui - eu
sempre bato nessa mesma tecla - em sua maioria, são alunos que não têm
compreensão em casa. Não tem um pai que fale “Senta aqui meu filho. Vamos conversar.
Eu quero te ouvir! Fala para mim”. Entendeu? Não há isso! Então o que a nossa
escola tem que fazer? Tem que oferecer isso que eles não tem em casa. O amor
que ele deveria ter lá, a compreensão, o “senta aqui, vamos conversar”, a gente
é que tem que fazer isso! Quando a gente fala em escola acolhedora é que a
gente tenta passar isso aí, também para os professores.
MW: E quem escolheu esse nome?
JC: Há uns 6 anos atrás, eu vi uma reportagem na revista
Nova Escola, falando de uma escola acolhedora, eu li e achei interessante. Aí nós
convidamos uma psicóloga para vir fazer uma palestra na escola para os
professores, por que nós queríamos transformar essa escola numa escola
acolhedora. Nós queríamos que ela viesse falar “O que é acolhimento?” “O que é
receber as pessoas de braços abertos?” “É procurar compreender os seus
problemas“. E aí você começa - desde o funcionário - porque, se você tem um
funcionário que é compreendido, que você pára para ouvir os problemas dele...
Ele depois vai atender bem o aluno, lá. De forma indireta você está trabalhando
isso. E o aluno também - o aluno está com problema, é você tentar entender: “porque
esse aluno está com problema?” Muitas vezes o aluno tem dificuldades de
aprendizagem. “Não consegue prestar atenção na minha aula porque não está
conseguindo entender o que estou falando”. Você acolher é isso: É você entender
o problema do outro! Então a gente faz sempre esse trabalho com os professores.
A escola aqui, pelo menos eu tento dar essa cara para a escola.
RW: Esta então é a razão deles terem paz! É o acolhimento
dos professores.
JC: É. O professor-amigo. Que almoça junto com os alunos. Os
nossos professores almoçam junto com os alunos lá no refeitório!
RW: Mas isso é um sentido fraternal até.
JC: É. O professor sai da sala e vem junto com os alunos
conversando. O aluno vai na sala dos professores senta e bate papo. Na nossa época,
as escolas tinham aquele palco, o professor tinha que ficar no alto e os alunos
lá em baixo. Terminava a aula o professor saía disparado, porque ele não queria
responder nada ao aluno, conversar, dar explicação. E se escondia na sala dos
professores, para só sair no final do recreio.
MW: Era assim mesmo! O senhor faz palestras?
JC: Não.
RW: O senhor deveria falar essas suas ideias. Se o senhor
nos permitir vamos convidá-lo para fazer uma palestra numa próxima reunião da
AFI.
JC: Para falar das experiências do meu trabalho, eu falo.
RW: Como prevenir de situações de emergência para haver
maior segurança? O grande problema na atualidade, no colégio, muitos pais nem
colocam seus filhos na escola, devido ao medo quanto à segurança. O que pode
ser feito?
JC: Olha, o Governo do Estado lançou um programa agora
chamado PROES, em que eles estão colocando dois policiais em cada escola. Aqui,
nós não fomos agraciados ainda não, mas a gente está esperando. A qualquer
momento vai chegar. Eu sempre fui a favor disso.
MW: E que tipo de policial é? O senhor sabe?
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