Advogado Aécio Brandão Soares em entrevista exclusiva ao jornalista Reinaldo Wolff
Ponto de vista – Família, Religião
Projeto Você É Muito Importante Para Nós © Equipe Wolff
A paixão pelos livros têm ocasionado conhecer pessoas interessantes
nesta livraria do centro de Niterói. Aqui o encontro de ideias sobre a família
e a profissão de advogado faz a Equipe Wolff entrevistar um dos mais
proeminentes advogados de Volta Redonda. O jornalista Reinaldo Wolff se apresenta com algumas referências de suas grandes entrevistas. E a seguir vamos conhecer os conceitos de vida do advogado Aécio Brandão Soares. Acompanhe:
Reinaldo Wolff: Eu já entrevistei o professor Soniarlei, o professor Marco Antônio
Silva, o professor Rogério Travassos. Uma serie de pessoas proeminentes na
advocacia. Aqui na presença dele (o lojista livreiro) entrevistei o Bispo de
Campos. Eu fico muito grato pela entrevista com o Bispo de Campos! Porque eu
dei um conceito a ele! Acontece que estou fazendo Teologia.
Nosso entrevistado pausa aquela lembrança e comenta:
Aécio Brandão Soares: Eu sou batista.
RW: O sr. é batista? É bom... então o conceito que eu dei foi o seguinte –
Quando o professor da Facite disse à turma “Como água e óleo não se misturam.
Mexe e não consegue. Que nem católico e o evangélico. Eu desafio alguém que
consiga fazer essa mistura!”. Eu disse ao professor da faculdade “Pastor, eu
tenho uma solução para isto”. “Ah, tem? Então eu vou aprender”. Senti que ele
não esperava por aquilo... alguém responder. Eu disse “É simples: ferve! Quando
ferver, ambos se misturam”.
Nesse momento nosso entrevistado sorri.Reinaldo prossegue:
RW: Eu percebi
que ele ficou surpreso em receber a resposta. E eu dei esse conceito ao Bispo
de Campos: se esquentar o coração do evangélico e do católico, a essência única
– é Cristianismo!
ABS: É, eu vejo isto hoje. Até porque a minha situação é bem peculiar: a
minha origem é católica! Na verdade eu... Até frequentar a Igreja Batista – e
com o conhecimento que eu fui adquirindo – e a própria frequência, fui me
convertendo e fui batizado Batista. Mas, como eu sou de “fora” – vamos dizer
assim – e entrei... Eu tenho uma visão muito mais panorâmica. Muito mais abrangente
do que uma pessoa que já nasceu dentro do seio Batista. E a visão que eu tenho,
é justamente, no sentido de que há sim, existe um preconceito relação à
religião evangélica. Por falta de conhecimento do que é que realmente seria a
realidade da religião evangélica. Quando você fala: Igreja Católica, você
abarca todo um conjunto de igrejas católicas – e todo mundo sabe que você tem
ali uma liturgia única de doutrina única. E aí o que é que ficou? Na realidade
o termo “evangélico” acabou abrangendo toda e qualquer igreja que se
autodenomina evangélica. Cada uma com sua liturgia própria, sua doutrina
própria. E que nem sempre agrada aos outros evangélicos... Geralmente um
católico não critica outro católico. Mas os evangélicos em si, e essa
visão eu tenho hoje – por exemplo, a doutrina batista é uma doutrina que eu me
identifico. Mas eu não me identifico com outras igrejas que se autodenominam e
que são denominadas evangélicas, mas não têm esse raciocínio. Para uma pessoa
que está de fora, ela abarca todas as pessoas numa cerca só. Mas na realidade,
todos estão classificados como evangélicos na sociedade, e são completamente
diferentes em termo de doutrina, de liturgia, de credo, em termos de
atividades, de atuação e de ação. Esse é um ponto que eu percebi claramente.
RW: Sim. Você me entendeu? Esquentando o coração das pessoas, o cristão é
único. É interessante notar que quanto aos sentimentos do cristão – o cristão é
um só em todo o planeta! E o Bispo agradeceu-me esta mensagem. Tanto é que o
Bispo me abraçou, e agradeceu a reportagem. Ele me disse “Valeu este meu dia!”.
Ele considerou importante. E a Igreja Católica agora está abrangendo muito e o
Papa começou a falar do ecumenismo de forma muito intensa. Então um Bispo é
capaz de mandar uma mensagem ao Papa. Não por arrogância da nossa parte, porque
o coração tem que ser sempre humilde.
ABS: Sim, compreendo.
RW: O coração do cristão não pode ser arrogante, tem que ser humilde. Mas o
fato é que a mensagem foi adiante. O importante é que o Papa está fazendo culto
ecumênico. É importante que o Papa está fazendo a união dos cristãos. É
importante isso!
ABS: Sem dúvida! O que ocorre é o seguinte. Mesmo aquelas igrejas que têm
algumas atitudes que alguns criticam muito... a grande maioria dessas igrejas
acaba fazendo o bem de alguma forma. Tira um bêbado do alcoolismo, tira um
drogado da situação das drogas. É impressionante isso! A gente vê igrejas – não
vou citar nomes aqui nesta entrevista – mas a gente vê igrejas que são
duramente criticadas, com ações envolvendo situações de dinheiro... mas que a
sua atuação dentro da sociedade, em algum momento, ela só faz o bem. Tira as
pessoas daquela situação muito ruim.
RW: Vamos conversar sobre sua carreira de advogado e a sua religião.
ABS: É uma questão muito interessante a minha atuação como advogado e dentro
desta inserção dentro da Igreja Batista. Quanto aos problemas que vêm ao meu
escritório, eu tenho tentado trazer as soluções a estes problemas que são
trazidos dentro de meu escritório, num âmbito de ambiente religioso. Por
exemplo, fiz uma palestra recentemente sobre o problema da família. O que
ocorre hoje? Às vezes você vê, hoje, jovens que nos procuram no escritório.
Jovens que casaram há 3, 4, 6 meses atrás, e já nos procuram para fazer o
divórcio. Ou seja, muitos casais casam para ver – a palavra é esta – o jovem
chega à minha mesa de escritório e fala assim para mim “Eu casei para ver no
que é que dava!”, “Eu casei para fazer uma experiência” – utilizando a
instituição do casamento para uma “experiência”! Os jovens precisam ter uma consciência
do que é um casamento... o que é conviver junto.
O que é constituir família. O que é construir juntos.
Porque senão... à primeira briga, a primeira coisa que vem – quer separação.
Realmente esse é um assunto que me incomoda muito. Eu, apesar de não ser mais
advogado de Direito de Família, eu vejo isso acontecer com os advogados de
nosso escritório. Casais extremamente jovens. Com pouquíssimo tempo de
convivência. E já procurando a separação.
RW: É necessário ter o conceito de família enraizado. Bem estruturado. É
necessário o homem ter dentro de si o conceito do Religare. Por exemplo, um
homem erra porque pode pensar que “tudo é gratuito”, não é? Porque o camarada,
estando com ela, está deixando de dar à pessoa verdadeiramente amada. E a
herança é dividida. O nosso Direito Brasileiro, oficialmente, não admite a
segunda esposa simultânea. Como é o Direito Arábico (que admite várias
esposas). Mas, na prática, os filhos fora do casamento, hoje em dia, terão os
mesmos direitos de herança.
ABS: Exatamente, os mesmos direitos! Não existe nenhuma diferença em relação
aos descendentes.
RW: Agora ele vai ter que abarcar no orçamento familiar todos os filhos fora
do casamento. E isso vai abarcar o patrimônio da família. Então, no meu
conceito, há a necessidade da pessoa ter a visão do conceito de família. É
fundamental! O que o senhor acha disso?
ABS: Sem dúvida! A religião traz uma fundamentação para que se sustente a
instituição do casamento. O que se sustenta sem o Cristo? Sem o apoio, sem uma
base – o apoio mesmo! - de conhecimento religioso. Porque o casamento, visto na
convivência normal da sociedade de hoje, você tem uma série de situações que
atacam o casamento a todo instante. Você tem aí a mídia – as novelas – toda a
mídia faz apologia a não-manutenção do casamento. Se a pessoa não
tem uma força muito grande de conhecimento interior, ela acaba sendo, de alguma
forma, influenciada. Não é verdade? Principalmente em relação aos jovens.
Muitos deles que ainda estão juntos e ainda nem se casaram. Eles só estão
“enrolados”. Existe toda uma série de instituições que atacam o casamento a
todo momento. E são as instituições mais importantes da sociedade. Inclusive
existe hoje, até, tendências políticas tentando aprovar leis que efetivamente
querem acabar com a família no sentido tradicional da palavra... Para contrapor
isso, realmente tem havido um movimento religioso. Não é um movimento de
ataque. É um movimento de conscientização, valorização da família.
RW: É o Tradição e Família?
ABS: Este realmente eu não conheço. O que eu estou falando aqui é no meu
conceito pessoal, é muito mais no meu sentimento. Eu não estou falando aqui com
qualquer envolvimento em grupos organizados, vamos dizer assim. É o meu
sentimento hoje. Na verdade, o foco principal da minha profissão é consultoria
empresarial. Empresas que enfrentam dificuldades na área tributária e jurídica.
Como eu não sou daqui do Rio de Janeiro, não conheço muito o ambiente jurídico
do Rio. Meus contatos são fora daqui da capital. Hoje existe uma infinidade de
escritórios tributários importantes. Acaba, no final, conhecendo uns aos
outros. Em algum momento, ouve-se falar de um e de outro, vê em revistas
jurídicas aquele nome, e assim por diante.
RW: O seu ambiente jurídico é muito mais em Volta Redonda ou é em Barra
Mansa?
ABS: Volta Redonda tem um corpo jurídico disponível muito maior do que Barra
Mansa.
RW: Barra Mansa tem faculdade de Direito?
ABS: Sim, nós temos uma faculdade em Barra Mansa, e em Volta Redonda nós
temos duas. Temos a Fundação Oswaldo Aranha, e a universidade UVE.
Martha: A essa fundação, nossa mãe propôs abrir uma universidade na
Fazenda da Grama.
ABS: A pessoa que trata as diretrizes da Fundação, atualmente é o senhor
Dalmo Aragão.
RW: O senhor é professor universitário?
ABS: Não sei se tenho esse dom.
Martha: Ah, tem sim. A pessoa bem formada espiritualmente é uma
liderança.
RW: O senhor é um orientador de jovens.
ABS: É. Eu tenho uma trajetória no Direito um pouco peculiar. Eu me formei em
Engenharia, na minha juventude. E acabei, por uma questão de vida a me envolver
em outras áreas. Em função destas áreas na qual participei, o Direito se
tornaria uma ferramenta essencial. Assim, fui fazer a faculdade de Direito.
Gostei. Há alguns anos venho exercendo o Direito. Até por isso mesmo, acabei
sendo advogado de algumas empresas da área de engenharia. Entre elas, sou
advogado de uma empresa de captação de minérios. A metalurgia é uma coisa muito
ampla. Ela vai desde o produto finalizado até a matéria prima.
RW: Qual o melhor reconhecimento que o senhor recebeu por sua atuação profissional?
ABS: De meus clientes. Sempre.
RW: Conte-nos uma passagem bem interessante para os nossos leitores.
ABS: Eu tenho uma passagem de uma cliente que chegou no escritório chorando
muito. E eu levei um certo tempo para acalmá-la. Ela, com dois filhos pequenos,
morando num lugar extremamente humilde. Quase bem próximo da miséria. E
chorando muito, e explicando sem nenhum documento, que o pai dela tinha deixado
um patrimônio imenso para ela. E que esse patrimônio estava sendo dilapidado
por alguns sócios. E eu acreditei na palavra dela. Elaborei uma pesquisa entre
os cartórios, verifiquei que o que ela tinha me contado era verdade. E ao longo
de um trabalho de dois anos, nós conseguimos trazer para ela uma herança de
valor muito significativo... e que mudou a vida dela! Hoje ela saiu daquela
situação, hoje ela está morando em casa própria, conseguiu dar dignidade de
vida aos filhos – o que ela me agradeceu imensamente. Eu acredito assim – que
eu não fiz nada de mais além do que é o meu trabalho. Mas é aonde a gente pode
comprovar que a atividade de um advogado pode mudar a vida das pessoas! Esse é
também um problema que eu vejo. A gente debate muito isso entre os colegas –
por que eu sempre vejo nas novelas, nos programas. Você sempre vê nas novelas,
nos programas de TV – o advogado é retratado sempre como um cara voltado para
maldades. Nunca tem uma novela com um bom advogado na trama! E nos filmes, na
mídia – o advogado é mostrado como “advogado é sempre aquele pilantra”! Mas eu
pergunto – não tem alguém que vai defender a imagem do advogado? Não tem um
advogado em filme/novela que faz uma coisa honestamente, corretamente? O
advogado é bom – é essencialmente - na sua grande maioria! E é sempre retratado
como “um cara que quer tomar o dinheiro todo”! Como um profissional que não tem
receio de nada! Isso incomoda muito uma pessoa digna.
RW: É uma queima de imagem.
ABS: É isso, queima de imagem! O que a gente ouve de piada, não é? Aquela que
um advogado pergunta pro outro quando se encontram “Vamos tomar alguma coisa
hoje?” - e o outro responde “De quem?”.
(Sem querer nós rimos muito)
ABS: Eu sei que é só uma brincadeira. E aí o que acontece? É alimentado por
uma mídia! A gente acaba até rindo. Mas é demais! De uma certa forma a gente
tem um certo desconforto com isso que se passa! Eu ouço algum colega falar que
a novela agora tem um advogado que está “fazendo o mal” – a figura dos
advogados nas estórias, em grande parte dos filmes, é sempre mostrada como uma
pessoa do mal. Eu sou do bem! É impressionante.
RW: É necessário fazer uma reconstrução da imagem. Hoje há uma figura do
Direito que se chama dano moral corporativo. Onde eu estive num Congresso
Internacional de Responsabilidade Civil em que o tema desenvolvido era que
antes só havia o dano moral individual. Hoje há o conceito “dano moral
corporativo”. Ninguém pode denegrir a imagem de uma classe de forma
irresponsável. Quando na realidade é bem ao contrário. Eu, ao longo desses anos
de faculdade, tenho visto pessoas muito sérias, muito centradas no que fazem –
com muito estudo. Nada tem a ver com tudo isso que eles falam nessas estórias
da mídia. São pessoas ligadas à estruturação do mundo jurídico. São escritores
jurídicos. Por tudo isso, nota-se que é necessário uma defesa de imagem de
classe.
ABS: É. A OAB está aí para isso! A gente percebe que ela tem se movimentado
cada vez mais na defesa de nossas prerrogativas. Só as pessoas sérias que estão
trabalhando de uma forma correta. Hoje temos uma diretoria excelente, trabalha
cada vez mais em prol dos advogados. Então acho que tudo vai ser resolvido.
Tudo que eu estou falando aqui é a minha percepção. A percepção que eu tenho -
na realidade é um depoimento pessoal. Um comentário.
RW: Como é viver em Volta Redonda? Gosta da região?
ABS: Gosto! É uma cidade industrial. De característica industrial. É tudo
como numa balança – nunca você tem só o ganho. Quando você ganha alguma coisa,
você também perde alguma coisa. É uma cidade que você tem uma qualidade de vida
boa em relação à cidade em si, da estrutura física da cidade. Existe uma
circulação de dinheiro muito boa que acaba fortalecendo o comércio, há muitas
empresas. O problema hoje não digo que é o trânsito (trânsito é um problema
brasileiro, não é um problema de cidade) - mas é a poluição. E o que eu vejo em
Volta Redonda hoje é o custo-poluição que você paga para ter empresas que geram
renda. A gente percebe que o Ministério Público tem atuado muito no sentido de
obrigarem para que as empresas instalem filtros, equipamentos que diminuam a
situação.
RW: Que mensagem o senhor passa aos nossos leitores como mensagem de vida?
ABS: Olha eu tenho uma mensagem que eu trago comigo desde garoto. Não vou
dizer desde criança – porque de criança a gente não lembra. Se me perguntarem
quem escreveu, eu não vou saber. Aonde que eu li eu não vou saber. Mas é uma
mensagem que gravou em minha memória de uma tal maneira que eu sempre transmito
essa mensagem. Se tiver algum autor dessa mensagem que me perdoe – que eu não
sei quem é. Mas eu acho essa mensagem linda: Se Deus fez as coisas para se usar
e as pessoas para se amar – porque o homem ainda insiste em usar as pessoas e
amar as coisas? Não é? Entendeu? Eu li isso em alguma de minhas viagens. Eu
achei interessante! É uma mensagem simples, que não tem maiores pretensões.
RW: A Equipe Wolff agradece a sua entrevista.
ABS: Eu que agradeço. Muito obrigado! Vocês mantenham contato comigo! Fico à
disposição de vocês o dia que forem à Volta Redonda ou à Fazenda da Grama.
Venham nos visitar.
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