O Mordomo do Imperador - Autor Américo L. Jacobina Lacombe - Biblioteca do Exército Editora - Parte II
Entretanto, procurando pelas influências e amizades de seu pai na corte, conseguiu descobrir um antigo amigo da família que o hospedou durante 3 anos!
Nessa época foi designado, devido a todas aquelas referências dos superiores, a acompanhar a comitiva quando o Rei saía a passeio para regiões afastadas do Palácio.
Acontece que o Rei gostava de ir conversando, inclusive com os soldados. Para o espanto e desafio de etiqueta para os fidalgos que o acompanhavam. O jovem oficial ia de longe observando as maneiras de se comportar nos protocolos da corte. Embora, em cartas ao irmão, revelava-se espantado com atitudes do cotidiano do Rei. Que a um jovem fazendeiro do interior de Minas, considerava escandalosos. Sem mencionar a que se referia. Aos poucos foi aprendendo as boas maneiras da corte.
Um dia, seu cavalo emparelhou-se à comitiva mais próxima do Rei, que com ele conversou animadamente. Com o inesperado, ele confundiu-se e respondeu “Sua Senhoria”. Foi imediatamente repreendido pelo erro de tratamento “Sua Majestade”. E qual não foi sua surpresa – o próprio Rei foi em sua defesa. Este foi o primeiro dia que ele serviu perto do Rei. Talvez devido a este incidente da “Senhoria” o Rei tenha marcado a presença dele. E o que mais impressionou foi verificar que o Rei era extremamente cumpridor de seu ofício – uma vida metódica, o Rei acordava às 6 da manha e já ia despachar até às 10 horas. Lia todos os documentos que ia assinar. Tinha uma memória perfeita sobre o andamento de todos aqueles assuntos. De novo, à tarde, despachava por horas. E só depois é que saía a passear. Então não era um Rei maluco, alheio às questões do Reino.
A mulher do Rei era absolutamente histérica, e os filhos pequenos agitadíssimos. Quem eram os filhos? Dom Pedro I e as irmãs. Criancinhas levadas, diríamos hoje. Para eles, naquela época, representavam: maus modos. Criança que sai correndo não sabe bem ainda os protocolos, faz travessuras, quer brincar.
Observando tudo e todos, o tenente foi aprendendo os “modos de Corte”. Então, com influência de muito dinheiro no início da vida, e sabendo se comportar em sociedade, após as missões que se seguiram ao Levante de Pernambuco, ao voltar, ele queria uma premiação. Não deram. Porque o governo estava em transição, não tinha dinheiro. (Estava uma época do jeito agora com a Dona Dilma: “Não tenho!”).
Aí foi comissionado a tarefas cada vez mais importantes. Resolvendo o melhor possível, na volta pedia ao seu comandante o documento comprovando a tarefa recém cumprida. A seguir, ele requeria uma comenda, para o adorno do ombro. O militar tem isso, a cada feito significativo, põe a referente condecoração para constar no uniforme, uma medalha ou o que! Quando alguém chega na frente de uma militar Comandante, ele tem todas as suas premiações de condecorações, medalhas, expostos no uniforme. Quanto mais medalhas, mais respeito e admiração recebe de todos.
Ele tentou por quatro vezes as tais merecidas condecorações e não conseguiu nenhuma. Um dia voltou pensativo para casa. Comprou um lanche – naquela época era um pão com manteiga... E esse pão veio com um papel com alguma coisa escrita. Ele sentou, ficou saboreando, pensativo, a refeição e foi ler. E no papel constava uma lei! Era o seguinte: filho de alguém que tenha sido um benfeitor do país, terá direito a uma dotação em dinheiro (valor alto!) Ah... Na mesma hora ele voltou para Minas, nas fazendas do pai, pegou todos os testemunhos que o pai tinha doado muito minério, e muito dinheiro, para o Governo no tempo da guerra. Pegou as provas, entrou novamente com o requerimento. E dessa vez, o Rei escreveu no papel “Sim”! E ele conseguiu um dinheirão! A seguir, comprou a patente e foi se aproximando mais da cúpula da corte. De tal modo, que quando Dom João VI foi embora, ele foi designado “Mordomo da Casa Imperial”. É quase uma espécie de “Ministro de Finanças” de hoje. Todo dinheiro da Casa Imperial estava sob o controle dele. E se tornou o homem mais poderoso do Império, até a maioridade de Dom Pedro II. A ponto de surgir no meio do povo o comentário maldoso, mas tão forte, que chegou ao nosso conhecimento neste século: “Paulo, primeiro. Pedro, segundo”. Bem chocante e traumática deve ter sido essa frase para o jovem Imperador D. Pedro II. E a verdade era esta – o controle do dinheiro estava na mão do Mordomo. O próprio Dom Pedro II andava sem dinheiro nenhum. Todo e qualquer pagamento era no âmbito das tarefas do Mordomo Paulo. E o Rei nem foi criado com a noção de dinheiro. Tinha lá suas despesas e o Rei dava ordens de mandar pagar.
Com um detalhe importante a considerar – o autor se refere ao seu biografado da seguinte maneira: militar corretíssimo, de família rica do Brasil. E que ele não foi intrigante e sempre foi correto. Com o maior poder possível. Maior que o dele, só o Mordomo Mor José Bonifácio. Ele aprovava ou não aprovava os pagamentos a serem feitos. E o Rei querendo? Aí ele mandava pagar. Mas e as influências para o Rei querer? Aquele jogo de influências acontecia mais no Sítio que se diz ao lado de um rio chamado Joana. Era a casa da Joana. Ali se reuniam e se decidiam muitas coisas. Expressão que hoje muitos ainda conhecem como dito popular “Pensa que aqui é a Casa da Joana?..”
Veja a parte 1 aqui:
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