Escolher um presente de Natal pode significar uma influência futura
-O que é a vida, e o que é a morte? Como podemos distingui-las?- Marília,
minha amiga, e professorinha de crianças do jardim de infância está diante da
incógnita secular e universal. Ela continua: - Associar a vida à luz e a morte
à escuridão não faz sentido. Pois, não existem os espíritos de luz? Como posso
explicar tudo isso aos meus aluninhos?
-Eles não precisam de nenhuma explicação. As experiências do dia a dia
não deixarão dúvidas. Aqui meu pensamento, numa corrida instantânea volta aos
meus três anos. Ouça ainda minha tia perguntar: Porque você está fazendo isto?
Com a boca cheia de
terra, eu não podia responder, nem explicar. Minhas primas mocinhas haviam me
dito: - Sua mãe morreu!
-Mas onde ela está?
-Foi enterrada e agora
está no céu!
É quando vou para o fundo
do quintal comer terra para saber como ela se sente. Ao mesmo tempo olho para o
céu, tentando entender a formação das nuvens. Quero vê-la entre aquelas imagens
fugidias.
Para aliviar meu
sofrimento, minha avó me faz uma boneca de pano. Ela tem o cabelo de novelo de
lã amarelo, os olhos dois botões, a boca pintada de esmalte: é um perfeito
fantoche. Mas eu gosto dos sapatinhos de tricô, que combinam com o casaquinho e
a toquinha.
Marília continua me
olhando e espera que eu fale mais alguma coisa. Então comento: Assisti ao
programa na TV Brasil, onde o entrevistado disse: - Estão vendo esta boneca de
pano? Ela foi da avó, da mãe e agora é de minha netinha. Nesta boneca o
imaginário infantil tem campo para se desenvolver. Ao passo que a Barbie já tem
tudo pronto! Rouba da criança o direito de imaginar.
Marília corta: - Eu
sempre gostei da minha Barbie.
Então meu pensamento volta ao passado novamente. Vejo-me com aquele
vestido desbotado, laço do cabelo atirado no chão, a cara toda suja de terra,
mas com olhar de liberdade. Isto põe Marininha invejosa. Minha prima é a boneca
de louça da mãe. Não pode sujar o vestido-não pode brincar. Enquanto eu, não
tenho mãe - sou livre para trepar nas árvores, jogar bola de gude com os
meninos, e pular corda com todas as crianças. Agora não quero mais aquela
boneca. Quero uma de louça-aquela das minhas primas mocinhas.- Não posso deixar
você pegar! Se deixar cair no chão, ela se espatifa. Ela é de porcelana!- Elas
repetem a mesma negativa.
Meu pai então traz duas Barbies. Uma para mim,
outra para Marininha. Temos a mesma idade e vivemos juntas. Deixo cair a minha
no chão. Com espanto vejo os fragmentos. Penso: morreu! Choro comovida, por ela
e por minha mãe. Pelo Natal, meu Padrinho traz outra boneca: um bebê. Vovó esconde-o
no alto da prateleira. Ela diz: Não é para pegar, ouviu?- Fico ansiosa, e
escondida empurro uma cadeira, subo em cima da cômoda, e ao descobrir o
embrulho penso; está nascendo! Está nascendo para o meu amor! - Mas caio lá de
cima, e o barulho traz minha avó. Ficando zangada ela conta para Papai. Fico
sem presente de Natal - estou de castigo, por desobediência. Aquele bebe fez-me
desejar ter três filhos. E a Barbie tão fugidia, foi minha imagem de mocinha.
Quem quer ser uma boneca de pano? A imagem que fazemos de nós na infância,
temos a tendência de projetar na vida adulta. Fiquei com o sabor da liberdade
de pensamento e a alegria de me vestir com gosto de juventude. E você caro,
leitor ainda pensa que boneca de pano é um presente adequado? Presenteie com
amor, mas se ajustar ao imaginário do presenteado. Não importa a idade - mas a
amizade! Presentear é vida que se dá e recebe.
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