Toquem os clarins: um novo presidente vai nascer!

Artigo de autoria da escritora Ana Maria Wolff


-O que você vai ser quando crescer?
-Presidente da República!
-Pois não duvido, diziam todas a pessoas.
Era só olhar para ele: forte e saudável, com um ar nórdico e uma luz impressionante no olhar: tinha tudo para alcançar o ideal que se propunha. Era muito bonito e inteligente.
Na escola a professora ensinava: "Não basta ser ambicioso, tem que lutar para conseguir o objetivo.. Isso se traduzia em passar de ano e saber mais um pouco e entrar para a escola preparatória de cadetes."
-Está preparado? Perguntou-lhe o pai.
-Ainda não. Preciso estudar mais.
-Então sua tia Rosinha vai lhe ajudar.
Essa decisão foi de amargar. A tia solteirona, imbuída no cargo de professora, exercia a plenitude de um ego imperioso. Palmatórias, proibição de andar de bicicleta, não tomar sorvete, não ir a matinê do domingo, e todos os delírios de poder ela exerceu com perfeição. Tendo levado o menino de dez anos para sua casa, ensinava-o por dez horas consecutivas. 
-Essa não! - Protestou ele naquele dia.
-Pois não vai ver sua mãe enquanto você não souber todas a s declinações em Latim.
E como não conseguiu decorar no tempo exigido, ficou olhando da janela com os olhos espichados, sua mãe passar lá fora.
Um berro de dor ouviu-se por toda rua. Não adiantou, ele não pode chegar perto da mãe. A educação era inflexível. E os examinadores na Escola Preparatória de Cadetes de Porto Alegre também eram. O menino passou. Passou também em Rezende, na faculdade militar de Agulhas Negras.
-A saudade de casa me devora, desabafava ele para os colegas. Contudo a rotina espartana, implacável continuava. E o esforço de vencer era cada dia forjado no querer determinado. Agora com dezoito anos, sentia vontade de namorar. Ia até o pequeno vilarejo próximo, mas sempre com a Bíblia na mão.
-É preciso orar. Só assim temos a energia suficiente para cumprir as obrigações. Ele afirmava para os companheiros que de vagar se uniram a ele num voto de fé. Ele criou um vigoroso movimento religioso dentro da Universidade, e que até hoje existe.
Recebeu a espada na sua formatura. Eram tantas a moças que queriam ser sua madrinha! Mas foi tia Hilda quem ele escolheu. Sentiu-se muito honrada, pois ele era considerado o cadete padrão das Agulhas Negras, cujo retrato em tamanho cartaz era exibido em lugar de realce. Até aqui a vida sorria! Foi quando ele me encontrou, numa casual tarde de praia. em Copacabana. Nosso romance evoluiu. Então ele me perguntou muito sério: "Está preparada para ser a esposa do Presidente do Brasil?".
-Sim, estou! Afirmei convicta. Ao lado dele, eu podia tudo! Ele me olhou com aquele olhar de mil sóis e afirmou: - Um Presidente precisa de uma mulher à sua altura
Ele acreditava naquele ideal com todas as forças de sua juventude. Nossas atitudes convictas transmitiam a ideia de poder. 
Desta forma, minha família não entendeu o que veio depois. A família dele, mais pobre do que a minha, entendeu menos ainda. Ele tinha sido preparado dentro de padrões muito elevados, não só morais, como financeiros.
Mas o que veio na nossa vida foi muita luta pela sobrevivência. Os ordenados sempre pequenos, as aflições do fim do mês, o desespero de nunca ter o necessário para estudar, para freqüentar lugar nenhum. Os três filhos que vieram foram nossa alegria, nosso consolo de nada ter no campo material. Sim, tentamos fazer. dinheiro de outras formas. Mas onde ficou o ideal militar de um presidente perfeito? É necessário ter dinheiro para pagar por esse ideal. Os baixos rendimentos militares não alimentam esses ideais. Agora, ele, certamente renascerá. Poderá vir dentro de qualquer menininho! Que venha de família rica, ou será mais uma encarnação perdida. O ideal precisa de dinheiro para se realizar. Mas lembremos que: o dinheiro não é o ideal único a ser atingido! Perceba a diferença! Militares do poder! Abram alas, ele vai nascer! Isto é, renascer. Ainda precisamos de um presidente militar.

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Este artigo foi escrito em janeiro de 2001. para ser publicado na Revista do Clube Militar durante a vigência da administração do General Ibiapina, que apreciou o artigo em uma resposta por escrito, porém não houve tempo de ser publicado, pois a data de mudança de administração da presidência do clube foi em maio de 2001.
A seguir, a publicação deste artigo foi feita no Jornal A Voz da Serra, em 2007. E hoje faz parte do livro Percepção - Manual Prático de Sobrevivência na Selva das Emoções, de autoria de Ana Maria Wolff e organizado por Martha Wolff.

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