Quem é a favor do aborto? - por Anna Wolff

Artigo publicado em jornal de Nova Friburgo em 2007 e que agora é parte do livro "Percepção - Guia Mágico de Sobrevivência na Selva das Emoções".


-Quem você acha que matou a menina Isabella?

-Só a justiça poderá decidir.

Minha cliente sorri de leve, de forma misteriosa. Levanta lentamente os longos cílios e murmura - Eu matei uma Isabella, e não fui presa. Porém minha consciência não me tortura.

Um silêncio pesado cai entre nós. Ela suspira mais um pouco, e demonstra grande depressão. Diz então:- Fui vítima de uma agressão sexual. Depois fiquei horrorizada quando me vi grávida daquele indivíduo. Não queria dar prosseguimento aquele gene bandido. Foi quando fiz um aborto. Matei de dentro de mim aquela vida que tinha meu sangue, minha condição boa de saúde e vigor mental. Hoje eu estou só e podia estar educando aquela criança para o bem. Ela podia ter se chamado Isabella, mas fui eu, a própria mãe, que a matei, tirando toda chance de evolução daquele gene paterno negativo.

-Sim, você praticou este crime silencioso contra você mesma. Mas pode se recuperar amparando outras crianças sem lar. Este seu ato foi fruto da depressão.

-Mas o que é exatamente a depressão?

-É esta emoção de profunda consciência de perda. Você se sentiu com perda de sua dignidade, da sua liberdade de ação, pelo corpo que ficaria pesado com a gravidez. Houve a perda do homem que amava que não aceitou aquele estupro e também do dinheiro, pois você foi despedida injustamente.

-Sim. Foi tudo isso.

-Mas o pior foi o conflito de seus sentimentos de amor que se transformaram em ódio pela incompreensão do seu companheiro. Houve a interrupção do prazer advindo do sexo e a enorme obrigação de gerar.

-Concordo. Eu fiquei desesperada! Quis acabar com tudo que me oprimia!

- Mas não pensou em outra pessoa: o seu bebê. Agora você está vivendo a supercrítica do seu ego magoado. Você encontrará aquele brilho de um olhar perdido em cada criança abandonada que ajudar.

-Devo adotar uma criança?

-Está certa de que não vai transferir para alguém esta mágoa e decepção pela vida? Uma adoção vai além de nossa vida.

-Bem, irei educar dentro dos meus limites.

-Isto não existe. A criança que adotar já vem deprimida. Geralmente, ela não se desenvolve normalmente bem fisicamente ou nos estudos: ela traz complexos de rejeição, e má formação psicológica. Chega com baixa estima e cheia de problemas. Isto impede seu desenvolvimento intelectual, se quem adotá-lo não tiver uma forte orientação educacional. Poderá você superar seus problemas para verter amor a este ser que chega para você já desequilibrado? Ao se adotar uma criança é preciso ter muito equilíbrio interior, muito amor para orientar aquela vida em depressão.


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