Entrevista com Adriana Rufino
Adriana Rufino: Na verdade, eu nunca antes pensei em ser professora. Eu atuei 21 anos na área financeira e minhas formações são nesta área. A oportunidade de dar aula surgiu inesperadamente.
RW: Destino?
AR: A minha irmã falou: “Dri, tem uma vaga para dar aula. Quem sabe lhe interesse.” Eu fui procurar. Mandei o currículo e me chamaram. E a partir daí eu comecei a dar aulas. Foi algo assim... não havia sido planejado ou programado. Só que depois que eu entrei, começou a aflorar uma vocação educacional. Tanto que hoje eu estou fazendo outra faculdade, dentro desta área.
RW: Pedagogia?
AR: Pedagogia. Para ter um conhecimento maior e didática melhor para trabalhar com alunos, independente de área ou campos de atuação. É bem interessante. Vai fazer 4 anos, agora no meio do ano, que sou professora. Foi algo que eu abracei, com bastante vontade e carinho e estou até hoje.
RW: Interessante que dentro da área de Pedagogia, uma das pós-graduações é Metodologia Audiovisual. Que é ensino audiovisual e EAD. Agora, em relação a EAD, você acredita que haja proficuidade em termos de ensino no Brasil, ou as políticas do governo podem alterar isso? Como é a sua opinião sobre essa área?
AR: Eu acredito que o EAD veio para ficar. A pandemia nos mostrou isso, que graças à tecnologia, que hoje nos une de ponta a ponta do planeta, ela consegue nos trazer informações e conhecimentos. Tanto é que se você jogar uma pesquisa no YouTube, você consegue ter diversas informações, desde como montar um ventilador, até aulas mais complexas. E eu acredito que o modo EAD realmente forma pessoas, traz conhecimento e tem a possibilidade de capacitar pessoas dentro de áreas. Mas tudo isso depende do aluno. Do foco, do interesse, da vontade de fazer algo novo.
AR: Exatamente. Tudo depende do aluno, onde ele quer chegar. Que profissional que ele pretende ser. Um profissional medíocre ou um profissional bem capacitado?! Tudo isso depende do aluno. Informações estão à disposição, só que cada um tem que saber como agregar essas informações e gerenciá-las na sua vida, no seu dia a dia.
RW: Eu como aluno EAD considero um esforço maior do que aula presencial, porque requer estudo e dedicação mais do que quem está presencial, porque às vezes o presencial é um esforço muito grande do professor. No caso do EAD o professor faz o esforço, mas se o aluno não participar ativamente ele vai ficar para trás. Então é necessário essa aplicação do aluno, essa atitude aplicada do aluno em relação aos estudos. Eu tenho gostado muito da UNIASSELVI. Noto que as pessoas são todas muito unidas e têm um ideal em comum, o que é muito importante. Dentro de uma empresa, aos moldes japoneses, a empresa se torna uma família. E são todos tão amigos que se tornam quase como parentes dentro daquela empresa. Porque estão todos emocionalmente envolvidos. Agora professora, como é a perspectiva de novos cursos que a senhora acredita que possam vir para a área do EAD?
AR: Sobre novos cursos, a gente está entrando numa era extremamente globalizada, incluindo a inteligência artificial. E com isso ela vai trazer novos empregos, novas funções e inutilizando também muitas profissões. Trazendo novas profissões. E a UNIASSELVI está sempre muito antenada e com certeza já está em busca de novas informações, sobre esses cursos que estão entrando. Tem diversos cursos de aprimoramento voltados para essa área, porque é inevitável. Não tem como a gente tapar o Sol com a peneira. A inteligência artificial veio para ficar e já está mudando muita coisa. Alguns especialistas já dizem que daqui cinco, dez anos, muitas profissões deixarão de existir. E novas profissões entrarão em ação. Então as pessoas têm que realmente se preparar.
RW: A OAB, por exemplo, não admite que seja feito EAD. Porém até a profissão de advogado no futuro, poderá ter risco. A inteligência artificial avança em tal proporção, que vai pôr em risco profissões. Aos moldes do que é feito na Inglaterra, existe o ‘common law’. Aqui nós temos o ‘civil law’. Que é a lei civil. E quando existe jurisprudência sobre o assunto, vai formatando determinados casos. Quando incidem outros casos semelhantes aquele, a inteligência artificial poderá resolver. Então, até a profissão de advogado, acredito que possa ter risco no futuro. Porém, as pessoas não devem mais se bitolar quanto aos estudos. Porque o estudo é um descortínio do pensamento. E a pessoa quando tem essa vontade de aprender, não deve ser reprimida essa vontade.
AR: Concordo com você. Embora eu ainda acredito que algumas áreas realmente necessitam de aulas presenciais. Exemplo, Medicina, Odontologia. Massoterapia. São aulas que realmente necessitam que sejam presenciais.
RW: Ou até semipresencial, como aos moldes da Inglaterra. Lá tem Medicina semipresencial. Em que o aluno participa de aulas presenciais e o restante no computador.
AR: Também é uma modalidade que está muito crescente no Brasil. A inteligência artificial veio para isso. E a globalização é justamente isso. Tanto que já não é mais tão usual campus tão grandes, com diversas salas. Já que a modalidade EAD torna-se mais acessível ao público. O valor é muito mais facilitado. Independentemente, a pessoa vai remanejar o seu tempo, o seu horário e vai conseguir fazer o estudo. Diferente de um estudo engessado que você tem que comparecer ao local, com um horário marcado e não pode faltar. É diferente. Pois te dá uma possibilidade, uma flexibilidade muito maior.
RW: Agora dentro dessa área EAD existem ícones de referência, como por exemplo Estados Unidos, Suíça ou Itália? Existem alguns parâmetros que possam se estabelecer entre educação EAD de diversos países do mundo? Ou ao seu ver já está globalizado?
AR: Não vou dizer que está totalmente globalizado, porque ainda tem muita coisa pra melhorar. E isso inclui gestão de pessoas. Mas eu acredito que nós estamos sim caminhando para essa área. O Brasil ainda está se encaminhando. E eu acredito que nós ainda temos muito o que aprender. Isso é fato. Mas nós estamos bem encaminhados.
RW: Até o fim da vida, estamos aqui para aprender!
AR: Exatamente!
RW: A minha bisavó aos 94 anos de idade foi aprender francês, ela só falava alemão.
AR: Olha que linda!
RW: Ela tinha um romance na alma fora do comum. Aprendeu francês, para ler romances. É relativo a cada pessoa o que deve encontrar dentro de si, o foco do qual ela está procurando, porque hoje em dia não tem mais limites. Antigamente o limite era: “Eu não tenho dinheiro, então eu não posso estudar.” Hoje ficou barato o estudo. “Eu não tenho tempo, não posso estudar.” A pessoa pode estudar no horário que for, basta abrir o material se dedicar.
AR: E hoje nós temos também diversos programas do governo que auxiliam. Eu acredito que não há mais desculpa. A minha mãe tem 81 anos. Na época dela eu entendo que era mais difícil para estudo pela locomoção, ela morava em sítio. Então ir até a cidade era mais difícil, material era muito caro, as séries eram limitadas. Geralmente iam até a quarta série do primário, anteriormente assim se classificava. E hoje a gente ainda encontra pessoas analfabetas, mas não acho justificativa. Porque você tem a possibilidade de estudar mesmo depois de adulto. Temos diversos cursos gratuitos. Mas o Brasil é recordista no campo de analfabetismo funcional. Muitos sabem ler, sabem escrever, mas não sabem interpretar. Nós temos no povo esse problema de conseguir interpretar, não conseguem entender. E eu acho que também se deve ao imediatismo. O computador e a internet deixaram a população muito preguiçosa mentalmente. A população hoje não pensa mais. Têm tudo pronto nas mãos. No geral, as pessoas não se aprofundam na busca por informações. O pessoal usa muito o termo “Fake News”. Eu não sou muito a favor deste termo. Você escuta uma informação mastigada, que é a interpretação da pessoa que trouxe a notícia, mas você não busca a fonte real da informação?! Infelizmente isso é algo muito ruim. É parte do analfabetismo funcional. E nós somos recordistas nisso, infelizmente.
RW: Até no inglês, porque se você tem um nível superior e fala inglês, você tem uma oportunidade de fazer um mestrado até EAD numa universidade pública americana.
AR: Sim.
RW: Se não me falha a memória, como na Universidade de Washington. Existem cursos gratuitos abertos à população em geral. Então, olha o currículo de uma pessoa que é graduada, com pós-graduação também no EAD de Washington!
AR: Sim. A Universidade de Harvard também tem diversos cursos.
RW: Uma das mais famosas do mundo! Cambridge também, na Inglaterra.
AR: Também. Gratuitos!
RW: E até na Alemanha. Tenho parentes lá e me disseram que os cursos para serem reconhecidos, não podem ser como esses que estamos fazendo, em dois anos e meio. Tem que completar três anos. Então a minha sugestão, se me permite, é que a UNIASSELVI faça em seguida alguns tipos de extensão para completar a carga horária necessária para isto. Porque aí terá equivalência em outros países.
AR: Eu não acho errado. É interessante. Até porque na época que eu me formei, fiz a graduação em quatro anos. Comecei com Administração. Tínhamos o tecnólogo, mas o tecnólogo era três anos. Não existia tecnólogo em menor carga horária. E ao longo dos anos foi diminuindo, dois anos, dois anos e meio. Eu não sou muito a favor, eu acho que isso enxuga muito a matéria. O conhecimento que poderia ser mais aprofundado, fica muito superficial, muito raso e muitos aluno infelizmente não tem a vontade de se aprofundar mais no tema. De buscar mais informações, ler, fazer cursos complementares. Infelizmente essa nova geração está caminhando neste ritmo.
RW: Professora, que mensagem gostaria de passar para futuros alunos e pessoas que tenham muita vontade de se graduar?
AR: Primeiro, a determinação, foco. Saber o que quer fazer. Buscar. Ninguém consegue nada da noite para o dia. Hoje você se graduar é um mérito. Mérito na questão de você buscar informações. Você ser regrado. Você ter foco. Saber onde quer chegar. Uma pessoa que não tem foco, que não sabe onde quer chegar, qualquer caminho está bom. Então, é preciso saber o que quer e aonde quer chegar. Com isso em mente, é muito mais fácil buscar a informação e o conteúdo certo para alcançar o que necessita.
RW: E como manter a motivação?
AR: Não é fácil, pela correria do dia a dia. Mas a motivação é você saber que no futuro terá a recompensa. Não existe vitória sem luta. E tudo é um processo. Eu lembro que quando eu comecei a minha graduação, eu não tinha dinheiro para nada. Eu brinco com meu esposo que um saquinho de salgadinho era o paraíso para nós! Porque não tínhamos dinheiro, não tínhamos nada. A mensalidade era muito cara, condução etc. Então você optava. O que você ia fazer?! É sobre vontade, determinação. E a gente consegue. Hoje não está bom, mas amanhã vai ficar! Hoje o meu emprego é mediano, mas amanhã eu vou alcançar um cargo melhor. É você saber o que quer, onde quer chegar e falar “Eu vou, eu consigo!” O que eu preciso para isso? Preciso estudar? Eu vou estudar. Eu preciso me esforçar mais? Eu vou.
RW Bela mensagem, professora! Para concluirmos a entrevista, que mensagem a senhora dá, diante de tudo isso que já foi dito?
AR: O estudo hoje no nosso país não é fácil. Como nós falamos do analfabetismo funcional, é muito grande e não existe mais meritocracia. Hoje tudo se tornou imediato. Mas para as pessoas que querem fazer o diferencial, é buscar, é correr atrás e lembrar que tudo é um processo. Nada é fácil, mas a recompensa vem. Hoje a gente planta uma semente esperando uma árvore, que em breve dará um fruto. É você pensar que está plantando uma sementinha que futuramente dará o resultado do seu esforço. Você terá a sua colheita. A colheita é certa. Então é não desistir, focar no que precisa e correr atrás que o resultado vem. Isso é fato!
RW: Parabéns pelo pensamento e pela personalidade. Pelo seu jeito de ser. Agradeço a entrevista em nome da Equipe Wolff! Obrigado!
AR: Eu que agradeço, por tudo! Pela oportunidade de ter estado com você! Em aula também pelo aprendizado que você me trouxe. Pelas conversas que sempre foram muito produtivas, muito obrigada.
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