Encontro com Jesus Cristo

Conversão pelo sentimento do amor

Conversão do coração como modo de ser e agir

Equipe Wolff entrevista o Diácono Atilano, da Paróquia de Venda das Pedras - São Pedro Apóstolo - Itaboraí, RJ.


Reinaldo vem subindo os degraus da Igreja e comenta para mim: Esse ali é o Diácono. O Padre é outro. – O diálogo logo se estabelece:

Reinaldo Wolff: Não leve a mal a ignorância deste fato – mas... Qual é a diferença de diácono para padre?
Diácono Atilano: Bom, primeiro que o Diácono não pode celebrar todos os sacramentos...
Martha Wolff: O senhor já é padre?
DA: Não. O diaconato é um sacramento e é o primeiro grau de sacramento da Ordem. Geralmente quem vai ser padre, passa pelos sacramentos do diaconato. Passa por esse primeiro grau. No Ministério ele passa pelo diaconato.


A salinha é pequena, mas aconchegante. Ele parece apreensivo com a novidade de ser entrevistado. E diz:

DA: Vamos dar uma olhadinha nas questões da entrevista?
RW: A entrevista é simples. Chamo o senhor de padre?
DA: Ah, sou Diácono Atilano.
MW: Na verdade são perguntas de conceitos filosóficos.
RW: Conceitos de vida. Ideal de missão.
MW: Como é que chegou a esse caminho? Que pensamento quer transmitir para os jovens? A ideia principal é esta. Dar um bom exemplo para a juventude!
DA: Eu poderia ver?
RW: A entrevista é espontânea. Quais as qualidades que vê em si mesmo para esta carreira? É este teor.
MW: Teor vivencial. De experiência pessoal.
RW: Falaremos também sobre sua biografia. Tudo bem?
DA: Sim, vamos lá!
MW: Houve uma situação inusitada – da primeira vez que nós entrevistamos um  Padre desta paróquia, foi um debate lindíssimo. Ele chegou a se emocionar. Foi assim - um verdadeiro debate filosófico e teológico! Porém muito simples. A conversa foi muito bonita! Mas aquele debate de grande cunho espiritual ficou para uma próxima entrevista!
DA: Será um momento bem marcado na lembrança de vida. Não é mesmo?
MW: Sim. Este episódio ocorreu um ano antes da vinda do Papa ao Brasil. E o tema da entrevista realizada foi exatamente a questão dos jovens! Como a Igreja está buscando os jovens para a fé? Foi exatamente o tema do Papa!
DA: Hoje eu ainda não estou com a camiseta clerical - se for o caso poderíamos depois fazer uma nova foto!
MW: Eu achei muito bonita essa imagem pintada na parede desta sala.
DA: O Bom Samaritano.
MW: Nós temos uma página escrita pela nossa mãe, a escritora Ana Maria Wolff: Creio em Mim, Porque creio em Deus.
DA: Sim, ele já comentou sobre esta página.
MW: Nós divulgamos na 1ª vinda do Papa ao Brasil, saiu até nos jornais de Brasília, fui na TV falar que nós entregamos esta mensagem para a equipe do Papa.
RW: Nós somos de origem da Igreja Luterana - não leve a mal - mas eu nunca saberia como tratar o diácono, desculpe a minha franqueza. Chamo o senhor pelo nome?
DA: Chame-me Diácono Atilano. A ordenação a Padre está marcada direitinho, entendeu? 
Com a voz pausada e suave, ele ensina: Tem o grupo
de Diáconos permanentes - vão permanecer sempre como diáconos - são casados. No nosso caso, somos os diáconos transitórios, que vão para o seminário, tem uma formação mais profunda para depois nós irmos com esse intuito da ordenação sacerdotal.
RW: Muito bom o senhor estar no evento da Missa a São Jorge, com nosso amigo do Magazine São Jorge - o senhor Edgar - em que tivemos a oportunidade de encontrar o senhor! A sua missa foi realmente bonita, com o sincero apreço da nossa parte. Gostaríamos então de fazer algumas perguntas ao senhor.  Como o senhor vê os seus ideais diante da Igreja? E o fato de se tornar Padre ainda num futuro breve?
DA: Os meus ideais - assim, a gente tenta corroborar com os ideais da Igreja, de paz, de misericórdia... O sonho - o nosso grande sonho - é de que todas as almas, sem qualquer tipo de demagogia, sejam uma só, um só coração em Jesus Cristo. Por isso
a gente deixa tanto para trás! A gente deixa pai, irmão, parentes, amigos, em função deste grande ideal. De que todos nós pudéssemos compor uma única só família! Que é a família de Cristo! E os meus ideais não são diferentes daqueles da Igreja!
RW: Quais são as novas qualidades que vê em si mesmo para a função que irá desempenhar como padre? Porque acha que é bom ser padre. Identifique essa ideia - como o senhor sente isso?
DA: Sim. O grande marco, uma característica que a mim me toca muito, e eu herdei isso da mamãe! É o fato da simpatia, a simpatia da mamãe é algo que muito sempre me encantou! E eu acho que acabei adquirindo um pouco essa boa virtude da mãe de lidar com as pessoas simples. De lidar com essas pessoas com a alegria contagiante dela. E é algo que eu vejo também como um dom de Deus! É Deus que me dá essa graça de ser assim! E é algo também que me faz unir as pessoas, não é? E de um modo muito simples. Muito simples! E eu acho que essa simpatia que tenho, essa qualidade de unir, essa qualidade de "estarmos em família", é um dom. Acredito nisso. É um dom.
RW: É uma família espiritual.
DA: Não só a família espiritual. Família - quanto à família mesmo! Pai, mãe, filhos!
RW: A reunião dos padres não deixa de ser uma família espiritual...
DA: Exatamente! Nós como os diáconos transitórios, os padres, os diáconos permanentes - nós compomos uma família! A família da Igreja. Compomos essa família maravilhosa que é a família de Deus! Ah, por aí você poderia até pensar: "Mas as pessoas que não são da Igreja Católica, não pertencem a essa família?" Como não? Sim, pertencem a essa família! A família de Deus! Nós, o povo de Deus, sem qualquer distinção!
Inclusive os que não são tão bons assim também fazer parte dessa família, uma vez que são pessoas que são criadas pelo próprio Deus, não é? Nada nos separa! Nada cria entre nós distinções, não é? Somos parte de uma grande família - e de um grande sonho: o sonho é de que todos nós sejamos um só, em Deus.
RW: Como o Papa vê esse novo conceito da Igreja no sentido Ecumenismo (a reunião de todos os povos)?
DA: Eu penso que a Igreja sempre tem como meta arrebanhar o povo de Deus no "grid" de Jesus Cristo. Não importa quem seja, qual nome tenha, todos nossos papas vão lutar por essa meta. Para que todos tenhamos essa experiência da unidade da comunhão. E não importa quais sejam as denominações - importa é quê o nós podemos fazer, todos juntos, existe algo que podemos fazer juntos, sem qualquer tipo de distinção, que é o fato de amar ao próximo. É o fato de nós, cada um a seu modo, de criar elementos para criar paz. Nesse mundo tão marcado pela violência, pela opressão. Nós somos capazes disso: Promover paz. E no amor, nós vamos perceber em nós tantas outras qualidades! Como por exemplo, a qualidade da simpatia, como falei agora mesmo, da comunicação! A inteligência, o amor, vai desenvolvendo essas qualidades e tantas outras coisas que nos unem! Questões doutrinárias - e assim, cada um a seu modo, pode criar a paz a seu redor.
RW: Agora existem desafios, na atualidade - os jovens não querem aceitar aquilo tudo que lhes é dito, nem em termos de religião e nem de conselhos dos próprios pais. Como o senhor vê que possa ser resolvido o impasse que está se vivendo diante do domínio da internet? O domínio de pensamento exercido pela própria televisão... Se o senhor observar bem, não há um intervalo entre os temas, para que a pessoa faça as suas próprias conclusões! É ininterrupto aquilo tudo que é transmitido - havendo o que se pode interpretar como sendo um tipo de domínio sobre o pensamento. Como fazer para incutir de forma sutil, de uma forma a não usar de prepotência, mas de mostrar o verdadeiro caminho - em sua opinião - para o jovem?
DA: Na nossa história a gente entende essa grande crise... Entrou em determinado momento da nossa história essa questão do relativismo das coisas: "E hoje a gente passa por essa crise. Tudo é relativizado!". Os valores são deturpados, não é? Aquilo que seria verdadeiro, de grande importância para nós, é substituído por outras coisas. Como por exemplo - a família! E a sua importância - a sua vocação. O seu ministério na sociedade, e na vida espiritual - tudo isso é trocado, é substituído.  Justamente por essa crise: A "crise do relativismo" na sociedade atual.
RW: A "crise do materialismo", não é?
DA: É... A gente aqui reconhece que em meio a isso tudo, a fé também é abalada. Por tudo isso que vem acontecendo hoje em dia - a fé, a dignidade humana - a pessoa humana perde não só a sua identidade, as suas características - assim como os seus valores. Meu irmão - a pergunta "Como combater essas coisas todas?" Respondo eu - através do Evangelho! Através da vivência do Evangelho! Conscientizando os jovens! Penso que muito melhor do que um "Evangelho proclamado" - é o "Evangelho testemunhado". Nós, agora aqui na igreja - depois que terminou a Semana Santa, nós estamos caminhando. Nós estamos dentro da liturgia que nós celebramos e vivemos. A gente está percebendo o surgimento da Igreja de Cristo. Ela "brota" dentro do testemunho dos Apóstolos Pedro e Paulo, e os demais que foram presos, foram perseguidos e martirizados. E justamente por causa deste ideal! Esse ideal marcante - que irrompe de uma maneira fantástica - eu me refiro aqui ao sentimento do amor! Amor misericordioso. A mensagem que eu me refiro é justamente esta. O amor liberta. O amor constrói. O amor suplanta qualquer planejamento. Independente de qual seja. Eu fico pensando, por exemplo, nessas prefeituras, e assim também na vida da gente. Tem muito planejamento. Muitas estruturas, mas logo a gente percebe que caem na desgraça, na falta de perseverança. Justamente porque não tem uma "raiz sólida". O homem não vive. Os ideais do homem hoje não são concretos. Eu penso assim - se o homem tivesse algo que não fosse passageiro, algo que não fosse tão abstrato. Se o homem estiver no calor do seu coração, atento a vontade de Deus para a sua vida - ele será um homem mais completo.
RW: E que propostas o senhor faz? Pode-se chamar de carreira clerical?
DA: Meu irmão - a primeira proposta que eu penso pelos nossos dias - é que cada um de nós, a começar até por mim, precisamos nos converter ao pensamento do Evangelho de Jesus. Porque eu coloco isso como proposta? É que isso depende só de cada pessoa. Toda pessoa com Deus dentro de si, ela precisa todos os dias, decidir esse dia a viver! A "viver" esse dia. E viver bem! O que eu quero dizer com isso? Não somente sobreviver. Digo meu irmão, viver esse dia, viver bem!
MW: Não somente sobreviver nesse dia...
DA: Exatamente! É isso! É aproveitar esse dia para praticar o bem! Por mais simples que seja a situação, exige de nós nesse dia, a conversão a esse sentimento de amor. Porque por exemplo - por vezes - como marido, ou pai, a esposa - vai sobrevivendo a vida de modo como se ele fosse senhor, dono de todas as coisas. Dependendo do tipo de situação - isso não constrói! O que constrói e viver o sentimento em amor! Outra coisa é que cabe sim, inteiramente a nós, é o fato de levar no sentimento a Jesus Cristo e tudo que isto tem de bom: a verdade. Viver um relacionamento integro na convivência. A compreensão dessa complementariedade nas relações! Nós hoje, com internet em voga, vivemos uma relação muito superficial. É o Facebook, e daí por diante... Perde o contato, o convívio com o homem.
MW: É a questão da sinceridade também.
DA: Via computador, a pessoa pode mascarar uma série de coisas, não é? Eu penso que é isso.
RW: Agora, no dia a dia, ocorre uma grande quantidade de fatos de violência na sociedade. Existem tribulações muito fortes, acredito que isto possa estar acontecendo por turbilhões emocionais provocados por uma legião de demônios. Basta dizer que nesta semana queimaram cinco ônibus no Rio de Janeiro! Ninguém que é de Deus faria uma coisa destas! Então eu vejo que é importante despertar essa consciência. Mas de que forma a seu ver isso pode ocorrer?
DA: É fato. O mal, o demônio se usa dessas coisas. Em pensar que a gente tem que ter um termo muito claro. Não é o demônio que usa as pessoas para fazer o mal. Mas são as pessoas que fazem as suas escolhas, não é? Há um determinado momento que a pessoa vai lá e escolhe "Eu vou fazer e pronto, acabou. Eu vou fazer o mal. Eu vou matar". Pode até ser influenciada. Aí é onde entra o mal também. Porque o mal acaba se aproveitando das fraquezas de cada pessoa. O demônio acaba se aproveitando das fraquezas do homem para impulsionar as pessoas ao mal também. Isso é algo que a gente entende com muita clareza, nesse sentido. O que fazer, não é? Meu irmão, eu penso que cada vez mais, para nós cristãos batizados, nós devemos nos empenhar - eu repito - em converter o nosso modo de agir dentro de casa, no trabalho, na escola e, sobretudo aqueles que têm o Ministério, a função da pregação, precisam ir para os púlpitos, para as igrejas, e à medida do possível pregar o Evangelho. Porque o Evangelho é algo esquecido pelas pessoas e dar o bom exemplo.
RW: Para concluirmos a nossa entrevista, eu gostaria de fazer duas perguntas ao senhor. Primeiro - como despertou a consciência de ser Padre? E segundo - fale-nos a sua biografia. Como foi sua trajetória de vida?
DA: Eu nasci em São Pedro da Aldeia, uma cidadezinha da Região dos Lagos, aqui no Rio de Janeiro mesmo. Os meus pais são de Campos. E então minha família é muito simples. Praticamente uma família do campo, não é? E meus pais vieram novos aqui para a Região do Lagos, se casaram e constituíram a família. Eu nasci e fui criado em São Pedro da Aldeia, e o fato é que nasci de berço católico. Minha mãe antes era evangélica, mas o meu pai também de berço católico. E por conta disso minha mãe se converteu ao catolicismo e desde então eu fui criado dentro dos moldes da doutrina da Igreja Católica. E nesse sentido - eu me lembro que eu tinha 8 anos de idade. A gente estava lá na nossa capelinha. Muito simples, muito pequena. A capelinha estava em obra porque era quase uma barraquinha. E a gente passou daquela capelinha para uma Igreja um pouquinho maior. O meu pai trabalhava muito, a minha mãe também. Aos 8 anos de idade eu entrei na Catequese e num determinado momento eu comentei com a catequista "Eu quero ser Padre". Mas na época a gente tinha um Padre e que aparecia só uma vez ao mês. E eu sabia que era muito pouco. A gente queria conhecer o Padre, mas não conseguia. E quando vinha era muito rápido. Foram se passando os anos... Eu fiz a Catequese... E os amigos que eu fui fazendo na Igreja, a história que eu fui fazendo naquela comunidadezinha pequena de São Pedro da Aldeia - veio trazendo marcos, fatos, que também de alguma maneira traduziram a minha vocação. Eu costumo dizer que a minha vocação surgiu no trabalho. Que trabalho era? Aquele trabalho simples que a gente fazia a cada sábado de cada mês - juntava as senhoras, eu também estava junto - para limpar a Igreja, cuidar do material, para a missa que a gente ia celebrar.
RW: E hoje o senhor está com que idade?
DA: Eu tenho 30 anos de idade. Então a minha vocação nasce dessas experiências. A experiência do trabalho, do serviço, experiência de estar com a família, não é?
MW: O senhor não teve nenhum momento místico, ou assim, religioso, exaltação religiosa, que naquele instante lhe deu essa vontade de ser padre?
DA: Não, eu não tive nenhuma experiência assim. Muito pelo contrário, eu sabia que a cada experiência eu ia - porque a oração alimenta a gente. A oração tem sempre uma via de mão-dupla. Na mesma medida que a oração nos revela Deus, ela nos revela nós mesmos. Porque Jesus é luz, e onde Jesus está tudo fica claro e nítido. E como é que eu fui discernindo a minha vocação? Fui discernindo a minha vocação junto com a igreja. Logo, num determinado momento, eu dizia para o Padre - "Eu acho que eu quero ser padre!" - "Ah, então vamos pensar, vamos realizar isso juntos!". E os anos foram se passando, e aquela vontade continuava ali firme e forte. Ah, alguém pode perguntar - você namorou? Namorei! Tive um período que namorei algumas vezes, e isso ainda foi uma experiência muito forte na minha vida. Foi o que fez num determinado dia da minha vida - "Eu acho que já namorei, já fiz o que precisava fazer... Assim, jovem, adolescente, criança, eu quero ser padre!". E então procurei o Padre mais uma vez, e "Padre, eu quero ser padre! Como eu faço para conhecer o Seminário?" - e ele falou "Eu vou te levar". E desde então - eu passei por uma avaliação, entrei no Seminário e lá eu fiquei por 12 anos. E aqui estou eu como diácono. E a preparação é oração, trabalho e estudo. O trabalho que a gente faz, geralmente, é aquele interno. A gente mora numa residência, e a gente cuida da casa, cuida dos afazeres. A única coisa que nós não fazemos na época do nosso seminário é lavar e passar, e cozinhar. Mas todos os reparos que tinha que fazer, manutenção da casa - nós fazíamos.
RW: Que mensagem o senhor passa para os jovens?
DA: Não tenham medo. E não mascarem o que vocês podem ser de bom. Não tenham medo de serem o que vocês são. Porque Jesus Cristo os fez dessa maneira. Deus nos fez para sermos felizes. Deus nos criou para sermos livres e não prisioneiros de modismos, prisioneiros de filosofias que são passageiras - não, de forma alguma! Deus nos fez, sobretudo, para vivermos em profundo relacionamento com as pessoas, e isso é uma coisa que a gente não pode fugir. Todos nós fomos convidados a essa integração entre nós mesmos e com os outros. Mas tudo deve brotar dessa relação primeira que é com o próprio Jesus Cristo Nosso Senhor.


RW: Nós agradecemos muito, em nome da Equipe Wolff, a sua entrevista!
DA: Ah, eu que agradeço! Deus abençoe vocês!



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