Diretor que consegue manter a escola feliz é modelo para o Brasil
Vamos conhecer:
Professor José Carlos, diretor do CIEP 308 Pascoal Carlos Magno – Itaboraí, RJ.
Projeto Você é Muito Importante Para Nós ©
Entrevista exclusiva ao jornalista Reinaldo Wolff.
A escola - Do Início à Ascenção

RW: Ainda perdura o conceito do Brizola, CIEP? Em quais aspectos?
JC: Acho que não perdura não. Quer dizer, tirando o prédio.
MW: O que ele pensou como CIEP não é o que é hoje a escola, é isso?
JC: Não. Não é. Porque a proposta não é do Brizola, não é? É do Darcy Ribeiro. O Brizola apenas colocou em prática aquilo que o Darcy Ribeiro. O processo idealizado por ele passava por uma escola que oferecesse conforto para os alunos.
MW: A ideia da construção foi excelente. Muito boa mesmo.
JC: É. E eles não pouparam esforços, não é? Você vê que, para começar, pegaram o melhor arquiteto do mundo, ao meu ver, Niemeyer, para projetar.
RW: E quanto à filosofia educacional do Brizola, o que o senhor acha dela?
JC: Do Darcy Ribeiro, não é?
RW: Sim. Os conceitos postos por Darcy Ribeiro junto com Brizola.
JC: Eu vou ser sempre um defensor desse projeto. Até inclusive, quando eu vim para cá, a primeira vez, como diretor em 1994, foi no Governo Brizola. A escola foi inaugurada por mim aqui. Eu acompanhei os dois aspectos, não é? A transição... Então, eu vim para trabalhar nesse projeto mesmo. A intenção era essa. Aprender como aprendi. E tentar colocar em prática aquela ideia da escola em tempo integral. Que é uma ideia que eu defendo até hoje. Hoje mais do que nunca, acho que eles estão vendo que a solução para muitos desses problemas que estão acontecendo hoje talvez fosse isto. A criança ficar mais tempo na escola.
RW: Por exemplo, a parte da tarde poderia ser o profissionalizante.
JC: Poderia ser o profissionalizante.
RW: Que tanto faz falta, não é?
JC: É... E poderia ser oferecido outro tipo de ensino também aos alunos. Oficinas de complementação, de leitura, de teatro, de música. Que também são elementos importantes.
RW: Quais as prioridades na educação hoje? Que estratégia para clarear os valores prioritários?

RW: Está certo. Como entende o momento político educacional do Brasil atual?
JC: Eu diria que nós estamos vivendo um bom momento. A partir do Governo Lula houve a intenção de se liberar mais verbas. Hoje se aplica mais verbas na educação. A questão de se criar um piso salarial nacional para o professor. Aqui no Estado do Rio, e na Região Sudeste, de modo geral, o professor não sentiu muito essa diferença. Mas nós sabemos que, por exemplo, no Nordeste haviam professores que trabalhavam por 100 reais por mês, 200 reais por mês... E são nossos irmãos lá do Nordeste. E você não pode falar em Educação no Brasil se referindo apenas à Região Sudeste, não é?
RW: Seria uma exclusão aos demais. E injusto, por sinal.
JC: Muito injusto! Então eu penso que o momento é novo e eu acho um momento bom. Ainda está muito longe do que pretendemos, mas temos que considerar também que foi muito tempo de abandono mesmo, pela educação. E agora para fazer esta retomada, leva muito tempo.
RW: Que objetivos básicos deve priorizar em seus alunos?
JC: A gente trabalha a Educação como um todo, mas eu particularmente, por estar numa região bem carente, eu tenho de além de preparar o aluno como cidadão, eu me vejo na obrigação de tentar encaixá-lo no mercado de trabalho. Agora por exemplo, eu estou preparando um processo aqui, e que nós vamos dar entrada até 31 de março, para autorizar o curso técnico de enfermagem.
MW: Maravilha! O senhor acertou em cheio.
JC: Pois é!
MW: Nós temos sugerido esse curso para o Exército, Marinha...
RW: Eu estive entrevistando o Comandante da Marinha, no Sanatório Naval, lá em Friburgo, e sugeri exatamente isso a ele. Colocarem um curso de enfermagem. Está fazendo falta.
JC: Então, e com o crescimento que vai haver na população de Itaboraí... Não é? E a ideia é lançar, depois, outros cursos, pelo menos mais uns dois, eu acho que a gente pode lidar com um curso profissionalizantes.
RW: E tem data prevista para início?
JC: A ideia é começar a partir de 2014, a gente tem que aprovar até agosto, dar entrada até 31 de março.
MW: E seria aula aqui?
JC: Aqui na escola. Duas turmas, uma à tarde e outra à noite. À tarde para atender os alunos da manhã, que fariam no contra turno. E à noite, para atender os alunos do EJA, que vai concluir o 3º ano e já entra fazendo o profissionalizante.
RW: Quais seriam os outros dois cursos?
JC: O Estado nos forneceu uma lista de aproximadamente 20 cursos. Os outros eu vou consultar os alunos para ver qual é...
MW: O senhor falou que seriam mais 2 ou 3. Quais seriam?
JC: Na minha opinião, seria o técnico de meio ambiente. Porque isso? Porque eu tenho bastante professores na casa, que poderiam preencher o quadro. Então esse é um fator favorável. Como é o caso de enfermagem também. Mas existem outros, como por exemplo, técnico em edificações. Mas aí tem que ver o que os nossos alunos querem. Tem um outro também que seria o técnico em química, porque as indústrias que virão para Itaboraí, serão todas do setor de química. Então vai se empregar muita gente nesta área. E tem também o técnico em segurança do trabalho, que também é um curso interessante. Então nós vamos oferecer todos os cursos que o Estado nos ofereceu. Então a gente vai discutir com os alunos.
RW: E a parceria público-privado? Seria interessante, neste caso?
JC: Da outra vez que nós pensamos isso, aqui, nós vimos que teria que ser feito com a parceria, não é? Então nós pensamos até em pedir ajuda à PETROBRÁS, por exemplo, para montar os laboratórios. Porque um curso profissionalizante, para mim, tem que ter laboratório. Senão, não é profissionalizante. Para ter aula prática. Só ficar aprendendo teoria, não... Então, nós estávamos preparando todo um processo para ter essa parceria. Primeiro com a PETROBRÁS... Enfim, com outros órgãos. Mas naquela ocasião, nós recebemos a resposta que era pra aguardar porque o Estado ia bancar esses cursos. Aí, agora, veio a proposta e eles estão se propondo a arcar com as despesas.
MW: E quando é que vai ter uma nova reunião estadual, de educação, projetos, e tudo... Não vai ter uma reunião?
JC: Para tratar esses assuntos? Bom, acho que agora eles estão aguardando o prazo que nos foi dado até o dia 31 para esperar as escolas que vão entrar com o processo. A partir daí eles devem chamar, para conversar, os diretores das escolas que entraram com o processo.
RW: O que falta que a comunidade possa fazer para ajudar a escola?
JC: Pois é, nós gostaríamos de contar com uma participação maior da comunidade. Mutirões, e mesmo em reuniões de pais. Mas, tem que compreender também, que uma grande parte dos pais dos meus alunos, precisa trabalhar. Pai, mãe, irmãos... Então, aqui por exemplo, a professora Eliane que é responsável para organizar as reuniões pedagógicas. Então, ela faz reunião 7hrs da manhã, 10hrs da manhã, 7hrs da noite. A mesma reunião para poder pegar os pais em horários diferentes a fim de que eles possam participar. Nós tivemos reunião hoje de 4 turmas, vieram 4 pais.
RW: Professor, essa ideia do Amigos da Escola, funcionaria aqui?
JC: Eu estou esperando ajuda, não é? Eu acho assim - o Amigos da Escola não é a direção que tem que propor. Eu acho que é os pais que têm que propor. Porque se eu chegar para um pai - “Vem cá, o senhor pode ajudar aqui, dar aula de xadrez para os meus alunos?” - “Ah, não sei. Tem que ver o meu calendário, minha agenda... Aí depois eu marco com o senhor”. Marco com os alunos. Aí vêm os alunos e aquele pai não vem. Eu vou cobrar do pai o que? “Ah, o senhor não veio...”. Entendeu? É parte da própria pessoa...
RW: É verdade. Professor, e quanto aos dirigentes estaduais, o que falta fazer?
JC: Hoje eu diria que nós estamos sobrecarregados de trabalho. É uma carga de trabalho muito grande nas escolas. Eu, hoje, estou com duas diretoras adjuntas, mas teve uma época que eu estive dirigindo a escola sozinho. Na época que o Marcos ficou doente, e depois ele saiu, eu fiquei um ano sozinho dirigindo a escola. E tanto faz você ter um, ou dois, ou três dirigentes. As cobranças são as mesmas. Eles não querem saber. E são coisas que chegam em um dia pra você aprontar até o meio dia do dia seguinte. É tudo muito corrido, muito em cima da hora. Então, há uma sobrecarga. E um outro problema que a gente passa também é falta de pessoal na escola. E que acaba interferindo no trabalho da direção, diretamente.
RW: Poderia dar uma sugestão, se me permite, colocar o nome do projeto de Amor pela Escola. Que aí cada um vai ter que demonstrar o seu amor pela escola. Fazendo algo que beneficie seu colégio. Porque isso faz falta. Tanto o sentimento cristão do amor. Não o amor egoísta, deturpado. Mas no sentido cristão, puro e verdadeiro. Como a colaboração que este amor possa fazer! Que equivale a Amigos da Escola. Só que em vez de ser os pais dos alunos colaborando, são os próprios alunos. Fazer mutirões no sentido de ajudar a escola.
*Matéria originalmente publicada em 25 de março de 2013 - atualizada.
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