DRM RJ - Serviço Geológico do Estado
Equipe Wolff entrevista Geólogos Paulo Guimarães e Marcelo Lyra Parente
RW: Itaboraí está se desenvolvendo muito. E a região do COMPERJ está muito próxima da área de preservação ambiental. Está bem posicionada o COMPERJ em relação ao meio ambiente?
Marcelo Parente: É uma avaliação dessa natureza, para que a gente não seja arbitrário com relação a questões ambientais há de se olhar de uma forma sistêmica! Observando todos os parâmetros de autorizações dos órgãos ambientais, licenciamento, e, do planejamento que foi feito, considerar as proximidades de unidades de conservação. A princípio, de imediato, não dá para se chegar à uma conclusão, sem o prévio estudo!
Paulo: Na verdade, parte-se do princípio, quem deveria ter essa avaliação é o INEA, que é o órgão responsável – é ele que dá a liberação ambiental. A gente não trabalha diretamente com a parte ambiental, em termos de liberação de licenças. Isso quem poderia responder melhor é o próprio INEA, que teve acesso aos estudos, e os estudos de impacto ambiental mais detalhado.
RW: Mas isso também me lembra o que ocorreu com o meu avô, no Rio Grande do Sul... O meu avô era produtor de arroz. Depois de uma enchente e de ter perdido tudo, o Banco do Brasil foi lá e tomou dele o restante... Porque havia o financiamento. E o que me leva a lembrar do avô é o seguinte: para refazer a vida dele, saiu da vida rural e foi para o centro da cidade de Cachoeira do Sul. Ali conseguiu adquirir um prédio, pois o proprietário estava com medo do paralelepípedo que fazia um absurdo de aumento dos impostos! Então vendeu! E o vovô com esforço titânico, de 4 horas só por noite, conseguiu adquirir aquele patrimônio. O que quero mostrar nesse comparativo é que às vezes, a pessoa por uma questão de medo, ela se precipita, achando que o local não vai ficar bom! Daí a pergunta – a Petrobrás estaria com recursos a oferecer segurança no meio ambiente em Itaboraí?
Paulo: A questão é a que lhe falei! Todo e qualquer projeto que se faça de intervenção no meio ambiente, são feitos estudos detalhados. E a pessoa tem que apresentar os estudos ambientais. E os Órgãos Ambientais no RJ são extremamente severos quanto a isto! Então não acredito que tenha sido aprovado um projeto onde a “segurança” não tivesse sido considerada! E a obra de engenharia que estivesse sendo feita sem que a questão segurança não estivesse embutida no planejamento. Provavelmente com uma obra daquele porte, a questão de segurança deve ter sido muito bem considerada.
RW: E a questão da Paleontologia?
Paulo: Tem o sítio Paleontológico em Itaboraí – isso não vai ser afetado pelo projeto...
Paulo: Sim, mas já existe há muitos anos. Já foi explorado lá o carbonato nos anos 50. Não é novidade. É o sítio de São José, em Itaboraí, que hoje é um lago. Um sítio que foi explorado por fábrica de cimento.
RW: Em relação à mineração – uma pessoa para ter um poço artesiano precisa de algum tipo de autorização especial?
Paulo: Tem que fazer outorga, que é no INEA também. Outorga de poço. Você tem que apresentar a documentação do poço, o perfil de perfuração, tem que ter estudos de vazão. Uma série de estudos tem de ser feitos.
RW: E é certo isto de Prefeituras como de Nova Friburgo cobrar e colocar hidrômetro – uma vez que é emanado pela própria natureza?
Marcelo: Olha só, é aquela questão do uso consciente dos recursos do Planeta!
RW: Certo...
Marcelo: Há uma tendência, em questões ambientais, que sejam feitas uma descentralização da gestão. Não só a União como os estados, e os municípios, vão atuar de uma forma coordenada para haver esta gestão. Se houver uma regulação que dê autonomia ao município a fazer este tipo de controle, não há impedimento de que isto seja feito, é até desejável! De controlar o uso da vazão de água subterrânea, pelo particular.
RW: Mas tendo em vista que a pessoa, ou de uma residência, ou empresário, fez todo um investimento sobre aquele poço, estaria correto uma cobrança se for só para o uso dele?
Marcelo: Cobrar pelo uso é uma questão nova. É pela questão da escassez.
Paulo: Uma empresa, usando água a vontade, vai estar gastando um recurso que é do bem comum, ao bel prazer – e quanto ela usa de água! Se não houver uma cobrança, vai usar à vontade. Às vezes até sem o menor respeito ao cuidado. Sem quesito nenhum de responsabilidade para questões de regras. No entanto, com a outorga, há o volume máximo do que a pessoa pode explorar. Se não tivesse o hidrômetro, iria explorar além da vazão permitida. Aí vai acontecer a consequência futura de baixar o nível freático e causar prejuízos àquela população da região.
RW: Estando em um curso técnico em agropecuária, percebi a dificuldade que é de passar para as pessoas mais humildes (com todo o respeito a estas pessoas), o conceito de preservação dos lençóis freáticos. Porque se contaminar o lençol freático, perde-se todo o lençol freático. Então daí a necessidade de cuidar. Penso que no sentido de um verdadeiro tesouro nacional.
Marcelo: A gente, quando adentra a questão da água subterrânea, tem que deixar claro que o lençol é justamente aquele volume de água que está no subsolo e que faz interface com a atmosfera. Então é a parte mais vulnerável do sistema! Ou seja, se há um lixão, vai contaminar a água, sim. A água francamente subterrânea é aquela que está a maiores profundidades, ocupando espaços, porosidades, fissuras ou fraturas no próprio maciço rochoso. Esta já é mais secular. O sistema depurador da natureza, para esta água infiltrada, é, digamos em termos comparativos, é o melhor que há! Porque os próprios sedimentos, a própria rocha vai depurando aquela água.
RW: Agora uma pergunta pessoal – como vocês tiveram o intuito de fazer carreira de geologia? Como surgiu a vocação?
Marcelo: Eu tive a influência de meu pai que faleceu. Ele era engenheiro agrônomo. Eu me encantava com as atividades de campo. Na hora de tomar decisão pela carreira, ele me influenciou por me apresentar à Geologia. Eu acabei achando uma ótima opção de vida.
RW: É um dos estudos de real importância. Eu vejo a necessidade de constar junto a empresas de engenharia, de constar profissionais como os senhores: com geólogos! Pois às vezes um prédio – toda a estrutura foi planejada, mas esqueceram do fundamental: que é analisar o solo e o subsolo para que o alicerce tenha estrutura naquele tipo de compactação de solo! Às vezes o solo não sendo tão compacto, por mais perfeito que seja a obra de engenharia – aquilo vai gerar problemas no futuro, não é verdade?
Marcelo: Extrapola isto no quesito da composição de tantos componentes da construção civil, que são os agregados, as reações que ocorrem entre particulados, o próprio cimento na reação alvo-silicato. Isso desencadeia, deflagra mesmo o papel dos minerais, dentro da performance de uma edificação. Seja ela de qual natureza for.
RW: Portanto é necessário e fundamental a presença do geólogo!
Marcelo: É desejável, talvez. Não que esteja efetivamente a todo momento o geólogo presente, mas que o conhecimento geológico seja sim absorvido dentro de projetos.
RW: Certo!
Marcelo: Não que o geólogo tenha que estar interferindo no papel de engenheiro civil, mas que aquele uso de material em determinado momento passe sobre o crivo de especialistas, não é?
RW: Sim, muito interessante... E para o senhor, como surgiu a profissão?
Paulo: Desde criança foi um interesse pessoal, não tive influência direta de ninguém. Foi curiosidade pessoal.
RW: O nosso primo, Breno Wolff, não sei se o senhor conhece? Trabalha na Petrobrás.
Marcelo: Geólogo que eu conheço é o Breno de Souza, o descobridor lá de Carajás.
RW: Ele colocou a cidade de São Mateus na Petrobrás (ele instalou). No primo Breno surgiu a vocação assim – meu pai trouxe um conjunto de pedras de todo o Brasil, e aquelas pedras chamaram tanto a atenção dele que despertou a vocação! E é muito importante o despertar de uma vocação! Porque isso gera nas pessoas resultados futuros.
Paulo: Aqui nós temos um serviço, “Caminhos Geológicos”. Inclusive o engenheiro Marcos, aqui ao nosso lado, é um dos participantes do Projeto Caminhos Geológicos. Ele é a parte de divulgação. Ele que atua junto com outros geólogos dessa atividade aqui junto ao CRM – atende direto às escolas – justamente visando a conscientização da população em relação ao meio ambiente geológico.
RW: É o despertar de vocações.
Paulo: É, no fundo acaba gerando isso mesmo – vocações. Acaba despertando o interesse dos jovens.
RW: E que mensagem o senhor passa aos nossos leitores sobre os temas abordados?
Paulo: A geologia hoje ainda é fundamental para a compreensão de qualquer tema relacionado ao meio ambiente físico. Não se pode pensar em meio físico sem pensar em geologia. Agora tem aquela situação, cada um tem sua área de atuação e nós temos que respeitar a do engenheiro. E o engenheiro respeitar a do geólogo. É a interdisciplinaridade na questão dos levantamentos de meio físico. É como o Marcelo colocou muito bem a questão – em algum momento nós temos que ter o geólogo embutido em projetos, atividades, relacionadas a obra na questão de meio físico. E a questão de meio ambiente, a geologia está intrinsecamente ligada. Preservação é fundamental! Hoje em dia não se pode pensar nada em termos de obras sem pensar antes na questão de meio ambiente. Mas também tem que pensar que a atividade de geologia – na parte de mineração mesmo – é fundamental para o desenvolvimento! O tema “meio-ambiente” não pode também interferir a ponto de inviabilizar a atividade (e não barrar a atividade de mineração). Tem que haver um consenso aí, entre meio ambiente e mineração.
RW: Muito bom. E na sua opinião, que mensagem o senhor passar para os jovens que queiram despertar para esta vocação?
Marcelo: Bom – diferente de outros países (em que a Geologia é apresentada a estudantes secundaristas) - no Brasil, a gente toma conhecimento da Geologia através de diversas fontes, principalmente a mídia, atualmente, que tem dado algum relevo a esta profissão... pelas descobertas, pelas grandes descobertas. Mas não só isso! O papel da Geologia é justamente estudar o sistema Terra como um todo – de uma forma integrada. Com essa dinâmica de mecânica de placas, produção de magma, oceanos, você tem aí toda uma dinâmica que está estabelecida sobre o próprio Planeta! O próprio Planeta se equilibra com esta vida que ele tem. Eu recomendo para aqueles que se interessam pela Geologia, que façam uma base importante de Geologia Geral, de Mineralogia, de Dinâmica do Planeta, para que ele possa amadurecer cada vez mais.
RW: Por falar em placas tectônicas – o que aconteceu no Nepal – e também sobre o tsunami que ocorreu, isso foi pelo movimento das placas tectônicas?
Marcelo: Sim, ao se colocar duas massas rochosas, uma em contato com a outra – durante um tempo geológico – elas vão acumulando tensão, sucessivamente, infinitamente... Até que num belo dia aquele equilíbrio é rompido – e aquele alívio de energia é dissipado num meio, na forma de tremores... até na forma de tsunamis, etc.
Paulo: O terremoto no Nepal, por exemplo, supostamente foi há 10 quilômetros de profundidade que houve uma ruptura. Só que a geração de energia é tão grande que equivale a 3 bombas atômicas! Aí dá aquele tremor e gera este fato. Então existe uma sub-ducção de placas embaixo de Nepal que está gerando isso tudo. E vai continuar gerando, pois é um movimento de placas – e são milhões de anos em que está acontecendo isto. Então não é nenhuma novidade se voltar a acontecer de novo nos próximos anos.
RW: Há algum tipo de risco para o Brasil quanto a ter tremores de terra, ou quanto a algum tsunami?
(Pela primeira vez, ele esboça um sorriso.)
Marcelo: Olha... consagradamente, nós estamos navegando sobre um continente que está estabelecido completamente sobre uma placa...
(Noto que a empolgação sobre o assunto, vai tomando conta, e uma voz possante parece preencher todo o espaço da sala ao dizer-)
Marcelo: Ou seja, é... para se ter esse risco eminente, seria o caso de se ter um contato entre placas no interior do continente – que não é o caso do Brasil! Eventualmente, podem acontecer alguns sismos – em decorrência do confinamento em que o Brasil está submetido. Pela divergência que é estabelecida, pelas placas oceânicas, com a formação do oceano atlântico. E a convicção vinda da placa oceânica do Pacífico, e que gera lá a colisão que produz os Andes! Então... aqui nós estamos confinados. Eventualmente pode acontecer como o estabelecimento da Bacia do Pantanal, que é uma bacia tectônica, entendeu? Eventualmente algum realinhamento que venha da Dorsal Oceânica, isso é factível sim. Mas nada que seja da magnitude do que se vê no Japão, ou outros locais, que a mídia divulga!
RW: Em outras palavras, nós estamos num país abençoado por Deus... Seria isso?
Marcelo: É! Nesse sentido – abençoado por Deus e bonito por Natureza!
Comentários
Postar um comentário