Professor Rodolfo Almeida

Alta especialização e paixão pelo ideal faz um promissor caminho a este professor e engenheiro agrônomo.



Leia a seguir a entrevista na íntegra e as sugestões e ideia jurídica do jornalista Reinaldo Wolff sobre o tema agrícola.



RW: Primeiramente, é uma alegria estarmos aqui na presença de nosso amigo: Professor Rodolfo Almeida, engenheiro agrônomo. É sobretudo uma honra nos conceder essa entrevista. Professor, gostaria de lhe fazer algumas perguntas - podemos começar?
Rodolfo Almeida: É um prazer.
RW: Como sentiu que foi o despertar de sua vocação de agrônomo?
Rodolfo Almeida: Eu venho de família mineira. Minha mãe, mineira. Desde criança sempre convivi muito na área rural, área agrícola. Meus tios, hoje, todos fazendeiros, na Zona da Mata. Então, desde pequeno, eu sempre, desde o início, já participava bastante da produção. Sempre me envolvia com eles, quando viajava para lá. Então já desde criança eu tenho esse interesse na área agrícola. Em certo momento, quis muito ser meteorologista, mas afinal, depois eu realmente despertei para a área agrícola.
RW: E quais os cursos e especializações já fez?
Rodolfo Almeida: Depois que me formei, acabei me especializando um pouco mais na área ambiental. Fiz duas pós-graduações, uma na área de gestão ambiental, e outra na área de engenharia ambiental. E há pouco tempo atrás eu concluí uma pós-graduação em licenciatura, para dar aulas em curso técnico. 
RW: Que riscos vê na profissão de agrônomo?
Rodolfo Almeida: Ah, são muitos! Costumo sempre falar para os alunos que a agricultura é uma “roleta russa”. É uma área de grau alto de investimento de risco. As dificuldades são enormes, os problemas... É uma responsabilidade muito grande! É a responsabilidade do produtor, de garantir a produção... E garantir a saúde do produtor. A gente tem que estar sempre orientando eles sobre o uso dos agrotóxicos, o consumo... É bem complexo, mesmo.
RW: O que mais compensa, em sua profissão?
Rodolfo Almeida: O que mais compensa? Bom, hoje como professor, eu sinto uma alegria muito grande em ver os alunos saindo daqui com uma formação profissional... Tendo uma oportunidade aí fora no mercado de trabalho, como um técnico em agropecuária. Então isso me dá um prazer muito grande, de saber que eu estou contribuindo para o crescimento profissional de uma pessoa. 
RW: É importante, sim. O engenheiro agrônomo pode ser consultor de algum negócio em mercado futuro?
Rodolfo Almeida: Sim, sim!
RW: E como funciona isso?
Rodolfo Almeida: É uma atividade que está muito em evidencia, o agronegócio! Nosso país é agrícola. O profissional de e
ngenheiro agrônomo, hoje, ele pode trabalhar de várias formas dentro do setor do “negócio agrícola”. Tanto é que hoje temos uma carreira nova que é o técnico em agronegócios, não é? É um curso novo, é uma profissão nova, e está muito em evidência. É uma atividade importante.
RW: E no mercado de futuros, também, não é?
Rodolfo Almeida: Sim.
RW: Quais são as preocupações de um agrônomo em relação ao meio ambiente?
Rodolfo Almeida: Nossa! Agronomia e agricultura... são de mãos dadas! Não é nem difícil de responder: é necessária! Não tem como produzir a cultura, seja ela qual for, sem você se responsabilizar pela área ambiental! Você tem que ver lá as licenças que você precisa... Hoje a produção de dejetos na produção agropecuária é muito grande. E aí? Que destino você vai dar a esses dejetos? Então é uma preocupação ambiental que temos que ter... O uso da água na agricultura, é hoje também uma questão importante.
RW: E quais são os destinos certos desses dejetos?
Rodolfo Almeida: Bom, há várias alternativas. Hoje a técnica mais utilizada é as compostagem – é a degradação do material orgânico. Então é assim – são técnicas simples, não são difíceis. 
RW: Aprendidas em sala de aula...
Rodolfo Almeida: Justamente. E que geram recursos, produtos para o produtor rural – e que ele pode até ter um ganho financeiro com a venda desses produtos.
RW: E como evitar o extrativismo agrícola devastador? E quais são os órgãos de governo que fazem controle? Há lei nesse sentido?
Rodolfo Almeida: Sim! Bom, extrativismo é um problema desse país, infelizmente.
RW: Tem pessoas que entram com a lavoura devas
tadora...
Rodolfo Almeida: É, devastando, infelizmente! Acredito que o que a gente precisa ter é política pública! Mas não adianta só ter a política pública – a gente tem que ter a eficiência dessa política pública. Ou seja, sendo realizada, naquela área! Quero dizer, temos muitas políticas públicas que controlam o meio ambiente, não é? O Código Florestal, que foi alterado. Agora Cadastramento Ambiental Rural é uma ferramenta importante para a agricultura e para o meio ambiente também. Mas precisa-se além disso tudo é a aplicação dessa política pública.
RW: Inclusive para o controle de água em regiões rurais, não é?
Rodolfo Almeida: Justamente.
RW: A sua esposa é médica-veterinária?
Rodolfo Almeida: Sim!
RW: E isto é interessante num casal... O marido agrônomo e a esposa médica veterinária. Como faz para manter elos emocionais, uma vez que as áreas são tão próximas, mas podem levar a caminhos tão diferentes?
Rodolfo Almeida: É. Depende muito do caminho que se trilha nestas áreas. A minha esposa, Juliana, trabalha com pequenos animais. Então fica muito restrita a centros urbanos mesmo... Como eu trabalho na área ambiental e na Escola Agrícola, a gente não tem muito problema...
RW: O que faz para trazer os ideais dela junto dos seus?
Rodolfo Almeida: Na verdade, a gente conversa muito, há muita troca de informações sobre nossas profissões, nossas áreas... Eu gosto de animal, ela gosta de plantas. A gente tem bastante afinidade neste sentido.
RW: Quais os planos que vocês fazem para o futuro juntos? Ter um sítio, alguma coisa assim?
Rodolfo Almeida: A minha ideia sempre foi sair do centro urbano. Ir para uma área rural. Já comecei isso fazendo concurso para a escola agrícola. Esse já foi o caminho, o “pontapé inicial”... O meu objetivo é fazer mais concursos, ir para uma área mais específica... uma EMATER, uma Embrapa. Havendo possibilidade a gente vai tentando se aproximar mais. Eu encontrei dentro da área rural uma vocação importante que é o “Extensionismo Rural”. Eu gosto de estar falando com o produtor. Eu gosto de estar conversando com ele e de estar mostrando o que deve ser feito.
RW: Melhorar o dia a dia dele.
Rodolfo Almeida: Isto!
RW: O que o senhor pensa sobre o sistema de cooperativas – é algo que deu certo no Brasil?
Rodolfo Almeida: Sim, cooperativa é alternativa bacana, principalmente para os pequenos produtores.
RW: Seria uma modernização do conceito de Kibutz, em Israel?
Rodolfo Almeida: Sim! É uma atividade organizada. Porque na verdade, uma cooperativa é uma empresa – nada mais é do que isto. E podemos dizer que “Sim, é uma modernização do Kibutz”. 
RW: Não acha que seria interessante haver uma lei, no Brasil, de manutenção em diversas localidades no país quanto a soro antiofídico? Uma vez que nem todos tem esse soro contra picada de cobras...
Rodolfo Almeida: Sim! Eu tenho até uma experiência bem triste com isso. Na casa da minha mãe, em Cabo Frio, eu fui picado por uma aranha marrom – uma aranhazinha perigosa, pois ela necrosa os tecidos. E... em Cabo Frio não tinha o soro! Nenhum tipo de soro antiofídico para o controle desse problema...
Eu fui para a UPA, ser medicado de uma forma bem simples, só para tentar amenizar um pouco o problema. Mas depois que tive que ir para a Fiocruz, para poder resolver... Realmente esse seria um projeto importante! Principalmente para as áreas rurais, as áreas agrícolas onde tem esse risco de infestações, desse tipo de animais peçonhentos. 
RW: Inclusive ter médicos especializados neste assunto...
Rodolfo Almeida: Exatamente. Inclusive eu cheguei lá e a médica não queria nem ver a aranha. Com medo da aranha. Então há necessidade de médicos que tenham essa especialidade.
RW: Então é importante esta sugestão por nós pensada?
Rodolfo Almeida: Sim, com certeza! É viável.
RW: Em pesquisa a nível de mercado que o início de carreira de um agrônomo são 10 salários mínimos por mês. Poderá chegar, depois de 10 anos, de 15 a 17 salários. Isto é realidade? É bom ou pode ser melhor?
Rodolfo Almeida: Olha, não é a realidade do país, infelizmente. Hoje você pega engenheiro agrônomo ganhando muito abaixo desse piso. Muito, muito abaixo, infelizmente. Isso não está restrito apenas à profissão de engenheiro agrônomo, não é? É uma realidade de muitas profissões.
RW: Centralização da Economia do País precisa ser melhor planejada. A profissão de Engenheiro Agrônomo, entre outras atividades, é a planejar “construções rurais”.
Rodolfo Almeida: Sim.
RW: O que acha que pode ser feito para melhorar a vida do trabalhador no campo e quanto à casa – que programas de moradia o Governo Federal tem desenvolvido quanto a isto, para o trabalhador rural? Eu só vejo “Minha casa, minha vida” cidade...
Rodolfo Almeida: É, urbano...
RW: E na área rural?
Rodolfo Almeida: É fraco. Nosso país é agrícola. Mas... a gente vê pouco projeto para o homem do campo. Para ficar o homem no campo. As oportunidades são poucas. Acaba gerando um problema social que é a saída do homem do campo para centros urbanos. Geração de comunidades. Logicamente vai ter aí problemas gerados pela saída do homem do campo. O que o Governo pode fazer é realmente fixar mais o homem no campo! Como? Dando trabalho para ele!
RW: Acha interessante minha ideia de ter “Minha casa, minha vida” rural? 
Rodolfo Almeida: Sim. Sua sugestão é interessante, sim!
RW: Quanto à construção de mais estradas vicinais, para escoação da produção rural, o que o senhor tem a dizer?
Rodolfo Almeida: O maior problema da escoação da produção é a forma como o material é transportado. Sabe-se que rodovia não é a melhor forma de desenvolvimento da área agrícola-pecuária. Então deveria ter mais ferrovias – malhas aquo-viárias.
RW: Voltar a desenvolver isso.
Rodolfo Almeida: Sim. É o suporte! E a gente vê isso desde os antepassados nos Estados Unidos, o desenvolvimento deles ocorreu de forma muito forte. Porque desenvolveram primeiro estradas, malhas ferroviárias. A gente precisa de transporte de massa. Caminhão, carreta, isso não é transporte de massa. A gente precisa desenvolver. As nossas estradas estão de baixa qualidade, os pedágios caríssimos... Isso tudo encarece o produto.
RW: O excesso de peso logo estraga as estradas.
Rodolfo Almeida: Sim, porque as estradas não estão preparadas para receber isso. Então infelizmente é o que faz um atraso na Economia.
RW: E para que não virasse uma utopia, então a solução seria sistema aquaviário e ferroviário?
Rodolfo Almeida: Sim. Sistema aquaviário e ferroviário.
RW: Parabéns! Professor, que mensagem o senhor dá aos nossos leitores que desejam seguir esta carreira?
Rodolfo Almeida: Bom, para a carreira agrícola – tem que ter amor! É primordial. Tem que ter amor pela profissão. Porque a agricultura você lida com muitas áreas – você lida com o produtor, o homem que está ali no campo. Muitas coisas... que você precisa ter amor por esta atividade. Deparamos com muitas dificuldades no campo, você tem muita dificuldade em área tecnológica, tem pouco recurso na área agrícola, então... O profissional que quer trabalhar hoje nessa área tem que ter realmente uma paixão por isso! Tem que ter o prazer de ensinar ao produtor as técnicas corretas. E o prazer de querer ver o país se desenvolvendo na agricultura. Meu conselho é: ter paixão mesmo pela área. 
RW: E para o futuro seria bom ser um professor universitário?
Rodolfo Almeida: Poxa, sem dúvida! Essa é a meta!
RW: Nossos votos de sucesso!
Rodolfo Almeida: Essa é a minha meta.
RW: A Equipe Wolff agradece a sua entrevista.
Rodolfo Almeida: Eu que agradeço, muito obrigado!

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