Professor e Engenheiro Agrimensor Marcos Vinicius Sanches Abreu em entrevista ao Jornalista Reinaldo Wolff
A Música e a Engenharia
Ele mostra no
celular o vídeo do filho tocando bateria.
O pai feliz explica:
Ele toca bateria numa altura! Meu filho tem um violãozinho de brinquedo.
O pai se entusiasma
e conta mais detalhes: Ele fica na posição de quem está com o violão nas mãos e
quer tocar uma melodia! - E eu pergunto ”Miguel como é que toca um violão? ” (Ele
simula ter o violão e se põe na posição de quem vai tocar) - Pergunto ainda “e flauta?
” (Ele responde simulando os movimentos de quem está tocando uma flauta!) E
teclado?
Orgulhoso, o pai
conclui: Ele sabe os movimentos do tipo de instrumento musical que me refiro.
Nós da Equipe Wolff,
todos reunidos em volta deste pai orgulhoso dos dons musicais do filho. Prova
viva do que diz é o celular expondo as imagens do garoto numa agitada sessão de
ritmos na bateria... nós rimos juntos da espontaneidade dos movimentos e só de
imaginar a sintonia musical pai e filho.
Reinaldo se aproxima
para iniciar a gravação da entrevista.
RW: É um prazer
conhecê-lo! Seu nome?
Marcos Vinicius Sanches
Abreu.
RW: É parente de Lino Sanches, de São Paulo?
MV: O Sanches do meu
nome veio direto da Espanha...
RW: Não sei se o
senhor sabia que a família Abreu é das mais antigas do Brasil!
MV: Não sabia mesmo.
RW: Quando vieram os
estrangeiros para cá, a companhia que trouxe os imigrantes foi a Abreutur. Os
italianos e outros, as passagens foram todas pela Abreutur. Professor, como é
que o senhor chegou aos conhecimentos de Engenharia e querer se interessar por
Topografia?
MV: Na verdade eu
sempre gostei da ideia de ser Engenheiro. Meu pai era mecânico. E eu criança,
brincava com ele com a ideia; eu queria ser Engenheiro Mecânico. Eu para
projetar e ele construir. Mas... inicialmente eu queria fazer Engenharia Elétrica,
na época do vestibular pensei: vou fazer Engenharia Elétrica. E por alta
concorrência e dificuldade de estudar mais profundamente, acabei optando por um
curso que tinha uma... (o barulho forte de um motor faz o fundo musical, bem
apropriado até, de nosso diálogo!)
Então escolhi um curso que tinha uma nota de
corte menor: a Engenharia de Agrimensura. Com a intenção de depois fazer a
transferência. Só que... no primeiro semestre do curso eu já me apaixonei pelo
estudo. Exatamente por perceber que tinha muita coisa na Engenharia de Agrimensura
e que eu não sabia que tinha um profissional que trabalhava com isso como
topografia – eu pensava que somente o Engenheiro Civil trabalharia com
topografia! A parte de Geodésia, de formas da terra, e Cartografia, foi das
matérias que mais gostei de estudar. Assim, no primeiro semestre eu já desisti
de fazer a transferência para Engenharia Elétrica ... E me tornei Engenheiro
Agrimensor.
RW: Parabéns! Que
perspectivas vê para o mercado deste ramo de Engenharia – eu acredito que são
imensas as possibilidades de realização, não é verdade?
MV: São, na verdade
o Brasil possui um déficit de profissionais na área de Engenharia de
Agrimensura e Cartográfica. Cerca de 2008, 2009, houve um movimento aqui no
país para unificar essas duas Engenharias, o que de certa forma até fortaleceu
a ambas. As diferenças são muito pequenas, são suaves, trabalham com coisas
muito próximas. E em cima disso as pessoas começaram a perceber mais o que é a
importância de um profissional destes na sociedade. Não só na iniciativa
pública, também na iniciativa privada. Quando você trabalha com bases
topográficas, você pode aplicar no planejamento urbano, estudos de logísticas,
de administração de precisão – que é um termo que tem surgido aí – e que vai
trabalhar em Geomarketing. Ou então você pode partir para a questão agrícola, a
questão fundiária ainda é caótica e necessita do profissional dessa área. Mas
se for pensar no planejamento de propriedades agrícolas, o profissional da
Engenharia de Agrimensura e Cartográfica tem total condições de poder
auxiliá-lo. Além da própria Iniciativa Pública, Prefeituras com os cadastros e
planejamentos territoriais, como um todo, necessita de serviços profissionais
nessa área. Apesar dessa crise no país ainda há bastante oportunidade na
carreira de engenheiro na área de Agrimensura.
RW: Vale a pena
ingressar na carreira de Agrimensura?
MV: Vale “muito”,
vale a pena, principalmente com o avanço tecnológico que acontece nestes
últimos anos! Hoje em dia, quando você vai trabalhar com a área de Agrimensura
e Cartografia você pode trabalhar com imagens de satélite, com sistema de
informações e geodesia.
Hoje um simples
smartfone que a gente tem na mão – o que tem de informações, que por trás tem
profissionais nessa área é muito grande. O próprio “GPS” que a gente estava há
pouco, analisando ali em nossos serviços topográficos – se você quiser
simplesmente saber uma rota da sua casa até a padaria mais próxima... tem toda
uma base de Cartografia ali, que esses profissionais vão trabalhar! Então hoje,
a questão da tecnologia embarcada hoje – se for comparar com que se tinha em
Agrimensura há cerca de 20 anos atrás (até mesmo: há 10 anos atrás...) O avanço
tecnológico hoje foi absurdamente grande! Vale muito a pena – os cursos são
muito bons, a profissão é apaixonante e os cursos são muito bem preparados para
formar os alunos.
RW: Inclusive em
Agricultura de Precisão.
MV: Sim! Exatamente.
O próprio planejamento de safras, área de plantio – às vezes tem uma área em que
o solo está pobre em determinado tipo de nutriente. A Agricultura de Precisão
vem identificar isso exatamente, para ver qual é a quantidade de nutrientes
mais adequada para a área!
RW: Vocês estão com
algum tipo de curso deste tema na Semana do Fazendeiro?
MV: Eu sou professor
da área há 5 anos, mas entrei na UFV neste ano. Sei que costuma haver curso de
GPS e navegação - não sei se vai haver neste ano.
RW: Como foi sua
trajetória de vida até chegar a esse momento como professor na UFV – além de já
ter trabalhado com seu pai? Conte um pouco mais para nossos leitores sobre sua
vida! Os esforços que foram necessários, os resultados que conseguiu!
Ele respira fundo e
de repente lembra – ah, só um minutinho a aula do meu filho está acabando –
nessa mini pausa, o tempo para, lembranças correm e aceleram, assim ele diz:
“Eu sempre estudei em escola pública e sempre me interessei muito por música.
Aos 13 anos comecei a estudar música e aos 15 comecei a dar aula de bateria!
Numa escola muito boa na minha cidade. E com esse dinheiro que eu recebia, eu
acabei pagando uma escola particular para poder seguir os meus estudos. Fiz o
cursinho pré-vestibular. Tentei o vestibular de música, mas por algumas
circunstâncias não foi possível realizar as provas... “questão de logística”...
Mas fiz a opção por Engenharia. E vim do sul do Espírito Santo para Viçosa.
Chegando aqui me apaixonei pela cidade, me apaixonei pelas pessoas, (conheci
minha esposa aqui também!) Ele sorri... nova pausa – e... por ter iniciado a dar aulas desde os 15
anos eu tive, essa questão docente muito forte dentro de mim! Enquanto aluno de
graduação eu já criei um desejo de me tornar professor da Faculdade, inclusive
professor do curso de Engenharia de Agrimensura. Aí fui direcionando minha
carreira para isso. Optei por fazer mestrado aqui e não buscar outro local –
exatamente para ter uma proximidade. Doutorado, também fiz aqui. E comecei a
trabalhar numa Faculdade particular aqui de Viçosa – chamada Univiçosa.
Aí já em mestrado,
passei num concurso para substituto, aqui mesmo, na Agrimensura. E verifiquei
então que era isso que eu queria mesmo! O contrato acabou em 2012 e aí iniciei
na Univiçosa até final do ano passado. Quando então passei no concurso para
efetivo!
RW: Viçosa é
cativante!
MV: As pessoas são
acolhedoras, o viçosense (como um todo), nativo mesmo, ele é muito amável! São
pessoas muito simples e muito agradáveis de se conviver. Viçosa tem uma
história muito bonita desde a fundação, até a fundação da Universidade – e tudo
que a Universidade trouxe de bom para Viçosa. E exatamente por ser uma cidade
que atrai gente do mundo inteiro... temos aqui aluno do Acre, de Rondônia, de
muito longe! E faz com que essa acolhida, junto com a diversidade cultural, faz
uma mistura interessante! Você tem: o povo acolhedor, um povo de fora que é
muito bom, que traz coisas novas para cá -
e é uma cidade muito respeitosa. O estudante que vem para cá, ele pode
optar pelo estilo de vida que ele quiser, a sociedade não vai questionar ou
julgar. Se o cara quer ir para festas – ele vai. Se o cara quer ir para a
igreja – ele vai. Enfim – o que ele quiser fazer, ele faz com a liberdade dele,
é obvio! Sem que exista alguém que fique vigiando – “ah! Isso pode”, “Isso não
pode”. Os próprios alunos também sabem se respeitar muito. Então isso é muito
interessante! Viçosa é uma cidade fantástica.
RW: A música seria,
digamos assim, uma paixão na sua vida? Ou uma segunda paixão?
MV: Ah! Está tudo
misturado. A minha esposa é musicista também, e a gente se conheceu na banda
que eu tocava! Eu tocava na igreja, sempre quis tocar apenas na igreja. Aí
precisava de uma vocalista nova, porque a outra saiu – algumas pessoas já
conheciam a Eliane, e sugeriram ... no primeiro teste ela já tinha sido
aprovada, cantava muito bem! Aí a gente criou amizade, começou a namorar e
enfim, casamos! Já tem uns 8 anos de namoro, vou completar agora no dia 15 de
maio. Então a música está envolvida até nisso! Bom, casei. Casei por causa de
quê? Por causa da música! E a música que uniu nós dois! O meu filho também,
desde que nasceu, ele sempre teve um ouvido muito voltado para música. Hoje a
gente percebe que ele está desenvolvendo bastante.
A música faz o meu
sangue correr de uma forma mais viva.
RW: Professor,
poderíamos contar com esse vídeo que o senhor tem do seu filho tocando bateria,
para nossos leitores verem?
MV: Olha, o que eu
fico preocupado é que ele está numa área que não é muito bonita, na casa... a
gente está reformando.
RW: A criança é
espontânea.
MV: Sim!
RW: Que mensagem o senhor dá para os jovens que queiram ingressar na área de Agrimensura? As pessoas que podem ver isso como um futuro promissor em suas vidas.
RW: Que mensagem o senhor dá para os jovens que queiram ingressar na área de Agrimensura? As pessoas que podem ver isso como um futuro promissor em suas vidas.
MV: A Engenharia de
Agrimensura e Cartográfica é uma área muito rica, muito bonita de se trabalhar,
pelo menos eu penso assim, porque sou apaixonado por isso! O mercado de certa
forma é independente do momento econômico do país – é um mercado bom, um mercado
aquecido. Então do ponto de vista de salários, tem-se boas remunerações (para
quem pensa nesse aspecto também). Existe o viés da topografia – para quem gosta
de viajar muito, acaba viajando bastante. Agora se você gosta de trabalhar no
escritório, um trabalho digamos, menos suado em campo – existe uma infinidade
de outras áreas que você pode trabalhar também! Vale a pena, é muito bom – um
curso apaixonante. É trabalhoso, talvez por uma questão de preconceito a
Engenharia de Agrimensura era desconhecida e quando conhecida “tratava-se
simplesmente de um curso que você vai lá para plantar uma plantinha”. E a gente
sabe que não é isto! Mapas, cartas de várias extensões, é trabalhoso porque
envolve muita matemática, estatística. Mas, para quem gosta de se aventurar um
pouquinho, “passeando” bastante, fazendo levantamento, é altamente
recomendável!
RW: E o melhor de
tudo – não tem rotina!
MV: Exatamente.
Tenho colegas de curso que viajam o Brasil inteiro. Mesmo sendo diretores de
empresa ou simplesmente sendo funcionários da empresa – o trabalho nunca é
igual. Trabalho gratificante é muito legal.
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