Coronel Cavagnari em entrevista exclusiva à Equipe Wolff
"Projeto - você é muito importante para nós" © Equipe Wolff
CORONEL CAVAGNARI
A reunião dos
generais é às 8 horas. Mas nesse dia há o inusitado prolongar até às 9hrs.
Acontece a homenagem à brilhante carreira do Coronel Cavagnari que se aposenta.
Qual o significado de
uma carreira militar?
Porque os jovens estão novamente voltando à essa escolha
de trajetória de vida?
Saiba aqui o que pensa um Comandante - neste momento tão
significativo, em que avalia a carreira como um todo. E tem uma mensagem aos
jovens. Acompanhe.
Reinaldo Wolff: Coronel, o senhor
fez uma brilhante carreira como militar, e ao longo de muitos anos pôde ter
observado um sentido de vida muito intenso da vida militar. O que foi mais
marcante para o senhor como militar? Que experiência humana foi mais tocante no
seu coração?
Cel. Cavagnari: Foram experiências
que eu passei destacado em Batalhão de Engenharia de Construção. Porque eu
tinha no meu comando ali, um efetivo de quase 100 homens. E não só o controle
do pessoal também, mas o controle de material, controle técnico da obra. Essa
foi a parte mais intensa da minha carreira militar. Porque eu tinha que me
preocupar com tudo – o bem-estar do homem que estava trabalhando ali, com as
instalações, com os equipamentos, o maquinário que se usava na obra. E a obra
em si. Então a troca de experiências que a gente tem com esse tipo de gente, e
esse tipo de trabalho – porque a gente trabalha ali com vários tipos de
pessoas, desde o engenheiro que vistoria a obra, até o soldado que é operador
de máquina, no caso usina do asfalto. O operador da usina que a gente vê que é
uma pessoa que tem um equipamento nas mãos caríssimo – uma usina de asfalto
deve estar hoje mais de 5 milhões de reais. E normalmente o operador de uma
usina dessa é um cabo, que faz um curso lá na empresa e ele é o responsável
pela máquina.
RW: O que se
estabelece como meta para que seja eleito um homem – como o cabo – para manejar
um equipamento de valor tão alto, Coronel?
Cel. Cavagnari: A responsabilidade
dele, o trabalho dele – normalmente é um militar que a gente já conhece. Já trabalhou
em outras funções, foi bem sucedido, tem experiência... E eu já vi situações em
que o cabo foi o chefe da usina. Mas o termo que você me perguntou, o que mais
me marcou foi essa convivência respeitosa, e até hoje encontro gente com quem
trabalhei há muitos anos atrás, nas redes sociais, vêm e me agradecem. O que
foi mais intenso foi isso – a interação minha com os meus subordinados. Sempre
respeitei muito isso aí.
RW: É uma arte lidar
com as pessoas. E quando a pessoa tem o poder, muitas vezes, esse poder sobe à
cabeça. E a pessoa começa a dar ordem, não o senhor mas algumas pessoas. De
forma despótica.
Cel. Cavagnari: A gente tem que
saber chefiar sem ser arrogante, autoritário – mas também não ser permissivo. A
gente tem que ficar nesse meio termo.
RW: Eu admiro essa
personalidade no senhor. E respeito. Coronel, como foi o seu trabalho como
profissional do Exército? O que o senhor sente que melhor realizou?
Cel. Cavagnari: Olha, o que eu
posso dizer que melhor realizei - foi ajudar quem eu pude ajudar. Sempre
mantendo o que a profissão estabelece para gente. Mas na medida do possível
sempre favoreci quem me pediu ajuda. Eu digo assim, dei condições para a pessoa
poder crescer. Um exemplo, mais uma vez tinha os graduados Praças, fazendo
faculdade de Direito, e eles têm que fazer um estágio. E eles vinham pedir pra
mim – “Coronel, eu tenho que fazer um estágio, mas é em horário de
expediente...”, aí eu falei “Oh, não tem problema, você pode fazer o teu
estágio, mas eu quero que o teu serviço aí se mantenha. Eu não quero que você
deixe passar nada”. E aí eu tinha essa resposta, o camarada ia trabalhar depois
da hora ou chegava bem antes. Na hora do estágio ele saía, fazia o que tinha
que fazer, mas sempre mantendo o serviço dele em dia. Então o que eu levo de
experiência disso aí foi poder ajudar as pessoas no que eu pude.
RW: Agora como o
senhor planeja a sua vida para os próximos anos? Como empresário?
Cel. Cavagnari: No momento eu não
pretendo fazer nada. Eu quero só aproveitar a vida. E se aparecer alguma coisa
– muito esporadicamente... Eu não quero mais compromisso com horário, ter
aquela obrigação e estar preso ao horário, ficar sujeito a intempere,
trânsito... isso aí eu não quero mais não. Eu posso até fazer um trabalho
informal. Agora é viajar, resolver o que eu tenho que resolver. Mais pra frente
fazer uma viagem ao exterior, para ir conhecendo o que eu tenho vontade de
conhecer.
RW: Como foram as
homenagens e destaques que o senhor obteve ao longo de sua carreira militar?
Cel. Cavagnari: Olha, é a Medalha
de 10 anos, Militar de Bronze por 10 anos de serviços prestados, a Medalha de
20 anos, Militar de Prata. Eu tenho direito à Medalha Militar de Ouro, que são
30 anos – eu tenho que pedir, não pedi ainda. Uma que eu considero bem é a
Medalha de Tempo de Serviço Amazônico, que eu ganhei do período que passei na
Amazônia. Eu servi em Santarém do Pará, em Boa Vista - Roraima. E a Medalha
Corpo de Tropa, que é referente ao tempo que a gente passa em organizações
militares operacionais não administrativas. Mas acho que em termos de
homenagem, foram as que recebi dos meus subordinados quando eu me despedi dos
vários quartéis por onde eu passei. E agora, no final da carreira, depois
daquela minha despedida formal com o Comandante da Região, que é um ato regulamentar
– foi a despedida dos meus subordinados, o que eu ouvi individualmente deles e
me deixou muito emocionado.
RW: E como é o seu
estilo de vida atual, Coronel? O senhor sente alegria no seu dia a dia? Ficou
muito estressado do trabalho?
Cel. Cavagnari: Não fiquei
estressado. O meu trabalho eu sempre procurei levar da seguinte maneira – eu me
esforçava para tentar resolver o que eu podia, me dedicava mas eu sabia que não
ia conseguir resolver tudo de uma vez só. Então eu tinha prioridades. O que era
mais prioritário, ia resolvendo. As rotinas eu tratava como rotina. Então eu
nunca me enrolei de ficar com trabalho atrasado... eu sempre mantive ali um bom
andamento do serviço. Atualmente, eu quero viver, ir à praia, quero aproveitar,
quero esvaziar minha mente. Nosso estilo de vida está bem light. Porque a
profissão da gente já é muito desgastante, não é verdade? Exige muito da gente,
a profissão exige muito da gente. E se eu for ficar na reserva me desgastando,
eu acho que não tem valor eu sair para a reserva. Se eu saí é porque eu fui até
onde eu poderia ir, fiz o que eu poderia fazer.
RW: Coronel, o nosso
país está passando por motivos muito críticos. Eu acho que tudo isso que está
sendo feito, são pessoas que, no fundo, trazem uma revolta sem necessidade.
Porque, nós como filhos de militares que somos, vemos que o militar só quer uma
coisa – o que é correto. Ele não quer abuso, ele não quer o maltrato, não quer
o desumano – nada disso – quer só o correto. Mas as pessoas estão fazendo de
tudo para desafiar. Tanto é que essa anarquia feita recente, foi na frente do
Exército. Como o militar vai manter esta calma, neste país que está cada vez
mais complicado? Esse é um grande desafio. O senhor não acha?
Cel. Cavagnari: Eu concordo. Mas
antes de tudo a gente tem que ter um conceito, que eu trago sempre comigo – que
o Exército é o povo. Porque o Exército tem indivíduos de diversas camadas
sociais. Na AMAN, quando eu fiz, tinha desde o filho do sapateiro, até o filho
do general de quatro estrelas. Então
nesse momento, eu acho que o Exército tem que tomar uma posição de estudar a
situação – e não partir para o embate – mesmo porque, com tudo isso que está
acontecendo, isso é uma questão por enquanto de segurança pública, quem tem que
resolver isso é o Governo do Estado – não é na esfera Federal. O Exército
precisa manter essa posição que está mantendo, sempre acompanhando. A gente
sabe que o serviço da área de inteligência do Exército acompanha isso aí. E no
momento então que o Exército tiver que ser empregado, que é quando não se consegue
mais manter as garantias da lei e da ordem, aí sim tem que entrar. Mas tem que
ir lá para resolver, não é paliativo para depois ter de novo.
RW: O que mais o
influenciou para entrar na vida militar?
Cel. Cavagnari: Olha, eu sempre
tive um certo fascínio pela vida militar. Ninguém me influenciou. Mas eu sempre
gostei. Na minha família, teve de militar um tio meu. Então de militar somos
apenas eu e ele. Mas justamente de ver aqueles exercícios militares, aquele
ambiente, aquele clima de esforço físico, foi o que me atraiu. E outra coisa
foi a superação. A gente fica se conhecendo. Conhece nossos limites.
RW: Que mensagem de vida
o senhor dá para os novos intencionados da vida militar, os jovens da atual
geração?
Cel. Cavagnari: A vida militar é um
sacerdócio. A primeira coisa que o jovem que está querendo entrar tem que saber
- o militar não fica rico. Mas ele tem que ser comedido. Tem que saber gastar o
que ele ganha, e não gastar além do que recebe. Porque isso vai complicá-lo. E
como mensagem eu deixo aquilo que a gente diz quando é declarado Aspirante a Oficial
– é o compromisso. O que eu acho mais importante disso tudo – respeitar os
superiores hierárquicos, tratar com bondade os subordinados e com afeição os
Irmãos de Arma.
RW: Parabéns. A
Equipe Wolff agradece a sua entrevista.
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