Coragem para vencer!

PERCEPÇÃO - Guia mágico de sobrevivência.

Por Ana Maria Wolff


       As aulas no curso de Direito finalmente recomeçam. Glorinha não consegue prestar atenção. O assento de sua cadeira parece esmagar o seu traseiro. Os pensamentos voam. Está frio. La fora a umidade no ar a faz estremecer. 
-Ontem eu tinha um lar. Mas achava isso um aborrecimento. Mamãe com sua disciplina coercitiva me punha muito nervosa. Hoje estou aqui. Não é horrível? -  Fala com desalento. 
Isaura comenta apenas: -Tudo muda no mundo. Até este momento vai mudar. Eu quero continuar sendo professora, e não penso mudar nada. Seria me arriscar muito, num destino incerto. Entretanto, sei que nada ficará como está. Você já tem uma noção do que vai fazer?
-Preciso ganhar dinheiro imediatamente. A horta de nossa casa é que nos dava o sustento. Mas a chuva levou...
-E agora?
-Sim... e agora? Isto eu me pergunto dia e noite, mas não encontro resposta.
-O que você sabe fazer?
-Ouvir música  no mais alto som, ficar muito tempo na internet, e fazer sanduíches. Faço... isto é, fazia cada sanduíche espetacular. Inventava mil maneiras de saboreá-los. Por isto fiquei gorda assim. Agora, quem vai me querer? Quando eu tinha dinheiro para gastar, vivia rodeada de amigos. Muitos morreram na avalanche de água e lama que inundou Friburgo. Até meu pai, que parecia tão vigoroso se foi... -Glorinha não pode continuar. Muitas pessoas emocionalmente abaladas chegam ao mesmo tempo. Todas encontram aconchego pelos que já estão ali. Ela então se envolve, fazendo curativos e acalmando aquelas vítimas. Isaura se aproxima e diz: - Então você agora já sabe ajudar aos outros. Isto significa que tem um caminho pela frente. Pode se dedicar ao ramo da lei aplicado à Saúde.
Glorinha insiste: - Mas o que faço para ganhar dinheiro? Como vou pagar a Faculdade?
-É simples: faz sanduíche na cozinha comunitária, e os sai vendendo pela cidade.
      Aqui Glorinha se lembra da figura imponente do pai. Professor na Faculdade de Direito, ele se destinava a ser o Reitor. Foi quando sofreu um desastre de automóvel. Quatro professores amigos dele vieram lhe visitar. Na reunião que iria eleger o reitor, os quatro amigos o traíram. Disseram: “Ele está incapacitado para tomar iniciativas vigorosas como uma faculdade de alunos jovens exige”. Como meu pai não entendeu antes, que aqueles sujeitos não eram seus amigos? Pronto! Agora ele morreu, e a Faculdade precisa para se erguer, de alguém exatamente como ele era. Paciente, e muito positivo. A influência dele era a de um verdadeiro líder. Mas como ele poderia ser um líder se não conhecia as emoções que movem a traição? Ah, que emoção!
        Conversou então com Isaura e esta lhe disse: -Trair é o sentimento de medo de assumir o fato. Aqueles homens tiveram medo de assumir a responsabilidade de dar ao seu pai, que já estava doente, uma chance: o crédito em seu restabelecimento! Eles não quiseram ser criticados pelos alunos, de uma indicação falsa. Isto poderia prejudicá-los! O FATO: É que procederam com DOLOROSA DESLEALDADE. Trair é uma emoção altamente forte e perigosa, e causa vários riscos à saúde. O impacto do fato, ou  a infidelidade dolorosa, pode gerar reações imprevisíveis para ambos os lados afetados. Embora as emoções variem para cada pessoa, aparentemente brutalidade é um ponto em comum que abre caminho à selvageria e à crueldade. Uma atitude insensível sempre persiste.
        Assim Glorinha entendeu que aquela fase de menina rebelde havia passado. Ela hoje tem a luz do entendimento para sua direção. Nenhuma emoção poderá tirá-la de seu propósito.
Isaura inda lhe provoca: -Vai desistir agora? Vamos, coragem!

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