Pró-Reitor Manuel Esteves em entrevista exclusiva ao Jornalista Reinaldo Wolff


Projeto Você É Muito Importante Para Nós ©



RW: É uma alegria estar aqui, com todo respeito, agradeço sinceramente a entrevista que o senhor está nos dando. Nós estamos entrevistando ao longo de alguns meses, os professores e diretores – porque sinto como jornalista e acadêmico em Direito, na obrigação de prestigiar e respeitar os professores que aqui estão.
E nós temos entrevistado aqui – exemplos – o professor Soniárlei Vieira Leite, o Dr. Nagib Slaib Filho, e uma série de outros professores – como o Professor Rogério Travassos e a jornalista e advogada também. Nós estamos aqui para obter suas opiniões sobre o andamento da Faculdade – o que o senhor tem pensado a respeito da inovação tecnológica na área educacional?
E o que a Universidade propõe para esse período, de novos alunos, e para o ano que vem? Qual seria sua opinião?

Manuel Esteves: Quem eu sou? Na realidade sou o responsável pela Extensão. Para ter uma noção sobre isto – qualquer Universidade, para ser uma Universidade ela tem que ter um “tripé”, vamos dizer assim, para sustentá-la, que é: o ensino, pesquisa e extensão. Ensino, normalmente é o quê? É o conteúdo que o professor ministra. E esses professores ministram e vão pedir uma pesquisa bibliográfica e de campo. E quando você utiliza aquilo que aprende na sala de aula e aplica na comunidade, isso passa a ser “extensão”. Vamos dar um exemplo do teu curso específico: Direito, aprende-se sobre as leis. Para quê serviria saber mais sobre leis, se o acadêmico não aplicar essas leis na comunidade? Daí ele diz: “Ah, mas eu vou aplicar! 
Eu vou ser um profissional. Eu vou usar as leis”. Perfeito! Mas você pode, antes de chegar a esse ponto de ser profissional, você já está aprendendo Direito Civil, então você vai na comunidade, nós temos aqui projetos que atendem a comunidade, ou lá mesmo no Núcleo de Prática Jurídica, antes do aluno se formar, vai ter que passar para lá. Por quê? 
Tem pessoas para serem atendidas e cada um tem os seus problemas. Um vai ser porque tem um terreno, tem uma casa, e não é dono daquilo porque é usucapião. Tem também o caso de uma pessoa que disse que teve filho com o fulano e este não quer admitir. Assim, tem que se fazer exame de DNA e descobrir a paternidade. Passando-se por tudo isso o que acontece? Você vai “praticando”.
Então a Extensão se caracteriza justamente por você socializar aquilo que aprendeu em sala de aula, eu falei Direito, mas podia ser, por exemplo, um aluno de Odontologia, que é o caso, onde inicialmente ele vai começar a falar sobre coisas que não precisa ser profissional, que é ensinar a escovar o dente, que é usar o fio dental, que é mostrar a importância de ter essas atitudes para que ao invés de perder os dentes rapidamente ele pode ir até uma idade muito avançada, justamente porque escovava os dentes ao final de cada alimentação, passava o fio dental, porque ele escovou, mas o que ficou entre um dente e outro, não é retirado com a escovação, aí o fio dental ajuda a retirar. Isto é muito importante, todos os cursos tem que fazer isso.
O meu trabalho como Pró-Reitor de Extensão é determinar as políticas que sejam usadas onde tiver cursos da Universo. Nós estamos em Niterói, mas eu não sou só de Niterói, sou de Niterói, de São Gonçalo, de Campos, de Goiânia, de Recife, sou de todas as unidades. Na realidade tenho que traçar as políticas, em cada local tenho uma pessoa responsável, aqui em Niterói é o Celso Serafim, que é responsável pela Extensão. Então, eu traço a política, as disciplinas, muitas delas as que são mais eminentemente práticas terão que ter projetos, aí os alunos vão desenvolver estes projetos na comunidade.
RW: Isto está de acordo com princípio indiano, em que só se aprende quando a teoria é associada à prática?
Manuel Esteves: Perfeito, por isso tem que ter a Faculdade, ela não se sustenta se não tiver isso. Eu digo para os meus alunos o seguinte “Do que adianta você aprender, se você não usa o que aprendeu para ajudar os outros?”.
RW: Agora, com relação às Públicas, a Universidade Federal de Viçosa, na verdade está de parabéns pela iniciativa de reservar 50% das vagas para estudantes do ensino público, o senhor concorda?
Manuel Esteves: É, de repente é um caminho!
RW: Agora, professor, como manter diante das dificuldades, muitas vezes inclusive financeira? Porque muitas pessoas vêm no intuito de começar e não dão conclusão. E a Universidade tem uma série de custos para fazer frente a isso... Porque a infraestrutura inteira é montada - professores, alunos, funcionários, que têm compromissos. Como fazer frente mantendo a renovação dos ideais?
Manuel Esteves: O que hoje a gente faz com a renovação de egressos é justamente ter políticas que possam... Hoje, por exemplo, o Governo facilita muito a entrada do aluno, através de quê? De FIES! Mas a Universidade tem o chamado Projeto Talento, em que a mensalidade de um curso é de mil reais, mas o aluno consegue uma bolsa de estudos em que ele vai pagar setecentos reais. Então, praticamente todos os alunos têm bolsa, na Universidade. Cursos como Licenciatura. A Reitora, como diria? Ela tem um "carinho especial" pelas Licenciaturas. Por quê? Ela começou como professora. Para as Prefeituras ela dá 50% para os funcionários poderem fazer Licenciatura. Por quê? Ela vê o seguinte; cada vez mais vai ficando difícil você ter matemáticos, físicos, químicos. Por quê? As pessoas estão "correndo" das Licenciaturas, salários baixos, etc... E a Universidade, para tentar garantir, e sabendo da importância dos professores, qualquer profissional primeiro tem que passar pelo professor não é? E ele que vai orientar. Então ela faz isso. Hoje praticamente todos os cursos da Universo os alunos têm bolsa de estudos. Até ela gostaria, se você perguntar, de dar mais... Só que na realidade, e é o que você falou, nós temos um orçamento.
RW: Há um limite.
Manuel Esteves: E outro detalhe que o aluno não s
abe, e às vezes até dizem "Ah, tá faltando isso e aquilo", mas está faltando sabe por quê? Porque você vai ver que muito aluno aí não tem a consciência, ele gasta, você vai num barzinho aqui no bairro durante a noite, está tudo lotado! E são alunos nossos! E aquele aluno está gastando no bar! Mas na hora de pagar a mensalidade aqui ele não paga! Então a inadimplência, às vezes, vai a mais de 30%. Quem é que aguenta isso? 

Imagina se alguém tem um comércio, e é assim nesses bares de inadimplência? Aí é difícil! Você já diminui o valor da bolsa para atender menos inadimplências. Dá certo. Já diminui. Mas aí você acaba pensando “Mas se eu não diminuísse, pagando 70%, era valor integral. Seria melhor.”. A intenção política, a gente tenta achar o meio termo, do que é melhor. Realmente, diminuindo a mensalidade o aluno tem melhor condição de pagar. E agora com o FIES... Se for à frente isso - sempre a gente fica assim com uma interrogação "será que vai à frente isso?". Agora mesmo parece que está um momento que não há o dinheiro para pagar os FIES...
RW: Para o aluno de Direito, entrar neste plano de FIES é uma faca de dois gumes - porque se o aluno não passar na OAB, a obrigatoriedade de pagar o financiamento será a mesma. Então há necessidade de o aluno ser aprovado, mas nem todos passam na OAB, por melhor que seja a faculdade, porque exige o esforço do aluno, não só da faculdade.
Manuel Esteves: Perfeito, está falando bem mesmo. Porque aí é o seguinte, a pessoa tem que arcar com isto e saber.
RW: A dificuldade do sistema, se o senhor me permite dar uma opinião... Como aluno eu vejo aqui professores muito dedicados, porém - a minha intenção não é criticar em nada - não é interesse, ou ousadia, apenas sugerir que haja sempre e constantemente uma reciclagem, para a Universidade poder observar de perto o que está havendo com cada um dos professores. O que acha disto?
Manuel Esteves: Prefiro não entrar nesse mérito. Porque neste caso tem-se um canal direto, que é o gestor do curso!
RW: Sim, sim.
Manuel Esteves: É através do gestor do curso que o professor fica na Universidade, ou não. Ao final de cada semestre, toda a Universidade tem alguma coisa que se fala ao professor - não digo uma reciclagem, em relação ao curso dele, e em relação às coisas que estão acontecendo com o curso dele. É assim que muda currículo do curso. Não muda só porque o gestor do curso quer. Muda por quê? O mercado de trabalho está exigindo mais daqui, do que dali, é isso tudo! Por isso que a gente muda! Se comparar hoje o fluxograma de disciplinas, é completamente diferente de dez anos atrás! Agora quem dá essas condições do que ocorre é o aluno que vai direto ao gestor. Tem um problema? É aluno/professor. E não resolveu? Gestor! Eu costumo dizer ao aluno: ele não pode "guardar" as coisas que podem ser feitas. Tem que ser o gestor! Ele que tem que ouvir - e se de repente a sugestão é interessante, porque é justamente dessas interações, que acabam muitas coisas mudando no curso. A gente sabe tem alunos e alunos. Você vê uma turma de cinquenta, e eu digo alunos de verdade, talvez vinte, no máximo! E vão ser esses que vão passar para a OAB - os bons alunos. Os outros não vão passar.
RW: E nem vão utilizar o curso que fizeram. Eu tive colega na outra Universidade da qual provenho - e que eu já encontrei formado, com diploma, tudo certinho.  Eu perguntei, e aí? Está exercendo? Ele: "Não, guardei o diploma!".
Manuel Esteves: É aí que você escuta - "Mas o fulano se formou e agora está no comércio!" Eu digo para o meu aluno: "Você não tem que ser um aluninho. Você tem que ser bom, tem que ser ótimo aluno!" Acabei de falar isso na sala de aula - Não adianta estudar um dia até tarde, a noite toda" - Não? Tem é que ter hábito de estudar todo dia e também sobrar tempo para se divertir e se distrair! Também há o fato que a minha experiência mostra que nem sempre o melhor aluno é o melhor profissional! Vai ser sempre o aluno que é o bom, mas também que, mantém os contatos, para se humanizar. E que há um tipo de pessoa que estuda, estuda, ele sabe, mas tem dificuldade de comunicação, de sair - o que eu vejo que os melhores profissionais são aqueles que são bons alunos, mas não é aquele que só estudou - é aquele que sabe se, sabe se divertir, sabe se socializar!
Por isso que a Extensão é fundamental. E por quê? Ele sai daqui, ele vai para a comunidade, e se ele é tímido, ele começa a se soltar! Vai ganhando a experiência e se humanizando. Isso é fundamental. Então o aluno tem que perceber que em sala de aula ele tem que aprender.
RW: É humildade que é necessário para isso. O aluno que é arrogante, não aprende.
Manuel Esteves: A lei não é decorar. É interpretar e entendê-la. Visualizando a lei - associa aos casos práticos - isto é importante. Não é só decorar.
RW: A opinião do Sr. está de acordo com a do Presidente da OAB/Niterói, o Dr. Antônio, o qual estive entrevistando.
Manuel Esteves: Eu o conheço.
RW: É exatamente de acordo com a opinião dele, na qual ele fala que a finalidade não é o aluno decorar, a finalidade n
ão é de concurso público, a finalidade é advogar. Os alunos estudam só para fazer concurso, é quando entram na OAB tem que "advogar" – por isso tem que ser advogado! Se sabe decoreba, mas não sabe pensar como advogado, fica difícil! Por isso o bacharelando tem que desenvolver o raciocínio jurídico.
Manuel Esteves: Você tem que ter uma visão do horizonte. Primeiro, que eu digo assim - nada é isolado. Quando aprende a raciocinar, você raciocina para tudo, não é só na tua área, no teu curso.
RW: Professor vou lhe fazer uma sugestão. Que tal fazer aos moldes das Universidades Americanas, que trazem sempre escritores. E esses profissionais transmitem uma poderosa carga de vida ao campus, de euforia, de entusiasmo para outras pessoas! Tanto para os funcionários quanto alunos. E para palestrar eles trazem também pessoas da comunidade, que se destacam.
Manuel Esteves: Você pode estar certo que aqui a gente também faz isto! O que tem de palestra aqui, não é pouco não!
RW: O que eu digo é também trazer escritores.
Manuel Esteves: Nós fazemos assim. Temos o Setor Cultural, por exemplo, o Corujão, entra atores, atrizes, escritores, todos os tipos de cultura, fazemos isso!
RW: Que bom saber, professor!
Manuel Esteves: Aqui você vê - quase todos que vêm ava
liar a Universo ficam encantados com o projeto Doe Livros, doar e também pegar.
RW: Nós já doamos livros.
Manuel Esteves: Está bem. A ideia é isso, é a maioria!
RW: O consenso. Agora, duas perguntas fundamentais. Como o sr. chegou até aqui, a trajetória de sua vida, até alcançar este ponto de Pró-Reitor? – que me refiro como o ápice de carreira. O senhor falou que trabalhou muito desde garoto. E a 2ª pergunta - Que mensagem o senhor dá aos nossos leitores?
Manuel Esteves: Na realidade é o seguinte... Eu sempre fui muito observador. Acho que na vida, fala-se que o cientista é que tem essa capacidade de observação. Eu penso que todo o ser humano, a primeira fase que ele tem que desenvolver muito bem é a observação.
O método científico é o que começa com observação. Depois vai para a fase de experimentar, levantar uma hipótese até chegar a uma conclusão! E a vida da gente é assim. Com toda certeza todos nós somos cientistas. Por quê? O que você estava me perguntando, eu comecei a observar o seguinte... As pessoas chegavam na casa de minha mãe, e tinha lá muitas plantas. Até que perguntaram "A senhora não quer vender essa planta?". Minha mãe dizia "não", "não"... Até que um dia falei "Mamãe, vende a planta! Vende que eu faço outra para a senhora". Aí mamãe vendeu! Como se fosse hoje uns cem, cento e vinte reais. Eu pensei "Isso dá dinheiro!" e comecei a cultivar antúrios, violetas, begônias. E aí comecei a parceria. Veja como são as coisas... Lá perto de casa tinha um senhor que tinha uma fábrica de vasos de plantas.
Eu falei para mamãe "Vou falar com o Sr. Januário para levar as plantas para mim. Em Barreto - Niterói. Às 4 ou 5 horas da manhã ele arrumava os vasos na Feira de Neves. E eu ali colocava as plantas, perto dos vasos. Às 10 horas da manhã eu não tinha mais planta para vender. O pessoal comprava os vasos e comprava também as plantas, antúrios, violetas. Então o que eu fazia? Pensei - preciso de uma terra boa. O que é uma terra boa? Uma terra preta, adubada. E aonde que eu arranjo isso? Então ia lá, coletava, e fui desenvolvendo aquilo no conceito da ecologia, essas plantas foram crescendo, cada vez vendendo mais. E aí fui pensando em - como melhorar? Tudo que era ligado ao assunto, fui me interessando, o que eu poderia utilizar. Até que aí cheguei aos dezesseis anos, a um amigo do meu pai, eu falei "Afonso, faz um favor para mim, eu quero arrumar um emprego". “Mas teu pai não quer”!". Eu falei "Não faz mal, arranja que depois eu falo com ele sobre isto. Ele arranjou para mim a oportunidade de trabalhar na 1001, aqui no Fonseca, nos ônibus. Eu com um mês, isso não estou falando para me enaltecer, mas estou falando da importância de ser leal, de ser honesto, isso tudo é importante. Isso é o que eu passo para meus alunos. Aí eu recebia a conta dos cobradores e dos motoristas. Nunca ninguém me ensinou, mas eu colocava as notas cara com cara, nota por nota, todas elas em sequência. E nunca deu errado o meu caixa! Com menos de um mês na firma o dono, um dos donos era Horácio Cortez... José Evangelista Cortez, José Elias, que era meu pai. E aí o Horário me chamou para ser o secretário dele, e eu não tinha nem dezoito anos. Isso foi em 1960 e alguns quebradinhos...
Com menos de um mês de empresa eu fui trabalhar sendo o secretário dele. E isso já provocou ciúmes, porque eu era novinho e tal. E eu tinha o que eles achavam que era regalia, que era sair uma hora mais cedo para poder estudar. Mas não era uma hora a menos. Porque eu começava a trabalhar antes dos outros. Eu começava 6 horas da manhã para sair 1 hora da tarde. Aí depois de um tempo o dono que já gostava de mim, falou "Tá dando problema porque você sai à 1 hora...". Eu disse “Não tem problema não”... eu posso pedir demissão". Ele disse "Não, não é assim". Fui procurar no jornal e acabei arranjando um emprego aqui pertinho, na autorizada da Simca Chambord. Então fui para esse lugar para ganhar mais. Com 19 anos fui trabalhar no Rio. Fui lá para fazer uma prova, só que isso tinha começado na segunda e eu cheguei na sexta feira. O rapaz falou que já tinha acabado, e eu falei "Para não perder a viagem, você faz o mesmo teste que fez com os outros, pelo menos eu ganho experiência". Na terça-feira recebi o comunicado para ir lá na firma, porque o emprego era meu. Passei a ser chefe de escritório da Eletromar no Rio! Meu caminho foi ser assim, querendo sempre ser melhor. E aos 20 anos eu pensei "Eu vou ficar pulando de galho em galho a vida toda?". Ainda novo já passei por tantos empregos, não é? Mas graças a Deus sempre melhorando.
E pensei "Vou fazer uma universidade, mas eu tenho que passar para uma Federal". O que eu fiz? Fui trabalhando e reservando dinheiro. Até que eu pedi as contas em setembro. E comecei a estudar direto. Estudava com um amigo meu. Quando ele ia estudar eu já estava dormindo. Ele dormia, e eu estudava. Ele acordava, a gente estudava. E aí ele passou para a Federal, eu passei para a Federal. E mesmo passando para a Federal, eu tinha que trabalhar. E aí agora você vai entender o porquê desta história. Para mostrar que foi justamente quando eu estava na UFF, alguém disse assim "Tem uma escola em São Gonçalo precisando de um professor de Ciências". Qual era essa escola? Colégio Dom Elder Câmera, que é o quê? Deu origem à Universo. Eu fui professor de 5ª série, 7ª série, que só tinha até a 7ª. No ano seguinte fui até a 8ª, porque passou a ter 8ª. No ano seguinte passou a ter 1º ano do 2º grau, que é hoje o ensino médio. E aí quando chegou no 3º ano, eu dava aula no 1º e no 2º grau. Aí a escola sempre com a ideia da Marlene, com essa disponibilidade que ela tem, essa dinâmica que ela tem. Ela: "Precisamos ter uma universidade em São Gonçalo e não tem. Vamos fazer uma Faculdade!". Aí foi a Faculdade de Ciências e Letras. Então depois de um tempo eu passei a ser professor, era novo.  Passei a ser professor da faculdade. Depois se transformou em Faculdades Integradas de São Gonçalo. Passei a ser professor também. Depois passou a ser Universo. Fui professor também. E aí, a universidade me deu todas as condições. Por exemplo, quando fui para a faculdade, a professora Marlene falou assim "Professor, o sr. tem que fazer uma pós-graduação" - "Professora, eu adoraria, mas não tenho condições, não tenho dinheiro, não tenho pai rico, não tenho nada, então trabalho para poder me manter, para comprar uns livros da faculdade." - "Eu pago, e você vai estudar!". Ela pagou PUC para mim! E eu fiz PUC, Pontifícia Universidade Católica. Eu fiz!
RW: Uma das mais caras!
Manuel Esteves: Eu fiz! Ela bancou isto para mim. Depois eu fui galgando. Chegou uma hora que eu fui ser gestor do Curso de Ciências Biológicas. Depois passei a chefe de departamento. "Ah Manuel, você tem que fazer Mestrado!" - "Professora, eu não tenho condição" - "Eu banco!". Então eu devo tudo, ou quase tudo, a esta universidade! Por quê? Porque a Diretora com aquela coisa do humanismo, ela pode ser rigorosa, porque tem que ser, porque se não teria isto, mas tem que ser humana também. E ela sempre me deu as condições para poder me desenvolver.
RW: Diga-se de passagem, eu tenho um profundo respeito pela Prof.ª Dr.ª Marlene, e por todos os senhores, de verdade.
Manuel Esteves: E tem pessoas que às vezes criticam e não sabem nem de uma história, dizem "O dinheiro vem de onde?!". Tem gente que diz que o dinheiro vem da Universal, da Igreja. A Universo não tem nada a ver com igrejas. Mas tem gente que fala que o dinheiro vem do Governo. Não vem nada do governo.
RW: São as más línguas. Pessoas invejosas.
Manuel Esteves: É, e não sabem que ela entra aqui de manhã cedo e sai tarde da noite. Agora mesmo teve comissão segunda e terça. Ela é a primeira a entrar e a última a sair. E ela já tem 78 anos. As pessoas não sabem o quanto ela trabalha! Trabalha muito! E precisava? Eu diria a você que não precisava... E, no entanto ela faz tudo isso.
RW: A nossa intenção não é criticar, é apenas melhorar.
Manuel Esteves: Eu entendo. Por isso que eu digo que por escrito sempre passa para o setor que eu acho que é interessante. Então, só para finalizar, com isso tudo eu consegui chegar a Pró-Reitor. Tem a Reitora e tem os Pró-Reitores. Hoje eu tenho 45 anos na instituição. É uma vida toda! Então eu comecei com 20, 21 anos, e estou até hoje trabalhando aqui! Na realidade, eu não quero dizer para o aluno, o que eu digo para qualquer pessoa. É realmente ter uma condição de tratar bem as pessoas, de se preparar para o mercado de trabalho. E ser humano com todo mundo. Isto é que é importante. Seja em qualquer profissão, é você ter competência e ter habilidade. Se você consegue aliar essas duas coisas, você vai conseguir ter sucesso. Então ter sucesso numa profissão, ao meu modo de ver, é aquela que traz felicidade para você, felicidade para o entorno onde você está atuando. Então para mim, não adianta eu ser feliz se eu não faço o meu colega ser feliz. Então eu passo isso para todos vocês aqui na escola e fora daqui. Aonde eu lidar, eu tento fazer isto. É tratar todo mundo com respeito para poder ser respeitado. Isto que eu acho que é importante. A mensagem é essa. É tratar o outro de forma como você gostaria de ser tratado. Eu digo o seguinte, a pessoa tem que ter esta consciência.
RW: É exatamente a isso que me refiro, professor. Que é vivenciar a existência de Deus em si.
Manuel Esteves: Você tem que ter Deus dentro de você, mesmo que não saiba que Ele está dentro de você. Mas Deus está atuando em você, através do que você fala, do que age, mesmo sem saber. Então tem uma ex-cunhada que fala para mim o seguinte "Você não está na Igreja todos os dias, mas às vezes age melhor e entende melhor a natureza humana do que as pessoas que vão lá". Se você é bom no seu trabalho, se executa ele bem, se você usa para ajudar os outros, o que é isso? O que Deus fala? É justamente isso.
RW: A escritora Ana Maria Wolff em seu livro Percepção, diz: "A bondade é a saúde da alma".
Manuel Esteves: Concordo plenamente! Então na realidade não precisa achar que tem Deus-
RW: Mas isso é importante! Isso é o Religare! É exatamente o ser humano ter a consciência! Nas entrevistas que faço sempre falo que é necessário despertar a consciência. Porque quando a pessoa desperta a consciência, ela vê o Universo à sua volta.



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