A importância de se ter amor às origens

Durante a aula prática do curso de preservação de nascentes começa a gravação de filmagem de TV sobre a opinião de um dos participantes do curso:





86ª Semana do Fazendeiro - UFV - Viçosa, MG



Apresentador: Seu nome?
Markus Stephan Wolfjdünkell Büdzynkz - (pai é alemão e mãe é russa)

Apresentador: Qual a sua profissão?
Markus Stephan: Sou engenheiro florestal e agricultor.

Apresentador: Legal! Visitante da Semana do Fazendeiro aqui em Viçosa... Oh, Markus, fala pra mim, como você está vendo este projeto? Concebendo aí na sua visão, sobre o conceito desse projeto?
Markus Stephan: Bem, Semana do Fazendeiro é a 17ª que eu venho, então a cada ano que a gente volta, sempre tem novidades, e o intercâmbio entre nossos amigos. O experimento, quando olhei - porque no Rio de Janeiro também acontece um evento na Região de Rio Claro, Barra Mansa, projeto nesse teor em equivalência. Vim mais para acompanhar. Aqui, a fase inicial, achei interessante. Realmente é a saída para o problema! Tem que se pensar na sustentabilidade, no amanha. E integrar produtos, e pensar num todo - não é só o campo. Ou só a cidade... Pensar junto. Somar.

Apresentador: E você sai da Semana do Fazendeiro aqui, com essa visão de produção de águas em Minas Gerais. O que você falaria lá para a turma do Rio de Janeiro?
Markus Stephan: Como eu faço parte de 4 Comitês de Bacias Hidrográficas na Região, e vou ter que levar um relatório para eles, será sempre de boas notícias: primeiro, essa vida simples, gente simples, esse intercâmbio que a gente cresce - não é só o aspecto técnico, mas também: gente! E o modelo - falamos de estresse hídrico, mudanças climáticas, está na hora de começar a fazer alguma coisa em prol do bem. E essas atividades simples - coisas que a gente "a olho" vê como sendo tão simples. E aí, o exemplo que deram hoje para os campos - penso que a ação é essa: multiplicar.


Termina a gravação de TV. Os participantes voltam a se reunir.


RW: Então, engenheiro Markus, estendendo aí a sua entrevista, gostaria também de fazer algumas perguntas ao senhor.
Markus Stephan: (ele sorri um sorriso franco, e como bom carioca brinca) Que "senhor"? Nós somos do mesmo século!
(ambos acham graça e o momento é de descontração mesmo)

RW: É isso... É "você". Markus, como foi que gerou esse ideal na sua vida, em torno da "Consciência da Natureza"?
Markus Stephan: Aí é um "mal de família" - (volta a brincar com as ideias e prossegue mais sério. Respira fundo e a memória lhe traz a força de suas origens, prosseguindo) - porque o bisavô, o tataravô, o pai, todos eram florestais, e eu era o único que pensava que eu não seria... Aí ocorreu um fato marcante, eu quebrei a perna. E me caiu em mãos um folheto sobre Engenharia Florestal. Eu me formei antes em Biologia, Administração de Empresas, e por último Engenharia Florestal. Assim, na realidade tinha sim, um elo familiar, e por livros, e a cultura, não é? É uma família de judeus - você falou comigo hoje ali, no trajeto, sobre religião, então vou lhe revelar este detalhe. E não é o "primar pela ética" - você ainda "vive a ética"! Assim, na verdade, já havia, eu que ainda não tinha percebido - já havia uma identificação. É sempre no sentido de "cuidar" daquele pedaço de terra que você está vivendo - não no aspecto só "dinheiro", e sim, de realização.

RW: É interessante de ver que a família molda certas características de seus descendentes...
Markus Stephan: Sim! 

RW: Mas isso, na sua opinião, é genético, ou o amor da família que gera isso, ou ambas as coisas?
Markus Stephan: Ambos! Eu, infelizmente, perdi minha mãe muito cedo. Eu sou uma das poucas pessoas esquisitas que preferia "não ser adotado"! E depois eu tive tantos amigos adotados... Tanta gente! E descobri isso aí. Tem a genética e tem a convivência. E você ganha o respeito. Então, estou te conhecendo hoje, e a gente pode se tornar grandes amigos!

RW: Claro!
Markus Stephan: E irmãos!

RW: Com certeza!
Markus Stephan: Então, é convivência, tá? E aí aquele que prima é - respeito! Porque o que eu não quero para mim, eu não quero para o próximo! Então eu sou muito feliz, pelos amigos que eu tenho nesse país imenso, e eu escolhi ficar aqui! Exatamente porque eu tive o direito da escolha. Eu vi o que era errado. Eu soube discernir o que é certo e o que é errado. Felizmente eu tive bons mentores, que me orientaram esse caminho melhor! Mais sinuoso, mas um caminho melhor!

RW: Você esteve em lar judaico?
Markus Stephan: Estive em lar judaico e em lar cristão...

RW: E como é que você interpreta o relacionamento de "judaísmo" com "Cristo"?
Markus Stephan: Vai entrar no tema "religião"? Isso para mim é complicado! Mas vamos lá... Bem, o meu filho hoje tem 13 anos, e eu deixei que ele escolhesse.

RW: Certo.
Markus Stephan: Então o Yuri, por exemplo, é um caso assim em que eu, a "mãe", é assim.. "Ele escolhe"! E ele desde os 4 anos, ele queria, queria - então ele fez a maioridade, então teve direito de escolha. A convivência? Eu convivo, eu frequento a Federação Israelita, faço parte dos Conselhos... E um deles é o de Diversidade Racial, e o outro é o de Direitos Humanos. Então eu reúno com todos?

RW: Certo...
Markus Stephan: De Macumbeiros, aos Cristãos, Comunidades Indígenas, Quilombolas, e me sinto bem! Porque... sou muito respeitado! Convivo praticamente com todos, eles me respeitam muito.

RW: Nós conhecemos o Rabino Sobel.
Markus Stephan: É? Eu conheço, e hoje eu conheço - assim, comunidades eu transito bem, mas me dou muito bem com Sérgio Margulhes, area de Botafogo, e também com Nilton Blond, que é quem fez o BarMitsvah do meu filho. E foi afinidade dele, também! Impressionante! Porque ele leu um trechinho que eu escrevi, e de repente, ele falou mais da minha família do que eu imaginava - foi o que também me surpreendeu!

RW: Estranho é que meu pai quando era criança, no tempo da guerra, a multidão estava apedrejando os alemães que moravam no Rio Grande do Sul - e disseram "Aqui na casa dos Wolff, não! Os Wolff são boa gente". E desviaram dali para outro local. O vovô sempre dizia que os judeus eram amigos.
Markus Stephan: Sim! É o comportamento, não é?

RW: Então há o judaísmo?
Markus Stephan: Sim. Eu diria assim - eu fiz a escolha. Não me arrependo de nada... Dessa questão de sofrer, sofrer preconceitos, e mesmo de sofrer outras situações ou agressões. Para mim sempre teve o ponto da convivência. Vou falar do limite, não é?

RW: Sim.
Markus Stephan: Eu tive bons mentores. Fiquei nessa terra sozinho, sem parentes.

RW: Um desafio muito grande.
Markus Stephan: Muito grande - mas eu escolhi exatamente pela liberdade, tá? De poder conviver com todos. Gente que vem de outras regiões diferentes. E que aqui vieram para sobreviver.

RW: Mas formar família, mesmo que adotiva, é uma opção de vida?
Markus Stephan: Do que eu vivo hoje, do que eu faço hoje dentro da área de direitos humanos - porque eu trabalho com agricultura orgânica, familiar, então eu pego gente que dizia que não tinha tempo - e nos últimos 13 anos descobriram que tem tempo "pra caramba". Para mim doía muito chegar em Paty do Alferes - RJ - e encontrar pessoas analfabetas. Hoje elas estão alfabetizadas, os filhos bem encaminhados. Então é tempo que "se inventa". Mas eu preciso de apoio. Eu trabalho muito com pessoas que são adventistas. Mas por questões de alimentação deles - eles que me escolheram. Eles não trabalham sábado. Eu às vezes tenho um sábado no mês que eu trabalho exatamente porque faço trabalho para instituições. Então, claro, meu rabino sabe. Uma das reuniões da FRERJ é no sábado! Mas com eles e não tenho atrito! Mas me respeitam muito.

RW: É verdade que há um grupo de judeus que acreditam em Cristo?
Markus Stephan: Não. Tem uma turma nova que acredita Cristo novo, judeus para Cristo. Mas não são judeus. Isto já teve várias reuniões com a FRERJ e realmente comprovado, não são judeus. A questão religiosa, infelizmente para algumas pessoas ela está como um marketing, um negócio. O mundo tem todo tipo de gente. Conheço sim, quem é ortodoxo, ou não-ortodoxo, os humanistas, gosto muito. Já estive em Israel.

RW: Eu sou muito humanista por Natureza.
Markus Stephan: Gosto do Nilton Gomes. Li muitas coisas que ele já escreveu. Fui muito grato.

RW: Gomes é de origem judaica, também?
Markus Stephan: Sim. Meu filho escolheu - e me sinto muito realizado mesmo pela escolha do meu filho. Fala hebraico fluente, canta.

RW: Esses elos raciais e religiosos tiveram algo que influiu na sua realização profissional.
Markus Stephan: Primeiro, eu fui para o campo. Área Engenharia Florestal, administração rural, convivi com todo mundo. Por exemplo, tenho mão de obra de Santa Catarina, Bahia, São Paulo - e de outros estados distantes - Paraíba... Era difícil entre eles a questão da alimentação, hábitos. Depois disso - eu sempre um pouco distante da família. Essa convivência me ajudou na tolerância em aprender a respeitar o próximo. Quando me aposentei, resolvi fazer o meu projeto de vida - agricultura orgânica. Hoje temos associação, desde 1991, chama-se Acampar. Sou fundador da ABIOS - RJ. Essas coisas todas se integrando e somando, ok?

RW: A Equipe Wolff agradece sua entrevista.


Sim! Eu entendo - os laços afetivos criam interdependência e é tão bom isso! Reflito enquanto eles se afastam. Terminou a entrevista com um Shalon e um abraço amigo. Mais tarde encontramos por acaso na saída do restaurante. Ele está acompanhado da esposa e com expressão amorosa e ao mesmo tempo do tipo lucidez chocante, ele apresenta a esposa assim: "É ela que manda em mim!"

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