Desembargador Nagib Slaib Filho em entrevista exclusiva à Equipe Wolff - parte 2
Estimular as pessoas a viver a vida com intensidade!
RW: Dr. Nagib, para concluir então a nossa entrevista eu gostaria que o
senhor nos pudesse fazer a gentileza de discorrer, assim, uma forte história de
cunho emocional. No qual houve um empenho muito grande para que viesse um
acerto jurídico. Em que as pessoas arrazoaram... E viram a razão da pessoa que
buscava. No sentido humanístico de esforço, de resultado, que tenha sido
marcante em sua vida.
Desembargador
Slaib: Bom, eu tenho 43
anos de vivência. Quando eu era policial aqui na Rua São João, onde é hoje o
supermercado Guanabara. Tinha um posto policial mais para cá. Eu fui oficial de
justiça, onde hoje está o Guanabara, na Vara de Menores. E em São Gonçalo, que
é a minha terra dileta, sou "Cidadão" de lá.
RW: Cidadão Honorário?
Desembargador Nagib: É, ajudei a fazer a Lei Orgânica do Município. Eu e
o professor Gonzalo, aqui, não é? (Eu gosto muito de São Gonçalo!) E o me
chocava muito de ver isso naquela época... (e continua chocando ainda!) São
situações que a lei estava prevendo, mas que não tinha nada a ver com a
realidade. E hoje contando isso para meus alunos, eu desconfio até que eles
acham um "dinossauro caquético"! Dinossauro pela idade, e caquético...
Quando a gente era da polícia, a moça (de 14 a 18 anos) era desvirginada, a mãe
chegava à delegacia, dizia que "a menina perdeu a honra"! Ai eu
mandava fazer o exame no Instituto Médico Legal, afirmava que ela não era mais
virgem. Eu mandava chamar o rapaz e dizia – “Olha, a Dona Fulana está acusando
que você teve relações com a moça de 14 a 18 anos”. Ele: “Eu não fui o primeiro”.
Aí eu... ("ridículo!") Ai eu dizia – “Está bem! Então você prova que
você não foi o primeiro. Prova na justiça.” (Como é que ele ia provar que ele
não era o primeiro?) Aí eu abria um inquérito contra ele - e a lei falava (como
até hoje fala) que estaria extinta a punibilidade, se ele casasse com a moça. E
ele? Casava com a moça. E parava o problema! A outra coisa absurda - e eu
estava contando isso para o colega juiz de São Gonçalo: "Ação de
investigação de paternidade". Não existia um exame que pudesse afirmar que
era o pai. Não existia o exame de DNA que hoje existe. Aí como é que se fazia a
ação? Como eu resolvia a ação? Não tinha fotografia, não tinha carta. Essas
coisas num caso desses "lamentavelmente" não têm, não é? Aí eu resolveria
esse tipo de ação pelo “rigoroso critério de então, de observar pelo método cara-crachá!”.
Olha pra um, olha para o outro. (Pronto, agora já deu vontade de sorrir outra
vez) Ele assim - "É, ou não é?"
Na dúvida “É parecido”. "Julgo Procedente". Na dúvida, “não é
parecido” - “Julgo Improcedente”. Era assim! Aí veio uma pessoa (que graças a
Deus, alma caridosa!) e inventou o exame de DNA! (Não dá certeza, mas dá só
99,9% de certeza!) Aliás, nem julgo mais isso! O próprio Tribunal já manda
fazer o exame e aí esfregam a resposta na cara do cidadão - e não tem briga!
Está entendendo? É isso o que eu queria dizer! É sobre a contradição das leis.
Uma coisa é a lei feita pelos homens - e outra coisa é a lei das normas de
conduta da própria sociedade! Quando eu era polícia, quando eu era juiz
criminal em São Gonçalo, em Santa Cruz, quando eu era promotor - eu fui todas
essas coisas! Quando eu era promotor de justiça, eu via - todos ainda lembram
disso - havia uma contravenção chamada de vadiagem! Mas a polícia chegava e
podia prender - qualquer um!
RW: Só de estar na praça pública, se estivesse sem documentos, poderia
ser preso!
Desembargador
Slaib: Isso! Não prendia
o de boa aparência. Prendia era o negro - bem, nesse tempo eu era de delegacia
de polícia. Eu já tinha o documento em mimeógrafo a álcool, o auto de prisão em
flagrante. Um dos meus colegas de delegacia aqui - chamado José Clementino dos
Santos - mais conhecido por... Jamelão! O Jamelão da Mangueira. Aquele Marechal
Francisco Torres, aquele Marechal que foi Governador do Estado, nomeou ele
"investigador" (para dar um emprego a ele!) - assim ele era meu coleguinha
de delegacia. Eu chamava "Jamelão, traz o preso!" Aí vinha o Jamelão
que já era nervoso - e não tinha algemas. Porque algemas, só era para os presos
importantes, da Política, do Dops... Agora, presos comuns, amarrava-se numa
corda. Num caso que eu vi em Cantagalo, foi amarrado com cipó mesmo - não tinha
corda... Assim é que eu dizia para o Jamelão "traz o preso!". Eu
preenchia o espaço em branco do formulário em mimeógrafo. Se o juiz, ou
promotor, era do tipo bonzinho - nesse caso o cara só ficava preso... 2 meses,
1 mês e meio! Eu era bonzinho. O sujeito só ficava preso 1 mês! Se era mais
ruinzinho - o sujeito ficava preso 4 meses - e eu nunca vi alguém ser condenado
por isto! E isso ficou até 1983, quando o Coronel Jorge da Silva (e que sua
Equipe poderia entrevistar!), ele era da PM, ele e o Coronel Carlos Magno Cerqueira
- ambos negros - eram assessores do Leonel Brizola... Leonel Brizola era um
grande engenheiro - só que engenharia não tinha nada a ver. Aí os dois Coronéis
falaram para o Brizola “Governador, esse negócio de 'vadiagem' é só pra prender
preto, pobre e prostituta”.
RW: Os 3 Ps.
Desembargador
Slaib: É. Aí o Brizola
quis saber – “Ué? Mas porque prende?” E o Brizola (entre dentes o Desembargador
comenta em off) que não entendia nada de Direito. Aí deu a ordem: "Para de
prender!" A polícia do Rio parou de prender. O grande Governador de São
Paulo - André Franco Monteiro - Professor de Direito, democrata cristão, soube
disso e então disse: "Brizola tem razão". E proibiu a Polícia de
fazer isso. E o grande Governador das Minas Gerais, o Doutor Governador
Tancredo de Almeida Neves, que foi promotor de justiça - também disse -
"Aqui não se prende mais ninguém (por vadiagem)" E ainda está escrito
na lei de contravenções penais.
MW: Ainda está escrito isso?
Desembargador
Slaib: Até semana
passada, da última vez que eu li a lei... Então é essa a grande questão que
está acontecendo... Não adianta o Rei, o Presidente, Parlamento, bolar uma lei,
escrever com letras de ouro, como a Constituição, se aquilo não está na
consciência da sociedade. E o nosso papel não é "esfregar a lei na cara do
povo". O nosso papel é "esclarecer"! Esse negócio de
"violência doméstica" - está escrito na Constituição.
RW: Dr. Nagib, que mensagem de vida o sr. passa aos nossos leitores?
Desembargador
Slaib: A palavrinha
japonesa que você me citou hoje: sorte é esforço. Nunca desista! Faça a sua
parte. Deus ajuda a todos! Agora você também tem que se ajudar, não é mesmo?
RW: Parabéns! Agradecemos a sua entrevista. Só uma perguntinha - O sr. é
coautor de livros com o Dr. Capanema?
Desembargador
Slaib: Nós somos rivais.
Ele escreve na mesma área que eu. Mas eu adoro ele! Somos amigos!
(A seguir ele revela):
Desembargador
Slaib: Gosto do nº 3.
Nasci em 3 de abril. Tirei 3º lugar no concurso de juiz. O 1º lugar foi o
ministro Fux. Tirei 3º no Vestibular.
RW: Aqui um presente para o sr. ler e apreciar um texto de minha mãe,
escritora Ana Maria Wolff. Creio em Mim Porque Creio em Deus.
Desembargador
Slaib: Já entrevistou a Prof.ª
Marlene? Ela vai adorar este papo! Olha vou falar "mal" da Prof.ª
Marlene. Prof.ª Marlene não é fácil - está certo? Eu indico para ser
entrevistada. O Liceu Nilo Peçanha foi fazer obras - e aí? Onde é que vai ter
as aulas? Onde vai ter aulas? O que a Prof.ª Marlene fez? Foi lá e ofereceu as
nossas instalações para os alunos do Liceu! Era um sobe e desce de alunos pelas
escadas. Deixou aqui todo mundo quase doido com as agitações deles! 1º e 2º
grau é do Estado - aquilo foi confusão!
A outra da Prof.ª Marlene! É Jornada Mundial da Juventude? Onde é que
vamos instalar os jovens? Aqui na Universo, é claro!
RW: Dr. Nagib talvez penso que é arrogância da minha parte - mas eu
telefonei uma vez para a Universidade Salgado de Oliveira e falei para a
pessoa: porque vocês não trocam o nome para: Universo. A ligação que fiz no
início no núcleo de atendimento ao Vestibular. Não era esse o nome. E conto
isso não por arrogância de minha parte. É fato verídico.
Desembargador
Slaib: É, hoje a
Universo é muito grande!
RW: Dr. Nagib ficamos muito honrados com a sua atenção. A Equipe Wolff
mais uma vez agradece a sua entrevista e as suas referências.
Desembargador
Slaib: Eu que agradeço!
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