Danilo Gandin em entrevista exclusiva ao jornalista Reinaldo Wolff

Danilo Gandin Professor e Mestre pela UFRS, escritor especialista em Gestão Democrática.

O conceito de administrar, como "construir" um jardim: com alegria!


RW: Professor, é uma honra estar na presença do senhor. Eu gostaria de saber que mensagem o senhor passa da sua palestra - o principal tema que o senhor está desenvolvendo? O que o senhor gostaria de passar aos leitores da Equipe Wolff?
Eu falei - aqui hoje, só com os gestores. Evidentemente a preocupação da Escola não é só a Gestão, é toda a própria construção do cidadão, a construção da sociedade. Eu falei, basicamente, da diferença que há entre a administração e a necessidade que há de um plano da gestão. E por outro lado, a necessidade que há de um plano político-pedagógico! Esse plano político-pedagógico, embora deva ser construído por todo o povo, ele precisa ter a coordenação do pessoal administrativo, porque se não houver essa coordenação, esse plano nunca sai! Ele fica só em planos administrativos, gastando sem saber bem porque se está gastando e assim vai se perder... Então trabalhei para eles mostrando que o gestor se preocupa prioritariamente com as atividades-meio, mas tem que cuidar para que haja as atividades-fim, que é onde vale a pena gastar o dinheiro, vale a pena gastar a energia, porque é onde funciona. Porque senão aquele aluno não muda na sala de aula - se aquele plano não faz - e aquilo que o aluno consegue não muda na sala de aula, o trabalho do administrador não serve para muita coisa!

RW: Agora, é importante sempre ter uma mensagem de vida... Que mensagem o senhor passa?
É interessante que... Eu comecei citando Rubens Alves, para fazer uma homenagem - e mostrar, um pouco, de como a administração é sempre "seca"! Os números de administração são muito pragmáticos e levam o administrador a assumir uma posição olímpica, longe da alegria da vida... Então, eu insisti muito nisso - que a institucionalização é necessária, mas se a instituição for tanta... que perde a "vida", não adianta nada essa instituição! Então pedi muito a eles que prestassem atenção a isto. Que sejam gestores que buscam trazer "a vida" para a escola! A "alegria", para a escola! A "paixão" para a escola! A "espiritualidade", para a escola, também! E que - não necessariamente no sentido religioso, mas no sentido de o ser humano não tiver uma espiritualidade. Isto é, uma relação harmoniosa com o outro ser, ele não se desenvolve suficientemente. Essa foi a minha "mensagem", digamos assim, mas de valor - que eu trabalhei com eles. Porque ali meu trabalho era bastante técnico, mas nunca deixar o aspecto "vida". Então eu usei o Rubens Alves - que diz que "Você tem que construir um jardim. O jardim tem que estar na sua mente, para que depois você o transfira para a realidade". Ele disse "jardim", que significa organizar muito bem, mas manter a alegria do jardim, não é? É manter a vida do jardim, isso que o administrador tem que fazer!

RW: Para isto é necessário amor, não é mesmo?
Certo! Não há nada que se possa fazer se não tiver a chama do amor, no sentido de que, você tem que fazer para alguém alguma coisa, para algum proveito. Esse "fazer algum proveito" envolve necessariamente o amor a todas as criaturas!

RW: O senhor já observou como as pessoas adultas têm mais dificuldade de falar essa palavra tão simples que Jesus nos ensinou no sentido de "amor", de querer bem seu semelhante. Enquanto algumas pessoas, na realidade, têm uma certa timidez. Porque têm receio do que o outro possa pensar ao lhe falar num tema tão simples e tão bonito!
E foi por isso - nós tivemos uma diretora chamada Lívia - diretora de uma escola de Itaboraí, que cantou uma música religiosa, mas muito bonita! Cantou simples e tão bonito. Sem a pieguice que às vezes se atribui à religião. Mas uma canção mostrava, exatamente, que a esperança, se ela se fundar na solidez do Evangelho, ela perdura. E a canção dizia que até milagres acontecem! Ao passo que se a pessoa confiar apenas nas coisas humanas, de repente a sua esperança morre junto. Foi muito bonita essa canção, calhou bem com o que nós conversamos... Sobre a vida. Sobre a necessidade de trazer para a escola, não uma coisa seca, esse conteúdo que é muito formal... Mas trazer toda a questão das habilidades, dos valores de uma hierarquia na escola.

RW: O sentido humanístico...
É isso! O sentido humanístico da escola... E do desenvolvimento das habilidades e do conhecimento.

RW: Mas para isto é necessário a pessoa estar afinada com sua naturalidade, sua espontaneidade, no sentido de sua vocação! O seu talento natural!
Acho que a vocação que um educador, de um modo geral os pais - a grande vocação é de ser gente! Claro que a pessoa assume diversas maneiras de vivenciar e de se tornar cada vez mais "pessoa humana". E isso é uma vocação! No sentido de que nós somos chamados, desde crianças a nos aperfeiçoar, a nos integrarmos de uma maneira mais completa em nós mesmos.


RW: Eu usei um neologismo, mas o senhor compreendeu o que eu quis dizer?

Sim, sim!

RW: Professor, só uma coisa a mais - o senhor é de ascendência italiana?
Completamente, de pai e de mãe!

RW: Está explicado!
(ele sorri)

RW: O italiano é emotivo por natureza!
(e agora ele ri francamente)

RW: Os italianos, junto com os alemães, justamente lá no Rio Grande do Sul - na cidade de Dona Francisca - deram o sentido de honraria aos italianos que iniciaram o Rio Grande do Sul e levantaram esse país com o progresso. Os italianos têm que passar essa mensagem de vida.
Se não fica muito pragmática!

RW: Foi um prazer conversar com o senhor. A Equipe Wolff agradece a sua entrevista.

Igualmente. Tchau!


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