Entrevista de Sylvio Incutto Filho ao jornalista Reinaldo Wolff - parte 2

Coragem, Persistência e Sabedoria para agir


E então ele continua nos relatando:
Aqui em Rio Bonito nos alojamos e... me “jogaram” numa oficina. Eu aprendi a profissão de mecânica “pesada”!
RW: Certo.
Ele: Este foi o começo da história... Depois de estar trabalhando na mecânica pesada, e que aprendi também com inúmeros cursos, e até pelo SENAI, também. A partir daí eu resolvi crescer mais um pouco, fui para outra empresa (Incomatol) desenvolvi meus conhecimentos, na verdade “disparei”, vamos dizer assim...
RW: Como é que chama a empresa?
Ele: Incomatol, Industria de Máquinas e Motores. Depois que me tornei especialista, pedi que aumentassem o meu salário. Não quiseram aumentar, assim eu resolvi partir para um negócio por conta própria. Só que... não achei apoio! Voltei a trabalhar como empregado – dentro de uma cerâmica! Moldando cerâmica e depois disso ... ih! Muitas coisas mais! Trabalhei muito com material de construção, até que... meu pai precisou da minha ajuda! E eu fui para Nilópolis. Lá ele deu a idéia de voltar a fazer o que ele fazia quando era jovem: tamancos de madeira! Foi ele que construiu o tamanco para Carmem Miranda!
MW: Mas que coisa!
Ele: Sim, ele que fazia os tamancos da Carmem Miranda! E aí nessa segunda vez – aí todo mundo “riu da cara dele”. Foi aí que com minha astúcia fui modernizando, encontrei o produto certo. Aquilo caiu no gosto do público, disparou a vender! Até não ter mais onde fazer mais!
Compramos então – guardamos um “dinheirinho” – compramos mais máquinas e montamos a fábrica de tamancos, lá em Nilópolis. Começamos a trabalhar muito mais, disparou as vendas. Revezamos os turnos, sem parar, era 24 horas, direto. Com muitos empregados trabalhando, e a fábrica direto... direto! Sem parar! Começamos a vender muito! Era muita coisa, a ponto de entregar “carro fechado” de tamancos, em São Paulo, para empresa japonesa. Aonde eles montavam os tamanquinhos e mandavam para o Japão. Esses tamanquinhos que você vê passar na televisão com aquelas luzinhas acendendo, as madeiras, fomos nós que fizemos. Eu inventei muito tipo de tamanco! Lançamentos. O negócio é inovar. O “pessoal” quer novidades. Depois de muito movimento, muitas vendas, foi que o outro irmão dele por parte de pai, começou a “sair do sério”... Não estava “cumprindo o regulamento”. E eu não aceitei não, neste mesmo mês eu pedi as contas! E vim embora para Rio Bonito, de novo e isso depois de velho. E casado! E vim para cá “com uma mão na frente e outra atrás”- como se diz. No mesmo ano eu arrumei umas máquinas e montei aqui outra fábrica. Montei uma equipe de dez funcionários. Comecei a trabalhar, trabalhar, já fazia mil pares de tamancos por dia!
RW: O senhor pensou em produzir tamancos para os holandeses?
Ele: Eu na época e. m que ainda estava trabalhando no Rio de Janeiro, eu fui a São Paulo receber da empresa japonesa, levei três dias fazendo hora e descobri uma empresa que vendia máquina de injetar plástico. Aí cheguei para meu irmão e falei para ele assim: vamos montar um negócio de tamanco de plástico injetável? Ele me chamou de maluco! A máquina não é cara a pelota de plástico não é cara – só que tinha que fazer as formas do tamanho 33 a 43, o que era caro! Mas ele me chamou de maluco! Aí – tudo bem – mas hoje você vê mais é sapato de plástico. E a madeira tem IBAMA, problema de desmatamento e tudo mais! Assim eu mandei levantar toda a situação da empresa, peguei as máquinas todinhas, vendi tudo, paguei o que tinha que pagar. E comecei do nada, de novo! Arrumei um emprego na construção – lá eu levantei aquela empresa, tudo que tinha que levantar – aí entrou uma gerência nova. Depois de quase um ano resolveram me dar umas férias ...
Na minha saída das férias, ele “botou” uma pessoa no meu lugar. E quando voltei – ele me mandou embora... aí fui para o Rio – e fiz um teste, na Standard Eletric do Brasil. Passei direto! Aí mandaram “pegar” no serviço já no outro dia. Eu falei: “Não, me dá 30 dias para começar aqui”. Eles me deram os 30 dias. Aluguei um torno de um tio meu – aquele torno estava jogado no mato! Eu concertei, e “entrei” a trabalhar, e com três meses chegou um cliente lá e disse que estavam vendendo o torno e ainda disse “ah, não vale o preço que ele está pedindo”. Mas eu falei: “Ele está vendendo como, se eu estou pagando aluguel a ele”?
Quando eu vi isso acontecendo eu fui e troquei um Corsa, um carro que eu tinha, troquei por um torno. E fui lá e devolvi o torno alugado. E ele ficou bravo! “Eu não vendi, e agora você quer devolver”? Aquela conversa fiada dele. Eu disse: “Mas o torno está aí, bonitinho, funcionando bem e tudo mais”. Entreguei o torno e comecei a trabalhar por conta própria! 
E como senti que estava sendo prejudicado nessa firma, como começou a mandar fazer serviço e não me pagava... aí fui conversar com minha mãe. Ela deixou eu montar dentro de uma “portinha” – um aposento de 4x5, lá no centro da cidade, era um “barraquinho”. Eu levei o torno para lá e as ferramentas. E sabe o que aconteceu? 
RW: Sim?
Ele: Começou a chegar serviço para mim, cada vez mais. Eu fui trabalhando, trabalhando e ficava tudo na calçada (não tinha onde ficar, era uma portinha 4x5) E foi quando comecei a juntar um dinheirinho e eu vi que saiu o loteamento, este aqui onde estamos com nossa firma hoje! Eu vim aqui, olhei tudo, senti a oportunidade e mandei reservar este lote para mim. Com este ideal na minha mente, aumentou minha coragem. O que aconteceu? Comecei rapidamente a juntar todo dinheiro necessário para adquirir o lote. E adivinhei. Logo descobri que já estavam vendendo para outro o terreno que escolhi. Não tive dúvida, cheguei na firma do loteamento e disse: “Está aqui o dinheiro à vista, desse lote”. E assim paguei o lote! É onde hoje tenho esse negócio de colocação de engate de carro. Comecei nova fase de trabalho: trabalhar, trabalhar... E fui montando o novo negócio, aos pouquinhos. No começo era só uma “portinha”. E fui crescendo, dando certo o novo empreendimento. Quando tudo ia muito bem, eu sofri aquele acidente lá em Itaipu, fiquei oito meses paralisado. Revés da sorte: parei com tudo, vendi tudo, fiquei sem forças para trabalhar. Mas para mim não significava desistir.

(Continua)

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