Entrevista de Sylvio Incutto Filho ao jornalista Reinaldo Wolff - parte 3

Em Rio Bonito, empresário nos conta sua história de vida com lances dramáticos, os altos e baixos de quem quer vencer neste Brasil de hoje.


Sylvio Incutto Filho: Aí, depois do acidente perdi as forças para o trabalho, pois as pernas não ajudavam – o que eu fiz? Eu tive a ideia "vou fazer uma carretinha! Para ir com ela fazer o serviço ‘aí fora’, nas empresas." Era para carregar minhas ferramentas. Ainda estava no término dela, um cliente chegou aqui... e comprou à vista! Quando eu descobri ele estava vendendo pastel e caldo de cana com aquela carretinha, na rua! Aí comecei a fazer outra carretinha... chegou outra pessoa, e comprou! Aí pensei comigo “Ah! Quer saber de uma coisa? É isso que tenho que fazer! Eu vou começar a fazer carretinha, em vez de trabalhar na área de “peças pesadas”.
Assim começou este atual empreendimento... e eu comecei “a trabalhar”! Comecei a trabalhar por conta própria. Dessa vez ao mesmo tempo que fui trabalhando, eu fui “modernizando”! Cada dia que passava eu ia fazendo coisas novas – mas tudo dentro das normas técnicas. Para quê? Para não sair do regulamento.
(Ao fundo o ruído persistente de ferros batendo)
RW: O que manteve seu ânimo durante esses anos todos? O que o senhor fez para manter essa coragem de agir? Porque há momentos que faz a pessoa desanimar, esmorecer, porque são momentos desafiadores, não é?
Sylvio Incutto Filho: Ah, é a fé!
RW: Isso é muito importante!
Sylvio Incutto Filho: Como diz o outro: a fé remove montanhas! Até hoje eu tenho uma fé muito poderosa. Para poder sair dessa pressão toda, deste momento que estou passando. O que eu estou passando! Só eu e Deus é que sabemos! Mas vou sair dessa crise, ainda!
RW: Com certeza.
Sylvio Incutto Filho: Só que infelizmente vou ter que lançar mão de uns bens que eu tenho, para poder consertar o outro...
RW: E como chegou ao ramo de engates de carro?

Sylvio Incutto Filho: Eu comecei a fabricar a carretinha, e para puxar a carretinha comecei a fazer o engate! Comecei a fazer um, fazer dois – e eu “entrava embaixo” do carro! Deitado no chão! Depois eu comecei a ideia de abrir uns buracos no lugar que tenho aqui hoje e comecei a trabalhar colocando engates, um atrás do outro, pelo dia todo! Então a primeira carretinha, que foi a ideia de eu ir buscar o serviço levando as ferramentas acabou se tornando o próprio negócio. Depois que eu percebi que “a coisa engrenou”, (o negócio deu certo) eu pensei, agora nem adianta ir atrás de outra coisa! Já achei o que produzir! Não precisa ir buscar o serviço! Vou passar a só fabricar carretinha, já está muito bom de vender! E assim fui fazendo e vendendo, e os engates cada vez mais procurados pelos clientes. E eu aprimorando os modelos de engates. Olhando as partes mais firmes (porque eu fiz cursos, conheço a resistência  dos materiais) Então eu sei aonde é que pode prender, reforços do engate no veículo, e eu sei aonde não pode. O tipo certo de material que tem que ser usado... isso tudo é muito importante para quem conhece! Mas “aí fora” o que mais tem é coisa mal feita. Por exemplo aquele engate que o senhor trouxe, aquela peça não tem resistência para puxar uma carreta pesada! Porque é mal confeccionado! É porque aquele é feito na prancheta. O cara não vai lá acompanhar a confecção do material.
E o trabalho de instalar naquele carro. Faz o plano da peça na prancheta, prepara e vende! E o resto (colocar adequadamente fixo no carro), “fica por isso mesmo”! Então é essa a coisa que acontece: esse engate de nossa fabricação é “bem falada no mercado”, é “propaganda de um para outro, bem comunicado”. E a carreta também, tem bom conceito na praça. Só que a carreta... está havendo agora, alta demanda. E com isso muita gente, que trabalhou aqui, de alguma forma, levaram meus projetos e começaram a produzir também. Conseguiram com políticos, meios de se instalar, e não sei como há pequenos fundos de quintal também produzindo – com qual qualidade, isso não sabemos... tudo para vender mais barato, aqui ao meu redor! Atrapalha um pouco a venda das minhas carretas. (Entre alta qualidade e a outra de preço baixo!) O que eu sei com certeza é que eles não têm a competência que temos aqui para pôr um engate de alta segurança! Essa competência vem de mim! (Não é qualquer um que aprende e faz – ah, isso não!) Tem que ser a vocação da pessoa!
RW: É o talento de cada um!


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