Ciúmes no relacionamento
Conversa de Mãe
Nossa “Conversa de Mãe” hoje tem como assunto este sentimento insidioso e inesperado que é o ciúme. Porque a gente de repente sente-se tomado desta onda de calor que percorre nosso ser, enche nossos olhos de angústia e desce sobre a nossa face uma palidez fria? É aquela sensação de frustração - nossa avaliação sobre nós é tão desmerecedora - e surge alguém, qualquer alguém, com o estranho poder de captar a atenção de quem amamos. Então se temos algum direito sobre a pessoa que amamos, ficamos furiosos, como tomados por maus fluidos - e se pudéssemos, usaríamos força - ou qualquer coisa assim que tirasse de nós essa dor insuportável, essa raiva explosiva, essa angústia indefinida. Em nome do amor, violamos quem nos ama, porque nos sentimos violados na nossa confiança. Exigimos o que calculamos que já perdemos. E porque alguém deixa de nos amar de repente? Porque este alguém a quem nos dedicamos subitamente se atrai por outra pessoa? Sexo - e seu apelo inadiável, ou que despertar estranho é esse do ser amado por outro, e que nos torna tão cheios de força furiosa e tão fracos e insípidos por nossa significação? A gente pensa que alguém mais privilegiado, mais moço, mais fogoso, ou mais culto ou mais bonito que nos levou de nós a afeição do ser que tanto queríamos - de uma forma fugidia ou definitiva. Então nossa rebeldia motivada pelo medo deixa um sabor de coisa azeda, machucando a convivência, tornando tudo triste e sem estímulo para a gente continuar vivendo. Existem verdadeiros dramas por causa deste sentimento mal compreendido.
E quando este ciúme é infundado?
Quão miserável se sentem ambas as pessoas que se amam? E porque tudo isto? Porque no fundo de nós mesmos, sabemos que já falhamos há muito tempo.
Então, a
mulher que se queixa “A outra roubou o meu marido”, está redondamente enganada.
Há muito tempo ela já o perdeu! Você acha que alguém pode amar verdadeiramente
duas pessoas ao mesmo tempo?
Também o
inverso é verdadeiro. É até engraçado a maneira pela qual os homens reagem a
uma possível infidelidade de sua companheira. Sentem-se ultrajados. Eu estava
no Rio Grande do Sul quando Jango Goulart deu na esposa. Que teve que fazer plástica
no rosto para se recuperar. No entanto, todos sabiam da vida amorosa irregular
que ele levava.
Ciúme, gente, é insegurança.
Então antes de partirmos para explosões de culpa, vamos
nos recondicionar. Vamos nos tornar mais fascinantes fisicamente e
espiritualmente, para termos motivos de agradar. E se de nada adiantar - é
porque já perdemos. Como diz o ditado, “Que adianta chorar sobre o leite
derramado”.
Muita gente
pensa que onde há amor, há ciúme. Esta é uma opinião que merece atenção. Você
também pensa assim? Bem, eu acredito que dado ao fato que a gente nunca se
sente definitivamente sedutor - que sempre poderá haver alguém mais atraente do
que nós - então aí se instalará o ciúme. Também o comportamento da pessoa que
amamos, influi muito. Existem as pessoas que tomam o amor de uma forma ligeira,
sem muito envolvimento. Muitos homens acham que podem amar uma mulher, e porque
homem é homem, tem o direito de se dividir em fugas estratégicas. Mas o seu
amor é só aquele. Não acredito nisso - quem age assim já não ama mais. Quer
apenas conservar aquela mulher como medida de segurança - uma forma confortável
de sempre se saber amado. Cabe à mulher, aceitar ou não tal situação. Mas não
se iluda - neste caso, quem ama é só ela. E ela viverá de ciúme em ciúme.
Há o caso
dos homens que acham que fazem isso porque as mulheres o trocaram pelos filhos.
Também não acho que é assim, pois foi ele que a decepcionou. E portanto, haverá
amor que ainda una este casal? O ciúme nestes casos será uma constante. Sei que
uma boa medida de paz e amor é um dar ao outro a certeza de seu sentimento. E o
encanto de suas personalidades. Uma convivência harmoniosa será o resultado
para uma vida feliz. // Ana Maria Wolff em Programa Rádio Cipó - Nova Friburgo
- 20/09/75
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