Entrevista da professora Mariluce Coelho parte 2

RW: Inclusive no próprio Descobrimento do Brasil, estamos notando que a senhora é descendente de índio e também de Cabral. Eu falei anteriormente que é provável que a senhora seja descendente de Cabral. Foi mostrado na TV, no Fantástico, que a família Coelho descende de Cabral. Então vejo que como índio de origem – que a senhora é – é fantástico esse amor à natureza, já deve estar no seu próprio DNA... Não é verdade?
Mariluce: Ah! - ela sorri, misteriosa, mas diz – com certeza! Eu até me entristeço daquelas pessoas que não fazem essa observação diária da natureza. Observar o céu estrelado... Não observa a beleza do dia. Hoje quando eu estava vindo para cá o tempo estava nublado, dava para ver o formato do sol... E até mesmo, me refiro à respeitar a natureza. Essa é a nossa casa! Se a gente não respeitar onde a gente mora, “a Terra”, aí vai ser difícil.
RW: É necessário compreender ao próximo, as suas diferenças, não como “um mais” e “outro menos”, mas sim como “raça humana”! Conforme Einstein falou . Perguntaram a ele que raça ele tinha? Poderia ter dito judeu, com nacionalidade alemã, porém ele falou: “Raça humana”! – penso que não tem melhor resposta do que essa!
Mariluce: Com certeza! Isso que nós falamos: a questão do respeito, compreender! Entender que nada é perfeito, mas que pode ser melhorado, já é um princípio muito bom.
RW: A senhora é neta de índios?
Mariluce: A avó da minha avó.
RW: Sua tataravó... Veja o que eu digo: como é forte o DNA! Soube há algum que os americanos estiveram colhendo o DNA dos índios da Amazônia para fazer estudos sobre genoma humano. Porque foi considerado um dos mais puros do mundo! Não houve mudança genética, permanece inalterado, durante milênios. Isto para estudo genético, é algo fantástico!
Mariluce: Ah, com toda certeza!
RW: Em termos de genética – pergunto: Como tem sido o estudo do “desenvolvimento genético dos animais”?
Mariluce: A gente percebe que isso não é tratado muito na Faculdade: A questão da ética. Às vezes a gente percebe que algumas pesquisas faltam muito à ética. Eles fazem as pesquisas e não respeitam muito os animais! Então isso me entristece! Há muitos avanços, mas se houvesse mais ética nesse estudo, poderíamos estar num patamar melhor de entendimento!
RW: E como está o estudo da ecologia – junto com os estudos que a senhora desenvolve?
Mariluce: A ecologia? Bom, os animais estão inseridos nesse ecossistema – então se não compreender, através de nossa biologia tudo é uma cadeia, interligada, vai avançar pouco, e avançar sem sustentabilidade. Sem deixar nada para os descendentes! Tem que entender a interação meio ambiente e animal – é muito importante!
RW: “Quando fere a um fere a todos”!
Mariluce: Exatamente! De repente, não na mesma proporção, nem ao mesmo tempo – mas em algum momento vai acontecer esse desequilíbrio...
RW: Interessante observar, como as pessoas da zona rural precisam destes novos conceitos (e já são conceitos tão antigos), mas para eles são novos. Isso será muito bom, haver maior difusão desses conceitos e desses conhecimentos. De que forma, pensa que possa ser feita essa difusão maior, do conhecimento?
Mariluce: Acredito que essas novas graduações, e novas tecnologias, da forma que olha as questões – e quando passa essa tecnologia com ética e com respeito à natureza, aí é que se consegue avançar, evoluir. O que acontece é que essas tecnologias chegam sem muitas explicações – e a pessoa aceita. Daqui a pouco vai ter um resíduo, um acúmulo de coisas, que não vai ter como “reaver”. Todo estudo tem que existir no respeito, ética. Sempre prezar pelo bem.
RW: Professora, agora nos conte um pouco de sua infância, como é que chegou a ter esse prazer de estudar, essa alegria pela pesquisa em Zootecnia?
Mariluce: Quando eu era muito pequena, onde eu morava tinha um curral próximo, era impressionante, como eu gostava de ir ver! O senhor que tinha aqueles bois, deixava os animais todos soltos, não tinha técnica – e aí o boi, que eu tinha afeição, tinha um “cheiro doce”. Quando a boiada passava para cá, ou passava para lá, eu ficava sentada ali, meu pai fez um banquinho para mim e eu ficava sentada ali, para sentir o “cheiro” da boiada passando para lá, e para cá.
A minha avó, também tinha uma constante lida com a terra, o sonho dela era que eu me tornasse um dia, engenheira agrônoma! Ela gostava muito de plantar e diziam para ela: Ah! A senhora tem uma mão excelente para plantar!”. É o que a gente chama de “mão boa para plantar!” Ela sempre teve essa conexão “de lidar com a terra” e isso tudo esteve muito presente em minha vida, porque eu sempre frequentava a casa dela!
RW: Então é o amor da avó que teve essa influência em sua formação!
Mariluce: Com certeza, e ela era um amor de pessoa...
RW: Ainda sente esse mesmo amor do início, esse mesmo amor à profissão?
Mariluce: Sim, mas de uma forma bem mais amadurecida, não tão inocente – a ponto de “tudo é possível!” ou “o amor salva todos!”. Agora é um amor de modo mais maduro, de entender. É um amor mais amadurecido.
RW: Acredita como eu, que o Planeta Terra, a situação como está “caminha a passos largos” a se tornar como o Planeta Marte?
Mariluce: Bem... Não estou muito inteirada de como que é Marte, hoje...
RW: Marte é considerado um imenso de um deserto! Eles acreditam que a vermelhidão do Planeta se deve à presença de “ferro”.
Na minha opinião pessoal, não acredito que seja presença de “ferro” a causa, mas sim, devastação que fizeram – alguém fez – tendo vivido lá e transformaram tudo em um deserto. Penso em termos de que: é muito “egoísmo” acreditar que só a Terra, entre bilhões de Planetas que existem – com probabilidades de vida em todo o Universo, não é mesmo? E que vão encontrar a Terra como o único Planeta habitado – é uma proporção muito pequena, concorda?


Continua...

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