Israel Ornelas Dias

Gerente do Banco do Brasil em entrevista exclusiva ao jornalista Reinaldo Wolff



Reinaldo Wolff: É uma alegria estarmos na presença de Israel Ornelas Dias, gerente do Banco do Brasil - e conversarmos a respeito de sua carreira, seus objetivos, e o que planeja em termos de futuro. Israel, como veio oportunizar a sua vida e optar pelo Banco do Brasil?
Israel Dias: Eu fiz um concurso público para o Banco - a princípio tinha um objetivo mesmo de ascensão profissional, financeira, de ajuda à família. Mas aprendi a gostar do meu trabalho. Gosto de ajudar as pessoas, de usar o sistema financeiro a favor do cliente e... é isso! Penso que dentro da minha realidade eu faço parte de uma grande conjuntura que é muito importante para o país.
RW: Em conversa que tivemos antes, revelou ter gosto para a área de finanças. Você já fez especialização nessa área?
Israel Dias: Sou formado em Matemática e tenho algumas certificações financeiras.
RW: Estatística?
Israel Dias: Não, é Matemática, licenciatura. A princípio ia trabalhar no magistério. Mas aproveitei também a licenciatura na questão pedagógica, no Banco, assessoria financeira é pedagógica também. Então eu me formei e depois que entrei no Banco fiz alguns cursos de certificação. De atendimento bancário. E alguns cursos financeiros, nesse sentido para complementar o curriculum.
RW: Hoje está muito em voga a questão de educação financeira até mesmo nas escolas. O BB tem algum programa nesse sentido em relação aos seus clientes?
Israel Dias: Sim, nós temos um trabalho no BB que é o jovem aprendiz. Em que é selecionado estudantes que por merecimento fazem o concurso interno, entre as escolas públicas da região, e são selecionados para trabalhar no BB. Então eles têm essa vivência. O primeiro emprego. Eles conseguem ter essa visão de empresa. É, sem dúvida, um trabalho importante do BB - o jovem aprendiz. Que hoje, inclusive, muitos gerentes do Banco foram jovens aprendizes no passado.
RW: Isso é muito bom. Agora, existe algum programa para a população em geral aprender a economizar, a investir o seu dinheiro. Mostrando, por exemplo, a diferença entre bem de capital e bem de consumo. Como adquirir bem de capital para que gere maior bem de consumo? - existe algo programado nesse sentido? Ou ainda não - esse projeto é algo inédito?
Israel Dias: É... dentro do meu conhecimento, assim, no momento não me vem nenhum. Ah! Lembrei! Tem a Universidade Corporativa do BB - que é a UniBB.com.br - ela é para funcionários, mas também para a população em geral. Lá você tem o curso para investimento financeiro, atendimento bancário.
RW: Estaria ótimo poder fazer parte de ensino para as pessoas leigas - eu noto uma necessidade de as pessoas saberem lidar bem com o seu orçamento. Você conversa com as pessoas, em geral, e pergunta qual é a diferença entre bens de consumo e bens de capital - eles não sabem distinguir uma da outra.
Israel Dias: Sim, é verdade. E também em relação à regulação bancária as leis que regem o sistema financeiro, não é? Os seus direitos, os canais de orientação, e de reclamação para os clientes. São canais que os clientes deveriam fazer mais uso, porque a educação liberta a pessoa. Dá independência financeira, dá independência até mesmo nos seus direitos que tem! A população tem que conhecer seus direitos também.
RW: Exatamente. Agora, há algum plano de carreira para que as pessoas que se interessam em entrar para o BB, elas entram numa função e permanece nela - ou existe um plano de carreira?
Israel Dias: É muito interessante o plano de carreira do banco, porque é uma empresa que não busca, no mercado, o profissional pronto. Todo o funcionário do BB do escriturário, que é o primeiro cargo, até o gerente, e até o diretor, todos são concursados! Então eles começaram de baixo e foram galgando posições de acordo com sua qualificação profissional e experiência. Então isso é interessante. É verdade que o BB, a princípio, pode levar uma desvantagem em relação às outras empresas, porque ele forma seus profissionais ao longo dos anos. Ele não pega pronto. Mas por outro lado, o funcionário pega uma identidade muito grande com a empresa! E outra coisa interessante é que o curso é uma empresa pública, é uma empresa aberta a qualquer pessoa. Então qualquer pessoa que quer fazer o concurso, e está disposta a galgar sua posição, ela não depende de indicação política, ou influência social para entrar no Banco.
RW: O que é muito bom. Deve ser assim. Agora, nós vivemos num universo que é totalmente matemático. Peso, altura, pressão arterial, batidas cardíacas, tudo está envolvido com números. Inclusive notas musicais. Como é que despertou esse talento para a matemática, em sua vida pessoal? Como é que surgiu isso?
Israel Dias: Fui professor de matemática durante 10 anos. E o meu interesse, a princípio, a questão da matemática, a rejeição pelos alunos, não adivinha por ser uma matéria difícil. A rejeição vinha pela de preparo profissional, uma falta de preparo no ensino da matemática. Que a gente chama de educação matemática. No princípio quando eu fiz a matéria de Matemática, foi realmente no sentido de criar meios para que os alunos que passassem por mim, tivessem uma condição maior de entender a matéria e gostar da matéria. A minha paixão pela matemática, inicialmente, foi nesse sentido! Uma matéria muito importante, o objetivo era dar meios, eu tinha esse dom de ter uma boa didática! Bom ensino de Matemática. Eu estudei muito o "como ensinar"! Sou muito mais um educador do que um matemático, propriamente dito.
RW: Entendi. A didática da Matemática tem sido, durante algumas décadas, feita de uma forma errada ou inapropriada?
Israel Dias: Sim, creio que sim. Primeiro - porque o conteúdo ensinado nas escolas, difere muito da realidade cotidiana. Se ensina muito a matéria por si só. Sem contextualizar ao dia-a-dia. À vivência do aluno. O que torna a matéria obsoleta. A princípio pode parecer, para o aluno, indispensável. Mas quando o aluno entende onde é usado cada conteúdo. Por exemplo, as funções matemáticas. Quantos gráficos que são usados as funções, função exponencial, afins. Por exemplo, ao conhecimento de uma bactéria na ciência. A pessoa tem uma doença e do estudo crescimento daquela bactéria é uma função exponencial. Isso o aluno adolescente não entende. Não consegue ter esse entendimento porque o sistema educacional brasileiro está aquém dessa realidade. Ele não tem essa preocupação de contextualizar o ensino da Matemática.
RW: Ciências atuariais seriam os próximos passos?
Israel Dias: Ciências atuariais é excelente! Inclusive outra coisa que seria muito importante ser ensinada nas escolas é justamente a Matemática Financeira! Por exemplo, com essa questão da Previdência Pública - a gente sabe que você não contribui com regime de capitalização. Quando você contribui para a Previdência Pública, você não está contribuindo para a sua aposentadoria, mas a de toda a população! Sempre que alguém ficar doente, isso aí influi na sua aposentadoria... Então todo jovem tinha que aprender a fazer a sua poupança, desde pequeno, para ter independência financeira sem que precise depender do governo no futuro. O estudo de tudo isso é muito importante - juros compostos, a Previdência Privada, a Previdência Pública, tudo isso é importante entender, o jovem tinha que aprender sobre isso. E a Matemática nesse sentido é muito importante. Isso também na Geografia, na Geopolítica. Outra coisa também - esse ensino compartimentado, não é? Eu não sou esquerdista. Mas, por exemplo, em Cuba o professor lá não é professor da matéria, ele tem um conhecimento interdisciplinar. Lá você vê que a criança não aprende a Matemática sem a Geografia junto. Por exemplo, é o ensino da previdência social, é a matemática financeira, junto com a geopolítica e a geografia, com o IDH da população. É interessante.
RW: Aos moldes do que é feito na Alemanha, seria interessante o BB, ou até outros bancos - já vi o caso do Santander dizendo que é o primeiro em previdência privada - os bancos fazerem aqui o mesmo que lá na Alemanha é feito como um tripé. Há previdência privada, há o plano de aposentadoria do próprio governo que equivale ao nosso INSS aqui, mais a aposentadoria das empresas! Então quando a pessoa aposenta tem um alicerçamento de qualidade de vida. Não é o caso fazer o mesmo, nestes termos, no Brasil? É possível?
Israel Dias: Com certeza! É possível. Primeiro tem-se que comunicar esse plano à população de forma clara desde criança! É muito importante a escola educar nesse sentido - educação financeira. A gente tem que mudar, não pode ser ficar do jeito que está! A Previdência já está praticamente quebrada. Se não tiver um presidente agora que realmente pense no melhor para a população. Que deixe de ser populista e demagógico. Não adianta também aquele discurso de "o nós contra eles". Enquanto um prega que a Previdência está quebrada, o outro diz que está uma maravilha. É preciso ser pedagógico neste momento para a população entender a importância, e abraçar a ideia!
RW: Acredito que o ideal é o bom-senso.
Israel Dias: Sim, um pensamento de centro. Porque a política vem de "acordos". O que tem que ser extirpado é o "acordo pelo acordo". Não tem que ter oposição. Não tem que ter "direita" nem "esquerda". Tem que ter é "a posição". Político no Brasil tem que aprender a se posicionar, ter opinião própria, ter independência.
RW: Em termos sociológicos, o nosso país já está amadurecido para mudanças sociais como nos casos de países avançados da Europa, ou ainda está engatinhando nesse sentido?
Israel Dias: A questão toda é pedagógica. A educação caminha junto com o desenvolvimento. A gente percebe que principalmente no interior do país, lá nos rincões, a falta de educação da população, no sentido formal, no sentido do entendimento... é o que impede que o Brasil avance socialmente. Porque numa democracia a população escolhe o seu caminho. Quando ela não tem educação para escolher o seu caminho, fica difícil ela votar melhor. Então a melhoria passa pela educação!
RW: A primeira coisa é investir maciçamente na Educação.
Israel Dias: A questão não seria nem tanto o valor do investimento. A questão é como investe! Fui professor 10 anos e eu percebi um gargalo muito grande na alfabetização, por exemplo. O ideal é ter menos alunos na sala de aula de alfabetização. Um professor de carreira de alfabetização. Se você conseguir fazer com que o primeiro ciclo de aprendizagem que é do primeiro ao terceiro ano, de 7 aos 9 anos, conseguir que toda criança seja alfabetizada e letrada. Os ciclos seguintes vão fluir naturalmente.
RW: Em termos de investimentos, nós estivemos em São Paulo bem recentemente num evento sobre emagrecer, sentindo a necessidade que eu tenho de perder muitos quilos. E, por um equívoco entramos num salão ao lado - e estava lá o Credit Suisse. Nós não pudemos conversar com as pessoas que estavam. E a área que eles estavam era exatamente sobre investimentos do setor internacional. O que estavam fazendo ali bancos do tipo do Credit Suisse? Perguntamos isso a eles. Resposta - eles nos deram um folheto mostrando que os bancos estão investindo maciçamente nas empresas fabricantes dos "novos remédios". Não seria o caso do BB fazer uma carteira de investimentos em setor exatamente oposto disso? Investir em empresas que valorizam saúde (e não em remédios!). Para que incentivar a indústria de remédios? Incentivar a indústria de remédios é o mesmo que incentivar a falta de saúde.
Israel Dias: Sim, programas de investimento voltadas às empresas que incentivam verdadeira saúde.
MW: Criar uma carteira de investimentos em empresas de vida saudável.
RW: Mostrando a saúde financeira e a saúde física. As duas coisas são correlatas.
MW: E como um caminho de investimento em vida saudável! As empresas que estão surgindo em área de "vida saudável" serem incentivadas por investimentos do Banco, entendeu? Penso que você, com esta sua visão didática, se galgar dentro do banco postos cada vez mais elevados na área de investimentos vai poder ser um incentivador, um "professor" neste campo de investimentos nas empresas correlatas à vida saudável! Que estão acreditando em "vida com saúde". Criar uma carteira de investidores nessas empresas que querem promover vida saudável, natural. Não é saúde em termos de atendimento médico. É saúde significando vida plenamente saudável.
Israel Dias: Sim, compreendo.
RW: Nos planos que vimos, do tipo do Credit Suisse, as multinacionais de remédios passam como sorvedoras de toda a captação desse dinheiro para a área internacional. Ao passo que o BB pode criar esta carteira de empresas brasileiras que acreditam na vida plenamente saudável. Não é investir no doente e em criação de remédios que modifiquem a genética do ser humano! É apenas a nossa sugestão. O que pensa sobre isto?
Israel Dias: Ótimo! Não estudei ainda este assunto...
MW: É um despertamento que está surgindo agora!
Israel Dias: Ainda não alcancei esta propriedade técnica. Nem visibilidade do projeto. Mas a ideia é excelente!
MW: É só a criação de uma "faísca", para você meditar...
RW: E quanto aos empreendedores dessa nossa região. Além da COMPERJ tem surgido novos empreendimentos em Itaboraí?
Israel Dias: No momento eu vejo que o setor imobiliário tem sido favorecido.
MW: Mas não tem gente inovando, acreditando em ideias novas, empreendedores criativos começando?
Israel Dias: O que eu percebo, que houve a questão do COMPERJ fez a cidade sofrer muito com isso. Nos índices de violência é visível. Mas o que eu fico feliz é a perspectiva no momento de um potencial próspero para a cidade no setor imobiliário. As empresas estão investindo no setor imobiliário. A construção civil é a mola propulsora, ela gira a economia de uma forma muito interessante. Se por um lado houve uma crise nos imóveis, o fato de ter caído o preço está dando um acesso maior da população poder adquirir.
RW: Que mensagem você passa para os novos investidores para que tenham uma vida melhor?
Israel Dias: A primeira coisa é educação, é conhecimento. Muito importante é o empreendedor. É mover. Buscar ideias. Ler. E se informar. Aquele indivíduo se torna líder de si mesmo. Antes de ser um líder de uma empresa, você ser um líder na sua casa - você tem que ser líder de você mesmo! E você se organizar, estudar. Não dependa só do governo. O governo é importante, o lugar onde você nasceu é importante. Mas você pode ser o líder de si mesmo. Hoje a tecnologia permite isso através da internet obter esse conhecimento de forma independente. Então corra atrás dos seus sonhos, estudem e acreditem em novas ideias.
RW: A Equipe Wolff agradece a sua entrevista.

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