João Paulo Mori
Secretário de Defesa Civil de Nova Friburgo em entrevista ao jornalista Reinaldo Wolff
Ganhador do Prêmio Cidade Resiliente ONU 2012 e atualmente com um importante projeto "Defesa Civil na Escola", objetiva conscientizar a criança, treinar a noção do perigo, e com isso ser proativo e salvar vidas.
Após alguns anos da tragédia em Nova Friburgo e Região Serrana, ficou apenas a tristeza do ocorrido. Porém, é importante lembrar que muito que já foi feito, desde a concretagem das margens do Rio Bengala até Conselheiro Paulino, e estruturas de reforço.
Ainda assim é importante lembrar que existe toda uma equipe de pessoas preparadas, que estão no município, sob a chefia do Coronel Mori, à frente da Secretaria de Defesa Civil do município.
Vejamos agora o que está sendo feito e o que se planeja fazer diante de tal situação.
A seguir na íntegra, a entrevista exclusiva do Coronel Mori à Equipe Wolff.
RW: Queria lhe dizer o seguinte: é uma missão de vida o que o senhor está fazendo aqui. Coronel, eu entendo que aqui o que o senhor está desenvolvendo - primeiro como Bombeiros, e, a seguir, como Defesa Civil - é uma missão de vida... Porque... não é só um ato de herói! Mas um ato de amor ao próximo. Porque? O desafio foi muito grande! Chegou a um número de mais de mil vítimas aqui no município.
Coronel Mori: Na região toda foi em torno de 900 pessoas - aqui no Município foram 400 pessoas. A região toda inclui Petrópolis, Teresópolis, Bom Jardim, Trajano, enfim - o município que teve mais de a metade foi o de Nova Friburgo!
RW: Desequilíbrio ecológico, foi isso?
Coronel Mori: Pode ser. Acredito que seja mais pela ocupação irregular! E a ação do homem ocupando irregularmente áreas que não poderiam ser habitadas. Hoje há uma visão diferente - apesar de que tem muita construção irregular, não é? Mas se vier alguém fazer uma construção, a seguir logo vai aparecer alguém que vai lá avaliar esse terreno, para dizer se é próprio para ser construído ou não. Isso é algo que não existia antes...
RW: É fundamental a presença de geólogos!
Coronel Mori: Ah, sim! A Secretaria de Meio Ambiente, que é o órgão que dá a liberação para a construção de imóveis, tem um geólogo que vai avaliar isso.
RW: Eu noto que a obra de engenharia, às vezes, é um espetáculo, mas falha na questão geológica.
Coronel Mori: É possível construir - nada impede! Desde que ele faça a contenção. Faça o corte e faça a contenção. Só que ele faz o corte, gasta o dinheiro na construção de sua residência, que geralmente é humilde e não faz uma contenção apropriada. Porque é caro! Ele não pode usar tijolo. Tem que usar só concreto, massa, pedra e ferro. Dependendo do corte, tem que fazer - se for uma construção pequena - tem que fazer apenas um muro. Se for uma construção maior, tem que fazer uma contenção maior.
RW: Um outro tipo de obra de engenharia.
Coronel Mori: Ah! Com certeza!
RW: Coronel, e o que está sendo feito no sentido de evitar que novos acidentes geológicos ocorram no município de Nova Friburgo?
Coronel Mori: Evitar acidentes geológicos é meio complicado, não é? Países bilionários, como o Japão, têm acidentes geológicos constantemente. Eles têm vários tipos de "ameaças". A gente chama de "ameaça" quando há vulnerabilidade e riscos. Ameaça, no caso deles, é o terremoto, é o furacão, é o tsunami. Enfim, eles têm tudo... e as chuvas. A nossa única ameaça aqui é: chuva. E a nossa vulnerabilidade? A chuva na verdade não é e não deveria ser uma ameaça. Chuva é necessária; é preciso ter chuva, mesmo sendo forte, é Natureza. Chove todo dia tão forte como choveu naquele dia, dia 11 de setembro de 2011, como chove na Amazônia. Só que lá não é ocupado. Se não é ocupado, não tem risco! Ou seja, ameaça existe - que não é ameaça porque chuva forte não é ameaça - mas nós temos uma vulnerabilidade muito alta. Ou seja, ocupação indevida de encostas. Um jovem até falou há um tempo atrás, logo depois da tragédia, que se os suíços tivessem andado um pouco mais para criar Nova Friburgo, não teriam tanto problema. Mas deveria ser muito bonito - um vale, um rio passando no centro, no meio e ali eles ficaram. Só que o vale tem uma área muito pequena. E esse vale é inundado. E ficou as encostas! Ou seja, ou você está na beira do rio - tem exceções, é lógico, não é? - ou você está nas encostas!
RW: Certo.
Coronel Mori: Friburgo deveria ter 40, no máximo 70 mil habitantes. Hoje tem quase 200 mil! Esses outros mais de 100 mil foram ocupar onde? Ocupar as áreas de risco.
RW: Estive entrevistando geólogos no DRM em Niterói, e aquilo que perguntei a eles parece que houve boa acolhida no sentido da pergunta. Gostaria de saber também a opinião dos senhores. Nós imaginamos que uma das razões que tenha causado isso, foi a queima do solo. Tirou o húmus do solo! Quando tirou o húmus a forma de "agarrar" do solo não é tão forte... e ele se fragmenta e se solta! O senhor sente isso como sendo realidade?
Coronel Mori: Isso acontece. Aqui nesse município tem esse princípio maluco de que quando chega o inverno, não sei porque tem tanta queimada! Esse ano foi até um pouquinho menos. Mas é muito comum ter muita queimada aqui. Essa fraqueza do solo realmente favorece. Naquela época, na tragédia, foram vários fatores. Já falei sobre a ocupação. Recentemente, pouco tempo antes, tinha havido as queimadas do período do inverno. E nós tínhamos uma Defesa Civil muito fraca! Não por culpa de quem estava na Defesa Civil naquela época. Mas até pela visão das governanças anteriores darem atenção à Defesa Civil... Não tinha nem uma viatura! Não tinha dinheiro, não tinha nada! Só tinha o Chefe da Defesa Civil, que hoje é o Coordenador, e que está na Secretaria, além de três ou quatro funcionários. Não dá conta de atingir bons resultados. Infelizmente teve a tragédia, mas a partir daí deram mais atenção para este setor. Hoje nós temos quatro carros, nós temos cinco engenheiros, temos plantão de engenheiros todo dia 24 horas, tem equipe de plantão 24 horas e um telefone de emergência com 199. Ou seja, hoje temos uma estrutura um pouquinho mais viável - e que não é a ideal - veja que a minha sala não é muito compatível... Mas antes não tinha nada! Hoje ainda se faz uma grande campanha de conscientização! Essa reunião em que eu estava agora há pouco era com a Secretaria de Educação! Temos que lançar o Projeto "Defesa Civil na Escola". Eu fiz dois cursos no Japão, e uma pergunta que eu fiz lá para eles foi a seguinte - como é que vocês conseguem pessoas para participar dos simulados de evacuação de área de risco, nos treinamentos pela Defesa Civil? E eles falaram - A gente não consegue, eles não vão". Quero dizer que também é, em parte, novidade a questão de defesa civil, apesar da minha formação de Bombeiros. Na Academia todos os anos tem a matéria de Defesa Civil, mas no Brasil é muito novo na Defesa Civil! Graças a Deus não tem tantos desastres assim!
RW: Então o senhor entrou já com graduação nos Bombeiros ou fez o curso e entrou?
Coronel Mori: Eu fiz a Academia, saí como aspirante, fui a Capitão, Major, Tenente Coronel e Coronel. Como se fosse a AMAN, a mesma coisa!
RW: Sei como é, meu pai fez a AMAN.
Coronel Mori: E voltando ao questionamento que fiz, o japonês me falou que lá eles também não participam. E eu falei - Então como é que vocês fazem? - Ele respondeu - então, a gente, há muitos anos, de 40 a 50 anos atrás, fomos às escolas". A partir daí, nós estamos aqui trazendo essa ideia. Porque a gente vai lá fazer intercâmbio, levar o que sabemos e aprender com eles! E é verdade - aqui todos os anos a gente faz o treinamento em bairros de alto risco, e a participação popular é muito pequena, infelizmente! Então, lembro que lá no curso a tradutora, jovem, 28 anos de idade, me contou "É verdade, desde criancinha, todos os anos tinha na escola o treinamento e a gente aprendia sobre como proceder em caso de tsunami, em caso de chuva forte, em caso de vulcão, em caso de terremoto..." - Entendo que então lá eles sabem o que fazer. Aqui, numa tragédia, e a nossa população que não sabia como agir? Na época da tragédia eu era o Comandante dos Bombeiros de Nova Friburgo. Naquela época eu era Tenente Coronel, ainda, em 2011. E a gente foi fazer o resgate das vítimas, no dia 12, o dia seguinte da tragédia. O que se viu é que muita gente estava dentro de seus quartos, em suas camas dormindo! E chovendo da maneira como estava, eles não fizeram nada para se prevenir! Para tomar uma atitude, uma decisão, em caso de emergência! Hoje, a gente levou para todas as comunidades - se chover forte, nós enviamos um SMS. Estamos criando um aplicativo e se Deus quiser estará pronto no mês que vem. As pessoas vão receber o aviso, o celular vai começar a vibrar - quem se cadastrar, é lógico. Temos hoje doze mil, quase treze mil celulares recebendo esse SMS. Um número ainda muito pequeno. Mas acreditamos que quem recebe o SMS, com mensagem de alerta, vai falar para o filho, para o vizinho, e mais não sei quem.
RW: E a solução, usada na Suíça, dos bunkers, seria uma solução para Nova Friburgo?
Coronel Mori: Solução que envolve a questão de dinheiro - aqui, esquece! Eu estava justamente dizendo "Não pode ir Defesa Civil na escola fazer uma palestra e não deixar pelo menos uma cartilha, e não temos dinheiro para fazer essa cartilha!". Quer dizer, nestes termos de dinheiro, as coisas aqui são muito complicadas. No entanto, Friburgo recebeu mais de dois bilhões em obras de contenção na cidade. Foram vários bairros... Você é de Friburgo? Mora aqui?
RW: Nós já moramos aqui.
Coronel Mori: Tem vários bairros que tem obras de contenção. Mas eu pergunto - e os outros? Petrópolis tem muito pouco... Teresópolis tem muito pouco e precisa de investimento. E logo após a tragédia nunca mais se fez nada! Foram feitas as obras - feitas pelo Estado - com o dinheiro da União. Então muita coisa foi realizada. Minimizou-se muito risco depois disto! E depois? Outro exemplo que nós vimos lá no Japão é que eles constroem pequenos prédios, só que sem paredes com escadas grandes, largas, em locais próximos ao litoral. Se vier um tsunami e não tiver montanha próxima naquela localidade, é para eles subirem e ficarem todos lá em cima, esperando a onda passar... Equivalente à ideia de um bunker, isto é, um local que a pessoa vai se proteger... de que? Da ameaça. Que ameaça? É o tsunami. Já o bunker, é outra causa.
RW: Penso que hoje em dia é quase que obrigatório, cada vez que se vai construir... tem que estar junto com a obra - um bunker!
Coronel Mori: Ah, interessante... Para qual ameaça? De guerra?
RW: Em todos os sentidos: arma química, invasão do país, ou problemas de bomba nuclear, para os mais diversos problemas podem ser feitos os bunkers...
Coronel Mori: Interessante!
RW: Inclusive, hoje já se analisa o que há décadas atrás seria um delírio: a invasão alienígena. Antigamente diriam - "esse aí enlouqueceu! Está fora da real falando uma coisa dessas"!
Coronel Mori: Pois eu acredito plenamente!
RW: Hoje, cada vez mais, se dá prova disto. Os bunkers servem neste sentido. E quem sabe esta sugestão aqui formulada pela Equipe Wolff para a Defesa Civil, se torne mais uma possibilidade de salvar mais vida das pessoas! Ao se fazer uma obra, anexar a construção também de um bunker. Com estrutura, por geólogo e engenheiro, para salvar vidas!
Coronel Mori: Tem que vir pela Câmara Municipal, tem que ser lei, não é?
RW: Sim, é esta a sugestão!
Coronel Mori: Fica a sugestão. Achei interessante. Mas, na nossa realidade atual, talvez um pouco inviável... Principalmente considerando que a pessoa que constrói em área de risco é porque é pobre! Ninguém constrói em área de risco porque quer! Na maioria das vezes, o sujeito está lá construindo uma casa humilde - vai encarecer e muito esta obrigatoriedade!
RW: Sim, mas se trata de uma necessidade, Coronel. Quando eu era criança, meus pais lidavam com financiamentos. Eles eram agentes financeiros. Minha mãe incluía na aquisição do financiamento, na prestação a pagar, o seguro e uma parcela de investimentos. Teve gente que chegou revoltado lá no nosso escritório - "Ah, a prestação é mais do que só o financiamento! Eu não quero pagar mais, não quero isso!" - dali uns tempos a pessoa voltava - "Mas vocês fizeram meu seguro mesmo?". O caminhão tinha sido roubado, ou o caminhão tinha tido um problema. E aquela pessoa dava "Graças a Deus" para o seguro que já tinha feito. Porque, na hora, parecia tão ruim ter aquele gasto extra, mas depois ela não conseguia acreditar que já estava resolvido! E o rendimento dos investimentos cobriam a inflação, quando esta aumentava a prestação!
Coronel Mori: Ninguém quer gastar dinheiro com alguma coisa que pode não acontecer.
RW: Mas é a cultura de que o custo ser parte disto. Para que haja vidas salvas!
Coronel Mori: É, de fato, interessante a ideia.
RW: A nossa finalidade - gostaria ainda de conversar com nosso entrevistado, e me sinto amigo, do Deputado Jair Bolsonaro, o presidenciável! Para realizar uma reunião de alto nível - o Governador, os Prefeitos, os Secretários de Defesa Civil, os Coronéis de Bombeiros, e os meios de Segurança dos Municípios, para se unirem, tipo uma conferência, para que sejam criados sistemas conjuntos de criar soluções de forma antecipada ao fato do perigo que possa ocorrer! A nossa mãe, a escritora Ana Maria Wolff, escrevia para este jornal que o senhor tem em mãos. Ela escrevia sobre o tema "Percepção, Guia Mágico de Sobrevivência". Ela alertava que Friburgo está sob um imenso risco! Que era melhor que se mudassem para um local, como a Amazônia, que seria mais seguro!
Coronel Mori: É o que se falou - se os suíços tivessem andado adiante um pouquinho mais para instalar a cidade em outro local seria bem melhor agora!
RW: Já que todos amam Nova Friburgo, e dificilmente alguém vai querer mudar a cidade daqui...
Coronel Mori: É, também penso assim... Seria inviável transferir a cidade!
RW: Então é por isso a minha sugestão que seja feito essa reunião.
Coronel Mori: Envolve vários municípios. Geralmente quem faz essas reuniões é a Defesa Civil Estadual. É quem faz seminários para incutir novas ideias. Acredito que se você levar para a Defesa Civil Estadual alguma coisa como essa... aqui no Estado do Rio temos a Escola de Defesa Civil - e é só aqui no Estado do Rio. Até o Coronel Romano, que foi comigo no Japão, lá será interessante o diálogo, pois é um disseminador de ideias, esse local acadêmico que dissemina as ideias. Acho interessante você falar também com o Secretário de Meio Ambiente - porque isso aí tem que mudar leis, mexe inclusive com a Lei Orgânica do Município! Para a bancada da Câmara levar isso para lá, tem que ser muito pensado - muito discutido - mas a ideia é interessante! Pode-se pensar de fazer o prédio para as pessoas subirem e se abrigarem.
RW: Sim!
Coronel Mori: E teria que ter alguma coisa para o Município, para se abrigarem também! Nós temos hoje: ponto de apoio. Em todos os bairros de área de risco... aqui no centro, por exemplo, não tem - porque não é área de risco. Para as chuvas, que é o nosso principal risco, temos então, os pontos de apoio. Geralmente são escolas, ou municipais, ou estaduais, ou particulares. Se não tiver - é uma igreja, uma quadra - enfim, que todos os moradores saibam, nós temos quase cem pontos de apoio aqui em Nova Friburgo - Que quando entrar o SMS, quando entrar os meios de comunicação e avisar que está vindo uma chuva forte - (em 2011 por exemplo, não se observou isso) - Vai avisar o que já choveu nos últimos dias, o quanto já choveu no dia, e o quanto poderá chover nos próximos dias. Nós já fizemos dezenas de reuniões em todos os meios de comunicação da cidade - de TV e rádio - não foi feita na imprensa escrita, ainda. Porque hoje eu consigo em poucos minutos enviar mensagens para todas as TVs e rádios, para eles rapidamente avisarem a população. Quando aconteceu a tragédia em 2011, estava chovendo 10 dias antes, estava muito encharcado. Antigamente não se observava isso! Hoje se o solo está encharcado, está chovendo há muitos dias, muito forte, e se estou observando que tem um núcleo se aproximando da cidade - eu tenho que tomar providências, entendeu! E isso não existia, na época! Não existia o conceito de toda uma preparação da Defesa Civil em relação aos meios de comunicação, da secretaria de comunicação, prefeitura, para rapidamente informarmos à toda a população, entrando em alerta máximo! Se fosse usado a "expertise" que nós temos hoje, com certeza que em Nova Friburgo não teria morrido mais de 400 pessoas! Mesmo assim muita gente morreria... e por quê? Principalmente porque a pessoa não acredita, não confia, prefere ficar dormindo do que sair de casa às três horas da madrugada. Nas chuvas fortes o maior número de pessoas morreu entre quatro e seis horas da manhã. Foi quando desabou mesmo aquela quantidade enorme de chuva. Então morreriam pessoas? Sim, mas talvez nem a metade daquilo, nem cinco por cento! Nem cem pessoas teriam morrido!
RW: Eu estava em São Paulo e comentei sobre o Anhangabaú, para fazerem a contenção de águas no subsolo. É viável aqui?
Coronel Mori: Nós não temos espaço para isso aqui. No governo da Saudade foi feito contenção e aqui não resolveu. Porque lá em São Paulo é plano, as águas se movimentam mais lentamente. E aqui o fluxo de água é muito rápido. Tanto é que a gente alerta Bom Jardim se os nossos rios encherem aqui rapidamente. Porque a água que passa em Friburgo, que foi juntando tudo aqui em Rio Bengalas e no Rio Grande vai juntar e correr tudo para Bom Jardim. Há o aviso "Se prepara". A diferença de nível é muito grande. Rapidamente essa água aqui já está "aqui em cima", e chega a Bom Jardim "ali em baixo".
RW: As obras do Prefeito Heródoto, de contenção do rio, concretagem nas margens, contribuiu muito para Nova Friburgo...
Coronel Mori: Ah sim, a canalização dos rios! Foi sim, foi ideal, tanto é que aqui no Centro teve pouca inundação. Mas lá em Conselheiro, que não tinha sido feito obras ainda - lá foi um desastre! Tanto que hoje a gente não se preocupa mais nem tanto com a inundação em Nova Friburgo, pois aqui tem "enxurrada". Existe diferença entre enxurrada e inundação. Na Baixada Fluminense, se lá ficar alargado, fica alagado por três, quatro, cinco dias. Aqui não acontece isso! Parou de chover, cinco minutos depois, vai "água a baixo".
RW: O senhor esteve no México também, não é?
Coronel Mori: Nós participamos num Prêmio da ONU, foi em 2012 - e que nós tiramos 3° lugar, de todas as Américas. Esse prêmio é "Cidade Resiliente". Não fui eu que fui lá buscar o prêmio... (sorrisos). Que foi acerca do "Projeto do SMS".
RW: Como fazer diante de tanta situação estressante - altera os nervos de qualquer pessoa, por mais que seja uma pessoa zen.
Coronel Mori: Realmente altera.
RW: Como fazer para manter a calma nessas horas de alto estresse?
Coronel Mori: É a experiência de 32 anos de Bombeiro, em serviços de sair de madrugada, em não dormindo, nem jantando. Saía e virava a noite na rua, e sem ter o que comer... Olha, há 30 e 40 anos atrás não era fácil. A experiência de vida, o que nós passamos naquela noite de tragédia foi uma coisa terrível! De encontrar crianças na sua cama, soterrada, abraçada no ursinho. Quer dizer, literalmente a criança morreu dormindo! Era começar a escavar, "Ah! Achei um pezinho!" Começa a limpar, tira e está lá, a criança abraçada no seu urso, morta... É muito comovente. É muita experiencia de vida que adquiri. E mesmo assim, quando começa a aparecer um "núcleo de chuva forte", já começo a ficar preocupado. Eu tenho uma sirene instalada, numa área de risco, é feita a manutenção - e se na hora de risco precisa ser acionada e ela não funcionar? E se não consegue mandar o SMS? Hoje temos que ter essa percepção. Aí nós temos que preparar pessoas preparadas, deixar uma chave. E esse pessoa hoje está preparada, na sua comunidade para poder acionar a sirene.
RW: A Suíça tem experiência de salvamento nos Alpes, grande experiência nisso. Seria interessante trocar experiência com os suíços?
Coronel Mori: Seria interessante, lógico!
RW: Se me permite mais algumas sugestões...
Coronel Mori: Permito, lógico.
RW: Colocar aquelas colunas de concreto. Porque se essas montanhas deslizarem, a calamidade é muito maior! Pedras de toneladas, podem rolar!
Coronel Mori: Foi feito isso em alguns locais. Em Córrego D'Antas, quem está indo para Teresópolis, do lado esquerdo, você consegue ver as colunas de concreto segurando as encostas.
RW: Outra ideia é fazer convênios com a Secretaria de Agricultura para dar novo húmus ao solo para que o solo não se desagregue tão rápido.
Coronel Mori: Nesta tragédia de 2011, a maioria dos escorregamentos foram áreas fora da cidade, graças a Deus, porque se fosse aqui seria mais sério. Foram mais de 300 escorregamentos e eram matas nativas! A grande maioria dos escorregamentos acabou represando os rios. Desceu, represou o rio, ficou uma barreira. O rio subiu - e como não era resistente - aquilo estourou e ceifou muitas vidas. O que a gente acredita é que foi uma quantidade absurda de água! Foram 900 milímetros em 24 horas - é uma coisa absurda! É coisa de furacão, como aconteceu recentemente nos EUA. Mas lá eles têm prevenção. É um volume de água muito grande. Acima de 50 milímetros já é preocupante! Ao acaso, várias nuvens se aproximaram perto das árvores, já estava chovendo, aquela coluna derramando água. Veio outra quantidade de água muito forte. Veio do Sudoeste, que se juntou àquelas nuvens, ficaram paradas aqui em cima e jogando água a noite toda! Começou às 9 horas da noite e foi terminar às 6 horas do dia seguinte - naquele mesmo local derramando muita água! Agora teve um tsunami na Ásia, e o alerta deles não funcionou. O senhor deve ter acompanhado na mídia. Lá tem as monções, tem a chuva forte, terremotos, vulcões, tudo - e o sistema de alerta deles não funcionou! É absurdo... Então o que eu falo é mais pé-no-chão. O que eu posso fazer hoje para minimizar o risco, sem gastar dinheiro? Por exemplo, eu tenho que fazer a cartilha para a Defesa Civil na Escola... e não tem como fazer a cartilha, já levei esse tema ao Prefeito.
RW: Já procurou a Imprensa Oficial? Eles fazem!
Coronel Mori: Gratuitamente?
RW: Sim!
Coronel Mori: Ah, não sabia não. Isso aí é importante saber (sorriso).
RW: Em Niterói.
Coronel Mori: Muito bom saber. Interessantíssimo. Dessa parte gostei. Não sabia disso e eu sou de Niterói! Estou aqui há 11 anos.
RW: Qual a mensagem de esperança, fé e paz que o senhor passa para as pessoas que estão morando nessa localidade?
Coronel Mori: É o que eu peço sempre à população - acredite na sua Defesa Civil! Acredite nas orientações. Toda vez que emitirmos um alerta, acredite nesse alerta. Não é uma decisão "minha" decidir um alerta. Converso com geólogos, meteorologistas, tenho vários monitoramentos acontecendo online. Tenho mais de 50 pluviômetros na cidade que me dão a cada 15 minutos a quantidade de chuva. Enfim, quanto choveu nos últimos dias e quanto está chovendo agora. E tenho informações que o leigo não tem!
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