Percepção - Guia mágico de sobrevivência - Por Ana Maria Wolff

O DOM MISTERIOSO DA RECONSTRUÇÃO EMOCIONAL

O transtorno dura desde lá de fora da sala. Ouço o pai com voz furiosa pedindo: “Minha filha, me respeita!”
Ela responde com a maior agressividade: - Que respeitar o que! Caramba! Quem tem de me respeitar é você! Respeita a minha vontade! É o que eu quero: vou à balada, e está acabado! Nem você, e nem ninguém vai me impedir!
Aguardando minha vez na sala de espera do dentista, vejo os dois entrarem de rompante. Fazem imediato silêncio. Ela é uma garota de aproximadamente doze anos, linda mesmo! Comparo-a com a Barbie, a bonequinha cinquentenária dos Americanos. Com ela tudo é longo: braços e pernas, unhas, e cabelos pela cintura. No entanto, ela faz uma fisionomia carrancuda. Torna-se feia, pelos maus pensamentos que nutre.
O pai logo se identifica como advogado, e procura fazer das pessoas ali reunidas, um tribunal de defesa para ele. Logo todos estão opinando se Isabel tem ou não tem razão de querer ser independente e fazer prevalecer sua vontade.
Tudo isso me torna distante, perdida em minhas lembranças de adolescente. Em primeiro lugar o tom como eu dizia o que pensava: - Meu pai me ouça! Por favor! Quem sabe você muda de opinião se me escutar?
Meu pai era irredutível: - Não tenho nada de lhe ouvir. Você é que trate de me entender: está proibida de sair por ai com coleguinhas depois das aulas. É do Colégio para casa! Não tem essa de ir à festinhas na casa de seus colegas que eu não conheço! 
Meu pai como advogado e juiz num Ministério do Governo era simplesmente inarredável em seus pontos de vista. Eu tentava argumentar minha razão. Saia sempre chorando muito, vencida na argumentação, mas afiadíssima para a vida. Aprendi a lutar pelos meus pontos de vista. Fiquei sempre tentando ganhar sobre os outros. Logo me casei. Lutei pelas minhas idéias com meu marido. O que aconteceu? Venci em meus argumentos, mas fiquei sem marido. Voltei então para casa de meu pai. Fui conviver com ele, novamente, e aprendi uma dura lição: ser uma boa ouvinte. Antes de disparar minha agressividade e defesa do meu ego- coisa que eu já sei como é, tenho de ouvir a opinião contrária, que eu ainda não conheço! Analiso os pontos de vista alheios, posso depois emitir com clareza o que penso, sem entrar em lutas desafiadoras. 
No caso do meu pai foi assim:- Pai: eu lhe entendo! Você tem razão dentro do seu ponto de vista. Quer saber o que eu penso? 
 -Diga minha filha. O que você quer me dizer? Noto de repente que eu não preciso dizer nada! Ele já me entendeu!
Naquela manhã, conto para ele o que eu decidi:- Vou voltar para meu marido. Agora sei como lidar com homens geniosos, mas cheios de amor!
Voltei e vivi com meu marido quase cinqüenta anos. Fomos os dois, muito felizes. A rebeldia, o impulso arrebatador de dizer tudo que se pensa é um esvaziamento de energia. Compreensão é a palavra mágica da reconstrução emocional! Reconstruir os sentimentos é a maior evolução da alma!

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