Planeta Água - 86ª Semana do Fazendeiro - UFV, Viçosa 2015

Entrevista exclusiva à Equipe Wolff 


RW: Professora, seu nome? 
(Um leve sotaque musical transparece na resposta)
Adriane Oliveira Santos Barbosa.
(É o povo mineiro com uma fala cantante e diferente do “carioca-funk” que ouço na Região Leste Fluminense, RJ).




Professora Adriane: Sou formada em Pedagogia, Psicopedagogia – e atualmente sou estudante de Educação Ambiental pela UFLAS. Faço Pós em Educação Ambiental.



RW: Olha que bom! Professora, como vê a necessidade das pessoas se conscientizarem das medidas urgentes, urgentíssimas, que tem para se preservar a água?
Professora Adriane: Para mim também é um tema muito novo, a Educação Ambiental na minha vida é muito nova. Conhecimento ambientalmente correto a gente aprende com a prática e com a vivência. Então é assim: nós estamos sofrendo com a consequência da falta de Educação Ambiental que deveria ter existido há décadas atrás. Nós temos que correr contra o tempo e contra as consequências que “nós mesmos produzimos na Natureza!”. Nunca é tarde para começar a mudar os nossos comportamentos. E aí chamo a atenção de “mudar o comportamento” para a diferença entre “mudar a atitude”. Atitude eu mudo... Exemplo, você fala assim “Eu preciso mudar a água, estamos na época da seca”. Aí vou lá na minha, economizo... Volta a chover e então volto a desperdiçar, como se nada tivesse acontecido. Então o fundamental é: preciso mudar é o comportamento. Comportamento a gente muda é ao longo da vida, para sempre!

RW: Acontece que sendo um mundo relativamente esférico, os polos achatados (como todos sabem) a água está circulando pelo mundo.
Professora Adriane: Sim!

RW: E a pessoa começa a pensar – aonde estará esta água? E aí ela se dá conta que o que está ocorrendo, dando isso, são “águas poluídas”, concorda comigo?
Professora Adriane: Sim!

(Os dois parados no meio do verde campo de capim alto, e a turma num patamar acima, plena aula de exemplos, práticas acontecendo. O som das duas falas aos poucos se mesclam, qual uma sinfonia)

RW: Então o que está ocorrendo? O que poderia ser feito para evitar as pessoas poluírem mais as águas?
Professora Adriane: Para voltar um pouquinho antes no tema – quando perguntam “A água está acabando?”. Não, a água que nós temos no Planeta é a mesma... É o uso que nós estamos fazendo dela que está sendo incorreto! De poluição, desperdício, enfim... O que se tem de fazer hoje é uma conscientização maior! Principalmente dentro da agricultura, pecuária – que é um dos fatores que mais polui, não é? É uma conscientização mesmo! E não é só conscientização da camada popular, é conscientização geral! Principalmente das grandes indústrias, grandes agronegócios, dos latifundiários. É um trabalho que tem de se estender a todos! E aí é assim! É um trabalho árduo. Porque, quando a gente lida com o grande latifundiário, a gente está mexendo na questão da economia! De desenvolvimento, então é uma questão de conscientização global! Num todo. E eu acredito que isto vai acontecer aos poucos. Até pela necessidade, e pela gravidade dos problemas ambientais que a gente tem vivido hoje. Será que tendo desenvolvimento, no caso, dinheiro... será que nós teremos água para comprar? A própria natureza já está nos cercando para tomar estas medidas urgentes, necessárias, a nível Global. Local, global, mundial... não tem como escapar dessas medidas. 

RW: Tendo em vista que a degradação se dá por fezes de animais, há o efeito estufa?
Professora Adriane: Sim...

RW: Penso – “será que não estaria na hora das pessoas serem um pouco mais “naturebas”, ou seja, se alimentarem mais de produtos naturais, e menos de carne?

Professora Adriane: Então... sim! Mas estaremos mexendo com “valores” e com “os costumes”... Eu hoje estava dizendo que no Brasil pela fartura que nós tínhamos - vou dizer assim “tínhamos” porque hoje já está um pouco escasso, um bem escasso... Nós não fomos educados com essa forma de vida mais consciente, mais sustentável! Então assim – nós estamos numa fase meio de “ter que impor” essas condições, para ter um meio ambiente equilibrado, daqui para a frente. É um tema a ser trabalhado a longo prazo mas a curto prazo, vamos que ter “um tempo” para assimilar. Eu sinto que estou trabalhando hoje, para a construção desses valores, numa nova geração que está vindo!

RW: E como são esses objetivos, esses seus ideais, em torno dessas ideias – e que aliás um ideal que é de todos nós também, não é? Por gentileza, nos explique melhor. 

Professora Adriane: Precisa “de” começar a trabalhar a questão ambiental com a criança... Eu falo com a criança, pois com ela é muito mais fácil de mudar o comportamento. Inserindo a criança nesse todo – ela não é uma parte à parte. Ela é parte todo, ela faz parte... Ela é o Planeta em si! Então, começar a perceber, a mostrar para ela que quando a gente trata das questões ambientais, eu estou trabalhando a questão do meu comportamento, do meu uso consciente da água. Do meu descarte correto do lixo. De como eu utilizo os bens materiais de uma maneira consciente e sustentável... Por exemplo, com a criança, se ela pega um caderno, rabisca, rasga, joga fora, rabisca ali a carteira, ou o prédio da própria escola – isso tudo são questões ambientais porque não é uma folha que ele joga fora – é uma folha que joga fora e vai precisar de extrair mais da Natureza para repor aquela folha!

RW: Sim!
Professora Adriane: Então são mudanças de pequenos comportamentos que vai agregar os outros! Na questão da alimentação, do próprio consumo consciente. Então assim, é um elemento que vai a outro. É uma teia!

RW: Um vai coordenar os demais...

Professora Adriane: Sim, um vai coordenar aos demais. Não tem como separar os elementos e falar assim – “Olha, hoje estamos com foco na água porque já estamos sofrendo com esse problema na própria pele! Mas... não é só a água que é elemento da questão ambiental. É a água, é o lixo, o esgoto, o recurso dos bens materiais que eu utilizo... É o espaço que eu ocupo – como é que eu cuido do meu espaço?

RW: Quer dizer que o índio tem grandes lições para nos dar?
Professora Adriane: Muitas! Porque é assim – o índio, ele, no caso – uma criança – já nasce ali com a relação de trocas com a Natureza! Ele sabe até onde ele retira para o seu sustento. E como que ele trata essa natureza de tal forma que ela devolva para ele esses cuidados!

RW: A TV recentemente mostrou a super célula – é como se fosse um gigantesco ciclone. Isso no Rio Grande do Sul. A Natureza está começando a criar cataclismas cada vez maiores. Como fazer para as pessoas se conscientizarem e mudarem isso, na sua opinião?
Professora Adriane: O caminho... é a educação ambiental!

RW: Desde a infância?
Professora Adriane: Sim! Eu até falo assim – eu saí da sala de aula, vim trabalhar com educação ambiental e o meu comportamento em relação ao meio ambiente mudou muito! Eu não tinha uma informação em como – eu, como sujeito, possuidora desses direitos a esses bens naturais que temos... mas eu não tinha noção de qual era meu dever com isso! Todo patrimônio público – ele é público, todos tem direitos, mas todos tem deveres com relação a esses bens. O que nos falta é avançar na parte que se refere aos deveres – os nossos direitos nós já sabemos. E já utilizamos, e estamos utilizando até além da nossa cota! Que está gerando aí a forma incorreta que nós temos utilizado nessas grandes problemáticas ambientais que a gente tem vivenciado. Então o caminho é o uso consciente dos recursos.

RW: Vários fatores da sociedade precisam estar unidos em torno deste ideal, concorda?
Professora Adriane: Sim!

RW: Desde o ambiente da Sociologia, até da Psicologia, até professores, pedagogos, engenheiros agrônomos.
Professora Adriane: Uhum. 
(ela anui com o movimento da cabeça. Seus cabelos esvoaçam à brisa da tarde. Tudo parece estar em harmonia, com o ritmo das folhas de eucalipto que se agitam em cadência. Como a selar o pacto dos ideais dos que estão presentes com a Natureza sibilante.

RW: Está sendo feito algum movimento neste sentido? 
Professora Adriane: Acredito que se nós temos hoje a Política da Educação Ambiental, é porque ela veio de uma luta de movimentos sociais, desde lá atrás, e que hoje veio consolidar isso! A luta é constante! Agora a gente vive numa sociedade de disputas e de “valores”! E quem vai estar à frente para tornar a educação ambiental e tornar esses conhecimentos acessíveis a todos é mais com os movimentos populares, e as ONGs – mesmo! Para esperar um grande latifundiário, ou um grande capitalista, querer se envolver com tudo isso. Enquanto tiver uma gora de água que ele tiver para ganhos, para ter lucros, ele vai utilizar. Em contrapartida, existe toda esta organização dos movimentos sociais para consolidação, ainda mais, da educação ambiental! Do equilíbrio do meio ambiente. Eu acredito que pelas consequências que nós já estamos vivendo – essas ações, e junto com as políticas públicas, tende a se fortalecer cada dia mais! Outra coisa, que eu acredito muito, é de “uma nova geração” que está vindo!

RW: Concordo com você.
Professora Adriane: Nós estamos trabalhando não é por essa geração de agora – eu estou trabalhando para uma geração, no futura, mais consciente! Aí eu fico vendo, por exemplo, na minha casa... Meu filho tem 8 anos! Desde pequenininho ele já tem concepções de educação ambiental, do uso diário da água, do lixo que ele produz! Da consciência sobre os objetos, os brinquedos dele, de não destruir – porque vem da Natureza... Então é assim – eu acredito numa próxima geração mais consciente, mais sustentável.

RW: É necessário o amor à espécie humana – não só amor aos filhos, à família, mas refiro-me ao amor à vida! Amor à Natureza! Amor a Cristo! E despertar isso, é muito importante, concorda comigo?
Professora Adriane: Sim!




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