Antônio Gomes Eduardo em entrevista exclusiva ao Jornalista Reinaldo Wolff
Reinaldo Wolff: Senhor Luiz, como proprietário
da Livraria Gutenberg, nos dê uma ideia, como é que foi essa "batalha", que na
vida representa
o que se diz "ser bem sucedido"? Como é que faz para
vencer estes caminhos?
Abre-se um sorriso largo nele o que mostra que
a pergunta fez de imediato o efeito de "reviver estas lembranças marcantes".
RW: Como é que faz para chegar a vencer por
esses caminhos... E chegar a se tornar um dos maiores livreiros de Niterói?
Como é que foi isso?
Uma breve pausa - o momento certo para iniciar
as fotos. Ele continua meditando. E a fala surge fluente, com leve sotaque estrangeiro.
Ao fundo o burburinho da Feira do Livro Felicita – 21ª Feira do Livro de
Itaboraí, com intenso afluxo de pessoas entrando. Em volta, a decoração denota
os inúmeros eventos programados para o dia de abertura.
Antônio Gomes Eduardo: Comecei a trabalhar com livros, com um cidadão
francês, que me ensinou a arte de vender. A arte de comprar, etc. e tal. Depois
ele foi embora do país. Ele já tinha certa idade e ele resolveu ir embora para a
França – e eu fiquei na livraria. Que seria a Casa da Filosofia - a primeira
livraria que eu tive chama-se assim. Depois surgiu a livraria Debates, nenhuma
das duas hoje não existe mais. Que era onde é hoje o Plaza Shopping. O Plaza
chegou e comprou tudo. Comprou a livraria e tudo mais. E depois surgiu Livraria
Gutenberg. E depois... A livraria Cervantes... E depois a Livraria... E eram sete!
E agora são quatro! Porque eu tenho um casal de filhos, ambos advogados. E eu
vejo que a minha trajetória não vai ter segmento. Penso que não vai ter! Penso
que... O filho, acho que não! A filha... Talvez... Pensa em administrar a
empresa...
Volta o pensamento para as reminiscências.
Antônio Gomes Eduardo: E... Foi-se vendendo livros! E abrindo lojas!
Vendendo livros! Estamos hoje vendendo livros com a mesma dificuldade que há 47
anos. Sempre uma coisa diante da outra. Sempre uma coisa tão estúpida quanto à
outra. O impossível tão certo quanto o "real", e nós levando isso
sempre com o mesmo entusiasmo como se estivesse começando, não é? Agora, é um
ramo difícil!
RW: Por quê? De que depende o sucesso no ramo livreiro?
Antônio Gomes Eduardo: Porque antigamente não havia livrarias, e não
havia editoras. E hoje? Há muitas livrarias e há muitas editoras! Antigamente o
editor fazia um livro e tirava i mil exemplares...
RW: Que coisa!
Antônio Gomes Eduardo: Quando tirava 3 mil exemplares já era um sucesso!
Hoje, quando você fala em editar um livro, você tira ali cem mil exemplares!
Porque instituiu-se aquela coisa de mandar os livros em consignação.
Antônio Gomes Eduardo: E então os livros vão para as livrarias em
consignação. Quando o livro começa a faltar nas editoras eles começam a pedir
às livrarias que devolvam. Uma livraria tem 1 ou 2 e depois não devolve, senão
vai ficar sem nenhum. A outra vai e tal - mas em compensação, eles já tiraram
dez mil livros, vinte mil livros que foram para consignação. Agora isto hoje
todo mundo vende um livro!
RW: Hoje consignação é um bom negócio?
RW: Certo.
Antônio Gomes Eduardo: O livreiro, quando não tinham consignação, era
mais fixo - era mais como é que diria - era mais forte! Porque ele comprava o
livro que lhe convinha, e ele enche a livraria dele com os livros que ele
entendia que era melhor para a livraria, que ele entendia que de fato ia
vender. Hoje as editoras, por exemplo - eles tiram um best-seller. E eles dizem
para você “Este aqui tem pré-venda, este aqui você tem que comprar, e tal e
coisa...”
RW: Eles fazem um estande também.
Antônio Gomes Eduardo: É... E se eles te oferecem "Ah, se comprar
50 tem um preço reduzido um pouquinho", então você compra. E quando o
livro não presta, você está com cinquenta de um, cinquenta de outro, eles
enchem a tua livraria porque eles pensam assim "Nós vamos encher a
livraria do 'cara' que é para ele não ter ali o livro dos 'outros'". Então
é uma guerra terrível. E depois, além do mais - todo mundo vende livro hoje em
dia, por causa da aldeia global que o mundo se transformou. Então os livros -
todo mundo vende! A aldeia global que o mundo se transformou - quer dizer que
você aqui hoje tanto pode comprar um livro do Brasil no Brasil, como pode
comprar na Europa, ou no mundo todo. O mundo pode comprar o mesmo livro na
Inglaterra, ou pode comprar minha livraria Gutenberg, como pode também comprar
em Londres. Eu, por exemplo, precisava de um livro de uma Editora na Argentina,
que não tinha a autorização para vender no Brasil, e eu pedi o livro aos
Estados Unidos. E os Estados Unidos me mandou o livro por intermédio da
Argentina, que não me vendeu diretamente, está me entendendo? No mundo como é
que isso tudo ficou? Na Argentina, o livreiro fornecedor me falou "Eu não
posso mandar este livro para você porque este livro é proibido vender por uma
editora da Argentina no Brasil". Eu peço o livro a Nova York, e Nova York
só manda o livro pela Argentina.
RW: E qual é o motivo da proibição?
Antônio Gomes Eduardo: Bom, isto é muito comum. É assim muito comum um
autor vender os direitos autorais para uma editora, e vender os direitos
autorais para outra editora. E eles dividem... Eles fazem o "Tratado de
Tordesilhas". "Daqui para lá é meu, daqui para lá é seu". E aí
um não vende no setor do outro. Acontece muito com o livro português e o
brasileiro. O mesmo autor que vende livros no Brasil, o mesmo autor tem livros
em Portugal. E Portugal não pode vender livros no Brasil.
RW: Senhor Antônio, como é que está o setor no mercado de agenciamento
literário? O senhor acha que está "em aquecimento"?
Antônio Gomes Eduardo: Agenciamento literário?
RW: Uma vez que as editoras dependem também de agenciamento literário.
Antônio Gomes Eduardo: Ah, sim! O Brasil tem tido uma evolução muito
grand
e neste aspecto, não é?
RW: Sim?
Antônio Gomes Eduardo: Eles têm uns técnicos, lá fora, que com certeza,
de literatura, devem ler - e com certeza devem de "passar para os técnicos
daqui". Porque tem editora que não erra - "cada cavada, uma
minhoca"... O cara sai para pescar, com o caniço nas costas e pensa,
"ah, mas estou sem isca! Cavada: minhoca. Cavada: minhoca! Tudo que
"o cara" faz - ele acerta! E hoje nós livreiros... Hoje vende-se
tanto livro, tanto! Hoje não há uma criança, que esteja tomando banho, e que
não esteja lendo um livro! A criança na baciazinha de plástico tomando banho e
lendo um livro... de plástico! Antigamente não existia isso: livro de
plástico!! Antigamente se você queria dar um livro de presente para uma
criança, você não tinha! Ah!, quero dar um livro para uma criança de dez anos -
"não tem" - você olhava, olhava para um lado, para outro, tinha O
Pequeno Príncipe. Mas "O Pequeno Príncipe" não é livro para criança,
é um livro de filosofia, não é para uma criança de 10 ou 12anos. Acho que toda
criança deve começar a ler com 10 ou 12 anos para depois começar "a
entender", quando for adulto.
RW: Sim, é isso mesmo.
Antônio Gomes Eduardo: "O menino do engenho", "O Menino do
Dedo Verde" - o primeiro livro que saiu sobre esse negócio de aquecimento
global, pelo Maurice Druon (esse grande escritor francês, não é) que escreveu
muito sobre a história da França. Inclusive lançou um livro para jovem sobre o
aquecimento global - isso vendeu muito na época. Então tinha assim: três,
quatro títulos - para vender - e tal e coisa. Aí surgiu quem? J. K. Rowling a autora de
Harry Potter e aquilo foi "eureca"! Descobriu-se o "mapa da
mina! não só ela - hoje está entre os autores mais ricos do mundo.
Aguarde a continuação...
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