AMOR - CADA CASO É UM CASO

Gosto desta loja, embora seus métodos de promoções mais parecem um 'cassino de compras'. Isto é, faz a gente comprar no impulso. Aproximando-me do caixa, pergunto a quem está à minha frente numa animada conversa com o atendente enquanto passa pilhas de itens apetitosos de chocolate. "A senhora já terminou suas compras?" Ao que ela indignada me responde:

- Por favor não me chame de senhora. Chame de você. - e voltando-se para a atendente explica sonoramente: Estou com quase 60 anos, mas acredito que viver o amor é o que há de melhor no mundo! Falar sobre o amor é muito complicado...
Eu não resisto e entro nesse papo de amor. - Como é isso de estar apaixonada "a essas alturas da vida"? Adorei sua conversa...(sorrisos). Sabe porque? É o seguinte... Nós fazemos um tipo de jornalismo cultural.
- Hum...
- Em que o que interessa ao nosso leitor é mostrar assuntos assim, "o que é bom para ser feliz? "(Não é exatamente o dinheiro, o poder...)
Ela: - É isso ... o amor!
- Sim. Isso. - (Penso na vida e suspiro também)
Ela resume tudo num conceito: - O que segura uma pessoa à vida é viver intensamente o amor!
MW: - Venha vamos tomar um cafezinho e conversar melhor sobre este amor.

Ela traz o cafezinho e agitadíssima, com as emoções exacerbadas pela história que quer desabafar, pergunta no balcão - Posso pagar depois? A atendente concorda e fica prestando atenção, curiosa.

MW: Como é o seu nome?
Kátia...(um gole, provando o aroma e o pensamento voando). Eu fiquei viúva e depois disso achei que minha vida seria só "ficar lendo em casa, vendo televisão". Era só o que eu tinha de opção para mim.
MW: Eu também estou assim. Só que eu desliguei a TV, e  estou lendo muito, em casa.
Kátia: É isso. Ficar lendo em casa "tranquilamente"(tranquilamente entre aspas!). Na verdade, hoje as mulheres se arrumam muito, no fundo o sentimento é de que sempre "quero um alguém!" E comigo esta questão de amor sempre foi muito complicada: meu marido ficou doente, ficou impotente muito cedo, aos 35 anos, e eu tinha 33 anos...
MW: Nossa, que situação difícil!
Kátia: Eu mantive meu casamento fiel até o final. Nesse pensamento de casada nunca beijei ninguém na boca, nunca fiquei com ninguém. Mas o que eu fiz? Como eu sempre acreditei no casamento, eu tirei o foco do sexo fiz o foco das minhas atenções só na "família" nos "Filhos".
MW: E no amor da convivência, do compartilhar juntos o dia-a-dia, como dois amigos?
Kátia: É! Pensando no meu casamento - teve uma época em que tudo foi muito bom... Na minha cabeça era assim: como eu sou espírita, na minha cabeça o que eu pensava era assim,"se eu estou com ele, algum motivo há!" Acho que eu tenho que levar isso tudo assim até o final. Foi difícil? muito! E eu queria mostrar para meus filhos o meu modo de ver a vida: Se você está com alguém e ama aquele alguém, aí não importa se é marido, ou se refere ao pai, mãe, não sei o que! Se ama - você tem que... não descartar como a uma roupa velha! O ser humano não é descartável! "Então você leva adiante aquela situação o tempo que fôr!
MW: Eu penso que é por isso que você está com uma nova chance de amar! Porque você deu amor! Agora é a sua vez de também receber amor! Amor sincero!
Kátia: Ah! Como foi tudo muito complicado. Ele morreu aos 52 anos.
MW: Muito novo ainda!
Kátia: E eu tinha 40 anos. Ele morreu de complicações de diabetes. Tinha problemas circulatórios sérios, foi para diálise.
MW: Ah! Sei que é muito difícil passar por tudo isso!
Kátia: Hoje eu é que sou diabética, sou hipertensa, faço diálise...
MW: Como é que surgiu em sua vida esse novo amor?
Kátia: Ele era meu professor de dança de salão.
MW: Ah! Que interessante é a vida!
Kátia: A vida inteira eu quis fazer dança de salão. Meu marido não gostava de dançar.
MW: E você mantêm-se em forma e com saúde, com esta dança de salão?
Kátia: Não! Quem mantém a minha saúde é ... ter "ele" - ter "esse amor"! Não é a dança...
MW: Ah! E vocês dançam bem, juntos?
Kátia: Não!
MW: Ah, entendi, ele ainda está ensinando a dançar?
Kátia: Logo que nós começamos a namorar, ele desvinculou uma coisa da outra. Ele me disse: não mistura os assuntos. Ele é sincero. Mas ele não fala assim com essas palavras. Ele é: "jesus"! Ele fala tudo por metáfora. Tudo por "parábolas". Ele é o homem da Bíblia, das parábolas... entendeu? Ele conta uma história de alguém, aí depois com o tempo eu passei a entender de aquilo tudo era o modo dele, que ele estava querendo me dizer as coisas!
MW: Às vezes a pessoa não sabe falar os sentimentos. E com o passar do tempo, com a maturidade é mais difícil ainda falar dos sentimentos!
Kátia: Exatamente. E ele é complicado!
MW: Tem certas pessoas que tem esse tipo de impedimento emocional. A coisa mais difícil é falar dos próprios sentimentos!
Kátia: Ele é assim "travado" em expressar suas emoções. Ele é libriano. Ele é do tipo "fechado". Ele vive só. Vive longe da famíia há 30 anos. A família dele é de Belém e ele está aqui... Eu sou virginiana. Também sou omplicada.
MW: Talvez seja os signos ascendentes de vocês, que combinaram.
Kátia: É... Talvez. Desde que eu o conheci eu me apaixonei. Ele não era apaixonado por mim. E fomos ficando amigos, fazendo diversas tipos de atividades juntos. A convivência nos aproximou tanto até que um dia percebemos: é amor. E começamos a conviver juntos. No começo não havia um relacionamento. Não havia nenhum tipo de cobrança. Nesta fase é que eu fiquei doente, e meu médico disse que eu tinha que aceitar a diálise. Fiquei com edema no pulmão, eu respirava mal, a depressão entra. E eu já sou um tipo de pessoa depressiva. Fui descobrir isso de uns anos para cá.
MW: Ah! não aceita essa idéia de depressão. Se teve um dia, hoje não tem mais. Desde o momento que você ama, o amor supera a depressão. Depressão não mais!
Kátia: Hoje eu faço terapia, equilibro tudo. Mas voltando a história, no início era era muito "focado", por isso tivemos brigas, nos separamos, voltamos, várias vezes.
MW: É complicado aceitar que um morava longe do outro, ou o que foi complicado?
Kátia: A relação mesmo! Ele não queria se ligar a ninguém.
MW: Ah, sim, entendi... E agora?
Kátia: Agora nós estamos juntos, não é?
MW: Mas vocês moram juntos?
Kátia: Não, não vivemos juntos. Cada um mora em sua própria casa. Ele tem a dele , eu tenho a minha. E eu agora aceito essa situação perfeitamente.
MW: E ele tem filhos?
Kátia: Ele tem uma filha lá em Belém. Eu moro aqui em Niterói e ele também.
MW: Então está mais fácil de se verem. Como vocês fazem para se ver - vocês marcam que nem namorados?
Kátia: É... a gente se liga todos os dias. Aí ele combina,"vamos sair? "Então está bem, vamos".
MW: Então vocês namoram - coisa que os jovens quase não fazem?
Kátia: Sim, é namoro.
MW: Namoro só, não. É romance!
Kátia: E agora neste final de semana foi a glória da minha vida - depois de quase um ano que ele e meus filhos não se falam - e no sábado ele foi lá em casa, estava no computador vendo as passagens para ele ir a Belém, meu filho ligou para vir para casa - e eu disse: não, você não precisa ir embora só porque meu filho vem aqui. Ele falou: "Então está bem". Até meu filho já tinha me dito. "Mãe, se ele te faz feliz, se você está feliz com ele, tudo bem! É isso que eu quero: que você seja feliz". Sim! Ele me faz feliz 24 horas  por dia! Quando eu casei, com 16 anos eu não conhecia nada de amor.
MW: E agora com essa maturidade como é que você vê o amor?
Kátia: Agora não tem mais nenhuma obrigação, nenhuma pressão.
MW: E agora como é? Você acredita que pode ser feliz, sim?
Kátia: Eu vejo assim, quando a gente começa a vida, tem aquela obrigação de fazer uma vida juntos. Não tenho mais obrigação de casa, nem de criar filhos, nem de pressão alguma. O futuro é agora! É amar e ser feliz. Ele tem toda saúde, mas me diz: a nossa diferença é que eu não quero mais nada da vida, e você quer viver. E eu falei para ele: sabe porque eu quero viver? Sabe porque eu me cuido? É para viver bem, do seu lado!
MW: É, você achou o amor!
Kátia: Nossa eu sou muito apaixonada! Todo mundo me diz: isso é paixãozinha, daqui a pouco acaba. Já são 2 anos que eu sou feliz! E o amor aumenta, e só aumenta!
MW: Deus que abençoe esse amor!
Kátia: O dia que a pessoa parar de amar, parou de existir. Eu sou completamente apaixonada por este homem. Se a pessoa parar de amar, parou de existir. Se não conseguir mais amar... morreu! Se parar de amar, não tem mais que existir.
MW: As pessoas criam muitos tabus... acham que só os jovens amam assim.
Kátia: Eu não gostei de ninguém na minha vida, do jeito que eu gosto dele. E ele? Eu não sei... Penso que ele gosta de mim, bastante! Já que está comigo há tanto tempo... Talvez até goste muito de mim.
MW: O seu depoimento foi muito bonito. Muito forte. Emocionante. Vai emocionar todos os leitores. É uma experiência pessoal, que muita gente precisa ler. A sua estória é muito importante para muitas pessoas que precisam pensar, e querem assumir um amor.








Fotos Equipe Wolff
Texto MW

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