Lições de marketing ou lições de vida?
Com a súbita notícia de que meu jardineiro foi cuidar do filho com câncer terminal - lá fui eu no sábado bem "cedo" para o pátio catar as folhas secas. Não chove há dias e o sol castiga o verde que tanto aprecio. Cheia de benéficos sentimento de amor à vida e as plantas curvo-me com atenção de monge. Vi na TV que este gesto é um exercício abdominal que aplicaram ao gorducho Ronaldinho para vencer etapas de emagrecer. Ótimo. Atividade com muitas vantagens hoje para mim. Empalada pela canção de mil canto de pássaros, (sei que é raridade apreciar estas melodias da natureza livre)... Devaneio - e vou separando as folhas por entre pedrinhas do chão. De repente estou rindo sozinha - é que me veio à lembrança o curso de Marketing que fiz em São Paulo. Por quê?
O renomado professor da Fundação Brasileira de Marketing, recém chegado dos Estados Unidos, relata o curso avançado que participou, junto com uma delegação de empresários brasileiros. Veio impressionado com a genialidade do exercício . Tão simples, tão eficaz.
Imagine que o esperto professor americano fez os brasileiros irem a um galpão de obras, distribuiu a turma em grupos - "Um grupo vai separar parafusos desta desta montanha de peças misturada, outro grupo vai fazer um plano de arrumar as peças que ficaram." Alguns desistiram logo de início, perplexos diante de tantas opções a decidir. Aos que fizeram o serviço até o fim do dia, perceberam a fantástica lição de marketing: o líder é o que sabe fazer escolhas. E agir de acordo com o que planejou.
Desde o momento que ouvi essa estória, achei muito engraçado: no meu modo de ver - simplesmente o americano fez os brasileiros trabalharem de graça para limpar o galpão de obras dele... E ainda o professor ganhou dinheiro para isso. Tem gente esperta para tudo!
Assim humildemente curvada sob a árvore esplendida, o suor escorre por minhas têmporas, em contraste com a boca seca. Uma aragem suave seca minha testa. Sentindo o frescor da brisa, passo a mão no rosto, e continuo trabalhando.
Fiscalizo o pátio palmo a palmo, satisfeita com meus cuidados... mas o vento sopra mais forte e o farfalhar das folhas respondem no ritmo. Ergo os olhos para o céu. Pesadas nuvens se encontraram bem acima da "minha árvore". Que se prepara para o balouçar cadenciado com centenas de folhinhas caindo outra vez. A Natureza quer o recomeço. Caem folhas por todo lado. Vai chover já, já... Assim é o Rio de Janeiro, o céu, o azul é agora - e a seguir? Chuva? Quem sabe aí não teremos mais tantas folhas secas... E agora decido rápido: "Vou chamar o jardineiro da Fábrica de Cerâmica." (É o melhor jardim da cidade).
Decisão rápida? Então o exercício de marketing funciona?
Apresso-me a recolher meus utensílios de jardim com a garoa que desce suave como um manto sobre as árvores. Ouço um chamado ao portão, meu jardineiro vem dizer - "acabo de saber que meu jovem filho morreu. Grossas lágrimas descem sobre aquele rosto tisnado e se misturam com a chuva.
Por entre as grades do portão nos entreolhamos num silêncio que é oração. O tempo passa sem entendermos... Em que momento de suas escolhas deram neste triste resultado? O pai diz: "Cedo ele saiu de casa, foi trabalhar no Comperj. Casou, teve uma filha, já estava construindo a própria casa. Ele sempre sabia dentro dele o que fazer. Sempre decidiu sozinho tudo o que queria na vida dele."
Fico ali um instante, agora sobre forte chuva, meditando.
Decidir é muito importante... Não basta fazer as escolhas que queremos. Há um ingrediente a mais...
É o tempo que nos mostra a resposta: Temos que estar em harmonia com o conjunto, com o Todo.
Texto MW//
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