Jornalista Reinaldo Wolff conversando com o famoso Cirurgião Plástico Dr. Luzimagno Heringer - parte 2
RW: É importante pensar em termos de futuro, para a tranquilidade profissional. Agora... Que elos de ligação o senhor vê entre a medicina e a política? Tem colegas seus em política...
Eu, em particular não seria político. Mas o médico que se torna político, temos muitos exemplos aí, o próprio Governador de São Paulo era anestesista (Alckmin). Geralmente o médico se torna político porque a maioria começa a fazer algum trabalho social, torna-se muito conhecido numa região.Às vezes ele vai ser um vereador, e tal... Infelizmente 90% deles, com o tempo, abandona a medicina e vira político profissional. Alguns continuam atendendo o resto da vida. Acho que um médico não deveria abandonar sua carreira. Embora ele possa fazer muito na política. Hoje, o atual Ministro da Saúde, ele estudou comigo na Faculdade. A gente jogava bola juntos. Ele era uma turma antes da minha... É uma pessoa boa. Ele fazia, se não me engano, Homeopatia - fazia uma medicina mais social. Quer dizer: pelo menos uma pessoa dessas tem capacidade para ajudar a classe menos favorecida.
RW: Pelo de desenvolvimento de seu humanismo...
Exatamente. Então o médico, tem muito a ver com a política. Por isso tem tanto candidato médico.
RW: O que faz o senhor ver assim, a capacidade desses políticos de mudar o país, e a capacidade em relação à área médica, a exemplo: calamidades que acontecem bem próximo daqui, Nova Friburgo. Eu vejo os médicos sempre com extrema necessidade de dar apoio a estas pessoas. E vejo, por outro um risco muito grande, na atualidade, em relação a "órgãos". Como o senhor vê estas situações?
Já há muitos anos, quando foi se formando muitas Faculdades de Medicina, o médico foi perdendo um pouco o seu prestígio... Existe uma "culpa" nossa também,por tudo isso! Pelo esfriamento da relação médico/paciente... Não há uma política de Saúde séria, de 30 anos para cá, não se tem visto uma política de valorização da classe médica, ou da classe da saúde, de um modo geral (enfermeiros, etc.). O que a gente nota (estamos falando aqui de aposentadoria) o médico não tem uma segurança... Existem setores da medicina, agora, que quer colocar a medicina como carreira de Estado, justamente para ter segurança!
É, talvez fazer: "a carreira médica". É a proposta de uma carreira de Estado. Ou que o vínculo fosse somente pela União! E a União repartisse aos Estados e Munícipios. Seria mais ou menos essa ordem. A carreira de Estado seria alguma coisa nesse teor. O médico seria então um "funcionário" - fazendo o concurso e ia ascendendo na carreira. Como se fosse com "plano de cargos e salários"...
RW: Certo!
Mas com um salário digno para a pessoa! E o médico então ao chegar aos 60, 70 anos vai se aposentar com aquele valor. Se compararmos com um juiz - até um político! Esses que ficam 8 anos, deputados, senadores, eles já se aposentam! E se for o caso do médico, hoje, do modo como está - ele num município trabalhando a vida inteira, vai se aposentar com 1 mil reais por mês!
RW: O mesmo caso do médico e dos advogados, aposentam com 3 salários mínimos!
Mas eu estou falando assim nos termos do emprego público deles, o de juízes, desembargadores - o salário é diferente...
RW: Ah! O salário é totalmente diferente!
Os advogados normais devem estar sentindo mais ou menos as mesmas dificuldades, como o caso dos médicos.
RW: Como o senhor sente isso tudo em relação à família - vivendo a sua vida profissional e conciliando com os laços familiares? E também mais uma pergunta - O senhor teria vontade de ser escritor e professor de Universidade?
~(hum)... Leve sorriso~
A família, no início é um pouco difícil conciliar - muitos profissionais continuam dando pouco tempo para a família. Tem que saber dividir isso aí! Hoje eu consigo dividir muito bem... Fiz os meus horários de tal forma que eu possa ficar um pouco mais com minha família! E... A segunda pergunta, imagino escrever alguma coisa... (Mas não sou escritor) não tenho essa vocação para escritor, não! Mas um dia imagino sim escrever alguma coisa. Professor Universitário, sim, já tive vontade. Mas realmente, também hoje é uma carreira muito difícil, eu tive vontade, eu vim de Hospitais Universitários. Hoje os Hospitais Universitários estão "caindo aos pedaços"... É querer fazer as coisas, e não poder fazer o que deve (há raras exceções) hoje eu não tenho mais aquela vontade de fazer um doutorado... Sei lá, alguns amigos que gostam desta parte de ensino. Eu gosto de ensinar no dia-a-dia. Se vier alguma pessoa que está começando, até há um rapaz que terminou a residência agora, a gente fica então dando "uns toques aí". É assim, desse jeito eu gosto de ensinar!
RW: Sim. O senhor participou junto da equipe do Dr. Ivo Pitangui, de cirurgia plástica?
Eu não fiz na clínica dele... Eu fiz com o chefe da clínica dele, era o chefe do Antônio Pedro, Dr. Hamil. Mas todo mundo no Rio de Janeiro sempre teve esse contato com o Professor. Porque se frequenta os congressos, os cursos, faz estágio em outras clínicas, na formação você vai um pouquinho para cada lugar, acaba conhecendo todos, entendeu? De um modo geral o que ele ensina, quem está frequentando congressos, e tal, aprende também!
São vários! Mas de vez em quando a gente se surpreende! O grande prazer, na minha área por exemplo, que é cirurgia plástica é você poder tratar essas pessoas de grave sequelas e queimaduras... Salva, primeiro salva, e depois tratar! Câncer de pele, essas coisas assim... Então a gente tem o reconhecimento dessas pessoas que você salvou, que tratou... Tem gente que me traz galinha, traz ovos... (É engraçado) Eu acho bonito... E de vez em quando a gente recebe um cartão de uma pessoa dizendo, às vezes faz-se uma cirurgia normal e aquilo muda a vida da pessoa, não é?
RW: Sim!
Aí recebe o cartão dizendo que você mudou a vida dela... Acho que isso aí é gostoso!
Mas a gente faz esse trabalho por prazer de fazer bem feito, sabendo-se que nem sempre vai agradar a todo mundo, não tem jeito, entende? A medicina não é matemática.
~(A voz límpida, bem articulada, envolveu-nos a atenção por inteiro, e totalmente absortos no diálogo tão sincero do Dr. Heringer - pena que o estridente toque do telefone interrompe, chamando aos compromissos do dia. Ele avisa à secretária: "Daqui a pouquinho eu falo com ela".)~
RW: Dr. Heringer, sei que o senhor está sempre em congressos médicos, quais são os mais recentes que o senhor esteve?
Estive em Nova York - que era só de "cirurgia de face". Aí recentemente tive a jornada carioca de cirurgia plástica, estive também na jornada paulista de cirurgia plástica e talvez eu vá agora no mesmo Congresso de Nova York de novo! Mas é quase junto ao do brasileiro!
RW: Quais os tipos de especialização em cirurgia plástica que lhe são mais atuantes como médico, em que o senhor mais atua? Quais os tipos de cirurgia mais solicitadas?
No país inteiro, se for fazer uma estatística hoje, a lipoaspiração (em termos de cirurgia estética) é a mais realizada... Mas isso muda um pouco, de profissional para profissional. No nosso caso aqui na clínica: a plástica de mama, e de abdômen são as mais solicitadas.
RW: Que mensagem de otimismo o senho dá aos nossos leitores?
Nunca desistir dos seus sonhos! Correr atrás daquilo que você almeja... As coisas nunca vão cair do céu pra você... Tem pessoas que tem sorte e às vezes desperdiça aquele momento... Então: primeiro, correr atrás daquilo que você gosta, dos seus sonhos. E depois, não jogar fora as oportunidades.
As vezes as oportunidades, aparecem e você tem que agarrar essas oportunidades! E apesar das dificuldades da vida, nunca desistir!
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