Carlos Antônio Montechiari Vanelli em entrevista exclusiva ao jornalista Reinaldo Wolff

Um dos principais empresários no comércio de ramo têxtil em Nova Friburgo, nos mostra sua trajetória de vida bem sucedida. Narra sobre seus desafios iniciais e aconselha quem quer ser empresário nos dias atuais:

"Acredite no Brasil!"


Carlos Antônio: O próprio Silvio mesmo não desiste. Ele não diz "parei".
MW: Mas vocês tem algo a dizer. Muita gente tem esse ramo de negócios.
Carlos Antônio: É...
MW: Mas o de vocês é um sucesso retumbante sempre. Então existe algo especial - uma mágica especial no pensamento de vocês... que deu certo!
Carlos Antônio: É - a gente procura sempre atender a todo mundo, e ter tudo para todo mundo...
MW: Tem tudo mesmo! Eu já morei em SP e vinha comprar aqui. Uma vez um vendedor desta loja perguntou pra minha mãe "Mas a senhora mora em SP? Vem comprar aqui porque?". É isso - aqui tem tudo. E aqui é muito bom de comprar. 
Carlos Antônio: A gente procura ter tudo. A gente só não tem a agulha, a máquina, a costureira - porque o restante a gente procura ter de tudo para a pessoa não sair, comprar tudo num lugar.
(Reinaldo se aproxima)

RW: Satisfação em vê-lo. Tudo bom? Prazer em vê-lo. É bom ver o senhor sempre feliz, sempre alegre. Isso é muito importante: ter uma energia pessoal positiva. E a minha pergunta é: todo o sucesso de um negócio tem um segredo. Pois geralmente os negócios, digo de empresas iniciando, duram 5 anos. Como é que vocês fizeram pra durar tantos anos assim? Quantos anos estão aqui?
Carlos Antônio: Só aqui eu tenho 44 anos, nesse ramo. Mas o meu tio - Silvio Montechiari - começou fabricando chinelo. Eu comecei ajudando ele a fabricar chinelo. No ramo de confecção nós já estamos há 44 anos. A gente procura sempre ter tudo na mesma loja.
RW: O Comendador Montechiari é o teu tio?
Carlos Antônio: É, Silvio Montechiari.
RW: Então você é primo do Eudes Cordoeira?
Carlos Antônio: É, sou primo.
RW: Ele é Montechiari também. 
Carlos Antônio: E como eu dizia, a gente procura ter tudo. Ele é sempre um grande vendedor, e eu sempre do lado dele. Igual hoje - estamos com o país na crise, mas aqui nós estamos acreditando no país. Está bom. Pensamento positivo. Porque você ouve todo mundo falar "Ah, tá em crise"... Mas nós aqui estamos acreditando, estamos comprando, estamos vendendo Estamos acreditando. Tem muita gente que está diminuindo os negócios - aqui nós estamos acreditando nesse Brasil nosso.
RW: Como é que foi sua trajetória de vida até chegar aqui?
Carlos Antônio: Ah, isso aí foi... -(ele olha ao longe, relembrando e revivendo)- Nós começamos vendendo retalhos da Triunfo. Começamos pequeno. Depois fomos comprando... Comprando coisas de 2ª, da Triunfo. Aí fomos comprando tecido. Depois fomos expandindo. Hoje nós compramos do Brasil todo. Tecidos de São Paulo, Santa Catarina, Nova Friburgo mesmo, dos que fabricam em Friburgo. A gente procura até dar preferência a quem fabrica em Friburgo. Os outros artigos a gente compra de fora. 
RW: O Montechiari, já diz no nome, é italiano. O senhor já conseguiu a nacionalidade?
Carlos Antônio: Não, ainda não fiz nada sobre isso. Mas eu sou italiano duas vezes. Sou Montechiari e Vanelli.
RW: É italiano de pai e mãe!
Carlos Antônio: É...
RW: Minha esposa também é italiana de pai e mãe.
Carlos Antônio: Minhas primas, todo mundo fez a documentação de nacionalidade italiana. Eu tenho tanto trabalho que a gente nem consegue ver outras coisas assim.
RW: Não para.
Carlos Antônio: É, não pára pra ver outros assuntos.
RW: A vida exige de nós uma dinâmica muito grande! O grande segredo é saber dosar - para que não interfira na questão de saúde!
Carlos Antônio: A saúde eu dou atenção assim: chega 6ª feita eu desligo aquele botão, "olha!". Eu tenho uma fazenda em Duas Barras -(ele esboça um sorriso largo só de pensar)- Eu vou para lá, pesco, ando de moto.
RW: Curtir bem a vida!
Carlos Antônio: Lógico!
RW: Como avalia a situação atual do país para os seus negócios?
Carlos Antônio: É... digo que: não é bom. Muitos impostos, tudo que acontece é que os governantes nossos só sabem de "tem algo ruim para eles?" - eles jogam o imposto em cima da gente, e ficamos pagando. E cada vez fica pior pra gente vender a mercadoria. A concorrência de fora é grande.
RW: E em termos de empreendimento, já que os senhores são atacadistas de tecido, qual é o maior destaque deste empreendimento que já conseguiram?
Carlos Antônio: Destaque no sentido de mercadoria? Hoje é a linha fitness que está comandando. A lingerie já foi forte, atingiu 90%. Mas hoje a fitness está 60% e lingerie 40% das vendas. 
RW: E que tecido é este?
Carlos Antônio: O tecido é suplex, a maior parte. Para calças, blusas. 
RW: Sr. Carlos Antônio, qual a sua melhor habilidade neste ramo de lojas que está atuando?
Carlos Antônio: Eu sou o comprador. Eu compro e as maiores negociações são comigo. E depois mostro pro Silvio, porque ele que dá a carta final. 
RW: Como o Sr. faz para ter esta percepção de quando e o que comprar ?
Carlos Antônio: A gente sempre procura saber o que está na moda, e o segmento da moda. Nunca comprando muito "cor que vai lançar". Agora é perigoso você estar comprando porque passa o carnaval, fevereiro, aí já vem outras cores. E não comprar pra deixar estoque, se não vai ter prejuízo. 
RW: O senhor que decide o que vai ser comprado na loja?
Carlos Antônio: Sim, sou eu que decido o que vai comprar, o que tá vendendo, o que não tá vendendo. A gente tem um sistema aqui dentro, no computador, que analisa e também de cabeça, pela prática, não é mesmo?
RW: Como entende os clientes jovens, adultos, pessoas simples, pessoas ricas, que compram em sua loja? O senhor distingue o mercado a cada um desses segmentos?
Carlos Antônio: Não. Nós aqui somos assim, tratamos do rico ao pobre tudo do mesmo jeito. Somos todos iguais. Todos são clientes. O que compra uma agulha hoje pode comprar amanhã duas ou três toneladas de tecido. 
RW: Nós sabemos que a China tem feito uma concorrência predatória. Ao meu ver, a concorrência deles é um marketing de guerra. Porque na hora que derrubar a empresa nacional, eles vão começar a subir mais. 
Carlos Antônio: Concordo. Eles acabaram com a fiação brasileira, agora, e estão impondo o preço deles. Primeiro vieram com um preço super baixo, que a indústria brasileira de fiação quase todas pararam. E agora com o dólar lá em cima, o preço deles está um absurdo! E não temos empresa pra comprar fio hoje dentro do Brasil. Então temos que morrer na mão deles. 
RW: Existe algum tipo de melhora no seu segmento?
Carlos Antônio: Melhora - nós estamos a longo prazo, não vai ser agora a curto prazo. Mas agora a fiação brasileira já está voltando a trabalhar. E o mercado de lingerie da China caiu. As magazines estão voltando a comprar em Friburgo porque o preço da China, devido ao dólar lá em cima, o de Friburgo já está compatível ao deles. 
RW: E a China nem sempre tem produtos bons, né?
Carlos Antônio: Não. Lá eles têm alguns produtos bons. Mas a maior parte... Pra você ver, eles trabalham 24 horas por dia, não param. Não tem como fazer concorrência. Eles não tem leis sociais. E o maior peso no Brasil são as leis sociais, quem tem uma firma sabe que é muito alta. A China não tem essas leis!
RW: Eu observei que aqui em Friburgo tem "Engenharia Têxtil", isso representa uma ideia promissora pro setor, não é?
Carlos Antônio: Sim, pro setor, pra todo mundo. Ver se volta ao que era antes. Não havia este curso antes, o SEBRAI tem ajudado muito.
RW: Agora eu pergunto - Sr. Carlos Antônio, que mensagem o senhor dá para as novas gerações?
Carlos Antônio: Acreditar nesse país. O Brasil é muito rico. Eu acho que nós não precisamos de outros países, se fechar todas as fronteiras nós não vamos precisar de uma gota d'água de ninguém. O jovem tem que acreditar no Brasil.
RW: O que o levou a despertar a vocação de comerciante?
Carlos Antônio: Ah, isso aí foi o meu tio! Eu comecei com 12 anos nesse cenário e eu era ferramenteiro. Ele me chamou "Vamos viajar?", aí comecei a viajar com ele e até hoje nós estamos juntos. Há 44 anos aí nesse comércio. 
RW: Dá para acreditar na livre iniciativa do Brasil de hoje? 
Carlos Antônio: Eu vou acreditar. Estou acreditando!
RW: Agora me fale um pouco da sua vida pessoal. Como foram suas amizades, seu envolvimento com a cidade. Nascido e criado aqui?
Carlos Antônio: Nascido e criado aqui. Comecei a trabalhar com 12 anos, com carteira assinada. As amizades foram depois de muita viagem. Gosto de ter muitos amigos. Gosto muito de uma roça, ir pro meio do mato. Já fui corredor de motocross. Já casei 3 vezes, tenho 5 filhos! Dois netos maravilhosos. Meus pais ainda estão vivos, mas tenho meu tio como um pai. E na hora de uma separação, ou um momento assim meio perdido... ele está lá botando a mão na minha cabeça "Oh, meu filho!"...
MW: Uma grande afinidade espiritual que vocês dois têm! Que bonito isso!
RW: Um dos principais fatores de ser bem sucedido, não seria então a harmonia?
Carlos Antônio: É a harmonia! Querer bem a todo mundo. Eu sou desse tipo. Se não puder ajudar uma pessoa, atrapalhar não atrapalho. Me preocupo comigo e com a minha família. Porque muita gente se preocupa com o que o outro tem e esquece de ganhar o que precisa ganhar. 
RW: E será que não seria essa uma pergunta crucial para o senhor que é empresário - para que os empresários primeiro, antes de escolher quem vai ser seu funcionário ou seu sócio, procurasse a harmonia que tem com essas pessoas?
Carlos Antônio: Com certeza. Se não tiver essa harmonia não adianta. Todo mundo tem que dar de si um pouco pra o negócio funcionar.
RW: E o que precisa pra ter essa harmonia? Pessoas simples?
Carlos Antônio: Pessoas simples. Nossos funcionários - todo mundo começou no estoque e foi subindo. Tem que ter humildade de atender todo mundo bem.
RW: E manter a alegria no coração.
Carlos Antônio: Isso aí.
RW: A Equipe Wolff está honrada com sua entrevista. Muito obrigado. Sucesso!


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