Dom Roberto Paz em entrevista exclusiva à Equipe Wolff
Conhecemos o sr. Bispo, nos dizendo em
um português sonoro e leve sotaque de gaúcho: “Sou do Uruguai, falo
perfeitamente o italiano e o francês, recentemente estive no Rio Grande do Sul.
Atualmente sou Bispo de Campos”.
RW: Sr. Bispo, é um
prazer, uma honra estar aqui na presença do sr. e com devido respeito, eu quero
fazer algumas perguntas!
Bispo: Claro.
RW: Como surge, na sua
opinião, uma vocação religiosa?
Bispo:Surge do mais recôndito
da alma, quando digamos, procuramos a verdade, procuramos a beleza, ou
procuramos o bem. Toda a busca da transcendência encontra a Deus. Através de
uma tradição religiosa, o católico vai encontrar a Jesus Cristo na sua Igreja.
Então aquele católico que realmente tem uma vida cristã intensa, pode descobrir
o chamado à servir a Igreja.
RW: Ser padre é vocação
ou é missão? E como foi para o sr. a sua carreira até chegar a Bispo? Eu me
refiro a carreira religiosa.
Bispo: A palavra
carreira não é adequada. É um itinerário. É uma jornada de fé, na qual a gente
se entrega por inteiro. Que sem dúvida, é a própria Igreja que vai nos creditar
a entrada ou não às ordens. Tanto assim que ninguém fica padre por devoção, é
justamente uma vocação social, com matrimônio. A gente se ordena para servir à
Igreja. Então é a própria Igreja que através de quem serão os próprios Bispos
diocesanos nos chamarão. Primeiroo presbitério e depois o Papa, através dos
mecanismos de recrutamento dos Bispos. Elevai pensar se a gente pode servir à Igreja
como Bispo. É um Ministério, o Terceiro Grau da Ordem, digamos, Sagrada. Então
o importante não é o Grau da Ordem, ou onde estamos servindo. Mas como servir.
Com fidelidade e amor.
RW: Ao Papa, chamamos
de Santidade. Ao Bispo, como devemos nos dirigir, senhor?
Bispo: Olha, ao Bispo,
Excelência. A forma de tratamento cortês, que está no protocolo. Mas como dizia
Sto. Agostinho, “Com você sou Cristão, para você sou Bispo”. Quer dizer, o mais
importante é que somos Cristão, e irmãos.
RW: A carreira, no que
me referi no início, jamais seria por forma desrespeitosa. Mas no sentido de
carreira religiosa, no esforço contínuo, como Jesus fez, para deixar um legado.
Porque o Papa e seus seguidores, todos nós seguidores, temos que ter um sentido
de consciência de uma carreira religiosa. Como é essa consciência?
Bispo: Eu diria – temos
que ter consciência da necessidade de crescer cada vez mais no amor, e nas
disponibilidades, ou seja, no servir. E, o que a Igreja determinar, a gente
assume. Seja trabalhar na China ou na Indonésia... O que importa é responder
positivamente a Cristo que, através da Igreja, nos designa um trabalho – que é
sempre para a salvação das almas.
Bispo: Sim. A minha mãe
e a minha irmã, rezaram muito. E eu acredito, também, que outras pessoas de
outras gerações também, porque nós temos uma visão muito limitada de família. A
família “nuclear”, só – pai, mãe e filhos. Na verdade, a família é uma
genealogia.
RW: Sim, como uma
árvore.
Bispo: Sim, o senhor
disse bem. É como uma árvore.
RW: Isso trouxe um
sentido de “opção”, ou o senhor sentiu internamente, como uma obrigação para
com Cristo?
Bispo: Eu fui
descobrindo na doação cada vez maior à Igreja, que eles me solicitavam uma
estabilidade. Nessa doação, e por isso, assumi com muita alegria o “ser padre”.
RW: O senhor, quando
criança, estudou em colégio de padres?
Bispo: Sim – irmãos,
Sagrada Família.
RW: E isso influenciou
a sua decisão?
Bispo: Sim. Agora, não
se sabe o quanto, não é? É difícil dar a dose exata. Mas eu entrei no Seminário
já mais adulto.
RW: Quando despertou
esta consciência dentro de si?
Bispo: Foi mal ou menos
na década dos 20 anos. Nessa idade já, depois dos 18, eu comecei e que a gente
tem o projeto de vida, e começa a ser mais definido nesta época...
RW: Surgiu por um
profundo amor a Cristo, não é verdade?
Bispo: Sim! E também
pelas pessoas que me rodeavam – os jovens, o desejo de acolher mais os jovens,
e o desejo de responder mais aos desafios daquele momento. ´
RW: E como é o
treinamento religioso católico? É uma universidade?
Bispo: Eu diria – é uma
“Sequela Christi”, uma experiência de seguimento de Cristo – que nos leva, é
claro, a uma formação intelectual, que o senhor colocou com a palavra
“universidade”. Mas também tem muita importância a formação espiritual, a
formação humana, a formação comunitária – porque o Padre é um ser para os
outros. E tem que estar em comunicação e contato com todas as pessoas. E,
finalmente, a formação missionária – para saber desapegar-se dos lugares.
RW: E essa é a maior
dificuldade, não é? Porque as pessoas são muito apegadas...
Bispo: Exato. Apegadas
a um lugar... É difícil se desvencilhar, às vezes, desse apego afetivo.
RW: Nisso há algo em
comum com outras religiões, como por exemplo, o Budismo – que prega o desapego
para estar ligado a Deus. Onde Jesus disse: “Vai e vende tudo que tens e me
acompanha”. Desapega de tudo para seguir ao ideal Crístico.
Bispo: Exatamente. Ao
jovem rico, que lamentavelmente não soube fazer essa opção. E por isso Jesus o
olhou com muita tristeza – com amor e com certa tristeza...
RW: A riqueza material
dele era pobreza espiritual.
Bispo: E com essa
pobreza espiritual ele não era livre.
RW: O ideal é ter a
riqueza e saber usar ela para a riqueza espiritual.
Bispo: Sim!
RW: Como é a
administração de uma paróquia? É muito complicado na sua opinião?
Bispo: O que é
complicado é a estrutura da paróquia hoje. Ela precisa se tornar uma comunidade
de comunidades. Quer dizer, como toda estrutura, ela deve estar em função da
pessoa. E muitas vezes as nossas paróquias são paróquias de centenas de
pessoas, milhares de pessoas que não se conhecem. E o Cristianismo é a religião
do amor, da fraternidade.
Bispo: Exato. Do
serviço, da aceitação de um para com os outros.
RW: E o Amor de Deus,
para com os outros...
Bispo: Exato. Isso que
nós chamamos de caridade. Ágape.
RW: Nós conhecemos o
Pe. Marcelo Rossi, em SP.
Bispo: Eu também. Eu o
conheci quando ele vai a Porto Alegre, regularmente, para tratar de seu
coração. Porque ele é cardíaco.
RW: Nós frequentamos uma
academia de esportes em SP, em que ele erapersonnaltrainer. Era um clube de
judeus. Nossa família é descendente da Pomerânia. Só que nós pregamos uma forma
de viver, de pensamento universal. Onde Cristo é a essência, para nós. Porém
fomos frequentadores do clube dos judeus. Já frequentamos um clube de árabes. E
hoje moramos numa comunidade afrodescendente. Para saber o que as pessoas
pensam. Nada contra ninguém.
MW:
Não fomos nós que escolhemos. Foi Deus que nos colocou nestes caminhos.
Bispo: Ah, é muito
válido. Porque se está unindo à fraternidade universal.
RW: O absurdo é eles
terem sido o berço de onde chegou Jesus, e não crerem em Sua Essência.
Bispo: Digamos, uma
coisa são os sionistas do Estado de Israel, e outra coisa são os judeus. E os
judeus – tem bons judeus também. Judeus justos. Judeus que amam a todos. Agora,
os sionistas, como toda a, digamos, religião coligada à política, se
endurece.
RW: Defina o que o
senhor pensa sobre Direito Canônico.
Bispo: O Direito
Canônico é o direito da Igreja para se estruturar, e se organizar. Uma
sociedade que tem um bilhão e trezentos milhões de seguidores pertencentes a
ela. Então é necessário fazer justiça a todos. É evidente que o Direito
Canônico é muito diferente do Direito Civil. Reza o Cânone 752, o último do
código – que a lei suprema da Igreja é a salvação das almas. Mais importante
será sempre colocar qualquer pessoa diante do Pastor, e não diante do texto
frio. A Lei Canônica tem que ser uma lei flexível, equitativa, e amorosa.
RW: Onde é bastante
difícil, porque – como cumprir com o conceito do Direito, sem cumprir com a
coercitividade que o próprio Direito tem?
Bispo: Sim, mas a
coercitividade pode ser social e moral. E não, necessariamente, da força
física.
RW: E que vai doer
muito mais na alma daquele que erra do que daquele que compreende o ser humano.
Bispo: Claro que sim. E
ao mesmo tempo servirá como uma motivação. Porque veja – o Direito Penal da
Igreja, é o Direito Penitencial que leva a pessoa a converter-se.
RW: E espiritual, com
todo respeito, e não querendo falar pelo senhor.
Bispo: É claro.
Converter-se e ligar-se a Deus.
RW: Mas com certeza o
senhor tem grande vocação. A gente percebe isso.
Bispo: (sorriso) – Eu
creio que conhecer a Deus é a meta de cada um. É uma Graça – não é mérito
nosso.
RW: Política e Religião
- andam juntos? Como é sua opinião sobre a Igreja e a Política Atual?
Bispo: Andam juntos,
mas são independentes. Quero falar aquela famosa distinção de Jesus, “Dai a
Cézar o que é de Cézar, e a Deus, o que é de Deus”. Quer dizer – o Ocidente
teve, não o dualismo, mas a dualidade, o reconhecimento das duas esferas...
Quando estão confundidas – Igreja e Estado – não há liberdades. Haja vista na
religião, por exemplo, a Charria, na religião muçulmana. Quem não é da religião
muçulmana, vira um cidadão perseguido, com direitos tolhidos. Então, o Estado,
pelo Direito natural, deve aspirar o bem estar social da pessoa. A religião
deve oferecer o bem estar espiritual. Há uma convergência entre as duas? Há.
Devem estar em harmonia e colaboração? Sim, mas cada uma tem um objetivo diferente.
RW: Religião, do latim
é Religare.
Bispo: É, Religare.
RW: E ligar o homem a
Deus.
Bispo: Mas claro, há
religiões que são mais individualistas e outras são mais societárias, ou
comunitárias. O Cristianismo é comunitário. Sempre vai ter um efeito à
religião, porque aspira o quê? A fraternidade, a igualdade, a caridade.
RW: Eu fiquei contrariado
quando houve uma reunião em uma faculdade, onde estou estudando, e que foram
falar da Maçonaria, e quiseram falar mal dos católicos. Eu me retirei da
conferência que estavam fazendo. E o reitor da faculdade disse “Onde está indo?
Você tem que aprender a ouvir, mesmo quando não gosta”. Ai eu falei “Olha, a
minha madrinha – não é a religião que eu sigo - mas ela se tornou Testemunha de
Jeová. Jamais eles falaram Deus, com “d” minúsculo. Eu não posso admitir que
falem mal dos católicos. Porque a minha esposa é católica. Minha mãe era
católica. Então não faz sentido para mim alguém que é de Cristo falar de quem
quer que seja – pois contraria os princípios de Cristo. Eu estou contrariado
com isso. Não posso aceitar isso”. Aí na outra semana, na aula, ele perguntou
“Bom, os evangélicos são como água e óleo – nunca se misturam. Desafio alguém
aqui, que me responda como dar solução a isso”. Eu falei pra ele “Eu dou a
solução. Basta ferver. Porque a partir do momento que ferve, vai encontrar a
essência”.
Bispo: Sim. É um
fenômeno científico químico. Mas veja, a solução é o ecumenismo.
RW: Sim, mas é isso que
eu quis dizer.
Bispo: Não é verdade
que não estamos unidos.
RW: Mas na essência, o
que há de comum entre ambos? É a essência de Cristo!
Bispo: Sim. O batismo,
a bíblia, a Palavra de Deus, as virtudes da fé, a esperança, a caridade. E como
dizia João 23 – que vai se tornar Santo ano que vem – “Há muito mais coisas
convergentes, entre todos os cristãos, do que elementos que nos separam...”. Os
elementos que nos separam são totalmente secundários, e, às vezes, culturais.
RW: Sim, e não tenho
razão, senhor Bispo? O que importa é a essência de Cristo. Porque não se pode
perder a essência por ideologias.
Bispo: Não se pode
perder a Cristo. O ecumenismo é a busca da humildade entre os cristãos. Claro
que isso requisita como uma conversão espiritual. Deixar de lado aquilo que é
acessório, e uma grande caridade, porque sem amor não se dão passos rumo à outra
pessoa – e, às vezes, justamente no diálogo que supõe acolher com confiança o
outro, é que a gente vai vendo que a verdade sempre é maior que as próprias
igrejas, ou que a própria confissão.
RW: Cristo é a Verdade,
é a Vida.
Bispo: O caminho é a
vida, exatamente.
RW: O senhor sabe, lá
em Brasília, onde há o Santo Sudário na Catedral – eu me ajoelhei, me prostrei.
E orei! Fiquei inteiramente arrepiado, porque senti que ali estava o Santo
Sudário de Cristo! Então como eu poderia ser arrogante, diante da Grandeza
Espiritual de Deus, que estava ali presente? Então a minha total humildade!
Porque essa humildade demonstra o amor, e a pureza.
Bispo: Claro. A
verdadeira religião não se leva isso. Nos sentimos cada vez mais pequenos, como
uma criança, e por isso mesmo, compassível com os outros. E como o senhor disse
bem, a verdadeira religião nos leva nunca a julgar ninguém. Isso é só para
Deus.
Em
off:
RW: Senhor Bispo, eu
queria lhe fazer um pedido muito especial. O Padre Marcelo Rossi, já tinha
dentro dele a vocação. Mas duas pessoas ajudaram ele. Sem arrogância – com
total humildade no meu coração – uma sou eu. Estava com ele na Hebraica, no
fit-center. E eu disse pra ele “Você tem que seguir o que está no seu coração.
Se você quer ser padre, porque não se entrega de corpo e alma ao seu ideal?”. E
segunda pessoa que esteve junto também, foi a nossa mãe, Ana Maria Wolff. Não
sei se o senhor lembra dela. Ela era uma estudiosa de parapsicologia. Esteve em
vários canais de televisão...
Bispo: Ana Wolff? Ela
trabalhava também na psicologia do profundo...
MW: Sim, ela escreveu
livros. E essa página que ficou com o senhor, “Creio em Mim porque Creio em
Deus”, é de autoria dela.
RW: E, senhor Bispo, o
que eu gostaria de pedir é que nós queremos lançar um livro de orações com
gravações e música. E gostaríamos de gravar junto com o Padre Marcelo. Não é
arrogância do nosso coração. Inclusive queremos a presença do senhor.
MW: E se possível
transformar estas orações em música. Porque nós temos compositores em nossa
equipe.
Bispo: Eu conheço o
Padre Marcelo. Pode falar de mim.
RW: Nós queríamos que o
senhor nos ajudasse a contatar diretamente com ele.
Bispo: Vou tentar,
porque eu estou em Campos de Goytacazes.
MW: Mas se puder mandar
um recado, um email ou fazer um telefonema, para que ele se coloque em contato.
Bispo: Está bem!
RW: O nosso coração é
cheio de amor para com Cristo. Pecado, todos os humanos têm. Mas o importante é
não perder o ideal.
Bispo: E a Graça é
superabundante. A presença de Deus em nós é muito maior. Deus os abençoe! Foi
um prazer falar com vocês.
RW: Estamos encantados,
com todo o respeito, como se diz em castelhano.
Bispo: Sí, sí. (…).
MW: O senhor morou em
Porto Alegre?
Bispo: Sim, morei desde
1982 a quase 2000.Porque eu fui ordenado padre em Porto Alegre, na Catedral, e
depois, Bispo, na Catedral também. E conheci também um Pastor Wolff. Era
luterano.
RW: Sim, nós somos
luteranos de origem!
Bispo: Sim!Ah, não me
diga!
RW: Estamos muito
honrados de conversar com o senhor!
Bispo: Igualmente. Deus
os abençoe! Vida longa! Valeu o meu dia conversar com o senhor.
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