Equipe Wolff entrevista o Padre José Otácio Oliveira Guedes
Entrevista exclusiva ao Jornalista Reinaldo Wolff - MT 27672
Pe. José: Aqui tem uma fala em Deuteronômio “Não deveria eu beber o cálice que o Pai me deu?”. Veja, tem coisas que ou por permissão divina, ou vicissitudes que a pessoa teve... Mas aqui é “o meu cálice”! Tenho de tomá-lo! Não posso fugir dele! Não posso ficar culpando os outros. É o meu cálice! - eu entendo assim da vida. É o meu modo de enfrentar a vida. E não ficar choramingando e se auto-compadecendo. Ter a auto-compaixão é o meu cálice. Se a pessoa chega a ser perseguida, ele deve ter tido algumas atitudes. Corretas? Incorretas? Mas para ele ser perseguido deve ser alguma atitude que não foi correta. Mas que têm as suas consequências. Quando a gente faz as coisas, a gente não sabe todas as consequências. Mas as minhas escolhas eu tenho de ser responsável por elas. E tem as suas consequências.
“MEDITAÇÕES DE UM PADRE”
Viver em Cristo
Pe. José: Aqui tem uma fala em Deuteronômio “Não deveria eu beber o cálice que o Pai me deu?”. Veja, tem coisas que ou por permissão divina, ou vicissitudes que a pessoa teve... Mas aqui é “o meu cálice”! Tenho de tomá-lo! Não posso fugir dele! Não posso ficar culpando os outros. É o meu cálice! - eu entendo assim da vida. É o meu modo de enfrentar a vida. E não ficar choramingando e se auto-compadecendo. Ter a auto-compaixão é o meu cálice. Se a pessoa chega a ser perseguida, ele deve ter tido algumas atitudes. Corretas? Incorretas? Mas para ele ser perseguido deve ser alguma atitude que não foi correta. Mas que têm as suas consequências. Quando a gente faz as coisas, a gente não sabe todas as consequências. Mas as minhas escolhas eu tenho de ser responsável por elas. E tem as suas consequências.
Reinaldo Wolff: Quando percebeu sua
vocação religiosa?
Pe. José:
Conscientemente eu me percebi querendo ser padre - eu tinha 14 anos. Antes
disso eu orava. Minha mãe disse que eu seria. Aos 14 anos com a confissão ao
sacerdote, Padre Fausto, eu não tinha preparado essa fala antes, mas após a
confissão eu disse: “Quero ser Padre!” - Naquele momento era tão verdadeiro o
meu desejo que se fizesse me ordenar Padre naquele momento, eu estaria
disposto. Eu tinha 14 anos!
Reinaldo Wolff: O que é o verdadeiro
cristão?
Pe. José: A
gente ser obediente na fé. Dar um foco à pessoa crente, a tudo que faz na fé.
Aquela forma de fé é de um homem crente. Isso é o cristão.
Reinaldo Wolff: O que pensa sobre o
perdão?
Pe. José: É
tão essencial à vida do cristão quanto qualquer outra coisa que o definisse.
Como disse, por exemplo, a fé. O perdão diz respeito à uma atitude de alguém
que faz transbordar uma vida de fé. Se ele tem o perdão de Deus, seria estranho
ele não perdoar.
Reinaldo Wolff: Como é a vida de um
religioso? A vida de um padre e de um pastor é diferente um de outro?
Pe. José:
As exigências são diferentes. Eu penso que é assim - eu não conheço muito o
meio dos pastores - mas pelo pouco que nós percebemos... Ele já é quase uma
pessoa que tem algum carisma. E, quando por vezes, procura alguma preparação
acadêmica... Porque baseado no carisma, e mais algum curso intensivo de alguns
meses, ou uma leitura por si mesmo da Bíblia, ele se apresenta como pastor. Agora
- o sacerdote - o padre católico, a Igreja entende que mesmo essa humildade nossa
vocacionada, ela é chamada por Deus, de bom pastor. Mas tem que ser modelada.
Nos moldes do Bom Pastor. Isso a Igreja, que é mãe, ela tem que ter a justa
medida para transformar. Daí o itinerário não é menos de oito anos de
preparação. Um padre se prepara ao longo de oito anos.
Reinaldo Wolff: É um longo período. Com
o devido respeito, permita-me a pergunta: política e religião andam juntos?
Pe. José:
Enquanto ambas buscam o bem das pessoas, andam juntas. Sabendo que a política é
apenas “um meio para...” - nunca um fim. Pode-se entender a religião como a
relação com Deus. Por si ela é “fim”. Vamos ver se me faço entender – há uma
relação, uma distinção, um diferencial. Ninguém poderia pensar que uma política
pudesse atrelar à religião.
Reinaldo Wolff: Por isso que se falou
“Dai a Cezar o que é de Cezar”. Define exatamente o que é da política e o que
não é.
Pe. José
cita: “Meu Reino não é deste mundo”. E a política não busca outro meio por definição,
senão, a de “melhorar o reino daqui”.
Reinaldo Wolff: Qual a sua opinião
sobre a Igreja e a política atual?
Pe. José: É
um tempo conturbado esse nosso, não é? Essa política de prefeituras, pelo menos
aqui (Itaboraí), eu não senti, não dei muita atenção. Mas na eleição passada
tivemos alguns pastores, bispos, que se sentiram no dever de se levantar diante
do tema “Aborto”. Embora a política não veja como tema religioso, mas por si
não é um tema religioso. É um tema de toda pessoa de princípios. É ligado à lei
natural que é a vida. Então como eu vejo essa relação? Eu vejo assim, no ponto
de vista da Igreja, ela tem sempre que falar dos valores. E com mais razão, do
valor: vida. Já pra quem identifica isso por religião, vai sempre uma tensão.
Reinaldo Wolff: Qual a sua forma de
acreditar em Deus?
Pe. José: A
minha forma de acreditar é essa - Eu vejo Deus sempre assim tão próximo, que eu
sinto que a minha forma de acreditar, como cristão é: “É o ar que eu respiro,
são as coisas que eu faço, é estar aqui com você agora conversando”. É uma
maneira de expressar essa relação com Deus.
Reinaldo Wolff: O que acha dos padres
cantores?
Pe. José:
Veja, tudo que tem a marca humana, ela tem um quê de ambiguidade. Também isso,
não é? Não podemos restringir uma lição que Deus te ama: cantar. Ora, cantar
pode ser um meio de evangelização. Agora, restringir isso – seria um meio
de empobrecer a comunicação.
Reinaldo Wolff: O que pensa da teoria
da prosperidade?
Pe. José:
Eu penso que é uma percepção parcial da verdade. Ver a relação com Deus como
uma fonte de renda e de ganho, isso é errar o alvo! O evangelho vai para outro
lado! Jesus não nos prometeu vida fácil e nem nos prometeu muitos bens. Ele nos
prometeu, aliás, é o evangelho deste domingo que eu estava preparando aqui... É
quando aquele homem vende tudo e dá aos pobres. Não vai assim. “Deus depois dá
um monte de coisas”. Essa teologia da prosperidade, no fundo é um quê de
idolatria.
O caminho é
“Se eu tenho Deus, eu quero mais o quê?”.
Reinaldo Wolff: Um professor da
PUC/RJ diz que há mais mulheres evangélicas, e é isto que contribui para haver
muitos jovens evangélicos? O que o senhor pensa a respeito? A influência das
mulheres nos meios religiosos, até que ponto o senhor acha que contribui para
que outras pessoas deem ouvidos para a religião?
Pe. José: Se
eu entendi a pergunta, penso que as pessoas não ficam olhando para essa questão
de gênero lá na Igreja.
Reinaldo Wolff: Eu acredito que a
participação de todos é muito importante. E que as mulheres, não só como mães,
mas também ajudam.
Pe. José:
É, são lideranças. É pobre aquela comunidade que tiver um único gênero para
representá-los.
Reinaldo Wolff: Pequeno relato do seu
perfil.
Pe. José:
Eu sou de uma família numerosa, somos 7 filhos. Nascidos no interior de Minas
Gerais. Muito pequenino meus pais mudaram para o Espírito Santo. Eu sou o
quarto de 7 filhos. Eu tenho um tio que é padre. É possível que ele tenha tido
alguma relação com a minha vocação. Aos 16 anos eu entro para o seminário. Eu,
aos 14, já desejava fazê-lo. E começo, e faço seminário menor completando o
ensino médio. Depois faço o propedêutico, o filosófico e depois faço teologia
em 95. Meu bispo é Dom Carlos Alberto. Ele me mandou para Roma, fiz o Mestrado
em Teologia Bíblica. Em 2000 fui ordenado Padre e retornei à Roma para concluir
os estudos e concluir o mestrado. Em 2000 eu vim para cá e vim trabalhar na
formação dos Padres.
Reinaldo Wolff: O senhor é professor
da PUC em Teologia?
Pe. José:
Atualmente sim. Então lá eu permaneci sendo o reitor do seminário de 2004 a
2006. Em 2003 eu havia começado a lecionar na PUC, onde leciono até hoje. Nesse
ínterim fiz o doutorado em Teologia, concluí este ano, agora em 2012. Sou o
pároco nesta Paróquia de São Pedro Apóstolo e professor.
“Iniciativa
Missionária na Paróquia”
A segunda
parte da entrevista será um debate. Aguardem!
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Matéria originalmente publica em 28 de outubro de 2012, conferida e atualizada.
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