1º de dezembro, vamos abrir a árvore de Natal e rever a entrevista do Padre José Otácio Oliveira Guedes
Eis a segunda parte da entrevista - é um debate. Confira aqui:
RW: A Assembleia de Deus –
que é anticonsumo – tem a teologia da austeridade, o que o senhor pensa sobre
isso?
Pe. José: Eu não conheço
profundamente essas outras comunidades. Mas o fenômeno que observamos, se você fala
de austeridade, é uma austeridade apenas em exigências no vestir. Em respeito à
mulheres, não podem usar alguns adereços, vestimentas, veja só – são pontos tão
delicados de abordar! Porque quando a gente lê o Evangelho... lembro agora a
Carta de Paulo, cap. 2 vers. 16, ele diz “Ninguém os condene por questões de
comida, bebida, lua nova, sábado. Tudo isto é sombra. A realidade é Cristo”.
Por isso uma comunidade que definisse o seu perfil por um excesso de exigência,
é possível que ela fosse na Contramão do Evangelho! Isso não quer dizer que
faça tudo, ultrapassa os limites... mas é que, na minha opinião, o excesso de
austeridade, muitas vezes, serve para maquiar! Pode ter uma falta de ajuste
interior! Externamente a pessoa vive um perfil em que a sociedade aceita e
acolhe, mas por dentro, está inseguro. Não é que eu esteja acusando as pessoas
desta comunidade. É que a essência do Cristianismo, vai em outros caminhos. Eu entendo
assim – essas comunidades têm sua raiz assim... norte americanas. Estados
Unidos, por definição, tem muito essa coisa de branco ou preto. Essa coisa de
extremos! Haja visto há muito dessa comunidade de seitas radicais, como também
de um extremo liberalismo. É uma característica que vislumbramos. Aqui no
Brasil, as pessoas também entram. Qualquer pessoa, quando ela tem a identidade
de um grupo, até nos católicos. Quando a pessoa entra num grupo – uma pastoral,
um encontro de casais – elas querem uma camisa que as distinga. Pode ser que
esses elementos externos, ajudem a pessoa que tenha uma identidade não bem
definida, isso ajude ela a uma sobrevivência. Isto é, faz parte daquele grupo. Usa
o cabelo desse tamanho, dessa maneira... e eu só repito, a minha ideia é assim –
isso não diz nada!
RW: São só formalidades.
Pe. José: É a minha opinião. Não
é questão de como a pessoa bebe, ou não bebe, ou coloca a saia de um jeito. Isso
não é fruto de uma liberdade ajustada na obediência da fé.
RW: O que pensa sobre a
Igreja Mundial, com mais de 300 mil fiéis?
Pe. José: É essa do Pastor
Valdemiro, não é? Nós falamos sobre aquela teologia da prosperidade. Sobre isto
também tem fiéis de um certo perfil imediato nas curas. A minha reflexão diria
assim nessa linha – será que é isto mesmo que Jesus pede de nós? “Quem quer ser
meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. A gente percebe
assim – alguém que não renuncia a si mesmo, e quer renunciar à cruz. A minha
relação com Deus, eu não posso ter sofrimento. E você perguntaria – e as curas
que Cristo fez no Evangelho? É para despertar a fé n’Ele, como Filho de Deus. Uma
vez que nós temos a fé n’Ele, claro que Deus pode nos curar! Mas se eu busco só
a isso, novamente eu vou buscar Deus como a mim mesmo. E novamente, com a
teoria da prosperidade. Eu penso que é uma expressão também inadequada a existência
do Cristianismo.
RW: Eu tenho um pensamento,
Padre. Que cada um tem, segundo merece. À medida que pedimos a Deus por nos
abençoar, esse pedir vai dar condições, na medida que a pessoa mereça. E qual a
sua opinião sobre isso?
Pe. José: Essa palavra “merecer”
é sempre delicada na relação com Deus. Só nosso mesmo, é o pecado nosso mesmo. Eu
acredito – há um plano de Deus sobre as nossas vidas. É novamente, a reflexão
inicial que eu fiz aqui, a respeito do cálice. Quando Jesus fala “Não devo eu beber
o cálice que Deus me deu?”. É perceber a vida exatamente “como o cálice que
Deus me deu”. Se eu vou procurar um médico, ou se alguém vai orar por mim, eu não
vou ficar murmurando. Eu não vou me revoltar. O amor de Deus é um mistério tão
grande! Deus é tão poderoso, tão sábio e tão bom. Nada que ele permita na nossa
vida, é condenável. Tudo é para levar ao caminho de paz, de vida plena.
Comentários
Postar um comentário