Doce Rio Bonito
Por ANA MARIA WOLFF
“E daí?” -
ele se perguntou perplexo diante de suas próprias conclusões. Sua cabeça pendeu
um pouco para o lado num jeito peculiar. E daí a dizer “não!” foi um só
impulso. “Chega!” - ele exclamou de novo. Aquele não era o horizonte que
buscava. Suspendeu os olhos para o infinito e viu o mar. O velho sonho, aquele
apelo veemente de futuro, aquela provocação que o mar lhe suscitava era nada.
“Olhe
isto!” - exclamou para si mesmo. Repudiou a poluição da cidade grande, o
barulho, a poeira e o que mais incomodava: a indiferença das pessoas.
“Quem é
amigo de quem?” perguntou-se. Naquele momento de crucial decisão, só uma
resposta lhe veio: “quero voltar às minhas raízes”.
E na sua
mente pode ver de novo aquele azul resplandecente do céu de Rio Bonito. E o
contorno daquelas montanhas azuladas, repletas de matas, como uma moldura
perfeita do cenário de sua terra.
“Ah! Quero
voltar!” decidiu. “Quero mais ainda”. Contou aos seus familiares: “Quero ver os
olhos sinceros das pessoas dizendo ‘bom dia’. Ver suas esperanças num sorriso
amigo e compartilhar do seu dia a dia. Poder dizer uma palavra amiga numa hora
aflita ou seja, comungar com pessoas reais o seu pão de cada dia!.
Foi então
que lhe veio aquela idéia: “Sim. Vou estabelecer uma padaria! Mas quero
fornecer os produtos puros, de boa qualidade! Quero tudo de verdade. Como nos
velhos tempos! Se a receita do pão ou do bolo levam manteiga, não haverá
substitutos. Quero ver o sorriso da criança lambendo os dedos e com a cara suja
de mel. Faz sentido dizer: ‘Bom dia Rio Bonito’!” E cheio de fé religiosa ele
organiza o melhor ponto de encontro da cidade. Onde a vida é vida, onde o amor
é a paz, onde dizer bom dia vale o pãozinho fumegante. Sim, o ideal aqui é ser
tudo de verdade para gente de verdade que sempre foi de Rio Bonito.
“Bom dia
amigos!!”.
Sorri cheia
de alegria pelo ideal, mas meio triste em pensar: “E quem não pode dizer este
bom dia amável? Sabe, tem aqueles que não podem comer nem manteiga, nem farinha
branca, nem açúcar, mas ainda tem vida para viver. Haverá um pãozinho especial
para este tipo de pessoa? Conta, que eu vou lá correndo”.
*Matéria originalmente publicada em 10 de dezembro de 2012 - atualizada.
Comentários
Postar um comentário