Roberto Pacobahyba Rodrigues - Colégio Estadual Agrícola José Soares Jr.

A educação como base de uma vida plena e harmônica com a sociedade e meiambiente


Para muitos, o que seria uma contra-mão no andamento das questões do COMPERJ, observamos como de suma importância a manutenção e melhoria da escola agrícola.
Em entrevista exclusiva à Equipe Wolff, fala o Diretor Adjunto.


Manter acesa a chama de um ideal


Reinaldo Wolff: Roberto, como é seu sobrenome?
Professor Roberto: Pacobahyba Rodrigues.
RW: É indígena?
Professor Roberto: Sim, é indígena.
RW: Diferente! Roberto, a primeira pergunta que temos - é Engenheiro? Você é formado em que?
Professor Roberto: Eu sou formado em Ciências Agrícolas.
RW: É uma equivalência de engenharia?
Professor Roberto: É um curso específico. É como se fosse a Engenharia Agronômica com a finalidade de dar aulas. Eu sou formado para dar aulas em colégios técnicos agrícolas.
RW: Como é que foi o despertar de sua vocação? Como surgiu a vocação na área agrícola? Você já veio de família agrícola?
Professor Roberto: Não, eu não vim de família agrícola. Mas sempre gostei de animais, de plantas... Então, quando eu era "molequinho" eu dizia que iria “ser veterinário”!
E com o passar do tempo vi que eu gostava muito de plantas... E percebi que ser veterinário só, não ia funcionar. Pensei em fazer Biologia. Depois o destino foi me encaminhando - acabei fazendo Vestibular para Ciências Agrícolas na Rural do Rio de Janeiro. E ainda pensando, talvez se eu não me adaptasse ao curso, iria fazer uma transferência para Biologia. Só que eu tinha que esperar dois períodos para poder pedir uma transferência... E com esses dois períodos que iniciei, me apaixonei pelo curso e não quis mais transferir. Depois que passei a estar "dentro da sala de aula", não me vejo mais "fora da sala de aula". Gosto muito de dar aula, e dentro dessa área.
RW: Encontrou sua afinidade?
Professor Roberto: Sim, encontrei.
RW: É muito importante isso.
Professor Roberto: É. Não me vejo fazendo outra coisa hoje que não seja "dar aulas".
RW: A pessoa precisa de uma reflexão - não sei se você concorda comigo - para ver... "Onde está sua harmonia?" "Onde está a sua afinidade?". Isso é muito importante!
Professor Roberto: Sim.
RW: E isso é muito importante porque é aí que está a decisão do destino da pessoa. Quando alguém não consegue ter esse eixo, ela não encontra aquilo que deveria ser "o seu destino" - não parece ser assim? Concorda comigo? Então é importante isso!
Professor Roberto: Sim. Eu costumo falar para os meus amigos e até para os alunos, às vezes, tem pessoas que trabalham para ganhar o seu dinheiro, simplesmente para conseguir a manutenção da sua família... Meu trabalho é um prazer!
RW: Trabalha com amor à profissão.
Professor Roberto: Sim. Gosto do que faço.
RW: Isso é muito importante na vida.
Professor Roberto: E... Gosto muito deste colégio, em particular.
RW: Quais são os objetivos da escola?
Professor Roberto: O principal - é que ela continue viva.
RW: Certo...
Professor Roberto: Porque desde que eu entrei aqui no colégio, que se escuta “rumores” - de que “este colégio ia ser fechado”... Então o principal objetivo é a manutenção do colégio enquanto como unidade escolar agrícola. Porque Itaboraí está perdendo o foco agrícola. Mas pode-se perceber que o município - o tamanho que é - pode comportar o COMPERJ, pode comportar o setor de comércio - e ainda continuar com suas "raízes" na agricultura e pecuária.
RW: Eu venho de Jundiaí, São Paulo. A cidade cresceu tanto que agora só tem crescimento para cima! O município de desmembrou de diversas outras unidades. E lá, ainda assim, existe forte a área agrícola. É uma cidade extremamente industrial. E ainda tem a sua “Festa da Uva” no calendário nacional.
Professor Roberto: O que precisa aqui em Itaboraí é uma visão política - em que isso tudo pode ser conciliado! A vinda do COMPERJ não precisa eliminar a agropecuária do município.
RW: Certo...
Professor Roberto: Até porque no último levantamento de dados que eu fiz, vi que Itaboraí era o 2º maior produtor de plantas ornamentais do estado!
Só perdia para Friburgo! Então, ainda mantém uma “raiz” na agropecuária. O município ainda tem produtores de gado de corte, gado de leite – apesar de todos os revezes que eles vêm passando... Com essa “lei da agricultura familiar” – 30% da merenda escolar tem que ser da agricultura familiar. Isso também já é mais uma força, um impulso que o governo vem dando... E que ajuda aos agricultores a se fixarem no campo. Assim, o objetivo principal do colégio, pelo menos que eu consiga vislumbrar, seria isso! Manter essa “raiz” agropecuária no município.
RW: Não causa uma insegurança, até mesmo uma ansiedade nos professores e diretores?
Professor Roberto: Sim, sem sombra de dúvida.
RW: E como lidar com isso?
Professor Roberto: É o seguinte – a gente conta com professores que acabam se apaixonando pelo colégio, pelo ideal do colégio. Então, penso que isso seria o principal ponto para conseguirmos mante o colégio. E, agora, nessa semana houve uma oferta por parte da Secretaria, de movimentação entre os professores. Ou seja, os professores daqui poderiam se descolar para alguns colégios e a gente teve “rejeição total” por parte da mobilidade. Nenhum professor teve interesse de ‘cometizar’ a mobilidade.
RW: Mesmo com ganhos maiores.
Professor Roberto: Sim, mesmo com ganhos maiores. A oferta foi migrar para um novo programa da Secretaria de Educação e que é até um programa muito interessante... Muito bom. E que a gente torce que esse programa chegue ao nosso colégio. Agora, para nossa felicidade... (Quando vimos a proposta da mobilidade, a gente ficou um pouco ansioso – não sabia qual seria a reação dos professores.) Todos eles vão ficar no colégio, então isso foi ótimo.
RW: Houve alguma mudança de prioridades em relação ao colégio? Porque a área rural está tendo uma mudança muito significativa no Brasil. Nós vimos que a primeira coisa que eles tentaram fazer o movimento “voltado ao campo”. Aí surgiu paralelo a isso o MST. E esse “movimento para o campo” – a reforma agrária. Eles viram que as pessoas estavam despreparadas para a área rural. Porque não sabiam efetivamente, lidar com o solo. Então houve algum planejamento governamental no sentido de preparar melhor as pessoas para que elas lidem de forma mais adequada ao campo?
Professor Roberto: Olha, Reinaldo, dentro da Secretaria de Educação – o que tem acontecido em nosso estado – é cada vez mais o estado se afastar do setor agropecuário. Porque vê na política certos caminhos, como o do Petróleo, por exemplo. Eu não vejo, por parte da Secretaria, uma preocupação específica no ensino rural. Porque o nosso estado, por anos e anos, nunca teve essa preocupação. E o colégio vem sendo quase um “foco de resistência” face às mudanças dentro do Município de Itaboraí. Então, a título de “Governo”, eu não consigo enxergar essa preocupação. Pelo fato do estado não trilhar esse caminho. Agora, eu – enquanto profissional da área – vejo sim a importância. E que isso é fundamental para o estado e para o Município de Itaboraí. Afinal, a gente não vai viver só do Petróleo, nem vai viver só de Turismo, ou de Comércio. Não é a toa que o estado do Rio de Janeiro importa boa parte do que come. Porque não produz!
RW: Entendo.
Professor Roberto: E a gente tem área para isso... Uma diversidade de clima favorável a isso, não é? Então, a gente, no estado, tem um potencial que não é aproveitado!
RW: Eu vejo um risco muito sério para o futuro, em que as pessoas estão começando a comer “arroz transgênico” e alimentos que não terão mais a semente. Serão todos transgênicos! De tal forma que as pessoas estarão nas mãos das multinacionais. Então o “homem junto ao campo” é uma necessidade básica para que seja preservado as sementes e os alimentos. É a própria sobrevivência humana! Para que não fique “ou você concorda com a multinacional, ou vai ter um momento difícil, até passar fome”! Então o que pode ser feito no sentido de conscientizar as pessoas sobre isto?
Professor Roberto: Bem... O que a gente vem fazendo aqui no colégio é tentar passar técnicas e metodologias de produção, voltados para o desenvolvimento sustentável. A gente vem, inclusive, fazendo alguns eventos relacionados à agroecologia, à produção orgânica...
Para poder puxar o setor para esse lado mais sustentável. Agora, eu também olho, por outro lado – que essa mudança não pode ser brusca, e da noite para o dia, não é? A gente precisa sim do agronegócio. Ele é fonte de renda para o país. O setor emprega muitas pessoas, então tem aí a produção de soja e de milho, que é altamente dependente de tudo isso que você está citando: de transgênicos, de defensivos, adubos químicos. É um modelo que vem lá da Revolução Verde, até hoje se perpetua. Isso de certa forma faz uma pressão na agricultura familiar. Para que esta se adeque a estes moldes. Mas não vejo isto como algo que de fato se instalar. Pelo menos, não dentro da agricultura familiar! Que ainda mantém suas "raízes" lá, bem ainda "sustentáveis". E o colégio, quanto formador de técnicos da área, sempre procura mostrar os seus dois eixos: o do agronegócio e o do desenvolvimento sustentável, agroecologia da produção orgânica. E cada produtor tem que se ajustar da forma que é mais conveniente a ele. Vejo que para a agricultura familiar, o pequeno agro produtor - a produção orgânica é o melhor caminho. Já para a grande produção, o agronegócio é um mal necessário.
RW: Como entende o momento político educacional do Brasil atual?
Professor Roberto: Complicado é pouco. Não vejo por parte de governo nenhum, até então, desde que entrei na área de educação... Não vi essa preocupação maior com a educação do povo. E continuo não vendo. Os investimentos que deveriam ser feitos, não são feitos. São priorizados caminhos que são mais palpáveis e que o povo consegue vislumbrar. Penso que o governo continua com a mesma metodologia da Roma Antiga - pão e circo.
RW: O que a comunidade pode fazer para ajudar a escola?
Professor Roberto: No ano passado, nós fizemos dois projetos que foram encaminhados para a secretaria. E foi feito um abaixo assinado que rodou aí entre a comunidade escolar, os alunos levaram o abaixo assinado para assinarem para garantir. O primeiro pediu-se a transferência do colégio. É um colégio agrícola sem o perfil, pois não tem área para produção! Então, primeiro precisa de área, para que se possa pôr em prática tudo que se aprende dentro da sala de aula. E aqui em Itaboraí tem o horto de Pacheco. Agora ficou cedido para o município. E no ano passado a gente conversou, junto ao município, a possibilidade do colégio ser transferido para o horto de Pacheco. E conseguiu-se o apoio da Prefeitura de Itaboraí. Inclusive com cartas de aprovação do prefeito, dando apoio.
RW: Isso é muito importante.
Professor Roberto: E a Prefeitura não se colocaria contra, de forma alguma! Apesar da área do horto estar cedida ao Município - este abriria mão da área de volta para o estado - se fosse para alocar o Colégio.
RW: Neste caso anexam as duas ideias - escola e horto.
Professor Roberto: E nesse projeto que nós enviamos para a Secretaria, não se pede somente a manutenção de construção de uma nova unidade escolar e colocação de outros cursos técnicos - meio ambiente, agroecologia, técnico em florestas. Toda uma área de estudos que daria respaldo para os impactos que o COMPERJ vem causando ao Município.
RW: Não será interessante incluir cooperativismo?
Professor Roberto: Com o técnico em agropecuária e agroecologia, o Município conseguiria manter suas raízes. E com o técnico em Meio Ambiente e Técnico-Floresta, o município conseguiria minimizar os impactos causados ao meio ambiente. Nesse novo programa que a Secretaria vem implantando - Dupla Escola - o estado vem fazendo parcerias com a iniciativa privada - para "tocar" esse programa.
RW: Com o "Crédito de Carbono", também?
Professor Roberto: E se a gente conseguisse um apoio de alguma empresa de iniciativa privada - seria muito interessante! A autonomia fica ainda dentro do estado. Se conseguíssemos o apoio da Petrobrás, por exemplo. A Petrobrás como forma de compensação ambiental, poderia construir a unidade escolar. E essa seria a parceria firmada - por exemplo.
RW: Podemos levar essa ideia à Petrobrás.
Professor Roberto: Esse projeto foi levado ao representante que faz a ponte entre a Prefeitura e o COMPERJ - Luiz Fernando Guimarães. Ele é da Prefeitura, se não me falha a memória. Mas na própria Secretaria de Educação já se conseguiu um apoio para que este projeto fosse para frente - é o subsecretário que recebeu o projeto e já deu o parecer favorável.
RW: Tem algum nome para este projeto?
Professor Roberto: Não especificamente. O projeto está tramitando na SEEDUC, temos que aguardar, demora um bocado!
RW: Como você se sente quanto à renovação dos seus ideais para o futuro como um ser humano na sua plenitude intelectual?

Professor Roberto: Você mesmo falou - querendo ou não paira para nós - e para mim, uma certa insegurança. Uma instabilidade que nós temos por ser funcionários do estado. Mas que ao mesmo tempo não se consegue enxergar o futuro, porque vira e mexe surge esse boato - o colégio vai ser fechado. A partir do momento que eu entrei aqui no colégio, em 2007, eu estava terminando a faculdade e apareceu na coordenação do meu curso uma chamada de que o colégio daqui estava precisando de professores. Eu me candidatei. Eu estava em Seropédica - a Federal do RJ. Eu entrei em 2007 como professor contratado. O estado - depois de 20 anos sem fazer concurso na área - o Governador abriu concurso para a área agrícola, ensino agrícola. E isso, penso que foi um grande acerto. Apesar de a população um tanto revoltada com o então governador Sérgio Cabral, neste momento ele teve uma visão do que era necessário. Depois de 20 anos ele abriu concurso, em 2008. E eu entrei como efetivo. Ele fez concurso em 2009 e fui aprovado de novo. Em 2010, novo concurso - fui aprovado.
Fui chamado nas 2 matrículas. Fui chamado na 3ª matrícula só que tive que pedir desoneração porque só se pode ter 2 matrículas no estado. Como fui aprovado em concurso, vim morar em Itaboraí. Comprei minha casa - certo de que nada iria ameaçar a minha manutenção aqui. Ainda não me tornei um cidadão itaboraiense. Mas o colégio aqui me prende ao município. Não de forma obrigatória, e sim porque eu gosto do colégio. Gosto de trabalhar aqui. O ambiente de trabalho é muito bom. Vejo que a gente tem muita coisa para fazer daqui pra frente - desde que se consiga o apoio necessário para isso.
MW: Com certeza vão conseguir!
RW: Roberto, seria muito interessante passarmos essa sua mensagem aos governantes. Que mensagem você dá aos governantes - tanto municipal, estadual, federal e quanto aos alunos também?
Professor Roberto: Bem, aqui no nosso colégio temos um perfil e uma clientela diferenciada da grande maioria dos colégios públicos. A nossa clientela é na sua grande maioria de subsequentes, não é?
São todos adultos e que buscam o conhecimento. Muitos porque tem lá o seu pedacinho de terra, e quer aplicar o que aprende aqui, no seu sítio. Ao longo dos anos, conseguiu-se a aprovação nos concursos da área - que foram realizados aqui ao redor da região. Tanto no concurso da EMATER, quanto no das Prefeituras. O meu apelo seria que o colégio passasse a ser visto! Noto que muitas vezes o colégio passa despercebido porque, enfim, não está dentro da educação regular. Não atende ao público da educação regular. Mas com relação aos alunos seria isso - que o colégio passasse a ter o apoio dos governantes - que encarassem o colégio com as suas peculiaridades que lhe é de direito. Com relação à educação - o apelo seria maior ainda. Que o nosso colégio precisa ser ampliado para poder atingir uma gama de alunos, que ainda não atinge.
RW: A mensagem será transmitida. A Equipe Wolff agradece a sua entrevista.
Professor Roberto: Vocês já entrevistaram o Secretário de Agricultura daqui? O Secretário de Agricultura daqui tem sido um grande apoio ao colégio. Ele tem um histórico familiar dentro da área da agricultura.
MW: Gostei muito de ver o seu ideal pela escola. Isso vai influenciar todas as pessoas a quem dá aulas, com essa chama: Pessoa que gosta de plantas e tem paixão de dar aulas.


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