Arquiteto João Pedro, nosso amigo
Relato de vida real
O arquiteto veio à nossa mesa, diante de uma torta
diet de morangos e não comeu nem uma provinha. Só tomou água. Mas disse que
acabou de comer um pacote de jujubas, pois estava se sentindo com baixa
glicemia. Disse - “as pernas doem”. Olhamos para aquele quase-gigante de 1,98m
e sugerimos terapias do estilo shiatsu. Ele, em pé, batia nas pernas, porque
sentia muita dor. E começou a relembrar de sua história de vida. “Estava na
faculdade de arquitetura, meu pai muito rico, e eu sem dinheiro. Quis fazer um
estágio, meu pai não quis. E me perguntou - ‘falta alguma coisa para você?’. E
eu disse - ‘quero um carro. Novo’. O pai diz - ‘novo, não vou dar’. Eu respondo
- ‘o carro só é meu mesmo, se for pago do meu bolso”. O pai, com um imenso
amor, não sabia se expressar nos sentimentos. Contrariado, ele se afasta em silêncio.
“Lembro bem, que quando meu pai se zangava, ele ia dormir. Quando eu vi que ele
foi para o quarto dormir, me arrependi na hora de responder o meu pai. Até
parece que foi um pressentimento. Porque a seguir, meu pai morreu. Aí ajudei a
minha mãe a receber a pensão. Como vocês sabem, é um longo percurso de
documentos, idas e vindas. Nesse período, minha mãe deu todas as joias para eu
vender, e assim poder ter uma poupança. Quando tudo se acertou, minha mãe me
chama para trabalhar. A essas alturas, eu era um jovem mimado, acostumado a ser
rico, e agora com uma novidade - revoltado. Assim, levei um ano acordando tarde
e indo à praia todos os dias, até que um amigo me chamou para voltar à
faculdade. Vejo que era um amigo mesmo, de verdade. Porque ele interferiu no
meu destino. Ele me disse ‘você é bom nisso!’. Eu ganhava 40 mil cruzeiros
nessa época, e a faculdade custava 1 milhão de cruzeiros. A frase o meu amigo
me fez pensar. ‘Vou pegar uma obra e vou pagar a faculdade!’, dito e feito.
Comecei a ganhar muito dinheiro! Ainda como estudante. Peguei grandes obras”.
Ele nos olha comendo aquela torta, e diz para a nossa equipe ‘Eu nunca fui
paparicado, nunca me acostumei com dengos’. Então eu disse - “Que tal começar a
receber atenções? Nós fomos muito dengados por nossos pais. E agora nós
gostamos de dengar nossos amigos. É o que tem de melhor na vida. Ser bem
tratado”. Ele nos deu um estranho longo olhar, num lapso de ausência e nos
revelou uma verdade profunda - “Ontem fiz as pazes com a minha irmã médica.
Sinto que estou doente e vou precisar dela”. Ele saiu com o projeto de nossa casa
debaixo do braço, dizendo “Segunda-feira está pronto”.
E esta foi uma das últimas vezes que estivemos com
longas conversar com nosso amigo Arquiteto João.
Dia 8 de agosto celebramos seu aniversário, mesmo
sabendo que, ainda muito jovem, ele já partiu para a longa viagem.
Texto: Equipe Wolff/MW.
Gostaria de saber se vocês têm contato c as irmãs do João Pedro
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