Professora de Direito Empresarial Econômico, Gisele Corvisier - em entrevista à Equipe Wolff
Gisele Corvisier
Perspicaz, culta, capaz
de entender aspectos do momento brasileiro, com uma visão de sua origem
francesa. Veja como pensa a Professora de Direito Empresarial Econômico na
entrevista a seguir.
Reinaldo Wolff: Qual o
momento que determina o começo de um ideal, na sua opinião?
Gisele Corvisier: O
começo de um ideal - ele se inicia quando você vislumbra que alguma coisa vai
acontecer em prol da coletividade, para melhorá-la.
Reinaldo Wolff: O que
leva a estabelecer uma meta, a traçar um rumo de futuro?
Gisele Corvisier: Nós
traçamos rumo de futuro quando nós temos objetivos. Quando nós temos em mente
que, em prol da coletividade, nós sempre temos que caminhar positivamente.
Reinaldo Wolff: Qual a
sua emoção mais frequente no dia-a-dia de lidar com o público, como professora?
Gisele Corvisier: A minha
impressão é de que há um total descaso nesse país com a Educação. Motivo pelo
qual nós estamos ainda dentro daquele setor primário, de agricultura e
pecuária. E ainda somos totalmente dependentes do setor secundário, que é a
indústria, e envolve descobertas, novas patentes... E que vai envolver toda uma
dedicação, e uma verba decente para a Educação.
Reinaldo Wolff: O que
pode ser feito para mudar neste sentido?
Gisele Corvisier: O que
pode ser feito é que tenhamos políticos mais qualificados. Temos políticos
qualificados. Mas se nós temos uma quantidade maior de políticos mais
qualificados, e não tão politiqueiros e carreiristas...
Reinaldo Wolff: Eu concordo com a senhora, e acho inclusive que, para ser político, já deveria ser ou Economista, ou Advogado. Porque, como é que ele vai fazer lei, se ele nem sabe o que é a lei? Não é verdade?
Reinaldo Wolff: Eu concordo com a senhora, e acho inclusive que, para ser político, já deveria ser ou Economista, ou Advogado. Porque, como é que ele vai fazer lei, se ele nem sabe o que é a lei? Não é verdade?
Gisele Corvisier:
Exatamente! Como é que ele vai legislar se não sabe a hierarquia das leis?
Reinaldo Wolff: É! E a
competência das leis...
Gisele Corvisier: E saber
que a Constituição é a sua lei maior.
Reinaldo Wolff: Quem
influiu mais para seguir esta direção de atividades, o rumo de professora que a
senhora é?
Gisele Corvisier: Olha,
eu sigo os passos de minha mãe, que era professora e que não vive mais entre
nós... Ela era professora de literatura franceza, e literatura portuguesa. E
sigo também a minha família na França, porque eles são professores de latim, de
francês. Então já é a minha família européia que está dentro dessa linha. Eu
sou neta de franceses e alemães.
Reinaldo Wolff: O
ambiente de dia-a-dia de trabalho traz que tipo de conclusão, em sua opinião
quanto à universidade em si e o que pode melhorar em termos da universidade e o
país atual que estamos?
Gisele Corvisier: É as
pessoas terem a consciência de que elas necessitam dar maior valor ao que elas
estão fazendo no momento em prol do que elas vão alcançar no futuro. O que eu
quero dizer é, maior comprometimento com os seus estudos. Porque eu vejo que o
aluno - alguns têm muito comprometimento, mas a maioria não tem. Não porque ele
não queira, mas sim porque ele não tem uma base sólida suficiente para ter esse
tipo de noção. Porque esse "jeitinho brasileiro" contamina. Em muitas
áreas a gente vê isso - "Ah, eu não vou estudar agora. Eu vou deixar para
estudar depois, porque depois eu dou um jeito". Não! O tempo passou e ele
não volta mais! Então você perdeu tempo não estudando o suficiente, no momento
certo.
Reinaldo Wolff: Isso me
lembra de que em japonês, "sorte" significa esforço. E ele quer
contar só com a sorte, e não com o esforço.
Gisele Corvisier:
Exatamente. Quer contar só com a sorte. Tudo tem que ter esforço. Você tem que
abrir mão do seu lazer, abrir mão de descanso até – para você estudar o
suficiente para poder ter o seu lugar ao sol. E atingir os seus objetivos.
Reinaldo Wolff: É mais
fácil vencer na vida em cidade grande ou cidade de interior?
Gisele Corvisier: Acho
que, vencer na vida, você vence em qualquer lugar desde que você tenha
qualificação. E essa qualificação é do seu esforço, é o seu estudo.
Reinaldo Wolff: O que
pretende influir com sua atuação no trabalho? O trabalho que você desenvolve
como professora é de grande valia. De que forma, como professora universitária
acha que pode influir na vida de seus alunos?
Gisele Corvisier: É dando
uma dose de consciência, de responsabilidade. Chamando eles à realidade. E
dizendo que – se você não estuda, cada vez a competitividade é maior. A globalização
está aí, te mostrando isso e não tem como ser diferente. Você tem que se
destacar, tem que estudar.
Reinaldo Wolff: O que
indica de mudanças no sistema educacional? Ou no funcionamento de ensino? E o
que pode ser melhorado, tanto do nível da base dos estudos, como pós-graduação,
etc. O que pode ser feito no Brasil para melhorar? O sistema audiovisual melhoraria
o resultado brasileiro?
Gisele Corvisier: Não,
isso daí é uma consequência. O audiovisual, para mim, é uma consequência. É
alimentação, é saúde e educação. Se você não está bem alimentado, você não tem
bom raciocínio. Se você não tem um local adequado para morar, você vai dormir
mal, vai acordar mal, e não vai ter bom raciocínio. Se você não tiver saúde,
também não vai ter bom raciocínio. Ou seja, estão interligados. E se tiver
violência? Piorou, acabou! Porque isso vai gerar sempre um mal estar nas
pessoas – “Será que eu vou estar vivo amanhã?” – “Será que eu vou voltar vivo
para casa?”. Esse “será?”, essa interrogação – em termos de segurança – vai
minando a saúde da pessoa. Vai vivendo cada vez dentro da própria concha. E vai
virando uma ostra! Daqui a pouco a conchinha está com a tampa grudada, e a
pessoa fica com medo de tudo. É um conjunto de coisas.
Reinaldo Wolff: E a
solução seria orar?
Gisele Corvisier: Olha,
orar faz parte. Porque não importa a fé que escolha, não importa o nome do deus
que você dê. Mas orar, você tem que orar, sim. Você tem que ter uma linha de
ligação com o Divino.
Reinaldo Wolff: Seria o
Religare, não é?
Gisele Corvisier: Sim, o
Religare. Isso tem que ter. Não pode viver sem. Porque se não, vai começar a se
questionar “Quem eu sou? De onde eu vim? Para onde eu vou?”... Então você tem
que ter uma fé. E dessa fé você tem que ter o seu próprio esforço. Deus te deu
os meios para você fazer. E você que tem que fazer! E se não quiser fazer, você
tem o livre arbítrio.
Reinaldo Wolff: Acredita
que o Brasil vai melhorar? Ou também haverá crise?
Gisele Corvisier: Olha,
eu acho que essa colonização que nós tivemos no Brasil, de exploração somente,
e não de “povoamento/exploração” é tudo. Já diz tudo. Porque o Estados Unidos
foi descoberto em 1492 por Cristóvão Colombo, e o Brasil descoberto em 1500 por
Pedro Álvares Cabral. Aí você vê a trajetória de um e a trajetória de outro. E
aí você vai olhar e vai ver “Bom, nós fomos só exploração e eles foram
povoamento e exploração”. Nós estamos ligados à Península Ibérica, que está
ligado à agricultura e pecuária. É setor primário. Eles têm setor primário,
secundário – que é indústria – e terciário – que é serviços. E a gente vê a
Revolução Industrial da Inglaterra, que, de onde, é a origem americana.
Continua.
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