Arquiteto e Artista Plástico Ary Paulo Resende em entrevista exclusiva a Equipe Wolff
Entramos todos juntos na sala espaçosa. Ele cumprimenta alegremente seu assessor. Nós nos aproximamos ao diálogo.
RW: Posso pegar esta cadeira? Ah! Obrigado pela gentileza... Em primeiro lugar é uma honra estar aqui em sua presença nesta entrevista. O nome completo do senhor?
Ary Paulo Resende.
RW: Nós conhecemos a família Resende quando minha mãe, Ana Maria Wolff trabalhava na Rádio e TV - no Espírito Santo, nome de escritora H. Murray. E pronunciado pelo povo como 'Agá-Murrei'. Ela esteve na TV junto com Edson Araújo (hoje ele é dono de 6 rádios lá no Espírito Santo. Naquela época Edson era um simples jornalista lutando muito com a vida, e hoje um homem próspero, dono de várias rádios...) E Ana Maria Wolff esteve na TV Gazeta de lá e assim nós conhecemos a família Resende. Inclusive foi um Governador do Estado do Espírito Santo, não é verdade?
RW: E como é o seu relacionamento com a política, e com as pessoas do Espírito Santo para o senhor?
Ary: Eu saí muito cedo do Espírito Santo. Porque meu pai faleceu aos 45 anos e vim tentar a vida aqui no Rio. Como todo sonhador, não é? Eu sou um sonhador inveterado! Eu não paro de sonhar! E... vindo para o Rio - eu perdi um pouco desse vínculo.
RW: Certo.
Ary: Só mantive esse vínculo através da minha mãe que sempre esteve lá, participando com a família. Ela ia no final do ano passar o Natal com a família. Eu sou de Domingos Martins!
RW: Conhecemos muito bem! O senhor deve conhecer uma história do meu pai na sua cidade.
Ary: É?
RW: O senhor sabe o que aconteceu lá? Em Domingos Martins as pessoas, estavam de facão, de um lado, e outras pessoas de facão na mão, pro outro lado. Prontas para se matarem! O meu pai não era delegado, ele era Coronel do Exército. Só que ele entrou lá dizendo assim: "Chegou o delegado! Todo mundo com a arma no chão!" E eles colocaram! E depois daquilo ele fez com que todos se abraçassem e dessem as mãos... "Vocês são de Cristo? São? Então vão como cristãos, se reconhecer - acabem essa inimizade agora!" E até hoje tem pessoas que lembram disso. (Não sei se o senhor lembra dessa história?)
RW: Mas é uma história marcante na cidade , não é? A coragem de meu pai de chegar - podendo correr o risco de ser morto por aquele grupo! Ah, isso foi um momento marcante! Mas continue a nos contar como é que foi a trajetória de vida do senhor até aqui!
Ary: Ah! Minha trajetória de vida foi, como sempre, não é? Chegando numa cidade grande sem nenhuma referência - mas com ideais! Acabei fazendo "Arquitetura" - formei-me arquiteto! Trabalhei durante 18 anos na IBM do Brasil. E aos 33 anos eu resolvi... Virar minha vida completamente!
Ary: Na IBM do Rio... E fiquei 5 anos em São Paulo.
RW: Na Avenida São Luís?
Ary: Não. Foi naquele prédio grande da "Avenida 23".
RW: A Martha aos 15 anos de idade deu aulas de inglês na IBM.
RW: O senhor lembra que entrou uma jovenzinha para dar aulas para os diretores, na Avenida São Luís?
Ary: Ah, não lembro...
RW: Mas continue, por favor...
Ary: Depois - aos 33 anos - pedi demissão, e como eu era um funcionário exemplar... Foi difícil eu sair! Porque eu fui entrevistado "por todo mundo"- e não queriam que eu fosse embora! E aplicaram pela primeira vez um plano chamado "A grande oportunidade". Eu era acompanhado por uma assistente social, durante um período, e se eu quisesse retornar à IBM a porta estava aberta! Só que eu queria tentar uma vida nova: exercer minha profissão de arquiteto! (E que acabei nunca exercendo...) Porque eu descobri uma coisa dentro de mim: a arte! E consolidei um casamento em que ela vinha de uma família de antiquários, e através dela eu aprendi o ramo de atividade.
(Coincidência? Nesse momento ouve-se ao longe, um grito feliz de liberdade que só um menino de 5 anos pode ousar naqueles corredores silenciosos).
Mergulhado na emoção de lembrar ele prossegue:
Ary: E com isso eu fui crescendo dentro das atividades do ramo e me tornei Presidente da Associação Brasileira de Antiquários do Rio. E isso me deu oportunidade de viajar muito!
RW: O senhor é leiloeiro, também/
RW: Deveria ser, pelo que o senho conhece de arte!
Ary: Nunca quis ser leiloeiro... então hoje eu tenho meu sustento é em "obra de arte". Tenho vínculo com a Rádio através do seu dono - que é o Edson Salgado de Oliveira, em que cuido do acervo dele.
Ary: Eu cuido do acervo dele, e com isso também ajudo aqui na Rádio, contribuo na parte comercial. E além disso, nós temos aqui dentro uma Galeria de grandes músicos - eles vêm nos visitar e na contrapartida...
RW: O senhor pinta?
Ary: Sim, eu pinto quadros e assim criamos essa galeria que é única no mundo, em termos de rádio!
Ary: E continuo nas obras de arte. Hoje eu sou um marchand, tenho vários clientes que só compram com a minha anuência! E faço catalogação das obras deles - faço a manutenção - e por aí!
RW: Mas é necessário ser um entusiasta para fazer tudo isto, não é? Mas chega a um determinado ponto - é orgânico isso - todos nós temos um limite, em que vai dando um certo cansaço e para continuar é necessário um entusiasmo muito grande! Como é que o senhor faz para ter esse entusiasmo?
Ary: Eu digo que é : a minha origem - alemã e italiana - eles já são "trabalhadores natos". Estou fazendo 72 anos agora no dia 20 de dezembro.
RW: Parabéns!
Ary: E eu acho que o dia em que eu parar - eu morro! Então... Não quero isto. E como a arte me proporciona uma das coisas que eu mais gosto que é: aprender diariamente!
RW: Sim!
Ary: São as pesquisas, porque a abrangência da Antiguidade é muito ampla, no sentido de: é prata? É vidro? É móveis? Quadros? Bronze? Escultura? A abrangência é muito grande... E se você quiser, todo tempo você está aprendendo. Porque sempre aparece um novo objeto, e uma forma nova de ver esse objeto, é o tempo todo. E é isso...
RW: Nós temos móveis do tempo do Império.
Ary: É? Então nossa história é essa aí.
RW: E como é que o senhor faz para conciliar o trabalho de marchand, com o de direção de uma rádio?
MW: Quem olha para ele não vê nada de "envelhecendo".
Ary: Você vai dormindo menos. Eu já tinha esse hábito de dormir menos. Quer dizer - nas horas que tem menos movimento ao seu redor, você produz mais, em termos de pesquisa, não é isso? E hoje com o advento da internet e essa forma de comunicação rápida, você muito fácil está se, comunicando com o mundo todo e o Brasil inteiro! Então é fácil, não é difícil...
RW: Eu noto que é muito importante os laços familiares, porque... Deus não fez as coisas à toa! A família, exatamente é o que nos norteia...
Ary: É, exato, é isso aí.
RW: E nossa mãe, escritora esteve em vários canais de televisão. Uma perceptiva extrassensorial, lembra-se dela?
Ary: hum, vagamente...
RW: Já tem muitos anos isso. Mas através dela que chegamos a desenvolver esse conceito de trabalharmos com as rádios, jornais. E desenvolvemos esse sentido.
MW: Aqui é a foto de Ana Maria Wolff.
(ele aproxima melhor o óculos, vistoso, colorido)
RW: Seu óculos tem as cores da Alemanha!
Ary: É isso!
RW: Então é um prazer estar aqui na presença do senhor, nós teríamos apenas mais algumas perguntas, se nos permite? O senhor como alguém que é um "self-made-man" quais são as qualidades que o senhor vê em si mesmo e que lhe trouxe até o ponto em que o senhor chegou?
Ary: Eu vou voltar na "perseverança". Vou citar um fato muito interessante na minha vida, quando vim para o Rio de Janeiro, fui morar num subúrbio, chamado Santa Cruz. E o meu primeiro emprego foi: "contínuo", na Companhia Continental de Seguros. (a Continental não existe mais) E como sempre no primeiro emprego você traz uma marmitinha, em um envólucro de alumínio. Só que eu tinha 3 caixinhas de presente, em que eu só abria a "cabeça" dela e colocava a marmitinha lá dentro. Então todo dia eu vinha com um presente na mão, não uma marmita! Ao chegar na empresa, com o tempo eles repararam "esse diferencial" e alguns outros mais.... Foi quando a própria firma onde eu trabalhava me pôs como "contínuo da IBM"! E a própria IBM "me pescou", pelas minhas qualidades que atendia como contínuo.
RW: Sua vida é totalmente diferente daquelas em que há "incrível rotina". Eu na minha vida não suporto rotina.
Ary: É!
RW: A pessoa tem que ter uma alegria interior, que meu pai chamava de In-Theo (siasmo). Ou seja: Deus dentro de si! Quando o senhor tem esse potencial de Deus, tem o que é chamado de entusiasmo!
Ary: É verdade.
RW: Isso é exatamente o que quebra a rotina! A rotina é exatamente essa falta de entusiasmo! Se a pessoa consegue por em tudo que faz, uma grande capacidade de entusiasmo ela se torna não só "um líder" - mas uma pessoa de expressão. Isso é o que se observa no senhor, com todo respeito.
(Súbita grande movimentação dos assessores, num vai e vem, causa um breve som ritmado: agitação, ação. Ele se movimenta numa rápida busca de imagens em seu celular. As lembranças e as emoções se agitam junto com os movimentos do ambiente. Aparecem cenas.)
Ary: "Eu faço bronze. O bronze, o primeiro movimento dele é você fazer "em argila". Eu tiro fotos de belas estátuas. (Ele descreve, empolgado) É tudo em argila, em barro.
Ele descreve sua criatividade explicando-nos: Claro, esse violão (vejo no celular uma imagem perfeita de escultura) esse violão está coberto com barro - o cenário, o rosto é tudo feito em argila. Depois desse processo todo ele vai para o "bronze", não é? E ficam as esculturas prontas. Aí eu faço a escultura baseada nisso... Aqui já é uma outra escultura, que ainda está em face de confecção em que vou lhes mostrar à frente. (E vai girando as fotos do celular).
Ary: Isso é dom! Você escrever, fazer poesia, isso tudo vem de dentro de você como um dom. Só que você não conhece que tem esses dons! Eles vão brotando. Esse dom está dentro de mim, com o passar do tempo, quando eu fiz arquitetura, vi que eu tinha facilidade com as mãos, trabalho manual.
RW: Acredito que é o lado italiano do senhor... porque a minha esposa é italiana e é assim também habilidosa. Mais que o alemão, que é muito trabalhador. O italiano tem o dom da arte.
Ary: (Ele mostra uma cena e explica). Essa está em praça pública. É simplesmente um avião em escala.
MW: Belíssimo!
Ary: Esse aqui é o piloto. E aqui está a história do piloto. Em 1945 esse piloto fez um voo solo para o Brasil e chegou ao Piauí. Do Piauí ele veio "quicando" até aqui num aviãozinho monomotor. Chegando ao Rio de Janeiro todos os jornais davam isso como evento histórico. Ele foi fazer nesse dia uma demonstração pra Rio Branco. Ele caiu e morreu. Foi uma fatalidade. Aqui tá toda a escala do avião, o tamanho, tudo direitinho. E a Embaixada da Itália pediu essa encomenda e eu fiz esse trabalho.
RW: Parabéns. Houve também uma estória que me faz deduzir que talvez esse piloto tenha morrido assim devido à forte emoção de uma "paixão recolhida". Porque houve o caso do Sargento Wolff, o senhor lembra?
RW: E que foi exatamente um "Amor recolhido" por uma índia...
(Aparece de súbito uma imagem no celular que é muito bonita):
Ary: Aqui as "Calça Diesil" pediu para fazer uma escultura de uma mão, em vez de fazer, mão normal, eu fiz uma mão normal só que eu facetei como se fosse um brilhante! Em vez de fazer lisa.
MW: Muito bonita a ideia.
RW: E... O que levou ele a ser herói de guerra foi exatamente a paixão recolhida pela índia que não correspondia. Ele ficou tão "louco", bem... Ele se jogou no fronte! Acabou se tornando um herói... Mas acabou morrendo assim, o amor pode levar a pessoa à construção ou até com a ausência desse amor, pode levar à destruição daquela existência. Por isso é que é necessário amor à Deus acima de tudo, para que a pessoa não entre no desespero nunca! O senhor concorda?
Ary: Plenamente! Então é isso ... Aqui é o pano de fundo do meu celular do meu celular, é a escultura que eu fiz para Uberlândia. Ela tem 14 metros de altura e 18 metros de comprimento: São 3 alunos - toda a estrutura é segura só pela pontinha dos pés! Numa posição de corrida, segurando o diploma.
MW: Nossa, que lindo!
Ary: Semana passada essa escultura foi indicada a um concurso em Minas. Agora estou com um trabalho para as Olimpíadas, estou concorrendo para dez esculturas em praça pública representando o esporte. Todas elas com 5 metros de altura.
RW: Sua casa deve ser cheia de quadros e obras de arte.
Ary: A minha casa tem muita obra de arte. Na realidade eu moro num galpão! Em vez de fazer uma casa, eu fiz um galpão.
RW: Seu atelier de arte.
MW: É no Rio ou Niterói?
Ary: Aqui, num lugar chamado Itaboraí.
RW: Moramos lá, em Itaboraí.
Ary: Ali é o que me dá condições de eu ter cachorro, gato.
Ele é meu padrinho e não o vejo há muito tempo. Ele é muito amigo do meu pai e meu pai deseja o ver. Sabem me informar onde podemos encontrá-lo?
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