Equipe Wolff entrevista Ricardo de Souza, Geólogo Cientista renomado, autoridade em questões ambientais
Mãe-Terra e os Guardiões do Futuro
Com a simplicidade de quem vive em contato com a natureza, aproxima-se ao diálogo. Transparece na voz a paixão pelos ideais. E no modo de pensar: A lucidez do raciocínio e visão de futuro.
RW: Seu nome?
RW: Seu nome?
Ricardo de Souza.
RW: É uma satisfação estar aqui na presença do senhor, que é um especialista na área de geologia. Por isso a equipe Wolff gostaria de lhe fazer algumas perguntas dentro da sua área de atuação.
RS: Pois não.
RW: Senhor Ricardo, como tem sido a questão geológica do Brasil na atualidade em relação a riscos geológicos que tem ocorrido? Como por exemplo – o buraco que se abre dentro da cidade de São Paulo – fissuras que se abrem na terra – o chão que treme na Avenida Alberto Braune – o que o senhor entende que está havendo a nível geológico?
RS: Esses problemas geotécnicos e geológicos, eles existem desde que a terra é terra...
RW: Certo.
RS: O que ocorre é que a gente de uns tempos para cá começou a ocupar o planeta. E então começou uma percepção na ótica humana, desses problemas. Por exemplo: terremotos, vulcanismo. No caso do Brasil: terremotos, não se tinha conhecimento deles aqui no passado. E que agora com os aparelhos espalhados mais amiúdo em todo o território, então agora você consegue ver como é que está. As obras de engenharia que estão sendo construídas, as ocupações humanas próximas a regiões com riscos de enchentes, próximas a áreas de encostas – potencializa o problema! Porque traz o problema para a esfera humana. Então começa-se a ter uma percepção: a de que a terra é um organismo vivo. Tem o seu ciclo natural do desenvolvimento. E nós somos “passageiros nessa nave”! Estamos à mercê das vicissitudes dela!
Ela tem essa dinâmica interna própria. Ela tem o seu ciclo evolutivo. E nós humanos, hoje, estamos convivendo com isso. O que é preciso tornar mais claro é o seguinte - o poder público - com o nível de conhecimento que detém hoje. E de vários organismos brasileiros que trabalham com o risco geológico, por exemplo. Então nós temos, a nível de Brasil, o Suíço Geológico do Brasil, nós temos a nível de estado, são os organismos que cuidam da parte de riscos de inundações... Se estes organismos "aprofundarem as suas conversas", para possibilitar que as áreas de risco sejam dotadas das estruturas - e, se for possível, que elas sejam de estruturas de controle - para minimizar! Se não for possível dotar estruturas de controle para minimizar o risco - então que seja feita a retirada dessas populações, e a alocação delas em outros locais! O que acontece? As melhores áreas já foram ocupadas! Se você pegar hoje qualquer cidade do Brasil - o que é preocupação... São as áreas menos favorecidas! Do ponto de vista do equilíbrio e da segurança geológica/geotécnica! Hoje tem muita área desposta nas áreas de rios, muita área no topo das montanhas e das encostas... Então essas áreas não são favoráveis para a ocupação! O que é necessário fazer? Dentro do Planejamento Urbano, é atribuição dos municípios, um estudo adequado de "como que esta cidade pode crescer daqui para a frente?". Eu até digo o seguinte - não é uma questão do município "crescer" daqui para a frente. Todo mundo só fala no crescimento. O PIB só cresceu 1,1%. A economia global não cresceu... Será que não é preciso rearrumar esse crescimento? É uma questão muito complexa!
RW: E uma questão de política...
RS: Exatamente! O "crescimento" traz voto! Mas se o cidadão falar que "não vai crescer", e falar "vai rearrumar o crescimento" ninguém vai eleger este cidadão! E hoje o camarada quer ter o voto para estar lá junto às decisões políticas importantes! Só que... A moradia é uma questão fundamental da espécie humana! A moradia é essencial. É por isso que nos distingue de outras espécies animais - é a questão da moradia. Essa é a questão que precisa ser colocada. A questão da moradia. Ela precisa ser colocada nas condições de salubridade e em questões de segurança, em questões de se facilitar a mobilidade até o final da moradia - que já traz aí um outro problema... É quando a pessoa se movimenta até o local de moradia, até o local de trabalho, e a pessoa está trazendo uma série de problemas de impactos ao ambiente. Então a Geologia está muito ligada a tudo isso. Porque a Geologia lida com o substrato da terra. Os alicerces onde nós edificamos a nossa civilização!
RW: Dr. Ricardo, o senhor não acha que é fundamental o conceito do CREA utilizar com maior intensidade o estudo geológico? Quero dizer - antes do engenheiro estabelecer o local do prédio?
RS: É... O levantamento geológico/geotécnico, a carta de risco geológico - tudo isso são os instrumentos de gestão que o poder público tem que ter nas mãos antes de definir o retorno de crescimento de um local, de uma comunidade, de uma cidade. Hoje o Poder Público diz assim "Ah, vou colocar um Polo Industrial naqueles local, porque ali tem uma área muito livre". Será que é local adequado? Muitas das vezes tem ali uma área agrícola, tem vocação agrícola e não podem instalar ali um Polo Industrial! Então você tem o que? Geração de resíduos perigosos. Tem toda uma estrutura de energia que precisa disponibilizar... Junto com qualquer empreendimento vem uma série de outras questões paralelas para dar suporte operacional e logístico a este empreendimento... Que vão demandar uso intensivo de recursos naturais, uso intensivo por exemplo, de um pedaço de solo e subsolo. Quer dizer, falta muitas das vezes ao Poder Público essa visão de Planejamento Estratégico. Alguém está com uma ideia mirabolante? É preciso sabe o que fazer, antes! Friburgo está cheia de ideias mirabolantes. Estão falando em aeroporto, estão falando em muitos projetos assim. Será que isto é realmente uma necessidade para esta cidade? Será que os locais em que se está pensando estabelecer estes projetos de infraestrutura - serão os melhores locais? Os locais verdadeiramente adequados? Será que há o suporte daquela micro-região atende a isso?
RS: Olha só - após a tragédia de 2011, foram mapeados 100 ponto! E foram mapeados os pontos com risco médio, risco alto e muito alto. A maior parte deles, mesmo com algumas das obras já realizadas estão dentro do tipo de risco "alto" e "muito alto". O que aconteceu com Friburgo? Foi o seguinte - desde janeiro de 2011 para cá, nós tivemos uns verões pouco chuvosos. Tivemos no ano seguinte um verão um pouco mais chuvoso, mas 2013. E agora 2014, vai ser uma incógnita. Mas já tivemos verões pouco chuvosos. Para se ter uma ideia, a média de chuva em nossa região é de 1500 a 1400 milímetros por ano.
Nós já estamos ao fim do mês 10, deve ter chovido - se choveu 200 milímetros, choveu muito.Aí eu pergunto - essa diferença 1200 milímetros vai cair quando? E como? Vai cair no mês de novembro, dezembro, janeiro? Vai concentrar em fevereiro? Porque há um déficit de chuva aí! O que choveu desde janeiro de 2014 até agora, choveu muito pouco para alcançar o patamar pluviométrico da região de Friburgo. E aí? Pois é! Então é o que eu falo - quando você tem adensamentos populacionais instalados sem o devido critério técnico, sem o devido planejamento estratégico, essas áreas tornam-se hoje realmente muito vulneráveis! Friburgo, principalmente, pela geografia dela, a densidade, a geomorfologia dela "vale encaixado entre montanhas", em que você tem aí uma série de outros alvéolos internos, aí dentro - então há um risco muito grande desse material todo se mobilizar e provocar...
Nós já estamos ao fim do mês 10, deve ter chovido - se choveu 200 milímetros, choveu muito.Aí eu pergunto - essa diferença 1200 milímetros vai cair quando? E como? Vai cair no mês de novembro, dezembro, janeiro? Vai concentrar em fevereiro? Porque há um déficit de chuva aí! O que choveu desde janeiro de 2014 até agora, choveu muito pouco para alcançar o patamar pluviométrico da região de Friburgo. E aí? Pois é! Então é o que eu falo - quando você tem adensamentos populacionais instalados sem o devido critério técnico, sem o devido planejamento estratégico, essas áreas tornam-se hoje realmente muito vulneráveis! Friburgo, principalmente, pela geografia dela, a densidade, a geomorfologia dela "vale encaixado entre montanhas", em que você tem aí uma série de outros alvéolos internos, aí dentro - então há um risco muito grande desse material todo se mobilizar e provocar...
RW: E o que provoca isso?
RS: Basicamente dois fatores - "alto índice de chuva" e o "desmatamento" dessas áreas, que deixam desprotegidos o solo.
RW: Teria alguma coisa a ver com a queima de terras desde séculos atrás?
RS: Bem, coisas que aconteceram há um século, já é uma diferença de tempo muito grande, não é?
RW: É que antigamente havia o hábito de queimar a terra, antes do plantio.
RS: É... e até hoje ainda tem esse hábito, não nessa área urbana - em que já está consolidada a ocupação urbana. Noutros séculos, queimavam para ocupar a terra. E se havia queimada era para o plantio e estabelecer uma casa.
RW: Mas isso não enfraqueceu o solo?
RS: Eu não sei se nesse horizonte de cem anos - sé é isso que teria o impacto. O que eu vejo como fator de impacto recente é exatamente o seguinte - é ter uma encosta e construir uma casa, constrói duas, constrói dez, constrói cem, cento e cinquenta. E muitas das vezes o que fazem é jogar, o resíduo da água, não numa rede, mas está jogando no solo! As pessoas, muitas das vezes, tem uma mangueira de água que abastece, e essa mangueira é um "gato". Ou até mesmo quando é uma rede de abastecimento oficial, mas ela vem com erros de vazamentos, que começam a encharcar o solo.
Num determinado momento você tem aí reunido todo um determinado conjunto de fatores que predispõem à mobilização daquele solo daquela área! Então, basicamente eu digo o seguinte - ocupação desenfreada nas manchas urbanas das pequenas e médias cidades (e a bem verdade - nas grandes também!). E o desmatamento que acontece para que se possa instalar ruas, residências, comércio, atividades de uma cidade. Aí estão os fatores principais. Quando estes fatores se conjugam com as estruturação interna da superfície da crosta, naquele local, falhamentos. Regiões de falhas. Regiões de fraturas intensas, fraturas com planos perpendiculares. Aí já se tem todo um cenário que predispõe a um potencial de acidente.
Num determinado momento você tem aí reunido todo um determinado conjunto de fatores que predispõem à mobilização daquele solo daquela área! Então, basicamente eu digo o seguinte - ocupação desenfreada nas manchas urbanas das pequenas e médias cidades (e a bem verdade - nas grandes também!). E o desmatamento que acontece para que se possa instalar ruas, residências, comércio, atividades de uma cidade. Aí estão os fatores principais. Quando estes fatores se conjugam com as estruturação interna da superfície da crosta, naquele local, falhamentos. Regiões de falhas. Regiões de fraturas intensas, fraturas com planos perpendiculares. Aí já se tem todo um cenário que predispõe a um potencial de acidente.
RS: Tem as medidas de curto prazo e as medidas de longo prazo. As de curto prazo estão em cima da fiscalização. É coibir essas ocupações.
RW: Certo.
RS: E as medidas de médio e longo prazo é tudo em cima de um planejamento urbano territorial. Esse planejamento urbano territorial precisa ser fundamentado em cima de uma série de estudos: o mapa de índice de indicadores de escorregamentos, não é? O mapa de vulnerabilidade do solo... Existem uma série de ações feitas para que o Poder Público tenha embasamento - e o CREA é fundamental, porque é o orgão técnico - tem ali todo esse arsenal de profissionais que pode mobilizar os municípios.
RS: Pode ser feito com mais "proximidade". Uma cidade como Nova Friburgo tem uma Associação de engenheiros de Engenheiros e Arquitetos, que em determinados governos estão "deslocados" do governo, e em outros estão mais próximos. Então, é esquecer esta questão partidária e partir para o seguinte "Queremos ajudar a cidade a se desenvolver". O que eu afirmo é que isso não necessariamente significa "crescer". Pode desenvolver-se buscando um re-arranjo. Uma reordenação desse crescimento. Não adianta pensar que daqui 200 anos ( hoje Nova Friburgo está com quase 200 mil habitantes), será que suportaria daqui 200 anos, Nova Friburgo suportaria 400 mil habitantes? Qual é a capacidade de suporte, física desse espaço territorial que a gente tem? Às custas de muitos vai poder crescer? Vai crescer em cima de áreas frágeis?
Você vê hoje em Nova Friburgo que as nascentes localizadas em Lumiar, elas hoje estão secando! Chegam para nós relatos diários de pessoas que tem sítios, e que não tem mais as nascentes ativas! Até para a agricultura, agricultura familiar, aquela agricultura de microporte. Com o tanto de desmatamento executado, o pessoal vem me dizer "as nascentes secaram"!Aí começa a cidade a sofrer a dificuldade de ter déficit de água. E isso numa região encravada na Serra do Mar!
Você vê hoje em Nova Friburgo que as nascentes localizadas em Lumiar, elas hoje estão secando! Chegam para nós relatos diários de pessoas que tem sítios, e que não tem mais as nascentes ativas! Até para a agricultura, agricultura familiar, aquela agricultura de microporte. Com o tanto de desmatamento executado, o pessoal vem me dizer "as nascentes secaram"!Aí começa a cidade a sofrer a dificuldade de ter déficit de água. E isso numa região encravada na Serra do Mar!
RW: Dr. Ricardo, agora por gentileza nos explique melhor como é a questão de árvores que podem ser retiradas ou não - O que pode fazer, ou não, para isso?
RS: Bom, isso daí já é uma outra questão, não é? A vegetação tem basicamente duas classificações, a vegetação nativa e a vegetação exótica.
RW: Certo.
RS: A vegetação exótica ela tem, normalmente, tem sido licenciada pelos municípios, pelo Poder Municipal. Exceto quando você tem essa vegetação nativa junto com essa vegetação exótica, nas chamadas APPs (áreas de preservação permanentes) à margem do corpo dos rios, à margem de nascentes, topo de morro, área de declínio de 45°.
RW: Certo.
RS: Nesses casos o Inea é que tem que fazer sua manifestação ambiental de supressão de vegetação.Quando se trata de vegetação nativa, até agora tem sido feito pelo Inea, não é? Por conta do impacto dessa supressão no fragmento florestal principal que você tem numa região. Muitas das vezes você tem fragmentos florestais e entre eles você tem os corredores de vegetação que serve de corredores ecológicos para as espécies que povoam estes habitats. Então, no caso da vegetação nativa, a autorização da supressão parte do Estado, e do Órgão Ambiental do Estado, o Instituto Estadual do Meio Ambiente, o Inea.
RW: Isto seria: o "licenciamento Ambiental"?
RS: É a "autorização ambiental para supressão de vegetação". não necessariamente um licenciamento.
RW: Qual seria o profissional autorizado a fazer este tipo de levantamento e de intermediação? Um despachante estaria bem adequado a isso?
RS: Olha só - Você tem que ter um profissional da área técnica. A supressão de vegetação - você te aí - o engenheiro florestal que é tecnicamente habilitado. O agrônomo e, em algumas circunstâncias o biólogo. Na ausência desses profissionais na área - às vezes o local não tem o profissional, enfim é esse tipo de profissional que vai elaborar um estudo. Então o primeiro ponto é fazer uma consulta à Superintendência do Inea que tem jurisdição sobre a área que interessa à pessoa.
RW: Entendi.
RS: E a seguir a esse contacto com a Superintendência, apresentar um croquis do que se deseja e perguntar o seguinte: Qual é a possibilidade de se fazer a supressão de tantas árvores, ou: tantos m² de árvores ou hectares de árvores? Neste momento é necessário fazer um inventário florestal da vegetação que se tem naquele local. Isso tudo se refere à vegetação nativa.
RW: A solução então seria "reflorestar o Brasil"?
RS: A vegetação é importantíssima para preservação do solo! Repito: Importante na preservação do solo e também da "trama" que o solo desenvolve para segurar toda uma superfície. É algo utópico falar-se em "reflorestar o Brasil". O país está crescendo absurdamente no setor agrícola, de uma forma muito acentuada estão avançando sobre áreas frágeis como Pantanal, como o Cerrado.
RW: Porque na Alemanha eles fazem exatamente isso - do campo para a cidade, e da cidade para o campo.
RS: A Alemanha chegou num patamar de crescimento tão grande num passado recente que eles tiveram que "reorganizar todas as coisas", não é? A população estabilizou-se. Em alguns pontos, depois de algumas décadas, até experimentou declínio. E então esse não é caso do Brasil, com a população em expansão. Então são fatores diferentes. Pois a chave de tudo é o crescimento da população. Quando a população está num estágio estacionário em quw os novos que chegam repõe (em número) aqueles que morrem - aí já, se pode começar a pensar em "reordenar" isso.
Assim, esse seria o ideal... Mas como aqui tem-se uma população crescente, tanto no campo quanto, na cidade... Você veja - há 25 anos atrás, 1/4 da população vivia nas cidades. Digo até 30 anos atrás, pouco tempo! Nessa época 3/4 estava no campo! Hoje inverteu-se isso - 20% ou menos está no campo, e 80% nas cidades. E não há perspectiva de voltar! Pelo contrário! Então precisa-se ter o quê? Ampliação das manchas urbanas para atender essa população que é crescente! A Alemanha fez algo, como outros países fizeram, da Europa também, assim que o crescimento vegetativo estabilizou-se! E não é o caso do Brasil, que está com o crescimento vegetativo ainda em expansão. Vai-se fazer o quê? Entendeu ? Quando a Alemanha estava na época em que a população era crescente, o país não se preocupou com isso! Grande parte da Floresta Negra, a conhecida Floresta Negra da Alemanha, foi dizimada!Os alemães destruíram muita coisa na floresta. Coisa que os americanos fizeram também no território americano deles, para avançar eles destruíram áreas enormes. Agora, são países que já chegaram num patamar de crescimento que já tem ali um crescimento de população estabilizado. Então pode-se , de certa forma, pensar em reordenar! E quanto ao fator de propor: vamos discutir isso aqui em nosso país! É muito complexo! Pelo seguinte - até nós chegarmos ao patamar desses países ricos de hoje, o que terá sobrado de recursos naturais? O que terá sobrado de vegetação? E de recursos hídricos?
RW: Dr. Ricardo, só para concluir que soluções o senhor vê para Nova Friburgo? Para o Estado do Rio de Janeiro e para o Brasil?
RS: Então, passa por estas questões que estou aqui falando: o primeiro ponto é o reconhecimento do Poder Público de que se tem, em todas as esferas - tanto da União dos Estados e Municípios - entidades e profissionais que trabalham de forma séria, na questão da sustentabilidade ambiental. E a sustentabilidade geológica... existem! Sim, existem pessoas desse patamar de seriedade, tantos nos órgãos púbicos das 3 instâncias, quanto também nas Entidades Representativas desses profissionais, Sindicato de Engenheiros, Arquitetos, Geólogos, Associação desses profissionais técnicos.
RW: Certo.
RS: E no momento em que o Poder Executivo, por exemplo... Eu vou lhe dar um exemplo muito claro: grandes obras requerem estudos de impacto ambiental. Em alguns pontos até zoneamento econômico/ecológico. O canal, que agora é muito falado, que liga Cabrobó ao Rio São Francisco, no interior do Nordeste, ele teria que ter sido precedido de um estudo de zoneamento econômico/ecológico. Para saber se o Rio São Francisco teria condições de suportar essa "sangria" para o Nordeste, não é? E de ter sido feito a tempo! O trabalho técnico já ali iniciou-se muito antes de ter sido feito o "zoneamento econômico/ecológico. Porque era uma obra política!
Estava revestido de importância política. Hoje o que você assiste na TV? Você vê reportagens mostrando as nascentes do Rio São Francisco completamente secas. Nós vimos isto! A navegação do São Francisco, onde ela existe, está paralisada, porque o rio está sem condições nenhuma . Onde existia 10 metros, hoje tem 20 centímetros de água. Então a pergunta: a pessoa assoreou? Destruiu as cabeceiras ? (E não só do Rio São Francisco, também o Rio das Velhas, e os afluentes). E como é que a pessoa quer lá na frente, quase na foz do rio, fazer uma transposição de volume? Se não tem a reposição dessas águas nas suas áreas de recarga, nas cabeceiras dos rios? Então é um instrumento importante - e o que precisa o Poder Público entender é que "não precisa só obra". Precisa de obras com planejamento estratégico bem feito! Com audiências públicas sendo bem conduzidas. Não são aqueles tipos de "audiências públicas arrumadas" em que tudo seja mostrado num pacote fechado: fizemos a audiência, o pessoal foi lá, e tal... Audiência pública tem que ser discutidas! Porque quem tem seriedade não tem o que esconder, é para mostrar.
RW: Claro.
RS: Dizem os cosmógrafos que estão estudando isso há bastante tempo, que a terra tem mais de 4 bilhões de vida. Ela está como se fosse uma senhora de 40 anos. Vamos imaginar que uma pessoa viva em média 80 anos, a terra seria uma senhora de 40 anos. Uma previsão de viver 40 anos. Porque eles falam isso? A terra tem 3 estruturas basicamente. Ela tem um núcleo fundido. Ela tem o manto, em volta do núcleo, semifundido. E tem a superfície, a crosta - que é sólida. Isso a gente vê nos livros. A terra está perdendo o seu valor interno...Ou seja, a crosta vai se ampliar. E ao longo desses próximos 4 bilhões e meio de anos, ela vai se transformar numa massa rígida. Em vez de ter esses 3 ambientes: o núcleo fundido, o manto pastoso e a sólida crosta.
Ela vai ser uma estrutura completamente sólida. E portanto, tudo completamente diferente do que se tem hoje! A atmosfera vai sofrer transformações - as condições hidrológicas vão mudar. O ciclo hidrológico vai sofrer transformação. Só que certamente nós não estaremos lá. O ser humano está muito recentemente no planeta! Nós somos a última espécie a ter ocupado este planeta. Nos precederam todas as outras! Nós somos os últimos atores a frequentar este palco. Curiosamente somos aqueles que temos condições de detonar isso tudo! Pelo crescimento exagerado, poluição gerada, exagerada. Ironicamente somos os últimos e somos aqueles que temos o poder sobre outras criaturas, de extingui-las. E a nós próprios. E nós certamente não teremos muito longa, não. Quando falo muito longo é no "tempo geológico". Vou explicar porque. Os vírus estão aí há bilhões de anos! Claro, que estão se modificando. A gripe, que é das complicações virais das mais comuns - não existe uma vacina contra a gripe. Você tem aí medicações que a pessoa toma para os sintomas. Os seres humanos estão muito sensíveis aos vírus, e porque? Eles estão aí há bilhões de anos. Já desenvolveram toda uma história biológica de se ajustar. Se a temperatura do Planeta aumenta 10 graus, isso é catastrófico para a espécie humana. Mas para outras espécies, não. Porque elas conseguem, porque estão há mais tempo. Elas já passaram por transformações no passado, que nós, aqui na Terra, ainda não. A nossa existência no planeta ainda é tão efêmera que essas grandes transformações da crosta não produziram na espécie humana aquela memória biológica de "como é que eu posso me ajustar a estas alterações que estão acontecendo agora?".
RW: Isso serve como um alerta!
RS: Sim, é isso, serve como um alerta. Só que nós somos passageiros, e somos os últimos a embarcar nesse trem. E certamente não seremos os últimos a estar dentro dele, quando tudo terminar. Já teremos ido antes. Esse não é um dado pessimista, não! É uma visão biológica, geológica. É uma visão clara. Para não criar alarmismo, não precisa ir para o banco amanhã e vender seus bens. Pegar seu dinheiro, vender sua casa, viajar, para aproveitar. Não é isso não! O que eu estou falando é uma dinâmica de tempo de bilhões de anos! Nós temos uma existência de 80, 90 anos. A Terra já tem mais 4,5 bilhões! Pode ser que a espécie humana consiga mais cem mil anos pela frente... Pode até ser! Que é para nós já muita coisa. No que nós temos feito para o Planeta, que é um sistema fechado, o ar que a gente precisa já está aqui, os nossos recursos energéticos já estão aqui... É um sistema fechado. O ar que a gente precisa já está aqui, os nossos recursos energéticos já estão aqui... É um sistema fechado. O que a gente tem que produzir? A gente tem usado tudo isso, e temos produzido muito resíduo! Produzido muito lixo! Vamos colocar isso onde?
RW: Que mensagem o senhor dá para o futuro, aos nossos leitores?
RS: O que eu tenho dito com muita frequência é o seguinte - nós somos passageiros da Nave-Mãe. A Mãe-Terra. E não nos esqueçamos disso. Não somos donos da Terra. Nós somos filhos da Terra.
RW: Concordo plenamente com o senhor.
RS: Somos filhos da Terra. Então vamos nos comportar como filhos - e não como donos, criadores da Terra.
RW: Os índios dizem "Nós não somos os donos. A Terra é que é".
RS: Exatamente! É sabedoria que vem aí desde o passado de nossos ocupantes-humanos, não é mesmo? Os nossos índios. Mas com uma sabedoria fantástica, e que se perdeu... A sociedade moderna tomou outro rumo. A opção é outra. E essa opção infelizmente vai levar a gente a uma situação com um vislumbre não muito positivo, como a gente gostaria.
RW: É necessário ser mudado isso tudo já, correndo!
RS: Há muito tempo atrás - acho que desde a Revolução Industrial, na verdade, 200 e poucos anos atrás. Em 1780, por aí, já deveriam estar começando a pensar no que a gente deveria fazer para corrigir as eventuais distorções que a Revolução Industrial trouxe ao longo do tempo!
RW: A Equipe Wolff agradece a sua entrevista. Estamos muito honrados!
RS: É um prazer, agradeço a vocês também a oportunidade.
E nós, leitores, queremos continuar esta conversa, perguntar mais, saber mais. É um tema empolgante, suscita a nossa curiosidade e conscientização em diversos aspectos, vamos pedir ao Dr. Ricardo que volte aqui mais vezes e venha nos contar sobre suas observações. Nesta visão de cientista e apaixonado por ideais e pela Natureza.
Profeta da Mãe-Terra, seu recado é de vital importância.
RW: A solução então seria "reflorestar o Brasil"?
RS: A vegetação é importantíssima para preservação do solo! Repito: Importante na preservação do solo e também da "trama" que o solo desenvolve para segurar toda uma superfície. É algo utópico falar-se em "reflorestar o Brasil". O país está crescendo absurdamente no setor agrícola, de uma forma muito acentuada estão avançando sobre áreas frágeis como Pantanal, como o Cerrado.
RW: Porque na Alemanha eles fazem exatamente isso - do campo para a cidade, e da cidade para o campo.
RS: A Alemanha chegou num patamar de crescimento tão grande num passado recente que eles tiveram que "reorganizar todas as coisas", não é? A população estabilizou-se. Em alguns pontos, depois de algumas décadas, até experimentou declínio. E então esse não é caso do Brasil, com a população em expansão. Então são fatores diferentes. Pois a chave de tudo é o crescimento da população. Quando a população está num estágio estacionário em quw os novos que chegam repõe (em número) aqueles que morrem - aí já, se pode começar a pensar em "reordenar" isso.
Assim, esse seria o ideal... Mas como aqui tem-se uma população crescente, tanto no campo quanto, na cidade... Você veja - há 25 anos atrás, 1/4 da população vivia nas cidades. Digo até 30 anos atrás, pouco tempo! Nessa época 3/4 estava no campo! Hoje inverteu-se isso - 20% ou menos está no campo, e 80% nas cidades. E não há perspectiva de voltar! Pelo contrário! Então precisa-se ter o quê? Ampliação das manchas urbanas para atender essa população que é crescente! A Alemanha fez algo, como outros países fizeram, da Europa também, assim que o crescimento vegetativo estabilizou-se! E não é o caso do Brasil, que está com o crescimento vegetativo ainda em expansão. Vai-se fazer o quê? Entendeu ? Quando a Alemanha estava na época em que a população era crescente, o país não se preocupou com isso! Grande parte da Floresta Negra, a conhecida Floresta Negra da Alemanha, foi dizimada!Os alemães destruíram muita coisa na floresta. Coisa que os americanos fizeram também no território americano deles, para avançar eles destruíram áreas enormes. Agora, são países que já chegaram num patamar de crescimento que já tem ali um crescimento de população estabilizado. Então pode-se , de certa forma, pensar em reordenar! E quanto ao fator de propor: vamos discutir isso aqui em nosso país! É muito complexo! Pelo seguinte - até nós chegarmos ao patamar desses países ricos de hoje, o que terá sobrado de recursos naturais? O que terá sobrado de vegetação? E de recursos hídricos?
RW: Dr. Ricardo, só para concluir que soluções o senhor vê para Nova Friburgo? Para o Estado do Rio de Janeiro e para o Brasil?
RS: Então, passa por estas questões que estou aqui falando: o primeiro ponto é o reconhecimento do Poder Público de que se tem, em todas as esferas - tanto da União dos Estados e Municípios - entidades e profissionais que trabalham de forma séria, na questão da sustentabilidade ambiental. E a sustentabilidade geológica... existem! Sim, existem pessoas desse patamar de seriedade, tantos nos órgãos púbicos das 3 instâncias, quanto também nas Entidades Representativas desses profissionais, Sindicato de Engenheiros, Arquitetos, Geólogos, Associação desses profissionais técnicos.
RW: Certo.
RS: E no momento em que o Poder Executivo, por exemplo... Eu vou lhe dar um exemplo muito claro: grandes obras requerem estudos de impacto ambiental. Em alguns pontos até zoneamento econômico/ecológico. O canal, que agora é muito falado, que liga Cabrobó ao Rio São Francisco, no interior do Nordeste, ele teria que ter sido precedido de um estudo de zoneamento econômico/ecológico. Para saber se o Rio São Francisco teria condições de suportar essa "sangria" para o Nordeste, não é? E de ter sido feito a tempo! O trabalho técnico já ali iniciou-se muito antes de ter sido feito o "zoneamento econômico/ecológico. Porque era uma obra política!
Estava revestido de importância política. Hoje o que você assiste na TV? Você vê reportagens mostrando as nascentes do Rio São Francisco completamente secas. Nós vimos isto! A navegação do São Francisco, onde ela existe, está paralisada, porque o rio está sem condições nenhuma . Onde existia 10 metros, hoje tem 20 centímetros de água. Então a pergunta: a pessoa assoreou? Destruiu as cabeceiras ? (E não só do Rio São Francisco, também o Rio das Velhas, e os afluentes). E como é que a pessoa quer lá na frente, quase na foz do rio, fazer uma transposição de volume? Se não tem a reposição dessas águas nas suas áreas de recarga, nas cabeceiras dos rios? Então é um instrumento importante - e o que precisa o Poder Público entender é que "não precisa só obra". Precisa de obras com planejamento estratégico bem feito! Com audiências públicas sendo bem conduzidas. Não são aqueles tipos de "audiências públicas arrumadas" em que tudo seja mostrado num pacote fechado: fizemos a audiência, o pessoal foi lá, e tal... Audiência pública tem que ser discutidas! Porque quem tem seriedade não tem o que esconder, é para mostrar.
RW: Claro.
RS: Dizem os cosmógrafos que estão estudando isso há bastante tempo, que a terra tem mais de 4 bilhões de vida. Ela está como se fosse uma senhora de 40 anos. Vamos imaginar que uma pessoa viva em média 80 anos, a terra seria uma senhora de 40 anos. Uma previsão de viver 40 anos. Porque eles falam isso? A terra tem 3 estruturas basicamente. Ela tem um núcleo fundido. Ela tem o manto, em volta do núcleo, semifundido. E tem a superfície, a crosta - que é sólida. Isso a gente vê nos livros. A terra está perdendo o seu valor interno...Ou seja, a crosta vai se ampliar. E ao longo desses próximos 4 bilhões e meio de anos, ela vai se transformar numa massa rígida. Em vez de ter esses 3 ambientes: o núcleo fundido, o manto pastoso e a sólida crosta.
Ela vai ser uma estrutura completamente sólida. E portanto, tudo completamente diferente do que se tem hoje! A atmosfera vai sofrer transformações - as condições hidrológicas vão mudar. O ciclo hidrológico vai sofrer transformação. Só que certamente nós não estaremos lá. O ser humano está muito recentemente no planeta! Nós somos a última espécie a ter ocupado este planeta. Nos precederam todas as outras! Nós somos os últimos atores a frequentar este palco. Curiosamente somos aqueles que temos condições de detonar isso tudo! Pelo crescimento exagerado, poluição gerada, exagerada. Ironicamente somos os últimos e somos aqueles que temos o poder sobre outras criaturas, de extingui-las. E a nós próprios. E nós certamente não teremos muito longa, não. Quando falo muito longo é no "tempo geológico". Vou explicar porque. Os vírus estão aí há bilhões de anos! Claro, que estão se modificando. A gripe, que é das complicações virais das mais comuns - não existe uma vacina contra a gripe. Você tem aí medicações que a pessoa toma para os sintomas. Os seres humanos estão muito sensíveis aos vírus, e porque? Eles estão aí há bilhões de anos. Já desenvolveram toda uma história biológica de se ajustar. Se a temperatura do Planeta aumenta 10 graus, isso é catastrófico para a espécie humana. Mas para outras espécies, não. Porque elas conseguem, porque estão há mais tempo. Elas já passaram por transformações no passado, que nós, aqui na Terra, ainda não. A nossa existência no planeta ainda é tão efêmera que essas grandes transformações da crosta não produziram na espécie humana aquela memória biológica de "como é que eu posso me ajustar a estas alterações que estão acontecendo agora?".
RW: Isso serve como um alerta!
RS: Sim, é isso, serve como um alerta. Só que nós somos passageiros, e somos os últimos a embarcar nesse trem. E certamente não seremos os últimos a estar dentro dele, quando tudo terminar. Já teremos ido antes. Esse não é um dado pessimista, não! É uma visão biológica, geológica. É uma visão clara. Para não criar alarmismo, não precisa ir para o banco amanhã e vender seus bens. Pegar seu dinheiro, vender sua casa, viajar, para aproveitar. Não é isso não! O que eu estou falando é uma dinâmica de tempo de bilhões de anos! Nós temos uma existência de 80, 90 anos. A Terra já tem mais 4,5 bilhões! Pode ser que a espécie humana consiga mais cem mil anos pela frente... Pode até ser! Que é para nós já muita coisa. No que nós temos feito para o Planeta, que é um sistema fechado, o ar que a gente precisa já está aqui, os nossos recursos energéticos já estão aqui... É um sistema fechado. O ar que a gente precisa já está aqui, os nossos recursos energéticos já estão aqui... É um sistema fechado. O que a gente tem que produzir? A gente tem usado tudo isso, e temos produzido muito resíduo! Produzido muito lixo! Vamos colocar isso onde?
RW: Que mensagem o senhor dá para o futuro, aos nossos leitores?
RS: O que eu tenho dito com muita frequência é o seguinte - nós somos passageiros da Nave-Mãe. A Mãe-Terra. E não nos esqueçamos disso. Não somos donos da Terra. Nós somos filhos da Terra.
RW: Concordo plenamente com o senhor.
RS: Somos filhos da Terra. Então vamos nos comportar como filhos - e não como donos, criadores da Terra.
RW: Os índios dizem "Nós não somos os donos. A Terra é que é".
RS: Exatamente! É sabedoria que vem aí desde o passado de nossos ocupantes-humanos, não é mesmo? Os nossos índios. Mas com uma sabedoria fantástica, e que se perdeu... A sociedade moderna tomou outro rumo. A opção é outra. E essa opção infelizmente vai levar a gente a uma situação com um vislumbre não muito positivo, como a gente gostaria.
RW: É necessário ser mudado isso tudo já, correndo!
RS: Há muito tempo atrás - acho que desde a Revolução Industrial, na verdade, 200 e poucos anos atrás. Em 1780, por aí, já deveriam estar começando a pensar no que a gente deveria fazer para corrigir as eventuais distorções que a Revolução Industrial trouxe ao longo do tempo!
RW: A Equipe Wolff agradece a sua entrevista. Estamos muito honrados!
RS: É um prazer, agradeço a vocês também a oportunidade.
Comentários
Postar um comentário