O exemplo e a tradição de ser avô - por Arno Wolff

Homenagem aos meus avós maternos Carlos Goltz e Ida Goltz, cuja doce lembrança fez brotar em mim um desejo de ser um bom avô.
Foram exemplos de vida que marcaram minha conduta pela bondade e alegria para a 3ª idade.
Criaram estímulos para uma tradição de ser um bom avô.
Lembrá-los é reviver uma infância feliz, de liberdade no convívio do pomar cheio de
frutas maduras, que podíamos apanhar nos pés de árvores frutíferas, saborosas, belas e gostosas. Minha mãe e meu pai muito trabalhadores, exemplos de vida de sucesso em seus empreendimentos comerciais, também me marcaram pela dedicação a família. Sempre fui muito feliz e alegre. Não guardo nenhuma mágoa ou infelicidade. Nunca tive nada que perturbasse minha infância ou juventude. Fui acostumado ao rigor de madrugar às 4 horas da manhã para estudar. Meus pais queriam que estudasse muito e se dedicavam para obter bom aproveitamento. Cedo pediram a uma tia, Elisabete, irmã mais velha de papai, uma senhora gorda, de 11 filhos, que me ensinasse a tabuada. Ela tinha sido quando solteira e nova ainda, professora primária em escola pública. Ela ensinava muito bem, sempre paciente e bondosa, fazia competição com seus filhos para ver quem aprendia mais rápido, quem fizesse os cálculos mentalmente mais rápido, ou por escrito. Havia um primo, Dorico, que era rápido e sempre competia comigo em rapidez. Assim aprendi e gostei de fazer cálculos rápidos e mentais. Eu havia nascido em uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, Brasil, de uns 20.000 habitantes. Era uma região agrícola, banhada por um rio muito piscoso, o Rio Jacuí. Minha casa ficava na rua principal do comércio. Ali vinham muitos agricultores da roça, vinham a cavalo ou de carroça de boi, puxados por duplas de 2, 4 ou 6 bois ou cavalos. Ao lado de fora de minha casa, do lado esquerdo, numa travessa da rua principal haviam paus, cravados no chão, de 2 em 2 metros e na altura de 1,20 m havia uma barra de paus comprida de uns 20 metros, onde os cavaleiros amarravam seus cavalos. Ali desencilhavam seus animais, retiravam os arreios e guardavam mais distantes para que não fossem sujados, os animais recebiam um pouco de milho num balde que era amarrado por cima da cabeça do animal, no pescoço. O cavalo ficava com a cabeça enfiada no balde de forma a poder comer sem desperdiçar a ração de milho.
Os colonos chegavam para almoçar e fazer compras. Meus pais Carlos Wolff e Herma Goltz Wolff. Ele do signo de leão era empreendedor dinâmico e muito trabalhador. Ela, minha mãe Herma do signo de virgem, irriquieta boa relações públicas e comerciante, os empregados a chamavam de Irma, e nós os filhos de mamãe. Eramos dois irmãos: Eurico o mais velho do signo de libra, muito brabo e rancoroso. Eurico era sensível e muito arteiro. Eu era mais aplicado ao trabalho do que ao estudo. Mas era obrigado a estudar muito, umas 12 horas por dia. Nas folgas podia brincar um pouco e sempre havia espaço para ajudar no comércio. Eurico tinha mais facilidade para estudar, mas não gostava muito do comércio. Tínhamos um grande negócio de refeições. Era um restaurante de grande movimento. Na cozinha chefiada por minha mãe, era muito rápida em tudo, comandava 5 ajudantes – 3 para fazer a comida e servir as refeições, e 2 pessoas para lavar os pratos, talheres e panelas. O fogão era grande e largo com apoios laterais para receber as panelas cheias de comidas prontas – arroz, feijão, macarrão, carne ao molho com batatas, salada de tomate com alface ou repolho picado e cozido. Às vezes havia mandioca cozida ou abóbora cozida. Sempre havia muita salada de beterraba partida em fatias redondas com cebola, vinagre, óleo e sal. A alimentação era de primeira, sempre muito fresquinha, quentinha, e muito bem servida em travessas bem cheias. As pessoas podiam comer à vontade, repetir quentas vezes quisessem. Havia também salada de alface com tomate regada à vinagre de vinho tinto ou branco. Era tudo muito delicioso. Como o fogão era de chapa de ferro grosso de 1,5 cm de espessura, fogo de lenha, a chapa estava sempre muito quente, chegava a ficar vermelha. Então mamãe fazia muito bife feito na chapa quente. A carne era fritada em cima daquela chapa de fogão e isto fazia muita fumaça, devido ao óleo que ia por cima do fogão para fritar a carne. Então havia um captador de fumaça por cima do fogão com uma chaminé bem alta, com uma tampa protetora e móvel por cima que girava conforme a direção do vento para levar a fumaça. Os bifes fritos na chapa saíam conforme o gosto do freguês. Você quer bem passado, bem frito, ou quer mal passado, com sangue ainda escorrendo do bife? Podia ser acompanhado de um ou dois ovos fritos que iam em cima do bife. Havia 2 tipos de refeições: a completa e a comercial em pratos separados. Vinha primeiro uma sopa bem suculenta e quente de batata com um pouco de macarrão e pedaços de músculo para engrossar a sopa. Tudo muito bem preparado.
Nada de comida de sobras de véspera. A comida que sobrava de véspera era distribuída para os empregados para levarem a seus familiares de casa ou o que era muito comum, vinham muitos esmoleiros pedirem implorando: “Pelo amor de Deus, me dê um prato de comida que há 2 dias estou sem comer nada”. Dona Irma muito conhecida pelo povão da cidade, todo mundo conhecia a Dona Irma ou Seu Carlinhos, seu esposo.

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