O exemplo e a tradição de ser avô - por Arno Wolff - parte 2
Assim era nossa religião na família. Aos domingos era
feriado não se trabalhava. Era dia de descanso, era dia de dar Graças à Deus
pelas bênçãos recebidas. Minha mãe muito caprichosa e religiosa, fazia questão
que todos tomassem banho bem cedo, e após o café da manhã em família, todos
reunidos para o café matinal, sempre agradecíamos a Deus antes da refeição em
alemão, pois éramos descendentes de alemães. “Vem senhor Jesus Cristo seja
nosso hóspede e abençoa tudo o que nos concedeste. Esta oração foi ensinada
pela vovó Catarina, a mãe de papai. Era a matriarca. Uma velhinha de cabelos
brancos sempre vestida de vestidos longos até os pés. Era piedosa, de voz mansa
e doce. Aos domingos sempre íamos de manhã, 9:00 hrs, ao culto dominical, sempre
em alemão, cantávamos em alemão, rezávamos em alemão, depois do culto sempre
falávamos entre si em alemão. Havia um bom relacionamento dentro da comunidade,
todos muito alegres e risonhos. A sociedade alemã tinha seu clube de dança e
esportivo. Os alemães gostavam de ginástica em barras, cavaletes em cordas
penduradas e giratórias, corrida, jogavam tênis, vôlei e muito bolão. Os bailes
eram muito animados, com muita cerveja e todos gostavam de cantar e dançar
muito. Era muito divertido.
Vovó Catarina gostava muito de cozinhar em fogão a
lenha, fazia boa comidinha e sempre preparava uns queijinhos com coalhada. O
leite quando azedava, separava o soro e da massa que restava fazia uns bolinhos
que deixava vários dias, quando crescia uma espécie de mofo em volta. Aí estava
no ponto em que ela gostava de saboreá-los. Estavam curtidos.
Usava sempre vestido, preto longo, saias bem rodadas e
longos até os pés. E seu cabelo muito cumprido e branquinho após desembaraçados
fazia umas tranças e enrolava fazendo um coque. Aí usava um lenço branco que
cobria sua cabeça. Adorava os filhos e netos. Era muito dedicada, piedosa,
paciente, amorosa. Lembro-me bem – vinha à pé, descia a rua Júlio de Castilhos
até a casa de meu pai, pegava o carrinho do bebê, meu irmão mais novo o Nilo, e
ia passear próximo da estação rodoviária no mesmo quarteirão da casa de meu
pai. Aí gostava de ver os ônibus que chegavam e partiam para conversar com
alguém da roça, seus antigos amigos do interior gaúcho. Gostava de prosear,
falar, se comunicar, saber das pessoas amigas. Eu ainda pequeno, com 7 anos
mais ou menos acompanhava embalando no carrinho de bebê meu irmão com 6 anos
menos que eu A diferença do meu irmão mais velho era de 2 anos. Eurico deveria
ter nessa época 9 anos. Mas quem era mais apegado à minha querida vovó Catarina
era eu. Quando cheguei aos 9 anos fui morar com ela e minha tia Rosa e Osmar,
um primo, filho de Tia Elizabete e tio Albino Beskow.
A tia Rosa era a irmã mais moça de meu pai, ela
deveria ter nesta época um 27 ou 28 anos. Aos 22 anos mais ou menos ela se
apaixonou por 1 vendedor de lábia muito boa, conversador insinuante que seduziu
a minha tia Rosa e fugiu de casa com o vendedor. Fugiram de trem, sem deixar
rastro, sem que nenhum familiar desconfiasse. Fuga silenciosa e sagaz. Meu pai
já tinha o comércio na Rua Júlio de Castilhos.
Continua!
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